Escola do Cerco decide abrir inquérito ao caso da ameaça com pistola de plástico

Lusa | 2008-12-26

Lina Maria defendeu que o inquérito “não deve ser desenvolvido a quente, tendo em atenção que pais e alunos estão ainda muito nervosos com tudo o que aconteceu”. E sublinhou: “Se calhar, é melhor acalmar um bocadinho, para que as coisas possam ser feitas com discernimento”.

Na origem deste caso ocorrido na Escola EB 2,3/S do Cerco do Porto, na zona oriental da cidade, está um vídeo, com cerca de 30 segundos, filmado com um telemóvel, que mostra um grupo de alunos a ameaçar a professora de Psicologia com uma arma de plástico, exigindo melhores notas. O incidente ocorreu a 18 de dezembro, último dia de aulas do primeiro período, com uma turma do 11.º ano de escolaridade.

Na reunião de hoje, os alunos garantiram que não tiveram intenção de agredir ou violentar alguém, “muito menos a professora”. “Aquilo foi resolvido na altura. Eles próprios acharam que tinham passado os limites e pediram desculpa à professora. Ela aceitou e tudo ficou por aí, tanto que [a professora] não fez qualquer participação”, revelou a presidente da Associação de Pais.

Os alunos garantiram ainda que nenhum deles colocou as imagens no Youtube. “Terão passado as imagens a alguém que não é tão amigo deles quanto pensam e que as colocou no Youtube”, referiu Lina Maria. De qualquer forma, a associação de pais reconhece que o comportamento dos alunos foi incorreto. “E os alunos tiveram consciência disso, o que acho muito importante”, frisou.

A diretora Regional de Educação do Norte, Margarida Moreira, já desvalorizou o incidente na Escola do Cerco do Porto, considerando, em declarações proferidas ontem, que se tratou de “uma brincadeira de muito mau gosto, que excedeu os limites do bom senso”.

Reunião com alunos da Escola Secundária do Cerco termina sem conclusões

Lusa | 2008- 12-26

Os participantes na reunião, alunos e pais, acabaram por abandonar a escola pelas traseiras do edifício e os jornalistas, que aguardavam no portão principal, foram confrontados com a decisão da presidente do Conselho Executivo, Ludovina Costa, de não prestar qualquer declaração sobre o assunto.

“Estão convencidos que o problema se resolve fechando tudo à comunicação social”, lamentou Manuel Valente, presidente da Federação das Associações de Pais do Porto, em declarações à Lusa.

Este responsável desvalorizou, no entanto, a importância da reunião realizada hoje de manhã, frisando que “quando muito serviu para abrir um inquérito para um eventual processo disciplinar”.

“Ninguém está à espera que tenha acontecido um julgamento sumário”, afirmou o responsável.

Na origem deste caso ocorrido na Escola EB 2,3/S do Cerco do Porto, na zona oriental da cidade, está um vídeo, com cerca de 30 segundos, filmado com um telemóvel, que mostra um grupo de alunos a ameaçar a professora de Psicologia com uma arma de plástico, exigindo melhores notas.

Curiosamente, segundo revelou anteriormente a presidente do Conselho Executivo da escola, os alunos dão-se bem com a professora e, na turma inteira, só um aluno tem nota negativa nesta disciplina.

O incidente ocorreu a 18 de dezembro, último dia de aulas do primeiro período, com uma turma do 11.º ano de escolaridade.

A professora acabou por sair da sala e, mais tarde, considerou o caso “como uma brincadeira de mau gosto”, tudo apontando para que o problema acabasse ali.

A divulgação do vídeo na Internet veio, no entanto, expor o caso publicamente, o que levou o Conselho Executivo a abrir um inquérito.

Para Manuel Valente, a divulgação deste vídeo, dias depois de ter sido filmado, pode indiciar interesses de “alguma das forças atualmente em conflito nas escolas, os sindicatos ou o ministério”.

“Alguém encomendou o serviço, foi tudo muito bem organizado”, salientou, estranhando a “rapidez” com que o dirigente da Plataforma Sindical dos Professores, Mário Nogueira, prestou declarações sobre o assunto.

Sobre esta acusação, Mário Nogueira já respondeu esta manhã, na TSF, que, na sua opinião, Manuel valente devia acabar com os seus “fantasmas”, antes do início de cada ano letivo.

A diretora Regional de Educação do Norte, Margarida Moreira, desvalorizou o incidente na Escola do Cerco do Porto em declarações à Lusa, considerando que se tratou de “uma brincadeira de muito mau gosto, que excedeu os limites do bom senso”.

Manuel Valente entende que o que se passou naquela escola na aula de Psicologia “é mais sério do que uma brincadeira de mau gosto”, mas defendeu que não é castigando os alunos que o problema se resolve.

“O castigo não resolve o problema”, afirmou o responsável, acrescentando que os alunos envolvidos não deverão receber “mais do que uma repreensão”.

A Escola 2,3/S do Cerco do Porto fica situada na freguesia de Campanhã, junto ao Bairro do Cerco, um dos mais problemáticos da cidade.

Recentemente, surgiu no ranking das escolas portuguesas como uma das piores do país.

O efeito You Tube
Casos como o dos alunos que apontaram uma arma de plástico a uma professora numa escola do Porto provam que sites de partilha de vídeo como o YouTube estão a transformar o jornalismo, segundo especialistas contactados pela Lusa.

“Sem o vídeo [esta situação] nunca seria notícia, como não o foi na própria escola nesse dia e nos seguintes. Seria apenas mais um dos milhares de atos de desrespeito e falta de educação que diariamente ocorrem pelo País fora, não só nas nossas escolas”, disse a professora da Universidade da Beira Interior Anabela Alves, que dirige a Licenciatura em Ciências da Comunicação e o Mestrado em Jornalismo daquela escola.

A especialista, contactada pela Lusa entes do episódio da escola do Cerco, no Porto, falava a propósito do vídeo divulgado em março que mostrava uma aluna da escola Carolina Michaelis a agredir uma professora que lhe confiscara o telemóvel. Mas podia referir-se ao episódio mais recente da escola do Cerco.

Alunos do Cerco que ameaçaram professora são hoje ouvidos

Público | 2008-12-26

Representantes dos pais responsabilizam DREN, reclamam fim dos telemóveis nas aulas e mais funcionários nas escolas do Porto.

Os alunos do 11.º ano do Agrupamento Vertical do Cerco, no Porto, que apontaram uma arma de plástico a uma professora, durante uma aula em que se discutia atribuição de notas, começam hoje a ser ouvidos no âmbito de um inquérito disciplinar instaurado pela presidente do conselho executivo, Ludovina Costa.

Apesar de considerar que o episódio não passou de “uma brincadeira de mau gosto que excedeu os limites do bom senso”, a diretora regional de Educação do Norte (DREN), Margarida Moreira, garantiu ontem que o gabinete de segurança do organismo que dirige vai acompanhar o inquérito ao caso, que evoca a disputa de um telemóvel entre uma aluna e uma professora na escola Carolina Michaëlis.

Neste caso, tal como noticiou ontem o Jornal de Notícias, foi um grupo de alunos do 11.º ano de ensino tecnológico/desporto que, a 18 de dezembro, último dia de aulas, apontou uma arma de plástico à professora de Psicologia, exigindo-lhe a atribuição de uma nota positiva. O episódio foi filmado com um telemóvel e colocado na Internet. O filme mostra um aluno a, numa aparente brincadeira, apontar uma pistola de plástico à nuca da professora, num ambiente de galhofa mas marcado por gestos agressivos.

A docente reagiu com calma. Mas, depois de vários apelos à serenidade, acabou por sair da sala com o aviso de que ia marcar faltas disciplinares. Ainda segundo o JN, dirigiu-se depois à diretora de turma, a quem relatou o sucedido. Um dos alunos terá pedido desculpa, alegando que tudo não passara de uma brincadeira.

Ludovina Costa foi a primeira a desvalorizar o caso, considerando que aquela turma é composta por 12 “miúdos simpáticos”, sem problemas disciplinares. Na disciplina em causa houve apenas uma negativa (um nove). A decisão de abrir um inquérito disciplinar decorrerá assim do facto de o vídeo ter sido tornado público mais do que pelo episódio em si.

A diretora da DREN também desdramatizou o assunto. Margarida Moreira sublinhou que os estudantes em causa tiveram um passado de insucesso escolar mas que recuperaram, depois de terem sido integrados no curso de Desporto.

“Não gostaria que um momento de mau gosto e insensatez, que todos podemos ter tido aos 17 ou 18 anos, acabe por marcar um percurso que já é, e quero que continue a ser, feito de sucesso”, declarou.

Punição “exemplar”
Já para a plataforma sindical de professores, foi “uma atitude clara de indisciplina, totalmente inaceitável e inadmissível”. Considerando que o conselho executivo faz mal em desvalorizar o caso, o porta-voz da plataforma, Mário Nogueira, defendeu que “deve haver um processo de apuramento de responsabilidades e uma punição disciplinar dos alunos” que seja “exemplar, sem ser excessiva”.

O Agrupamento Vertical do Cerco, nas proximidades de um dos bairros sociais mais problemáticos do Porto, é um território educativo de intervenção prioritária, criado para promover o sucesso dos alunos de meios desfavorecidos. Mas os problemas de indisciplina têm-se sucedido.

Em setembro, os encarregados de educação foram proibidos de entrar na escola depois de uma professora do 1.º ciclo ter sido esbofeteada pelos pais de um aluno. E, para Manuel Valente, da Federação de Associações de Pais do Porto, a situação não vai mudar enquanto não forem afetados mais funcionários às escolas deste e de outros agrupamentos.

“A situação está insustentável e a DREN continua sem fazer nada e a achar que resolve o problema proibindo os pais de entrar nas escolas”, acusou. Nas contas de Valente, as escolas do Porto têm perto de 100 funcionários a menos.

“Não gostaria que um momento de insensatez acabe por marcar um percurso de sucesso”, diz Margarida Moreira.

30 horas de trabalho comunitário foi o castigo imposto à aluna no incidente do Carolina Michaëlis.

Escola vê ameaça como brincadeira

Correio da Manhã | 2008-12-26

Em plena sala de aula, um dos alunos aponta a pistola à cabeça da professora, exigindo que ela lhe dê boas notas. A docente vai sorrindo, mostrando-se mais concentrada no telemóvel.

Silêncio e irritação. Os habitantes do bairro do Cerco, no Porto, ficaram bastante incomodados com a mediatização do episódio em que alunos do 11.º ano do Agrupamento Vertical da Cerco ameaçaram uma professora de Psicologia com uma pistola de plástico. Numa zona socialmente problemática, a reação acabou por não ser a melhor à presença de jornalistas. “A professora achou uma brincadeira e não fez queixa. Para que é que vêm vocês falar nisso agora?”, questionou um dos habitantes do bairro.

O CM apurou que, entre os pais dos alunos da turma envolvida no episódio, que frequentam o curso de Desporto do Ensino Tecnológico, muitos temem que os filhos sejam penalizados. Tudo devido à divulgação, na internet, de um incidente que nem foi participado pela escola à Direção Regional de Educação do Norte (DREN).

‘Lamento seriamente que a Comunicação Social saiba do sucedido antes do Ministério’, disse Margarida Moreira, diretora da DREN, admitindo que o grupo de alunos tem um percurso marcado pelo insucesso escolar. A escola só agora abriu um inquérito e os alunos são ouvidos hoje. A situação data de 18 de dezembro, mas apenas ontem veio a público: o vídeo mostra jovens, com idades a rondar os 18 anos, a empunhar um revólver de brincar enquanto fazem pedidos de melhoria de nota antes das férias. ‘Então, dá-nos positiva ou não?’, questiona um dos alunos. A professora começa por se rir da situação, mas depois ameaça toda a turma com faltas disciplinares.

