Escolas defendem debate sobre existência do 2.º ciclo do básico
O presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima, defendeu esta quarta-feira, tal como a presidente do Conselho Nacional de Educação, a revisão e o debate sobre a existência do 2.º ciclo do ensino básico.
Jornal de Notícias | 21.11.18
Em declarações à agência Lusa a propósito da divulgação do relatório do Estado da Educação no qual a presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), Maria Emília Brederode Santos, põe em causa a existência do 2.º ciclo, Filinto Lima defendeu que devem existir dois ciclos de ensino, um do 1.º ao 6.º ano e outro do 7.º ao 12.º.
No relatório, a presidente do CNE pôs em causa a existência do 2.º ciclo, lembrando que se trata de uma “originalidade portuguesa”, que “não é uma boa prática” tendo em conta o elevado número de reprovações.
“Na associação já falámos e ponderámos sobre a necessidade de existir um ciclo que é um ciclo perdido. O que propúnhamos, pelo menos para debate, é que existissem dois ciclos de ensino: um que fosse do 1.º ao 6.º e o outro mais avançado do 7.º ao 12.º, até porque também o ciclo do secundário (10.º ao 12.º) é um ciclo perdido, que não tem identidade própria”, disse o presidente da ANDAEP.
No entendimento de Filinto Lima, o ciclo do secundário “só serve para o atual modelo de acesso ao ensino superior.
“Ou seja, um aluno quando entra no ensino secundário sabe que no 12.º vai ter duas horas de exame que muitas vezes define a vida de um aluno. Além de concordar com a presidente do CNE, consideramos também que neste momento deve haver outra discussão que é o atual modelo de acesso ao ensino superior que não serve à nossa educação nem aos nossos alunos”, sublinhou.
De acordo com o presidente da ANDAEP, antes de revisto deve ser alvo de amplo debate nacional.
“Esta mudança a ser concretizada será uma mudança estrutural. Não deve ser uma mudança deste Governo ou do próximo, mas de todos nós. Eu acho que em Portugal, na educação, muitas vezes erramos porque implementamos políticas que são do governo que na altura está no poder e isso é errado. A politica na educação deve ser uma politica de amplos consensos (…). É preciso que percebam que a educação é de todos e não de nenhum governo em particular”, frisou.
Filinto Lima chamou também a atenção para a necessidade de haver um pacto de educação que tenha a ver com os currículos.
“A presidente do CNE propõe no relatório uma espécie de comissão de acompanhamento que assuma o currículo escolar, que proponha sempre que necessário ajustes. O currículo muda de Governo para Governo e, muitas vezes, o mesmo Ministério da Educação muda-o mais que uma vez, o que gera confusão para as escolas e professores”, disse.
No relatório sobre o Estado da Educação é também referido que as taxas de retenção e desistência têm vindo a diminuir nos últimos anos, tendo atingido no ano letivo de 2016/2017 o valor mais baixo da última década em todos os três ciclos de ensino.
Sobre este assunto, Filinto Lima salienta que Portugal melhorou bastante em relação à diminuição e abandono escolar.
“Melhorámos bastante, mas ainda nos envergonha os números relativos à chamada educação de adultos. Temos ainda dois milhões e 500 mil pessoas que só têm o 4.º ano e ainda pouco menos de 5% que são analfabetos. As nossas energias devem ser direcionadas para os que não tiveram hipótese de ir mais além”, sublinhou.
Quanto à referência que é feita no relatório ao material informático obsoleto nas escolas, o presidente da ANDAEP defendeu a necessidade de um novo programa tecnológico educativo como o que existiu há dez anos.
“Precisamos de um novo programa tecnológico que dote as escolas de computadores atualizados. Aquilo que temos não serve e a par disto é preciso não esquecer que a rede de internet das escolas não é fiável”, concluiu.
“Memorial do Convento” fora dos currículos afasta escolas do Palácio de Mafra
Durante todo o ano de 2017, 378 mil pessoas visitaram o Palácio de Mafra e, destas, 44.700 corresponderam a visitas escolares.
