A melhor ginástica para o cérebro? Ser bilingue
Estudos recentes concluem que falar pelo menos duas línguas pode ajudar no combate à demência e torna mais ágil a massa cinzenta.
Diário de Notícias | 21.11.14
Nos últimos anos, vários estudos se têm debruçado sobre as mudanças que ocorrem no cérebro quando se fala mais do que uma língua. Isto porque o cérebro de uma pessoa bilingue funciona como uma espécie de semáforo: quando precisa de escolher uma palavra, dá luz verde ao idioma em uso e barra com uma luz vermelha a palavra de que não necessita. Um processo de seleção natural que, se feito centenas de vezes por dia, funciona como uma espécie de ginástica para a massa cinzenta.
Já existem investigações que, segundo o El País, indicam que falar dois idiomas permite combater melhor o Alzheimer ou a demência. E duas universidades norte-americanas estão, na atualidade, a estudar as vantagens que traz a utilização de uma segunda língua no dia-a-dia. "Os cérebros bilingues estão melhor equipados para processar a informação", explica a professor Viorica Marian, psicóloga e autora principal de um estudo da Universidade de Northwestern, nos Estados Unidos da América.
O Instituto de Aprendizagem e Ciências do Cérebro da Universidade de Washington, em Seattle, nos EUA, partilha desta convicção e, por isso, entrou recentemente em contacto com as autoridades espanholas, com o objetivo de alargarem a sua investigação para o país vizinho. Desde meados de 2014 que Patricia K. Khul e Andrew N. Meltzofr estão em contacto com Madrid e o Ministério da Educação espanhol para ampliarem o seu estudo a centros escolares com crianças até aos três anos de idade.
Em Espanha, a maioria dos municípios implementou na escola pública o ensino de inglês, pelo que será mais fácil analisar o impacto que o bilinguismo pode ter no cérebro na idade em que é mais fácil aprender um novo idioma: o cérebro de uma criança, até aos sete anos, adapta-se facilmente a qualquer inovação, explicam os especialistas de Seattle. Entre os oito e os 18 anos de idade, a aprendizagem de línguas estrangeiras torna-se "mais académica e lenta", logo, mais complicada.
Ambas as equipas norte-americanas, da universidade de Washington e Northwestern, querem observar as partes do cérebro que se ativam nas pessoas que dominam apenas um idioma e fazer a mesma análise nas que falam, pelo menos, mais uma língua estrangeira.
A universidade de Northwestern, já realizou um estudo deste género com jovens entre os 18 e os 27 anos, selecionados pela Universidade de Houston: 17 eram bilingues em espanhol e inglês, ao passo que outros 18 falavam apenas inglês. "Escolhemos estes idiomas porque são os mais habituais no Texas, mas supomos que os resultados seriam semelhantes com outras línguas".
O trabalho, desenvolvido durante três anos, permitiu concluir que os jovens bilingues ignoram com mais facilidade o ruído na sala de aula para se concentrarem na lição em curso. Já a equipa da Universidade com sede em Seattle incluiu investigadores pós-graduados que analisaram a aprendizagem e comportamento do cérebro dos próprios filhos, que são bilingues: falam inglês e, pelo menos, mais um idioma. Patricia K. Khul foi taxativa: "o cérebro de uma pessoa que fala duas línguas é muito mais flexível, enfrenta situações mais complexas e por isso procura melhor as soluções, acabando por se tornar muito mais ágil", explicou a investigadora.