Pais defendem proibição de telemóveis
Manuel Valente, da Federação de Associações de Pais do Porto, culpa a DREN por mais uma situação violenta ter ocorrido numa escola pública. ‘Há culpados que têm de ser denunciados e o mais importante de tudo é que a administração escolar devia ter imposto regras claras que impedissem a utilização de telemóveis durante as aulas e não o fez’, disse o responsável, lembrando o caso ocorrido na Secundária Carolina Michaelis. Manuel Valente defende que também os professores deviam ser proibidos de usar o telemóvel nas aulas, já que se trata de um claro sintoma de perturbação. ‘Deviam dar o exemplo’, concluiu.

Escola ficou em último no ranking CM
A EB 2,3 e Secundária do Cerco ocupa o último lugar do ranking CM, publicado há poucos meses e feito com base nas médias dos exames nacionais do Secundário.

Situada num dos mais problemáticos bairros do Grande Porto, já foram protagonizados naquela escola diversos episódios de violência. Com uma comunidade estudantil com elevados níveis de abandono escolar e muito ligada ao problema da toxicodependência, a colocação da EB 2,3 no último lugar do ranking não surpreendeu ninguém. ‘Já estamos habituados a ser os piores, até por causa do bairro aqui ao lado. Dos professores não tenho qualquer queixa’ disse na altura ao CM Emília Ferreira, que tem duas filhas a frequentar a Escola do Cerco. A diretora do Conselho Diretivo recusou-se a falar ao CM.

Professora aceita pedido de desculpa de Patrícia
Patrícia, a aluna da Escola Carolina Michaëlis (Porto), que protagonizou o caso conhecido como ‘dá-me o telemóvel, já!’, esteve a cumprir trabalho comunitário na Junta de Freguesia de Custóias, em Matosinhos, depois da professora ter aceite o pedido de desculpas. ‘Podia ter ido com o processo para a frente e a aluna teria sido condenada. Mas a professora aceitou o arrependimento da jovem e anuiu a que o processo fosse suspenso’, disse ao CM Ana Espírito Santo, advogada da professora. Os outros dois alunos que também protagonizaram o incidente, entre eles o jovem que filmou e colocou o vídeo na internet, também foram condenados a trabalho comunitário. Um deles esteve numa esquadra da polícia, outro ajudou uma corporação de bombeiros.

Neste caso também a agressão foi divulgada pela internet, depois de Filipe, colega de turma de Patrícia, ter filmado toda a cena. A professora envolveu-se numa troca de palavras com a aluna e acabaram em confronto físico, quando a docente tentou tirar o aparelho das mãos da jovem. No vídeo, colocado na internet, ouvem-se os risos dos colegas de Patrícia.

DISCURSO DIRETO

“Sem limites, o fenómeno tende a multiplicar-se” (João Grancho, Presidente da Ass. Nac. Professores)

Correio da Manhã: Há caso para preocupação ou entende que foi uma brincadeira?
João Grancho: Não estamos perante um caso de grande gravidade, mas também não se pode cair no extremo da simplificação. Houve intenção dos alunos, que já deviam ter toda a situação planeada.

CM: Como se coloca um ponto final nestas situações?
JG: Com a proibição dos equipamentos tecnológicos na sala de aula e também com um plano de formação cívica, olhando o problema de frente. Depois, as atitudes dos alunos têm que ser responsabilizadas e o inquérito deve ser tornado público.

CM: Pensa que sem a presença de telemóveis as situações não acontecem?
JG: é uma questão de limites. Parece que os alunos não têm perspetivas de limites. Sem limites nem responsabilidades, o fenómeno tende a multiplicar-se.

NúMEROS
918 casos de violência contra bens pessoais registados nas escolas no ano letivo 2006/07, dos quais 367 respeitantes a telemóveis

30% a 35% das crianças foi alvo de violência escolar em Portugal, dizem as estatísticas.

6% destes alunos foi vítima de agressão física ou psicológica continuada, um fenómeno apelidado de bullying.

7028 é o número de ocorrências no ano escolar de 2006/2007, de acordo com o Relatório de Segurança do Governo.

141 do total de ocorrências registadas pela PSP e GNR, 2% (141 casos) foi situações de posse de arma por alunos.

185 casos registados de agressão ou tentativa de agressão a professores. A estes acrescem 147 a funcionários das escolas.

NOTAS

Fafe I: Ministra vaiada…
Em 11 de novembro, a ministra da Educação foi vaiada por vários alunos do Agrupamento de Escolas Padre Joaquim Flores, em Revelhe, Fafe. Foi o início de um dia complicado

Fafe II: … E alvo de ovos
Nesse dia de novembro, Maria de Lurdes Rodrigues foi ‘corrida’ de Fafe. Quando estava a chegar à Escola Profissional, a comitiva foi recebida por uma chuva de ovos. Os carros não pararam

Aluno de 15 anos espanca auxiliar

Correio da Manhã | 2008-12-22

O caso, que aconteceu há pouco mais de um mês junto à portaria da EB 2,3 de Paços de Brandão, não deixou indiferente a comunidade escolar. Três casos de agressão em escola de Santa Maria da Feira.

Uma auxiliar de ação educativa da EB 2,3 de Paços de Brandão, Santa Maria da Feira, foi espancada a murro e a pontapé por um aluno, de 15 anos, na portaria do estabelecimento de ensino. Foi a segunda vez que Fátima Almeida, de 51 anos, foi agredida.

Mas, mesmo assim, prefere o silêncio para não arriscar um processo disciplinar. Ao CM apenas confirmou o caso e deixou escapar um lamento: “Trabalhei numa escola no bairro do Cerco, no Porto, e nunca me aconteceu nada disto.”

O presidente do conselho executivo da EB 2,3, Rafael Barros, confirma os incidentes, mas diz que a última situação “está a ser empolada”.

O caso remonta a 14 de novembro e desde então a auxiliar tem estado de baixa médica. Segundo alguns amigos, “por causa das lesões, mas também por se sentir psicologicamente debilitada”.

A agressão terá começado ao final da tarde quando um aluno, primo do agressor, que perdeu o autocarro, ameaçou a auxiliar dizendo que ela teria de o levar a casa, por ter perdido o autocarro. Fátima Almeida pediu-lhe respeito e foi aí que o primo do aluno resolveu entrar na discussão, ameaçando que lhe “fazia a folha”. A auxiliar não se intimidou e tentou tirar o aluno do interior da portaria. Aí começaram as agressões.

“Ele deu-lhe um violento empurrão, ela caiu de costas, e ele, não satisfeito, começou a agredi-la com murros e pontapés nos braços e cabeça. Só parou quando o primo lhe disse que já chegava”, contou ao CM fonte ligada à escola. Fátima Almeida tentou fugir para pedir socorro, mas desmaiou pelo caminho e só acordou no hospital.

O aluno continua a frequentar a escola, o que revolta os auxiliares da mesma, que dizem ter medo de serem também agredidos.

Atualmente, entre os alunos o agressor é visto como um herói, o que faz aumentar a revolta dos funcionários e também de encarregados de educação.

Agressões são dia a dia em várias escolas
São inúmeros os casos de violência ocorridos no meio escolar. O CM recorda alguns episódios mais recentes: em abril, um aluno de 16 anos agrediu com um murro na cara uma cozinheira da Secundária do Laranjeiro, Almada. A agredida apresentou queixa na PSP. Quem também se queixou foi uma professora de uma escola do Barreiro. Foi agredida a pontapé por uma aluna de 11 anos. Há dois anos, um casal, familiar de um aluno de uma escola básica no Lumiar (Lisboa), entrou na escola e agrediu uma professora, que recebeu assistência do INEM. Uma educadora de um jardim-de–infância de Celorico da Beira foi agredida pela mãe de uma criança de seis anos. Uma aluna de uma escola do Porto envolveu-se em violência física com uma professora devido a um telemóvel.

Procurador alertou para as denúncias
A violência na escola foi assumida como uma preocupação do Procurador-geral da República, Pinto Monteiro, que ouviu pais e professores. O problema traduz-se nas denúncias: 57 casos no primeiro semestre de 2008, só no distrito judicial de Lisboa. O que levou Pinto Monteiro a lançar alertas: “Um miúdo de 15 anos que bate no professor e a diretora, com medo, não participa, é uma situação tremenda.” “Tenho elementos seguros de escolas em que os alunos vão armados com pistolas de 6,35 e 9 milímetros.” “A violência escolar funciona como uma espécie de embrião para níveis mais graves de criminalidade.”

PORMENORES

Três casos num ano
A juntar a esta agressão, soma–se no último ano a violência sobre outras duas auxiliares por alunos, na altura suspensos de ir às aulas. No processo cível, os casos foram arquivados por os alunos serem menores.

Devem ignorar
Após a última agressão, um grupo de pais e os funcionários da EB 2,3 pediram uma reunião de emergência com a direção da escola. Foram aconselhados, pelo responsável, a não reagir às provocações dos alunos e a ignorar as ameaças.

O problema de Eucride, o aluno assassinado na Casa Pia, “era morar em Santa Filomena”

Público | 2008-12-16

A PSP garante que reforçou a segurança nos bairros da vítima e do suspeito de homicídio. Todos temem que nos próximos dias possa haver confrontos.

Há tensão no bairro onde vivia Eucride Varela, o estudante de 19 anos assassinado na sexta-feira no Colégio Pina Manique da Casa Pia de Lisboa. “Os jovens de Santa Filomena estão muito revoltados”, diz Alcides Mendes, presidente do Espaço Jovem – a única associação deste bairro degradado da Amadora que procura ocupar os mais novos nos tempos livres.

Temem-se confrontos entre grupos de Santa Filomena e do Casal da Mira – outro bairro complicado na Amadora, onde vive o alegado homicida de Eucride, já detido pela polícia. “Se se encontrarem, vai haver problemas”, diz Alcides Mendes. Apesar de ontem à tarde não ser visível a presença de polícia em Santa Filomena, a PSP garante que reforçou a segurança tanto ali como no Casal da Mira.

O rastilho acendeu-se na sexta-feira de manhã. Dois alunos do colégio da Casa Pia agrediram-se e ambos foram suspensos pela direção da escola. O que se terá passado de seguida ainda está a ser investigado pela Polícia Judiciária, mas um dos jovens envolvidos terá telefonado para amigos do Casal da Mira que se juntaram e foram ao Pina Manique para o ajuste de contas com os de Santa Filomena.

Morte “impensável”
Por volta da uma da tarde, quando muitos dos mil alunos do colégio almoçavam no refeitório, aconteceu o que Joaquina Madeira, presidente do conselho direto da Casa Pia, descreveu como “impensável”: invadiram a escola, semearam o pânico e esfaquearam Eucride Varela que, aparentemente, não teria nada a ver com o caso.

“A coisa não foi contra ele. O problema dele era morar no Bairro de Santa Filomena”, diz Mendes.

Ontem, depois do funeral onde participaram mil pessoas (entre familiares, amigos do bairro e colegas da Casa Pia), o presidente do Espaço Jovem estava triste e preocupado. “Já tentei falar com jovens, mas neste momento ninguém consegue ouvir”, comentava nas instalações da associação, um cubículo com computadores e um grande buraco no teto.

O edifício, onde muitos miúdos vão fazer os trabalhos de casa e aprender a navegar na Internet, é como o resto do bairro, onde as ruas são de terra batida e as casas abarracadas: apesar das cores vivas com que está pintado, tem um aspeto triste.

A notícia da morte do casapiano caiu que nem uma bomba. O rapaz “era querido” em Santa Filomena e “nunca se metia em problemas”, diz Mendes, que chegou a ser monitor de Eucride na escola de futebol do Espaço Jovem – até esta fechar por falta de verba para pagar a monitores. No Colégio Pina Manique repetem-se os elogios: Eucride era “bom aluno”, conciliador, cordato.

“Pancadaria” frequente
“Nem sei como é que isto aconteceu. Há rapazes do Casal da Mira que jogam futebol aos fins de semana com os de Santa Filomena. Claro que há uns que não se dão com outros, mas isto não é uma coisa de gangues”, continua Alcides Mendes.