Lusa | 10.10.18
O Palácio de Mafra, cuja construção inspirou José Saramago no “Memorial do Convento”, está a registar uma quebra nas visitas das escolas depois de o romance ter sido retirado dos currículos durante dois anos letivos. “Há uma quebra significativa nas visitas do público escolar pelo facto de o ‘Memorial do Convento’ ter deixado de ser lido” no ensino secundário, disse à agência Lusa o diretor do Palácio, Mário Pereira.
No ano letivo de 2016/2017, o Palácio registou mais de 32 mil alunos nas visitas guiadas alusivas à obra, número que decresceu para 5400, em 2017/2018. A peça de teatro “Memorial do Convento”, adaptada do romance por Filomena Oliveira e Miguel Real, e encenada pela companhia Éter, foi assistida por 30 mil alunos, em 2016/2017, enquanto no último ano letivo foram apenas cinco mil, segundo dados disponibilizados à Lusa.
De leitura obrigatória há vários anos, o “Memorial do Convento” passou a ser uma das duas opções de leitura – com “O Ano da Morte de Ricardo Reis -, para os alunos do 12.º ano estudarem José Saramago, de acordo com os “Programas e Metas Curriculares de Português do Ensino Secundário”, que entraram em vigor em 2015/2016. Contudo, os programas notam que, nos anos letivos de 2017/2018, a obra a estudar, obrigatoriamente, é “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, excluindo assim o “Memorial do Convento”.
Nas “Aprendizagens Essenciais para o Ensino Secundário”, que entraram este ano em vigor, em substituição dos anteriores programas, as duas obras voltam a figurar como as duas opções de leitura, no estudo de Saramago. Contudo, como as alterações se refletem apenas no início de cada ciclo, ou seja, no 10.º ano, no caso do ensino secundário, só em 2020/2021 os estudantes do 12.º ano poderão voltar a optar pelo “Memorial do Convento”.
“A nossa visita ajudava os alunos a melhor compreender a obra [e a despertá-los] para a leitura do livro”, sublinhou Mário Pereira. O Palácio de Mafra espera compensar as quebras dos visitantes do “Memorial do Convento”, com as visitas alusivas a “O Ano da Morte de Ricardo Reis” e com os turistas estrangeiros.
No primeiro semestre deste ano, o palácio recebeu cerca de 156 mil visitantes, dos quais mais de 26 mil foram alunos das escolas, do pré-escolar ao ensino universitário. No período homólogo de 2016, tinham sido 173 mil visitantes, dos quais, mais de 35 mil, do público escolar. Durante todo o ano de 2017, 378 mil pessoas visitaram o Palácio de Mafra e, destas, 44.700 corresponderam a visitas escolares.
“Memorial do Convento”, que foi publicado pela primeira vez em 1982 e soma mais de 50 edições e traduções em mais de 20 línguas, contribuiu para a atribuição do Prémio Nobel da Literatura a José Saramago, em 1998, ao tornar-se no primeiro romance do escritor conhecido internacionalmente.
Colégio português aplica modelo mundial para preparar jovens para a vida
Medida é aplicada a cerca de 800 alunos de um estabelecimento de ensino religioso, em Leiria.
Lusa| 28.09.18
O Colégio Conciliar de Maria Imaculada (CCMI), em Leiria, vai aplicar um modelo mundial para preparar para a vida os cerca de 800 alunos do pré-escolar ao 9.º ano, tornando-se “líderes de si mesmos”, afirma o diretor pedagógico, Jorge Cotovio.
O Líder em Mim (OLEM) é o programa baseado na obra ‘Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes’, de Stephen Covey, que pretende potenciar o desenvolvimento das competências não cognitivas dos alunos, aliado a ferramentas de liderança e preparando-os para a vida. Jorge Cotovio acrescentou que se trata de “um programa que visa fundamentalmente a educação do caráter”.
No final do percurso escolar no CCMI, o diretor pedagógico espera ter formado jovens líderes de si mesmos. “Queremos que os alunos sejam boas pessoas, autónomas, criativos e responsáveis. Esperamos que comandem a sua vida, tendo em conta os outros, as circunstâncias e o ambiente onde estão”. O OLEM, iniciado este ano letivo, insere-se não só no projeto educativo do CCMI, uma escola católica com contrato de associação, como também está articulado com o Perfil do Aluno do Século XXI e com as novas orientações curriculares, nomeadamente a flexibilidade e a autonomia. Esta é a segunda escola do país a aplicar este programa. “As realidades são diferentes, porque a outra é um colégio totalmente privado em São João da Madeira e que tem menos alunos”, frisou Jorge Cotovio.