A família de Eucride está “arrasada” e o pai do jovem já disse ao Correio da Manhã que pretende processar a Casa Pia. Considera inaceitável que o seu filho tenha sido morto na escola, local onde devia estar seguro.

Mas as cenas de violência não são novidade neste colégio frequentado por mil alunos entre os 15 e os 25 anos, muitos provenientes de bairros da periferia de Lisboa com problemas graves. Funcionários do colégio garantem que a “pancadaria” tem sido frequente. Um estudo da DECO, baseado num inquérito feito há dois anos em 204 escolas do país, colocava Pina Manique entre as 25 mais inseguras.

“Estamos a fazer uma reflexão profunda com professores, alunos e pais”, afirmou ontem a secretária de Estado adjunta e da Reabilitação, Idália Moniz, à saída do Cemitério de Benfica, onde Eucride Varela foi sepultado. “Temos de perceber o que se passou.”

Aluna constituída arguida aos 9 anos

Correio da Manhã | 2008-12-13

Briga entre crianças descrita como num processo judicial.

Uma aluna de nove anos da Escola Básica n.º 1 da Pedrulha, em Coimbra, foi constituída ‘arguida’ no âmbito de um processo disciplinar e a mãe notificada com documentos recheados de frases típicas de uma acusação judicial. A criança – que se envolveu numa briga com uma colega que já a tinha ferido – foi acusada e obrigada a mudar de estabelecimento de ensino.

A mãe da menor, Alexandra Sampaio, mostrou-se ontem revoltada com a situação e vai apresentar uma queixa ao Ministério da Educação. O que mais a indigna é a filha ser a “arguida” quando “foi ela a vítima”, mas os termos usados na notificação enviada pela escola também lhe desagradam. Embora o Estatuto do Aluno preveja a utilização da palavra “arguido” (no sentido de acusado), a linguagem do documento é a própria de uma acusação para um julgamento em tribunal.

Nos documentos constam frases e expressões como “a arguida agiu de forma livre e consciente, bem sabendo que a sua conduta era violadora dos seus deveres enquanto aluna” ou “notifica-se a aluna para depor como arguida”.

A briga que motivou o processo ocorreu em outubro, quando a menor foi insultada por uma colega mais velha e acabou por, segundo a “acusação”, lhe dar “uma bofetada na cara”, tendo as duas trocado agressões. Alexandra Sampaio garante que a filha “andava a ser vítima” desta colega desde janeiro e que até já tinha participado a situação à professora e pedido apoio psicológico para as menores. “A miúda em causa é muito problemática e já tem agredido outros colegas, por isso pedi ajuda”, conta. “A professora sempre me disse que não podia fazer nada e por isso desta vez decidi apresentar queixa no Agrupamento de Escolas da Pedrulha, esperando que protegessem a minha filha e não que a condenassem e tratassem como se fosse um monstro, como veio a acontecer”, lamenta.

“A escola falhou em todo o processo: a minha filha foi acusada e à outra miúda não aconteceu nada”, diz a mãe, explicando que a “única solução” foi transferir a menor para outra escola.

“Ainda se vê as marcas profundas”
Segundo Alexandra Sampaio, os problemas começaram quando, no ano letivo passado, uma aluna repetente entrou para a turma da filha e lhe começou a “roubar o lanche para o deitar no lixo, batendo-lhe quando ela não o entregava”.

A menor, que frequentava a escola da Pedrulha desde a pré-primária, foi agredida na cara em fevereiro e, diz a mãe, “as marcas foram tão profundas que ainda hoje se vê”. Passado algum tempo, a criança “voltou a chegar a casa com o rosto marcado, dizendo que tinha sido a colega”.

Alexandra garante que a filha, que sempre foi “uma excelente aluna”, está “traumatizada” e chegou a ter “pesadelos com a colega”. Segundo a mãe, a professora terá dito que reconhecia que a aluna em causa era “violenta” e que “lhe costumava cortar as unhas para não arranhar os outros meninos”.

Agrupamento desconhece o caso
A presidente da Comissão Provisória do Agrupamento de Escolas da Pedrulha, Isilda Barros, disse ontem desconhecer o caso, referindo que “os processos disciplinares devem ser tratados na escola com os alunos e os encarregados de educação”.

“Não sei do que está a falar. Temos muitos alunos e processos”, afirmou, garantindo não ter registo de “nenhum aluno que tenha sido transferido por causa de um processo disciplinar”. A mãe diz que omitiu o verdadeiro motivo para facilitar a mudança. Quanto ao facto de a aluna ser tratada como arguida, Isilda Barros garante que tudo decorre “dentro do que está previsto na lei”.

A instrutora do processo, Carla Diogo, escusou-se a falar. O CM contactou o Ministério da Educação, que remeteu o assunto para a Direção Regional de Educação do Centro, que não respondeu em tempo útil.

Citações

“Com a sua conduta a arguida infringiu o dever de respeitar a integridade física e moral de todos os membros da comunidade educativa.”

“Deverá ser-lhe aplicada a medida sancionatória de repreensão registada e a medida de correção de comportamento.”

“Em todas as circunstâncias descritas a arguida agiu de forma livre e consciente, bem sabendo que a sua conduta era violadora dos seus deveres enquanto aluna.”

“No âmbito do processo disciplinar notifica-se a aluna […] para depor como arguido.”

“Convoco a aluna […] bem como a sua encarregada de educação se dignem a comparecer na escola a fim de tomar conhecimento da acusação.”

Carla Dinis Diogo, Instrutora do processo disciplinar

Aluno da Casa Pia morreu depois de ter sido esfaqueado

Lusa | 2008-12-12

Circunstâncias por apurar.

Um aluno da Casa Pia de Lisboa morreu hoje depois de ter sido esfaqueado, informou fonte da instituição. Desconhecem-se, por enquanto, as circunstâncias em que se deu o incidente.

Contudo, sabe-se que o aluno foi esfaqueado no tórax, tendo sido transportado ainda com vida para o Hospital São Francisco Xavier, segundo fonte do INEM. O incidente ocorreu cerca das 13h00 no Colégio de Pina Manique, em Belém. Segundo a mesma fonte, o jovem, de 19 anos, foi “vítima de agressão com arma branca no tórax”.

Para o local foram enviadas uma ambulância e uma viatura médica do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM). No local encontram-se ainda vários agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP).

Professora agredida a murro e pontapé em Gondomar

Lusa | 2008-11-29

Tudo começou com uma repreensão a um aluno de 16 anos, pelos palavrões que este proferira. Docente sofreu lesões numa perna e num olho. A Equipa de Missão para a Segurança Escolar apresentou, em abril, dados que referem uma diminuição das agressões a professores nos dois últimos anos: 390 casos em 2006; 185 em 2007.

Uma professora da Escola de Ensino Básico 2,3 de Jovim, concelho de Gondomar, foi ontem agredida a murro, estalada e pontapé por um aluno de 16 anos, tendo recebido tratamento hospitalar, disse à Lusa fonte da GNR.

A agressão terá ocorrido em retaliação por a professora o ter levado à presença do conselho executivo, por alegado comportamento incorreto. Lesões numa perna e num olho são algumas das mazelas da professora, que foi assistida no Hospital de São João, no Porto.

Em declarações à televisão regional Porto Canal, a docente, que exerce há 28 anos, contou que chamou a atenção do aluno quando este se encontrava no perímetro escolar a proferir palavrões.

“Chamei-o à atenção e ele insultou-me. A partir daí, disse que teria que ir comigo ao conselho executivo. Ele resistiu e acabou por ir, enquanto eu fui dar a minha aula”, afirmou. “Finda a aula, e ao passar junto à porta de acesso à sala do conselho executivo, ele viu-me, começou a correr para mim desenfreado e agrediu-me com murros, estalos e pontapés, além de partir os óculos”, acrescentou.

No passado dia 6, um aluno da Escola Básica 2,3 Ana Castro Osório, de Mangualde, foi suspenso, e posteriormente transferido, por ter agredido a diretora de turma. Na origem do incidente esteve o pedido, não atendido, que a docente fez ao jovem para entregar o telemóvel que este estava a usar na sala de aula. Também a recusa de uma aluna em entregar o telemóvel esteve na origem do caso da professora do Carolina Michaëllis do Porto, cuja luta corpo a corpo com a discente foi filmada por outro aluno e colocada na Internet, em março.

Mais recentemente, a 16 de outubro, uma professora da Escola Básica da Malagueira, em évora, foi atacada por um aluno durante a aula. Em abril, uma professora da Escola Básica do 1.º ciclo Arquiteto Ribeiro Teles, em Lisboa, foi agredida pelo pai de um aluno à frente da turma.

Segundo os dados disponibilizados em abril pela Equipa de Missão para a Segurança Escolar, o facto é que, contra o senso comum, as agressões contra professores diminuíram quase 50 por cento entre 2007 e 2008, passando de 390 para 185 casos.

Professora agredida a murro e pontapé por aluno

Público | 2008-11-29

A agressão terá ocorrido em retaliação por a professora o ter levado à presença do Conselho Executivo, por alegado comportamento incorreto.

A docente foi assistida no Hospital de São João, no Porto, com lesões numa perna e num olho.

Em declarações à televisão regional Porto Canal, a docente, que exerce há 28 anos, contou que chamou a atenção do aluno quando este se encontrava no perímetro escolar a proferir palavrões.

“Chamei-o à atenção e ele insultou-me. A partir daí, disse que teria que ir comigo ao Conselho Executivo (CE). Ele resistiu e acabou por ir, enquanto eu fui dar a minha aula”, afirmou.

“Finda a aula, e ao passar junto à porta de acesso à sala do CE, ele viu-me, começou a correr para mim desenfreado e agrediu-me com murros, estalos e pontapés, além de me partir os óculos”, acrescentou.

CDS-PP exige explicações a ministra
A propósito de mais esta agressão a um docente, o CDS-PP quer que a ministra da Educação dê explicações sobre o quadro recorrente de violência nas escolas.

“Esta situação é mais uma das demasiadas que estão a ocorrer no nosso país e que não são situações de mera indisciplina ou insubordinação. São casos de violência e com alguma gravidade”, disse Nuno Magalhães.

“Nós vamos exigir por escrito à senhora ministra uma resposta em que nos dê conta daquilo que foi feito – presumimos pouco – no último ano e explicações concretas sobre este caso que, pelas proporções que assume, está de alguma forma a chocar o país”, adiantou o deputado.

“Tudo isto é grave tanto mais que nós não só denunciámos há mais de um ano a existência destes fenómenos como apresentámos soluções. (…) Apresentámos um projeto-lei que visava considerar circunstância agravante a prática de crimes nas imediações da escola ou contra a comunidade escolar nessas mesmas imediações. Infelizmente, o PS chumbou este projeto”, acrescentou o deputado do CDS-PP.

Aluno expulso por agressão

Correio da Manhã | 2008-11-22

é a terceira escola que vai frequentar em dois anos. O menor agrediu uma professora no átrio da Escola Básica Ana Castro Osório, em Mangualde.

Um aluno, de 15 anos, da Escola Básica 2/3 Ana Castro Osório, em Mangualde, que agrediu uma professora a murro, por causa de um telemóvel, vai ser transferido de escola por determinação da Direção Regional de Educação do Centro (DREC). Trata-se da segunda expulsão do estudante, em dois anos, motivada por mau comportamento.

A agressão verificou-se no início do mês e levou à sua imediata suspensão por dez dias. Durante este período, a DREC procedeu a um inquérito, tendo ouvido a vítima, professores e os pais do adolescente. Tendo em conta o “passado comportamental do aluno” – já tinha sido transferido de outra escola de Mangualde em 2007 – bem como a “gravidade do caso”, a DREC optou por transferi-lo para uma escola da zona de Viseu.

“Trata-se de um caso complexo, mas não se pode deixar de ajudar este aluno que ainda está em idade escolar e tem muitas potencialidades”, referiu ontem ao CM um elemento ligado ao processo, salientando que a decisão “é a mais indicada para todos”. O estudante, que é hiperativo, “tinha poucas condições” para continuar na Escola Ana de Castro Osório, adiantou a mesma fonte.

A professora foi agredida a murro quando pediu ao aluno a devolução de um telemóvel que ele tinha tirado à força a um colega mais novo.

Alunos de Lisboa querem mais segurança nas escolas

Lusa | 2008-11-21

Questões sobre segurança, falta de condições nas escolas e carências de equipamentos escolares dominaram ontem a sessão da Câmara Municipal de Lisboa com 30 crianças do ensino básico para comemorar a Declaração Universal dos Direitos das Crianças.

Entre as perguntas mais colocadas pelas 30 crianças selecionadas do 4.º ano de outros tantos agrupamentos de escolas do concelho de Lisboa, a segurança foi a que motivou mais questões ao presidente da câmara, António Costa. Os alunos reclamaram mais policiamento, mais passadeiras e mais visíveis frente às escolas, recreios com mais equipamentos lúdicos – incluindo para desportos radicais – e mais auxiliares de educação.

Solicitaram ainda que o executivo municipal contribua para que os condutores não deixem carros estacionados em cima dos passeios, o que lhes dificulta “bastante” o acesso aos estabelecimentos de ensino em condições de segurança.

Estudantes denunciam carga policial em escola de Alfragide

Lusa/Público | 2008-11-11

Ontem ainda ninguém sabia ao certo quem havia encerrado com cadeados os portões da escola de Alfragide.

Alunos da escola básica 2,3 Almeida Garrett, em Alfragide (Amadora) queixam-se de terem sido alvo de agressões policiais, ontem de manhã, na sequência de um protesto contra o novo estatuto do aluno.

Eram 7h30 quando os primeiros alunos e professores começaram a chegar à escola e encontraram os portões fechados, com correntes e cadeados, e um cartaz onde se lia “Não ao estatuto do aluno”. Ninguém sabe quem terá fechado os portões. A polícia foi chamada a intervir; às 9h30 os portões estavam desimpedidos, mas os estudantes garantem que foram alvo de carga policial e pelo menos quatro ficaram feridos.

Bruna Cruz, aluna da escola, conta que quando a polícia chegou, os alunos colocaram-se à frente dos portões, fazendo “uma corrente humana”, que a polícia “tentou desviar”. Garante ainda que, no momento de maior confusão, levou com um cassetete “de raspão”, num joelho. “[Primeiro] foram com o carro para cima de nós, [depois] tentaram tirar-nos à força.” “[Até] me agarraram no pescoço”, diz Carlos Sousa, outro aluno.

Uma outra criança de dez anos terá ficado ferida, disse a mãe da menina à agência Lusa. Foi já no trabalho que Irene C. recebeu uma chamada a informá-la da situação, adiantando que estava à espera da filha para ir com ela à esquadra apresentar queixa.

Em comunicado, a PSP diz que “de forma a garantir o acesso ao portão, barricado pelos alunos, os agentes policiais desviaram-nos, principalmente os que se encontravam mais exaltados, tendo desta forma sido possível chegar ao cadeado”: “Ocorreram algumas agressões, verbais e físicas, aos agentes que ali se encontravam, não tendo estes respondido, afastando apenas os alunos.”

Cátia Vieira, presidente da Associação de Estudantes, diz que os protestos não foram organizados pela associação, nem tem conhecimento de que tenham sido organizados por alunos da escola. Conta ainda que circulam sms desde sábado, dando conhecimento da manifestação.

O coordenador da Plataforma Estudantil Diretores Não (que organizou uma manifestação nacional na semana passada contra o novo estatuto do aluno) disse desconhecer qualquer iniciativa. “Queremos acreditar que agiram de boa fé, mas não nos revemos neste tipo de ação”, disse ao Público Luís Baptista.

Pais encerram escola na Ajuda alegando falta de segurança

Lusa | 2008-11-07

Pais de alunos da Escola Básica 118 do Alto da Ajuda, em Lisboa, encerraram ontem a cadeado o estabelecimento em protesto contra a falta de segurança das crianças e alegadas agressões por parte de estudantes mais velhos.

Junto aos portões da escola, cerca de duas dezenas de pais de alunos manifestaram-se contra a situação que se vive no estabelecimento de ensino, reivindicando mais segurança, nomeadamente policiamento, iluminação pública e auxiliares educativos. Apesar de a escola ter sido reaberta pelos bombeiros, nem todos os pais deixaram as crianças ir às aulas, afirmando que não as deixarão regressar enquanto a situação não for resolvida.

Para os pais, uma das soluções para as agressões físicas – que na maioria dos casos ocorrem no recreio – podia passar por juntar os alunos do primeiro e segundo ano num determinado horário de recreio e noutro horário os do terceiro e quatro, onde estão alunos de 13 e 14 anos que alegadamente são a causa dos problemas. Alegam ainda os pais que a diretora da escola conhece a situação, “mas nada faz para a resolver”.

Ana Paixão, mãe de duas crianças, disse que há agressões físicas dentro da escola, por vezes violentas, acrescentando que pais, professores e auxiliares também já foram agredidos fisicamente. Já Nídia Alves, mãe de três crianças, referiu que um dos filhos, que frequenta o ensino básico e é deficiente renal, foi agredido na cabeça e na boca e recusa-se a ir às aulas.

O diretor do Agrupamento de escolas Belém-Ajuda recusou prestar declarações. Um dos dois elementos de uma missão para a segurança do Ministério da Educação que foram à escola para se inteirarem da situação disse que o ministério está “atento a estas situações que infelizmente ocorrem em centenas de escolas”. “Pode haver falta de auxiliares de educação, que é motivo de queixas em quase todas as escolas. Não conheço nenhuma escola a que tenha ido e que não se refira a falta de funcionários”, disse a mesma fonte.

Aluno de 15 anos agride professora em escola de Mangualde por causa de telemóvel

Público | 2008-11-06

O aluno já tinha sido transferido de escola.

Um aluno de 15 anos agrediu a soco uma professora da Escola EB 2,3 Ana de Castro Osório, em Mangualde, por causa de um telemóvel, segundo relatou o presidente do conselho executivo, João Carlos Alves. O jovem, que já foi suspenso por dez dias, sofre de hiperatividade e recebe acompanhamento médico.

O caso verificou-se na passada segunda-feira à tarde, no átrio do estabelecimento de ensino, depois do estudante do 8.º ano se ter apoderado do telemóvel de um outro colega mais novo que, encostado a um canto, desatou a chorar.

A professora, ao deparar-se com a situação, decidiu intervir, tentando numa primeira abordagem convencer o aluno a devolver o telemóvel. Perante a desobediência deste, a professora avisou-o que teria de acompanhá-la ao gabinete do conselho executivo.

O estudante reagiu, dando um murro na cara da professora, tendo-lhe também apertado um dos braços, explicou João Carlos Alves. A docente, que recebeu tratamento no centro de saúde local, apresentava hematomas na cara e contusões num braço e também num joelho.

O aluno argumenta que atingiu a professora apenas ao esbracejar, gesto que diz ter tomado na sequência de a docente o ter encostado à parede e de lhe ter puxado os colarinhos. O pai do jovem remete-se ao silêncio até à conclusão do processo.

O aluno ingressou este ano na Escola Ana de Castro Osório transferido de um outro estabelecimento de ensino do concelho de onde foi expulso no ano passado.

Na tarde em que a professora foi agredida, o conselho executivo da escola chamou a GNR e apresentou queixa do aluno. O caso seguiu para o Ministério Público e foi participado à Direção-Regional da Educação do Centro.

O presidente do conselho executivo, João Carlos Alves, assegura que esta é a primeira situação de violência escolar registada naquele estabelecimento de ensino.

O jovem, residente em Mangualde, está sinalizado pela Comissão de Proteção de Crianças e Jovens em Risco. A psicóloga da comissão, Lúcia Amaral, adiantou que o processo deste aluno está em tribunal.

Educadora de escola de Coimbra acusada de maus-tratos a alunos

Lusa | 2008-11-05

Será instaurado um processo disciplinar. Pelo menos uma das mães apresentou queixa na PSP contra aquela educadora de infância.

Uma educadora do jardim de infância da Póvoa de S. Martinho, Coimbra, é acusada de maus-tratos pelos pais de crianças que utilizam o espaço. Após a análise da denúncia, o Agrupamento de Escolas Inês de Castro, a que pertence o estabelecimento, decidiu pela abertura de um processo disciplinar.

A denúncia foi feita pelos encarregados de educação há cerca de duas semanas. Pelo menos uma das mães apresentou queixa na PSP de Coimbra contra aquela educadora de infância, acusando-a de ter dado uma palmada ao filho de quatro anos.

O presidente do conselho executivo do Agrupamento de Escolas Inês de Castro, João Costa, disse hoje à Lusa que o processo de averiguações aberto na sequência da denúncia “aponta para a instauração de um processo disciplinar” à funcionária, que se encontra de baixa médica e foi substituída por outra docente.

Não podendo avançar mais pormenores sobre o processo, o responsável adiantou que a lei prevê “um leque vastíssimo de sanções”, que podem ir da repreensão ou multa até à suspensão ou exoneração, ou o arquivamento.

João Costa vai comunicar aos encarregados de educação das crianças que frequentam o jardim de infância a decisão de instaurar o processo disciplinar à professora.

Na exposição da situação, enviada ao conselho executivo, Direção Regional de Educação do Centro e Câmara de Coimbra, os pais exigiam a suspensão imediata da educadora de infância e a sua substituição.

Mãe condenada a sete meses de prisão com pena suspensa por agressão a docente

Público | 2008-10-29

Tribunal de Ovar deu como provado que a arguida pontapeou, esbofeteou e ameaçou professora de escola de Maceda.

O Tribunal de Ovar condenou ontem a mãe de um aluno a sete meses de prisão com pena suspensa por um ano, por um crime de ofensa à integridade física, um crime de injúria e outro de difamação a uma professora da EB 2,3 de Maceda, Ovar. Matilde Moreira terá de pagar pelo menos metade dos 4000 euros da indemnização pedida pela docente, não poderá assumir o papel de encarregada de educação em qualquer órgão escolar, nem participar em reuniões da associação de pais. à altura dos factos, 15 de novembro de 2006, a arguida era representante dos pais na turma da filha.

O tribunal deu como provado que a mãe deu uma palmada na mão, pontapés, uma bofetada na cara, agarrou os cabelos, insultou e ameaçou de morte a professora Brites Marques. A docente de 47 anos foi absolvida de um crime de ofensa à integridade física, provando-se que agiu em legítima defesa ao empurrar a mãe. “Apresentar um pedido de desculpas é o mínimo que esta professora merece”, sublinhou a juíza Marta Dias. O tribunal reprovou o comportamento da encarregada de educação, que nunca mostrou arrependimento. “A mãe assumiu uma postura de total desrespeito pela professora, pela comunidade educativa”, vincou a magistrada.

“Este julgamento não foi justo”, comentou Matilde Moreira, que está a analisar se vai ou não recorrer da decisão. A professora considerou que “foi feita justiça”. “As pessoas conseguiram discernir que a minha atuação foi em legítima defesa, que o empurrão foi um ato reativo que sempre assumi”, referiu. A docente garantiu que está disponível a aceitar o pedido de desculpas.

O facto de as agressões terem acontecido dentro da escola, numa reunião pedida pela mãe a propósito de um processo disciplinar (entretanto arquivado) que tinha sido instaurado ao filho por estar a rabiscar uma mesa, pesou também na decisão do tribunal.