Nuno Oliveira, um dos docentes da “equipa farol”, criada para estabelecer as metas do programa, referiu ainda que o currículo do OLEM “visa a educação sócio-emocional” e “dá os pré-requisitos que os alunos precisam, não só para terem um bom desempenho académico, mas também para se desenvolverem como pessoas e como cidadãos. O objetivo, salientou, é os alunos serem “mais autónomos nas aprendizagens que realizam”. “Não vale a pena dizer que os jovens são imaturos”, adiantou Nuno Oliveira. “É preciso dar-lhes ferramentas para serem maduros e este programa encaixa perfeitamente nisso”.
Pelas paredes da escola e das salas de aula foram escritas frases motivacionais, que ajudam não só à ambientação dos alunos ao projeto, como os desafiam a participar. A coordenadora da “equipa farol”, Lídia Coimbra, revelou que foi criada a disciplina OLEM, que substitui a Formação Cívica, onde os sete hábitos do programa começam a ser praticados. No entanto, o programa vai ser transversal a todas as disciplinas. “Temos como objetivo para este primeiro ano ter uma linguagem comum dos sete hábitos. Depois os alunos vão trabalhar um hábito de cada vez”, explicou Lídia Coimbra, ao revelar que a estes hábitos está associado uma parte da árvore, o símbolo da evolução. Durante os próximos cinco anos, o CCMI será avaliado pela organização americana “Franklin Covey”, que irá comprovar se foram cumpridas as metas a que se propôs. Se as avaliações forem positivas, o CCMI será certificado e passará a ser uma escola “farol”, podendo dar formação a outros estabelecimentos de ensino que queiram abraçar o projeto.
Os Maias voltaram à lista de leitura para o ensino secundário
Ministério da Educação recuou na proposta de conteúdos que devem ser leccionados no secundário. Versão definitiva das aprendizagens essenciais volta a incluir quais as obras que devem ser lidas em vez de deixar esta escolha a cada professor.
PÚBLICO | 02.09.18
A obra de Eça de Queirós Os Maias não vai, afinal, desaparecer da lista de leitura para o ensino secundário, como o Ministério da Educação (ME) chegou a propor. É o que se pode comprovar ao ler a versão definitiva das aprendizagens essenciais para o secundário, que foi homologada nesta sexta-feira por despacho do Secretário de Estado da Educação João Costa.
As chamadas aprendizagens essenciais vão ser aplicadas a partir do próximo ano lectivo, num processo que começará, no caso do secundário, pelo 10.º ano. Para o ME, a definição destas aprendizagens, que esteve sobretudo a cargo das associações de professores, é necessária para resolver o problema da “extensão” dos atuais programas e permitir que seja fixado um “conjunto essencial de conteúdos” que todos os alunos devem saber, em cada disciplina, no final de cada ano de escolaridade.
Na versão que esteve em consulta pública em Julho, os documentos propostos para a disciplina de Português omitiam quais as obras de Eça de Queirós que deveriam ser lidas no secundário, referindo apenas que os alunos teriam de ler um livro deste autor.
O programa da disciplina, que ainda se encontra em vigor, determina que a abordagem a Eça de Queirós, que faz parte da matéria do 11.º ano, passa pela leitura de um de dois livros: Os Maias ou a Ilustre Casa de Ramires. E é essa a prática que tem sido seguida nos últimos anos.
A Casa de Tormes é um espaço mítico da obra e da vida de Eça de Queiroz.
A supressão da obra Os Maias na versão inicial apresentada pelo ME, noticiada pelo PÚBLICO, deu origem a um coro de protestos de académicos, professores e especialistas queirosianos. Mas como o ME não tem por hábito elaborar relatórios das consultas pública que promove, não se sabe quantas propostas de alteração foram apresentadas, nem qual o seu teor.