Alunos de escola da Amadora em greve contra insegurança

Público | 2008-10-29

A maioria dos alunos da Escola Secundária Mães d’água, na Amadora, fez ontem greve às aulas para protestar contra a violência e insegurança sentidas no interior e exterior da escola desde o início do ano letivo. O protesto vem na sequência do esfaqueamento de um aluno do 9.º ano, na semana passada, à entrada do estabelecimento de ensino.

Joana Filipa, uma aluna da escola, afirma que a violência e os assaltos, sobretudo para roubar telemóveis e dinheiro, são frequentes. Foi enviado na segunda-feira um abaixo-assinado, com 400 assinaturas de alunos, à Direção Regional de Educação de Lisboa; a petição exige o aumento do número de funcionários e de policiamento, contando o caso do aluno que foi agredido com uma faca junto ao portão da escola, “tendo sido hospitalizado e intervencionado a um pulmão perfurado”.

O documento refere também “variados casos de violência por parte de alunos pertencentes à comunidade escolar e, ainda, por outros intervenientes da comunidade envolvente”, dando o exemplo de alunos que “são obrigados a comer relva ou a despir–se”: “Os poucos funcionários do estabelecimento de ensino não conseguem dar resposta a tantas solicitações permanentes, nem controlar atos de tamanha violência”.

A presidente da comissão instaladora do Agrupamento de Escolas Mães d’água, Maria João Ferreira, confirma que a maioria dos alunos fez greve na parte da manhã: “Os que não entenderam ir às aulas tiveram faltas”.

Referindo-se ao aluno de 15 anos a quem foi espetada uma faca nas costas, esclarece que está em repouso em casa, depois do internamento, e voltará com apoio da psicóloga da escola. O incidente aconteceu “entre o portão e o carro da mãe, à hora do almoço”, esclareceu.

Maria João Ferreira diz que se tratou “de uma situação excecional” e que a polícia já terá identificado o suspeito, mas nota que “o ambiente da escola é difícil”, pois encontra-se próximo “de dois bairros problemáticos”, um deles associado ao tráfico de droga. A responsável acrescenta que não há policiamento à porta, mas “dois agentes da Escola Segura vêm cá sempre que é solicitado”. O que houver mais a fazer é da responsabilidade da polícia e do Ministério da Educação, frisa.

Alunos em greve contra a violência

Correio da Manhã | 2008-10-29

O clima de insegurança e violência levou os alunos da Escola da Falagueira a protestarem.

Os alunos da Escola Secundária Mães D’água, na Falagueira, Amadora, fizeram ontem greve às aulas, em protesto contra casos de violência que se vêm sucedendo, exigindo reforço de policiamento e mais funcionários. A gota-d’água foi o esfaqueamento de um aluno à porta da escola há uma semana.

“Tentaram roubar-lhe o chapéu, resistiu e foi esfaqueado ao lado da mãe, que ainda foi agredida, com os professores a assistir”, contam os colegas. A namorada revela que “a facada lhe perfurou um pulmão”: “Foi operado e teve alta 2.ª feira.”

Um aluno do 5.º ano, com 10 anos, diz que foi alvo de tentativa de violação de outros alunos. “Levaram-me para trás do pavilhão e baixaram-me as calças, mas consegui fugir. Fiz queixa e no dia a seguir ameaçaram-me com uma faca”, conta.

Todos responsabilizam moradores da Quinta da Laje e Casal do Silva, dois bairros junto à escola. “São gangs que atuam fora e dentro da escola.” E dizem que a polícia nunca aparece. A presidente da Comissão Provisória, Maria João Ferreira, diz que a escola passou de 700 para 935 alunos, mas os funcionários são os mesmos 19. “Já pedimos ao Ministério da Educação mais oito”, disse ao CM, frisando, porém, que “não há um problema grave de indisciplina”.

Já o professor Jorge Martins diz que a presidente é “incompetente” e que se vive “um clima de impunidade”. Manuel Afilhado, presidente da Junta da Falagueira, alerta: “O epicentro do crime passou da Cova da Moura para a Falagueira.” O diretor Regional de Educação de Lisboa, José Leitão, disse ao CM que a escola será reforçada com “cinco tarefeiros”.

SAIBA MAIS

Sem esquadra
Na freguesia da Falagueira vivem 15 mil pessoas e não há esquadra de polícia.

175 872
A Amadora tem 175 872 habitantes, de acordo com o último Censos, de 2001. Apenas 8% da população é imigrante.

2052
Há sete bairros sociais no município da Amadora, com 2052 fogos.

Câmara responsável
A Câmara aceitou transferir competências e a partir de 2009 fica responsável pelo pessoal auxiliar das escolas.

Empresa privada contratada para reforçar segurança em escola de Beja

Lusa | 2008-10-28

Direção regional adota medida para contrariar sucessivos casos de violência. O conselho executivo demitiu-se na semana passada perante a sucessão de incidentes violentos.

A Direção Regional de Educação do Alentejo (DREA) decidiu contratar os serviços de uma empresa privada para reforçar a segurança na escola EB 2,3 Santa Maria, em Beja, depois de o conselho executivo da escola ter apresentado demissão perante a sucessão de episódios de violência no estabelecimento.

Além do “reforço imediato do policiamento exterior”, através de agentes do programa Escola Segura da PSP, “vão ser contratualizados os serviços de uma empresa de segurança privada” para “vigiar o interior da escola”, adiantou à Lusa, José Lopes Verdasca, diretor regional de educação.

A contratualização dos serviços de segurança privada, que “deverá demorar duas a três semanas”, vai incluir a presença de vigilantes no interior da escola e a instalação de um sistema de videovigilância, acrescentou o responsável.

Segundo José Lopes Verdasca, o acesso à escola “já está a ser controlado” para “disciplinar a entrada de pessoas exteriores”, que “foram responsáveis por alguns dos casos de violência mais complicados”.

Questionado sobre o carácter de exceção das medidas adotadas, o diretor explicou que as alterações agora decididas “vão permitir, a curto prazo, reforçar a segurança da escola e evitar casos de violência”

Conselho executivo demissionário
Estas medidas foram decididas após uma reunião com o conselho executivo demissionário, professores e funcionários da Escola Básica 2,3 de Santa Maria e uma outra com a associação de pais da escola.

Salientando que “cerca de 70 por cento” dos alunos da escola “são subsidiados” e oriundos de bairros sociais desfavorecidos, José Lopes Verdasca defendeu ainda que, a médio prazo, “é preciso reorganizar a rede escolar de Beja, para evitar a concentração de alunos problemáticos numa só escola e permitir a sua distribuição equilibrada por várias escolas” da cidade.

Por seu lado, Domingas Velez, presidente do conselho executivo da cidade, disse estar “satisfeita” com as medidas adotadas, que considerou “absolutamente necessárias para evitar casos de violência e normalizar o dia a dia da escola”.

Na sexta-feira, o conselho executivo demitiu-se em bloco, dizendo-se “saturado” com os “constantes” casos de violência no estabelecimento de ensino. “Apresentámos a demissão porque estamos cansados e saturados com vários casos de violência na escola, que deixaram de ser pontuais e passaram a ser frequentes”, explicou.

Além de agressões entre alunos, Domingas Velez queixou-se sobretudo de “casos de agressões, a maioria verbais, mas também físicas, a funcionários e professores por parte de elementos exteriores à escola”, como pais e encarregados de educação. A professora deu ainda conta de casos de agressões de pais a alunos e a outros encarregados de educação no interior da escola.

Professores encerram escola de Beja em protesto contra a falta de segurança

Público | 2008-10-28

Associação critica passividade da Direção de Educação. Dois processos disciplinares já foram instalados a alunos da escola de Santa Maria, ao fim de apenas um mês de aulas.

Ao fim de três anos de sucessivos apelos ao Ministério da Educação, o conselho executivo da Escola Básica Integrada (EBI) de Santa Maria de Beja demitiu-se em bloco, na sexta-feira, devido ao aumento de casos de violência no interior da escola e fora dela.

Logo que os professores e pessoal não docente tomaram conhecimento da decisão do conselho executivo, demitiram-se igualmente todos os elementos que integram as estruturas intermédias da escola. Neste momento, a EBI de Santa Maria não tem qualquer responsável pela sua gestão. Ontem, a luta agudizou-se e os professores encerraram a escola durante a manhã para alertar a opinião pública do que se está a passar no estabelecimento de ensino.

O diretor regional da Educação do Alentejo não esteve disponível para prestar esclarecimentos sobre o assunto.

“Não conseguimos suportar a situação de insegurança” que se vive na EBI de Santa Maria, queixa-se indignado o professor Florival Baioa, criticando a posição da Direção Regional da Educação por ter “ameaçado os professores com processos disciplinares” se estes encerrassem temporariamente a escola, sem se preocupar com as causas que estão por detrás da decisão.

Domingas Velez, presidente do conselho executivo demissionário, descreveu ao Público o estado de alma dos professores: “Tornou-se insuportável desempenhar com qualidade a nossa tarefa”, disse a docente, cansada de “tanta falta de respeito dos alunos… até na rua somos insultados e ameaçados”.

As primeiras vítimas são os elementos do pessoal não docente, que não conseguem impedir a entrada na escola de quem “vem para nos insultar e agredir”. Baioa dá um exemplo recente: “Um professor repreendeu um aluno. às oito da manhã do dia seguinte estava aqui o pai a insultar e a ameaçar quem lhe aparecia ao caminho.” Ninguém o conseguiu travar.

Com medo de usar cartão
Florival Baioa conta outro episódio. Na quinta-feira, uma mãe entrou na escola, insultou funcionários, bate em dois alunos e por fim insultou a presidente do conselho executivo.

Os elementos da PSP do programa Escola Segura “só estão pontualmente de manhã e aos intervalos das aulas”. O problema é que os conflitos acontecem de repente, e então a segurança é reforçada. Depois acaba. Novo conflito e a segurança é reforçada para acabar no dia seguinte.

Nestas circunstâncias “a escola é impotente para resolver os problemas sociais”, diz Domingas Velez. “Precisamos de auxílio”, apela a dirigente demissionária, lembrando que os conflitos “agudizaram-se e tornaram-se uma constante”.

Ao fim de apenas um mês de aulas, já há dois processos disciplinares e vários alunos a pedir mudança de escola. “Necessitamos de respeito por aquilo que fazemos e estamos a ser desconsiderados a todo o momento, pois nem a lei temos do nosso lado.”

Velez garante que a causa da demissão dos órgãos dirigentes da escola não se cinge a um episódio apenas. E narra mais exemplos.

Um funcionário da escola suportou ofensas e ameaças do pai de um dos alunos e conseguiu pô-lo fora da escola. O indivíduo fixou o nome do funcionário e, através das informações telefónicas, chegou à morada do funcionário e apareceu-lhe à noite em casa para ajustar contas com ele. Agora ninguém anda com cartão de identificação ao peito.

A indignação pelo que se está a passar na EBI de Santa Maria estende-se aos pais. Um deles disse ao Público não compreender a posição da Direção Regional de Educação de só estar preocupada com o encerramento temporário da escola, defendendo que o estabelecimento de ensino “devia ser encerrado até que fossem garantidas condições de segurança para todos”.

Teresa Brinca, vice-presidente da Associação de Pais, já solicitou uma reunião com o diretor regional da Educação do Alentejo, mas até ontem ao final do dia não receberam qualquer resposta.

A Associação de Pais solidariza-se com os professores que considera “profissionais extraordinários e dedicados”. O problema está “no contexto social” em que a escola se insere, onde abundam os problemas familiares e as famílias desestruturadas.

Alunos a saque à saída da escola

Correio da Manhã | 2008-10-27

Sintra: Roubos a caminho da estação de Rio de Mouro. Os assaltos repetem-se na zona circundante à escola.

“Depois de dar o telemóvel é chiu e vai-te embora. E se não formos estão lá dez por trás para nos fazer a folha.” O relato ao CM é de ‘João’, 18 anos, da escola Secundária Leal da Câmara, em Rio de Mouro, Sintra, e descreve a mais recente vaga de assaltos aos estudantes que, acabadas as aulas, se deslocam para a estação da CP.