Não foi só em relação a Eça de Queirós que o ministério recuou. Em todas as listas de leitura apresentadas agora para o 10.º, 11.º e 12.º anos, voltam a ser inscritas as obras de Almeida Garrett, Alexandre Herculano e Camilo Castelo que constam do programa, mas que tinham desaparecido da versão inicial das aprendizagens essenciais, onde foram substituídas pela referência “escolher um romance” de um destes três autores. Foi o que passou também com Cesário Verde, onde se apontava apenas que seria preciso “escolher três poemas”, o que agora foi substituído pela leitura obrigatória, como tem sido a norma, do Sentimento dum Ocidental.
Na altura, a presidente da Associação de Professores de Português, Filomena Viegas, justificou esta opção, por um lado com a necessidade de diminuir o número de obras propostas para leitura e, por outro para se permitir “o alargamento das opções que podem ser tomadas pelos docentes”, a quem ficaria entregue a escolha dos livros que os alunos deveriam ler.
Também no 12.º ano o ME desistiu de retirar a abordagem ao conto, enquanto género literário. Na lista de leitura para este ano de escolaridade voltam a estar incluídos contos de Manuel da Fonseca, Maria Judite de Carvalho e Mário de Carvalho.
Num artigo de opinião escrito para o PÚBLICO, a professora da Universidade do Porto e ex-ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, chamou a atenção para o facto de a supressão do conto do programa de Português não ser “uma opção desejável, até por se tratar de um género breve que os jovens nas sociedades de hoje (…) nitidamente privilegiam como é possível constatar na blogosfera onde narrativas breves e micronarrativas ocupam lugar de relevo”.
Por fim, no que respeita ao 10.º ano, a versão definitiva das aprendizagens essenciais volta a incluir a Crónica de D. João I, de Fernão Lopes, que na proposta inicial tinha sido erradicada.
Ensino profissional perde um terço dos seus alunos mais frágeis
Os que chumbaram mais antes, continuam a chumbar mais depois. E 30% abandonam a escola. Segundo o investigador Joaquim Azevedo os dados confirmam que as escolas “não sabem lidar com as crianças que tiveram percursos muito conturbados durante o ensino básico”.
PÚBLICO | 14.08.18
Os alunos que no ensino básico foram desviados para outras ofertas educativas, devido ao acumular de chumbos, são também os que menos sucesso alcançam nos cursos profissionais do ensino secundário. Esta é uma das principais constatações de um novo estudo sobre o ensino profissional, divulgado pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC).
Seguindo o percurso individual de cada aluno, a DGEEC foi apurar qual era a situação em 2016/2017 dos alunos que, três anos antes, seguiram do 9.º ano para um curso profissional. À semelhança do que também se passa no ensino regular, três anos é o prazo normal (sem retenções) de conclusão dos cursos profissionais do secundário.
E o que a DGEEC descobriu foi o seguinte: 70% dos cerca de 30 mil alunos que chegaram ao profissional vindos do ensino básico geral concluíram o curso em três anos, enquanto só 35,6% dos 7869 estudantes que vieram de outras vias o conseguiram fazer. Mais: a percentagem dos que abandonaram o secundário sem terminar este nível de ensino sobe de 6% entre os primeiros para 30% no segundo grupo.
Para o investigador da Universidade Católica, Joaquim Azevedo, que tem acompanhado de perto a realidade do ensino profissional, os dados agora divulgados vêm confirmar, por um lado, que “as escolas não sabem lidar com as crianças que tiveram percursos muito conturbados durante o ensino básico” e, por outro, que se continua a encarar o ensino profissional como se este servisse “para tudo e para todos”.
Entre os estudantes que se inscreveram no ensino profissional em 2014/2015, estão incluídos 5652 alunos que concluíram o 9.º ano nos Cursos de Educação e Formação (CEF) do ensino básico, 1769 que terminaram o 3.º ciclo do ensino básico nos cursos vocacionais, criados por Nuno Crato, e 448 que frequentaram turmas do básico com Percursos Curriculares Alternativos (PCA). Todas estas ofertas têm em comum o facto de se destinarem a alunos com um historial de retenções, como comprovam aliás as suas idades médias de chegada ao secundário: oscilam entre 16,9 e 17,3 anos, enquanto os que vêm do ensino regular têm em média menos de 16 anos. O que mostra que os primeiros tiveram mais chumbos no seu percurso anterior do que os segundos.