Os 300 metros entre a escola e a estação de comboios são o palco dos roubos. às 18h45 as centenas de alunos que saem a passo apressado para ir para casa são um alvo fácil para bandos de rapazes, entre os 14 e os 17 anos, que se dedicam a roubar telemóveis e dinheiro.

A espera é feita nas duas entradas e saídas da estação de Rio de Mouro. “Um fica no cimo das escadas [que dão acesso à plataforma] e outro em baixo. Pedem para ‘ver’ o telemóvel. Quando são muitos fazem revistas ao pessoal”, conta ‘João’, assaltado recentemente.

As câmaras de videovigilância não são problema para os assaltantes. “Saltam para cima das câmaras e, empoleirados, conseguem baixá-las de modo a só se ver o chão”, explica. Na zona não se vislumbra polícia ou segurança. Outro estudante, também já assaltado, conta que depois do roubo “saem do local calmamente”. E indigna-se: “Sente-se que há mais insegurança porque a polícia não tem mão nisto.”

Também os comerciantes da zona sentem medo da mais recente vaga de assaltos. “Todos os dias tenho receio do que possa acontecer, e se refilamos muito ainda sofremos represálias”, conta uma lojista, que não quer ser identificada.

A PSP confirma a situação. “Nas duas últimas semanas tem existido uma vaga de assaltos entre a escola e a estação que não é normal”, refere Paulo Flor, do Gabinete de Relações Públicas da PSP. Adianta que “está a ser estudada a implementação de um conjunto de medidas, de modo a pôr cobro aos assaltos, que pode passar por um reforço do policiamento na zona”.

Reabertura das aulas com 24 detidos por tráfico

Público | 2008-10-23

A PSP deteve desde o início do ano letivo, nos estabelecimentos de ensino ou junto aos mesmos, 24 pessoas por tráfico de estupefacientes, ao mesmo tempo que identificou mais 80 por consumo.

O relatório da operação Escola Segura – Abertura do Ano Letivo 2008/2009 foi divulgado ontem pela PSP e faz referência ainda à detenção, em todo o continente e ilhas, de 57 pessoas sobre as quais pendiam mandados. Durante as ações, nas quais estiveram envolvidos mais de 6500 polícias, foi ainda detida uma pessoa que tinha em sua posse uma arma ilegal.

Os resultados da operação apontam ainda para a identificação de 59 pessoas que conduziam sob o efeito do álcool e mais 74 que o faziam sem estarem habilitados. Registaram-se ainda cinco crimes de desobediência, três de agressões a agentes policiais, sete de injúrias e três por furto.
Foram também controlados os estabelecimentos de venda de bebidas alcoólicas, tendo sido detetados 33 que estavam a negociar com menores de 16 anos. Foi, igualmente, localizado um caso de venda de tabaco a um menor.

Fiscalizaram-se cerca de 47 mil pessoas, entre alunos, professores e pais. Os polícias estiveram especialmente atentos às situações de trânsito, tendo sido registadas mais de 4500 autuações. No ano letivo 2006/2007, o último para os quais há dados totais disponíveis, a PSP fez um total de 917 detenções ao abrigo do Escola Segura.

PSP de évora recebeu relatório de escola sobre alegada agressão a professora

Lusa | 2008-10-17

Os efetivos da Escola Segura foram ontem chamados ao interior do recinto.

A PSP de évora revelou hoje ter recebido um relatório da Escola Básica Integrada com Jardim de Infância da Malagueira, naquela cidade, sobre uma alegada agressão de um aluno a uma docente e que terá acontecido ontem.

“Chegou hoje, formalmente, o relatório que a escola tinha que fazer, sobre a ocorrência de quinta-feira”, disse fonte policial. Segundo a PSP, efetivos da Escola Segura foram “chamados ao interior do recinto” daquele estabelecimento de ensino, na “quinta-feira de manhã”, por causa de uma alegada agressão de um aluno a uma docente.

Os elementos policiais “não assistiram à situação, mas foram chamados e informados de que um aluno teria agredido a professora, que já não estava na escola”, acrescentou a mesma fonte. “O aluno é que estava lá, acompanhado pelos pais”, disse, acrescentando que os efetivos da Escola Segura informaram o jovem, assim como responsáveis da escola, que “as partes têm agora seis meses para apresentar queixa”. “O menor, caso entenda que ele é que foi agredido, pode apresentar queixa-crime através dos pais. Quanto à professora, pode apresentar queixa por atos ilícitos, por se tratar de um menor”, esclareceu.

O Sindicato dos Professores da Zona Sul (SPZS) denunciou hoje, em comunicado, que uma professora da Escola Básica Integrada com Jardim de Infância (EBI/JI) da Malagueira foi “agredida, na manhã de quinta-feira, por um aluno do segundo ciclo do ensino básico, no decurso de uma aula”.

Denúncia do sindicato
Antónia Fialho, dirigente do SPZS, precisou que “um aluno, de 13 anos, atirou o estojo à professora e empurrou-a contra a parede”. “Estes são os pormenores que sabemos sobre o caso. Não sabemos se houve mais. E, para conseguir pôr termo ao episódio, a professora gritou e três colegas é que a ajudaram a controlar a situação”, disse Antónia Fialho.

Recusando identificar a docente alegadamente agredida por a própria não querer, a dirigente do SPZS adiantou, contudo, que a sua colega “voltou hoje às aulas”. “Não somos alarmistas, mas são situações que têm que ser denunciadas porque acontecem nas escolas e são um drama para os professores”, afirmou, reclamando que as “causas destes fenómenos têm que ser identificadas” e as escolas “devem ter possibilidades e estruturas para os prevenir”.

“Os professores, sozinhos, não conseguem dar resposta a estas coisas. Seria importante que cada escola ou agrupamento dispusesse de equipas multidisciplinares, nomeadamente com psicólogos, que acompanhassem o percurso escolar dos alunos e trabalhassem na mediação e resolução de conflitos”, defendeu.

A Lusa contactou hoje a EBI/JI da Malagueira, mas foi informada de que nenhum elemento do conselho executivo se encontrava no estabelecimento de ensino. Também a Direção Regional de Educação do Alentejo, contactada hoje várias vezes através do telefone, informou que o diretor regional, José Verdasca, não estava disponível.

Telemóvel origina agressão a professora

Público | 2008-10-11

O pai de uma aluna agrediu na terça-feira passada uma professora de uma escola do Bairro das Galinheiras, em Lisboa, porque a docente não permitiu que a estudante atendesse o telemóvel dentro da sala de aula.

“A aluna quis atender o telemóvel na sala e a professora mandou guardá-lo, eles sabem que não podem utilizar o telemóvel na sala”, disse a presidente do conselho executivo, Maria Alexandra Tavares, da Escola Básica Maria da Luz de Deus Ramos. A aluna, quando foi para o recreio, comunicou então a situação ao encarregado de educação, que entrou à força na escola, conta Nilda Braga, professora. “Ele chegou aqui à porta, empurrou as auxiliares e entrou. A professora estava dentro do gabinete da diretora e apanhou à frente de todos os colegas.” O pai terá primeiro agredido a professora verbalmente e, depois, fisicamente, “puxando-a violentamente” enquanto a questionava, acrescenta a presidente do conselho executivo. A escola conta com sete auxiliares que vigiam os cerca de 400 alunos inscritos.

Estudo em escolas de Lisboa revela que 42 por cento dos docentes têm sintomas depressivos

Público | 2008-10-08

Um em cada três dos 500 inquiridos respondeu ter sido vítima de alguma agressão física ou verbal no ano letivo 2006/2007.

Num conjunto de 522 professores inquiridos em 11 escolas públicas de Lisboa, 42,4 por cento mostraram ter sintomas depressivos e praticamente um em cada quatro responderam tomar ansiolíticos e/ou antidepressivos. As mulheres com alunos do 2.º ciclo do básico e na faixa etária entre os 55 e os 64 anos são as mais atingidas, conclui-se no estudo Depressão em Professores, realizado por seis alunos finalistas da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade Nova de Lisboa e publicado na edição de setembro da revista Saúde Mental.

A investigação foi feita com base em inquéritos a meio milhar de docentes (representando 35 por cento do corpo de professores do 2.º e 3.º ciclos do básico e secundário de 11 escolas), em 2006. E permitiram verificar que os sintomas depressivos, medidos através da escala de rastreio Mental health Inventory – índice de Saúde Mental, são mais comuns entre este grupo profissional do que entre a população em geral. Isto se se tiver em conta os dados apurados num estudo europeu recente, citado nesta investigação, e que apontam para uma “prevalência de sintomatologia depressiva em Portugal de 29,8 por cento”, já por si superior à media da União Europeia (23,4 por cento).

No caso do estudo entre professores portugueses, os sintomas depressivos foram encontrados em 42,4 por cento dos inquiridos. “é um valor chamativo, que indica que qualquer coisa não está bem. Mas que tem de ser confirmado com outros estudos”, ressalva Maria Campeão Moura, uma das autoras do trabalho, no âmbito do Departamento de Saúde Pública da FCM.

Parte da explicação reside nas características do grupo inquirido, composto maioritariamente por mulheres e com idades mais avançadas. Sendo certo que a prevalência de depressões é superior entre a população feminina em geral. Mas os autores não descartam a “presença de fatores de vulnerabilidade específicos da atividade docente” e que devem ser estudados, sugere Maria Campeão Moura.

Até porque, no caso dos professores, foram encontrados valores de presença de sintomas depressivos duas vezes superiores aos obtidos para a população masculina no estudo europeu referido. O que, lê-se no trabalho, “pode indiciar a presença de algum tipo de suscetibilidade relacionado estritamente com a atividade docente”. Foi aliás esse o ponto de partida da investigação, recorda Maria Campeão Moura: “Em 2006 aconteceram grandes alterações na vida dos professores. Parecia-nos haver um descontentamento muito grande e queríamos verificar se isso se podia refletir numa psicopatologia.”

Faltas e medicamentos
O que a investigação também mostra é o elevado número de inquiridos – um em cada três – que disseram ter sido vítimas de algum ato de violência física ou verbal, por parte de alunos ou familiares, durante aquele ano letivo.

A dimensão do problema leva os autores a afirmar que “seria importante caracterizar esses episódios e investigar qual o seu contributo para o desenvolvimento/agravamento de sintomatologia depressiva”. Para já, constata-se a coincidência de serem relatadas mais agressões pelos docentes do 2.º ciclo e de ser entre os inquiridos deste nível de ensino (menos entre os do secundário) que os sintomas depressivos são mais comuns.

Uma das consequências do mal–estar que ficou patente no estudo reflete-se no absentismo. Basta ver que um terço dos professores com sintomas depressivos faltaram alguma vez às aulas, contra 6,7 por cento dos que estão de perfeita saúde.

Outra relação estatisticamente significativa encontrada tem a ver com o consumo de psicofármacos. Se, no total, 24 por cento admitiram tomar ansiolíticos e/ou antidepressivos, entre os que demonstram sintomas depressivos o consumo sobe para os 39 por cento. Mas mais estranho é o facto de 70 por cento dos professores que estão a tomar medicamentos manterem os sintomas. “Temos de perceber quem anda a medicar”, avisa Maria Campeão Moura, lembrando que muitas vezes são as próprias pessoas que não tomam as doses recomendadas “para não ficarem dependentes”. E menos de metade dos professores com sintomas depressivos responderam ter procurado ajuda.

A violência diminuiu no interior das escolas mas aumentou fora dos portões

Público | 2008-10-07

Funcionários são as principais vítimas das agressões, segundo o relatório que é hoje discutido no Parlamento.

A violência está a diminuir no interior das escolas portuguesas mas a aumentar nas imediações. Em termos globais, no último ano letivo, foram registados 7028 episódios de violência, menos 35,9 por cento do que no ano anterior. Mas, se no interior das escolas a descida chegou aos 54 por cento, o mesmo não se pode dizer do que se passou fora dos portões. Aqui, as ocorrências aumentaram 8,4 por cento: os 3224 episódios de violência registados em 2005/2006 subiram para 3495 no ano seguinte.