São cursos que, “já em si, constituem soluções de ‘segunda’ e de terceira’”, critica Joaquim Azevedo, para defender que quando os adolescentes, que foram para ali encaminhados, os terminam “deveriam continuar a usufruir de alternativas curriculares adequadas e não ser ‘remetidos’ para o ensino profissional, como se, por não ser ‘ensino geral’, servisse para tudo e para todos!”. O que não é verdade, insiste: “O ensino profissional não é um percurso mais fácil que o do ensino geral. Exige, por exemplo, uma clara orientação e ‘vocação’”.
Ora, acrescenta, “uma boa parte dos alunos que são oriundos daqueles outros cursos do ensino básico não reúnem condições básicas para prosseguirem estudos em ambas estas modalidades [geral e profissional], que são pouco flexíveis e muito rígidas”.
Lisboa com maus resultados
E por isso continuam a ter o fracasso pela frente já que, denuncia ainda Azevedo, continua a existir “uma devoção incompreensível e comum com o modelo curricular único e igual para todos, que arrasta imenso insucesso escolar desnecessário”.
No conjunto, a percentagem de alunos que concluiu o ensino profissional em três anos passou de 53% em 2014/2015 para 60% em 2016/2017. No seu estudo, a DGEEC aponta outras diferenças que apresenta como “muito significativas”.
Por exemplo, em 2016/2017 a taxa de conclusão no tempo normal para um curso profissional na Área Metropolitana de Lisboa (46%) ficou 21 pontos abaixo da atingida no Norte (67%). É uma tendência que se repete. Como é também a do maior sucesso das raparigas, mesmo nos cursos profissionais: 68% concluíram em três anos, quando entre os rapazes este valor foi de 55%. Ou ainda a que aponta para um melhor desempenho das escolas profissionais privadas, onde 67% dos alunos conseguiram concluir no tempo normal. Nas secundárias públicas este feito foi alcançado por 56%.
Só para os mais fracos
As classes mais favorecidas só optam pelo ensino secundário profissional quando os seus filhos mostram grandes dificuldades nos estudos. Esta é uma das conclusões da DGEEC, que analisou as idades de ingresso no ensino profissional e as taxas de conclusão em tempo normal entre os alunos dos escalões A e B da Acção Social Escolar (ASE) e comparou-as com as registadas entre os estudantes que não necessitam destes apoios.
Primeiro resultado que a DGEEC apresenta como sui generis: ao contrário do que sucede no ensino regular, “os indicadores de sucesso no ensino profissional não atingem os seus valores mais elevados entre os alunos que não beneficiam da Acção Social Escolar (ASE), mas sim entre os que estão no escalão B”. Nos primeiros a taxa de conclusão em três anos é de 56%, enquanto nos segundos sobe para 63%. Entre os alunos oriundos dos agregados mais desfavorecidos, que estão no escalão A da ASE, este valor é de 52%, o mais baixo, portanto.
Segundo resultado: “A idade média de ingresso no profissional é mais elevada para os alunos sem ASE (16,1) do que para os estudantes no escalão B (16).” E isso quer dizer, frisa a DGEEC, que os primeiros “têm mais retenções anteriores” do que os segundos, quando em geral os estudantes do básico sem apoios da ASE “têm, em média, indicadores de sucesso escolar francamente superiores” aos dos alunos que beneficiam de apoios.
Somando estas duas realidades, a DGEEC afirma então o seguinte: “Os alunos de estratos socioeconómicos elevados têm que evidenciar dificuldades escolares muito marcadas durante o ensino básico para que os respectivos agregados familiares optem pela sua matrícula no ensino profissional.”
E aqui chegados aplica-se a eles o que se passa também com todos os outros alunos com um histórico de chumbos: como o “sucesso no básico é um dos preditores do sucesso no profissional” e eles não o tiveram, acabam também por soçobrar nos cursos profissionais