O balanço está contido no relatório “A Segurança nas Escolas” que é hoje discutido na Comissão de Educação e Ciência da Assembleia da República. Mas, em declarações ao Público, a deputada do PS Fernanda Asseiceira, que redigiu o documento, foi adiantando que uma das conclusões a tirar é que é preciso reforçar o programa Escola Segura. “As respostas que as escolas conseguiram obter para lidar com a violência funcionaram, mas não chegaram ao exterior. Por isso, o Escola Segura tem que ser reforçado e dotado de mais recursos”, sustentou.

A reivindicação não se afigura difícil de concretizar. Nas audições que antecederam a elaboração do relatório, o responsável do Escola Segura, Pedro Barreto, lembrou que o programa já abrange 11.000 escolas, das 12.593 existentes, e o próprio Ministério da Administração Interna anunciou que pretende incorporar 2000 novos agentes no policiamento de proximidade às escolas.

O mesmo relatório aponta os funcionários como as principais vítimas da violência nas escolas. No último ano letivo, 147 funcionários, de um universo de 51.352, foram vítimas de agressão ou tentativa de agressão. Dá 2,68 agressões por cada mil. Os professores surgem a seguir, com 1,27 agressões por cada mil.

Quanto ao tipo de ocorrência, o furto soma 25,8 por cento dos casos, seguido das ofensas à integridade física: 24,2 por cento. Já no respeitante às ocorrências contra bens pessoais, o telemóvel é responsável por 40 por cento dos casos. Num total de 918 casos, 367 tiveram que ver com o telemóvel. A este propósito, o relatório lembra que o uso do telemóvel foi proibido no novo Estatuto do Aluno. Assim, “aguarda-se o impacto da proibição”, lê-se no documento.

A concentração geográfica da violência é outra das conclusões. Das 12.593 escolas do país, 93,4 por cento não registaram qualquer ocorrência. As escolas mais problemáticas concentram-se nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. Mas o relatório aponta ainda o Algarve como a região com maior número de ocorrências por mil alunos: 4,26.

As escolas do 2.º e 3.º ciclos e as secundárias com 3.º ciclo são as que somam mais episódios de violência, apesar de “haver alguns casos preocupantes em escolas do 1.º ciclo”, segundo o relatório que correlaciona estes episódios com a “retenção repetida de alunos com 12,13 e 14 anos, com grandes dificuldades de aprendizagem, em conjunto com alunos de 6/7 anos, que geram situações de grande conflitualidade”.

Por entender que a melhoria global do ambiente escolar ficou a dever-se à intervenção feita nas escolas mais problemáticas, Fernanda Asseiceira aplaude de pé o anunciado alargamento do programa TEIP – Territórios Educativos de Intervenção Prioritária. “As medidas implementadas ao abrigo do TEIP mostram que, quando há respostas, os resultados acontecem”, sublinhou. Este programa abrange 36 escolas (20 em Lisboa e 16 no Porto) com risco de exclusão social e escolar e a ideia é, em 2008/2009, alargá-lo a um total de 100 escolas, num investimento previsto de 100 milhões de euros.

No parecer que acompanha o relatório, a Comissão de Educação e Ciência equaciona a criação de uma linha “SOS Segurança nas Escolas” destinada a apoiar alunos, professores, funcionários e pais. Isto porque, sobretudo nos casos de bullying e cyberbullying, as vítimas tendem a esconder as situações “por vergonha ou medo”. A comissão propõe ainda a criação de um fórum na Internet, destinado a divulgar as boas práticas de combate à violência na escola.

Assalto à mão armada junto à EB 2,3 de Freamunde

Correio da Manhã | 2008-10-04

Ameaçada com pistola.

Uma aluna de 13 anos foi ontem assaltada sob ameaça de pistola à saída da Escola EB 2,3 Dr. Manuel Pinto de Vasconcelos, em Freamunde, Paços de Ferreira. A adolescente foi confrontada por um indivíduo nas imediações do estabelecimento, que lhe apontou a arma e levou um telemóvel.

Ao que foi possível apurar, o roubo ocorreu por volta das 11h00, após a vítima ter saído do estabelecimento escolar. Um suspeito, aparentando ter cerca de 25 anos, terá ameaçado de morte a aluna e exigido dinheiro. Perante uma adolescente estupefacta, o assaltante acabou por se limitar a arrancar o telemóvel das mãos da vítima, que apresentou queixa na GNR.

Contactado pelo CM, o presidente do conselho executivo do Agrupamento de Escolas, Luís Garcês, lamentou que a instituição não tenha sido informada da ocorrência, considerando a gravidade do caso, face à utilização de uma arma, num crime que envolveu uma aluna.

‘é uma situação inédita. Já não se trata de simples furtos de dinheiro, telemóveis ou outros objetos, como às vezes acontece, dentro ou fora da escola. A utilização de armas, seja dentro ou fora do estabelecimento escolar, deixa-nos preocupados, porque representa um risco grave para a segurança dos alunos e não só’, comentou Luís Garcês, adiantando que a escola não dispõe de sistema de videovigilância, que deverá ser instalado ’em breve’.

DETALHES

Segurança
A segurança da escola de Freamunde é assegurada por vigilantes, em regime de permanência, e patrulhas ocasionais da Escola Segura da GNR.

Surpresa
Foi com ‘surpresa’ e ‘estupefação’ que funcionários e alunos reagiram à notícia do assalto à mão armada na zona escolar, sublinhando não haver histórico de casos de violência.

Em grupo
‘Quando não vamos para casa de autocarro ou com os nossos pais o ideal é sairmos da escola em grupo, como temos feito sempre, mas nunca por medo’, reagiu um aluno.

Hematoma motiva queixa em Leiria
O Agrupamento de Escolas de Marrazes está a averiguar uma queixa de alegada agressão, apresentada pelos familiares de um aluno da Escola do 1.º Ciclo do Ensino Básico de Marinheiros, em Leiria.

De acordo com os queixosos, a criança, de sete anos, apareceu em casa com uma nódoa negra num braço, que terá sido provocada pelo professor. O menino contou que se levantou e foi junto do docente fazer uma pergunta, porque não o tinha ouvido, e que este o agarrou, levando-o até à carteira.

O caso ocorreu na semana passada e os familiares ainda confrontaram o professor, tentando que formulasse um pedido de desculpas. Como não o fez, apresentaram queixa na esquadra da PSP. O Agrupamento conta ter o processo de averiguações concluído na próxima semana.

Escola primária do Cerco
A professora agredida por pais de um aluno da Escola do 1.º Ciclo do Cerco do Porto ainda não conhece o desfecho para este caso e continua sem dar aulas.

Quase 15 dias após a agressão, a situação continua a ser avaliada pelos responsáveis do Ministério da Educação e enquanto decorrem reuniões entre pais e docentes a escola permanece com os portões fechados para evitar situações semelhantes.

O aviso oficial que interdita a entrada dos pais no espaço da escola adverte ainda que ‘qualquer tentativa forçada para entrar ou insultos serão comunicados à polícia’.

Escolas do Porto estão “um barril de pólvora”, acusa representante das associações de pais

Público | 2008-10-03

Pais esbofetearam uma professora numa escola do Cerco; na EB1 do Bonfim, um aluno feriu funcionária.

As escolas do Porto começaram o novo ano letivo com cerca de 100 auxiliares de ação educativa a menos e, para o presidente da Federação das Associações de Pais do Porto, Manuel Monteiro, esse problema está na base das agressões dos últimos dias: no dia 21 de setembro, uma professora da Escola do 1.º Ciclo do Cerco foi esbofeteada pelos pais de um aluno; anteontem, um aluno agrediu uma funcionária na EB1 do Bonfim com um pedaço de madeira.

“As escolas estão, infelizmente, transformadas em barris de pólvora. A todo o momento há agressões porque não há funcionários que ajudem a controlar a situação”, referiu Manuel Monteiro, dizendo que, anteontem, a Federação das Associações de Pais do Porto (FAPP) foi chamada a duas escolas “que os pais queriam fechar porque não têm funcionários que assegurem o bom funcionamento das escolas”.

Na Escola Secundária de António Nobre, com 850 alunos inscritos, há apenas 13 auxiliares de ação educativa, quando, “segundo os rácios da ministra [da Educação], devia ter menos 23”, exemplificou o presidente da FAPP. “Ainda por cima, daqueles 13 funcionários, 11 estão na casa dos 60 anos”, apontou, acrescentando que, nalgumas das escolas com funcionários a menos, não há porteiros. Assim, “os miúdos entram e saem da escola sem ninguém que os controle”.

O pior é quando a ausência de vigilância degenera em indisciplina. Anteontem, na Escola EB1 do Bonfim, um dos alunos terá pegado numa ripa de madeira e partiu o queixo a uma funcionária. Esta teve que receber assistência hospitalar.

Na Escola do 1.º Ciclo do Cerco, foram os pais de um aluno que, no dia 21, esbofetearam uma professora, supostamente por discordarem do castigo imposto ao filho. “A professora mandou o aluno fazer qualquer coisa, ele negou-se a cumprir a determinação, pelo que ficou de castigo na cantina, enquanto os colegas foram para o recreio”, descreveu à agência noticiosa Lusa o presidente da associação de pais, José Santos. Alguém terá telefonado aos pais do aluno a relatar o sucedido e estes, depois de vários insultos e ameaças a professores e funcionários, “fizeram cumprir a sua vontade, agredindo a professora”.

A docente meteu baixa médica e a Direção-Regional de Educação do Norte anunciou que a escola vai avançar com uma queixa-crime contra os alegados agressores. Entretanto, todos os pais deixaram de poder entrar na escola. Quem for buscar o filho passa a ter que esperá-lo à porta. “é uma medida que se compreende, porque agressões deste tipo exigem medidas e punições exemplares”, reagiu Manuel Monteiro. Umas semanas antes, um segurança e uma professora da Escola EB 2,3 do Cerco – outra escola do mesmo agrupamento, que congrega alunos do problemático Bairro do Cerco – foram agredidos por dois alunos que tinham sido suspensos. O caso seguiu para o Ministério Público.

Avó e aluna vítimas de violência no interior de uma escola de Beja

Público | 2008-10-02

As agressoras, que trabalham no setor da higiene e limpeza no município local, deslocaram-se para a escola numa viatura da autarquia e na hora de serviço.

Arminda Canário, avó de uma aluna de 14 anos que frequenta o 9.º ano na Escola EB 2+3 de Santa Maria, em Beja, foi violentamente agredida por um grupo de mulheres no interior daquelas instalações escolares, cerca das 11 horas da última quinta-feira, quando aguardava por uma resposta dos responsáveis escolares sobre a agressão que a sua neta fora vítima durante três dias seguidos, no bar da escola e junto à portaria, onde não estava qualquer funcionário. A PSP de Beja tomou conta da ocorrência, sendo que avó e aluna foram observadas nos serviços de urgência da unidade hospitalar da cidade, onde foram confirmados os sinais das agressões.

Segundo a versão da criança, tudo começou na passada terça-feira quando uma outra aluna de 14 anos, que estará a frequentar um curso no âmbito das “Novas Oportunidades” na Escola de Santa Maria, a terá ofendido num dos corredores do estabelecimento de ensino. No dia a seguir, terá sido agredida à entrada da escola, mas já no interior das instalações, e na passada quinta-feira, diz que levou “pancada de outra com quase 16 anos, mesmo dentro do bar. Pregaram-me com a cabeça num banco”, segundo relata a estudante, “por ter apresentado queixa no conselho diretivo da escola”. Desde então, a jovem recusa-se a ir às aulas, pois as agressoras, diz ainda, ameaçam através da Internet que a matam.

Funcionária em socorro
Apesar de o bar estar repleto de alunos e professores, só uma funcionária da escola é que socorreu a criança, que, de imediato, telefonou à mãe e à avó a pedir auxílio. Os familiares dirigiram-se ao estabelecimento de ensino e, quando aguardavam junto à sala do conselho diretivo por uma posição dos responsáveis escolares, eis que chega um grupo de mulheres com indumentária dos serviços municipais de higiene e limpeza da câmara, com atitudes agressivas a perguntar quem era a mãe da miúda agredida.

Apesar de a visada se ter identificado, as mulheres – a versão da agredida fala em seis mulheres, na versão da Câmara Municipal de Beja são apenas referidas duas mulheres – atiraram-se sobre a avó, Arminda Canário, com 56 anos de idade, “aos murros, aos gritos e aos pontapés na cabeça, jogando-me ao chão”, uma cena que terá sido presenciada pela presidente do conselho executivo.

A descrição da agressão é contada pela avó da aluna, contando como a cena foi presenciada pela docente: “A senhora diz que um funcionário da escola atirou-se para cima de mim, para me proteger, senão matavam-me à pancada”.

Sanado o conflito, as alunas que tinham agredido a neta de Arminda Canário regressaram às aulas e a psicóloga que presta serviço no estabelecimento de ensino ter-lhe-á mostrado (à avó) o seu desagrado pelo facto de a aluna ter chamado os familiares, decisão que, na sua opinião, acabou por causar aquele conflito.

Averiguações
O vice-presidente do conselho executivo, Luís Gomes, confirmou ao Público a existência de “uma discussão entre alunas” e que “os familiares se envolveram”, não adiantando mais pormenores. Disse apenas que foi aberto um processo de averiguações e que o incidente foi comunicado às autoridades. Não foi possível confirmar a confidência da psicóloga.

O vereador da Câmara Municipal de Beja Miguel Ramalho diz que “duas mulheres, mãe e filha”, funcionárias nos serviços de limpeza municipais, é que entraram na escola. “As outras ficaram na viatura”, que foi conduzida por uma das agressoras, disse o autarca, acrescentando que estão a ser “apuradas responsabilidades”.

Na próxima reunião de câmara, que estava marcada para a noite de ontem, iria ser apresentado um inquérito para ratificação da vereação. As mulheres envolvidas na agressão “estavam fardadas e têm que ser responsabilizadas por isso”, salienta Miguel Ramalho, admitindo o autarca que a dimensão do problema possa dar direito a um processo de despedimento.

O comissário Nuno Poiares, da PSP de Beja, apresentou a versão de “uma das partes”, segundo a qual é confirmada a entrada no interior do estabelecimento de ensino de um grupo de mulheres – que ainda não está quantificado -, formado por “familiares de uma das menores”, para ” bater” na neta de Arminda Canário.

A autoridade policial de Beja apenas está em condições de adiantar que vai ser aberto um inquérito para apuramento dos factos. Por outro lado, os relatórios do serviço de urgência do Hospital de José Joaquim Fernandes, de Beja, consultados pelo Público, esclarecem que tanto Arminda Canário como a sua neta apresentavam vários “traumatismos causados por agressão no crânio e na coluna lombar”, na criança, “no “crânio e no tórax”, na avó, exames médicos que revelaram ainda outros sinais de agressão física, dado terem sido detetados hematomas nas costas.

Internet de alta velocidade e videovigilância nas escolas

Lusa/Público | 2008-09-27

Todas as escolas do segundo e terceiro ciclo e do ensino secundário vão ser equipadas com Internet de alta velocidade. Serão cerca de 1200 instituições com acesso a uma rede de fibra ótica, capaz de um velocidade de, pelo menos, 64 megabits por segundo.

O anúncio foi feito ontem, no dia em que o primeiro-ministro, José Sócrates, inaugurou uma linha de 100 megabits entre uma escola em Faro e outra em São João da Madeira. Esta ligação, que também já está ativa noutras 98 escolas, permitiu estabelecer uma comunicação por holograma entre os dois locais.

A rede de alta velocidade, cujo concurso público de instalação foi ganho pela PT, “permitirá serviços de videoconferência e telepresença e, acima de tudo, aceder a conteúdos de elevada qualidade”, declarou o coordenador do Plano Tecnológico da Educação, João Trocado da Mata, citado pela agência noticiosa Lusa. “Os alunos terão um acesso à Internet, à informação e ao conhecimento rápido e sem qualquer tipo de constrangimento.”

Já José Sócrates criticou os que “desprezam o plano tecnológico” e sublinhou que a aposta nas tecnologias de informação “é benéfica para a evolução escolar dos alunos”.

Os planos para levar Internet às escolas passam também pela instalação de redes sem fios (que permitam o acesso a partir de qualquer computador no perímetro das escolas) e de quadros eletrónicos nas salas.

A estratégia de modernização do ensino prevê ainda a colocação de câmaras de videovigilância e de alarmes eletrónicos, que funcionarão apenas fora do horário letivo. As câmaras estarão apontadas para recreios e salas com material eletrónico. A monitorização das imagens será feita pela polícia ou por uma empresa de segurança privada.

Num relatório preliminar, o júri do concurso apontou a ONI como a empresa designada para instalar as câmaras. Mas a Prossegur, que apresentou um projeto mais barato, já contestou a escolha.

O plano de modernização do ensino implica um investimento de 400 milhões de euros. O coordenador nacional do Plano Tecnológico, Carlos Zorrinho, lembrou ontem que Portugal tem o maior crescimento mundial de banda larga e que a meta é “ligar até 2009 todas as escolas e hospitais a redes de nova geração”. Zorrinho falava em Lisboa, na cerimónia de assinatura de um memorando entre o Governo e a multinacional Xerox.

A empresa vai dar formação em tecnologias da informação e comunicação (TIC) a estudantes do ensino secundário, de instituições de ensino profissional e do ensino superior, ao abrigo do programa Academias TIC. As ações de formação estendem-se ainda a quadros da administração pública.

PE quer formação para resolver conflitos na escola

Público | 2008-09-25

137 queixas de profissionais à linha SOS Professor por agressões em 2007-2008.

O Parlamento Europeu (PE) quer que os professores dos 27 estados-membros tenham formação a nível da resolução de conflitos, para que saibam lidar com situações de agressão e violência. O relatório apresentado pela eurodeputada espanhola Badia i Cutchet foi aprovado por maioria.

Por cá, a Associação Nacional dos Professores (ANP) faz o balanço do ano letivo passado e aponta para 137 as queixas de professores que dizem ter sido vítimas de agressões verbais, físicas e de indisciplina grave na sala de aula.

Ao todo, a linha SOS Professor recebeu 190 comunicações, algumas de escolas que precisam de apoio, informa o presidente da ANP João Grancho. Queixas de docentes foram 137, mas, se forem desdobradas, aumentam porque o mesmo professor pode queixar-se de agressões verbais e físicas. Assim, há 71 queixas de agressões verbais, 46 físicas, o mesmo número para problemas de indisciplina grave e cinco queixas de comportamento delinquente, contabiliza Grancho.

O PE propõe programas para ensinar aos professores “novas estratégias de resolução de todo o tipo de conflitos dentro da sala de aula”. Assim como “é de vital importância alcançar a cooperação mais estreita entre docentes e pais e criar ferramentas e procedimentos” para acabar com a violência nas escolas, apela.

Quer a Federação Nacional dos Sindicatos da Educação (FNE), como a Federação Nacional dos Professores (Fenprof) concordam com a necessidade de formação para os professores e pessoal não docente. A ANP está a desenvolver ações de formação contínua na resolução de conflitos e pretende, este ano, aplicar um programa de formação integrada que envolva professores, alunos e pais do 1.º ciclo.

O relatório do PE considera indispensável que os “professores tenham regularmente oportunidades académicas, profissionais e financeiras, como bolsas de estudo do Governo”, para melhorarem as suas competências e conhecimentos pedagógicos. E propõe que beneficiem de remunerações que “reflitam a sua importância para a sociedade”. A FNE e a Fenprof concordam e lamentam a perda de poder de compra dos docentes.

Estudantes finlandeses foram baleados e queimados

Jornal de Notícias | 2008-09-24

Em Kauhajoki sucedem-se as manifestações de luto.

As 10 vítimas mortais do massacre numa escola da Finlândia foram baleadas e queimadas num incêndio ateado pelo assassino. As extensas queimaduras estão a dificultar a identificação dos mortos, nove estudantes, oito raparigas e um rapaz, e um funcionário da escola profissional de Kauhajoki.

A polícia confirmou, esta manhã, a identidade do atirador: como já era público desde de ontem, oficiosamente, trata-se de Matti Saari, um estudante de 22 anos daquela escola profissional.

Para a família das vítimas deste massacre, o segundo em 11 meses a chocar os finlandeses, a dor vai prolongar-se por mais alguns dias. “Ainda não determinámos a idade e o sexo de todas as vítimas porque algumas foram gravemente queimadas” no incêndio ateado pelo assassino depois do tiroteio, indicou o responsável pela investigação criminal, Jari Neulaniemi.

“Para os casos mais difíceis, a identificação levará vários dias”, adiantou. Os corpos das 10 vítimas foram transportados na terça-feira à noite para Helsínquia para serem autopsiados. Segundo a Polícia, Saari usou bombas incendiárias para chegar fogo às vítimas.

As vítimas seriam colegas de turma do assassino, sobretudo jovens raparigas, que estavam a fazer um exame escrito no momento em que o jovem irrompeu na sala de aulas e disparou com uma arma de calibre 22, segundo uma outra fonte da polícia próxima da investigação.

“Uma das vítimas não é um aluno”, precisou esta fonte, confirmando implicitamente informações da imprensa que indicavam que era um professor. Já esta quarta-feira, em conferência de imprensa, a polícia disse apenas tratar-se de um funcionário da escola.

Matti Juhani, 22 anos, estudante de restauração, matou 10 pessoas numa escola profissional em Kauhajoki no sudoeste da Finlândia, antes de se suicidar. Este tiroteio é o segundo em menos de um ano perpetrado num estabelecimento escolar na Finlândia.

Primeiro-ministro questiona ação da polícia
O primeiro-ministro finlandês, Matti Vanhanen deslocou-se esta manhã a Kauhajoki. Na localidade, multiplicam-se as vigilas e as manifestações de solidariedade para com as vítimas.
Matti Vanhanen declarou que tinha sido aberto um inquérito para saber porque é que a polícia não pôde evitar o tiroteio na escola depois de ter interrogado o homicida na véspera do drama.
“Foi aberto um inquérito sobre o que se passou nos dias precedentes”, afirmou o chefe do governo que se deslocou hoje a Kauhajoki, pequena cidade do sudoeste da Finlândia.

“Parece que a polícia reagiu imediatamente e encontrou este jovem, mas não sabemos que informações tinham e as razões pelas quais não lhe foi retirada a licença de porte de arma”, afirmou Vanhanen.

Atirador de negro mata dez pessoas na Finlândia

Diário de Notícias | 2008-09-24

Tiroteio em escola. Matti Saari gostava de armas e filmes de terror. Ontem, este aluno de 22 anos entrou na escola profissional de Kauhajoki e disparou sobre “tudo o que mexia”. Dias antes, colocara vídeos com ameaças no YouTube. Finlândia vive segundo massacre em menos de um ano.

“Tu serás o próximo a morrer.” A ameaça é explícita e foi deixada há dias no You Tube por Matti Juhani Saari, um finlandês de 22 anos, que ontem entrou na escola onde frequentava o curso de culinária e disparou indiscriminadamente sobre alunos e professores. Resultados do tiroteio? Dez mortos e uma dezenas de feridos, dois deles em estado grave. O atirador, que foi visto a entrar na escola de Kauhajoki, a 300 quilómetros de Helsínquia, vestido de negro e com uma máscara de ski, tentou suicidar-se no local, vindo a morrer no hospital. No seu apartamento deixou um bilhete no qual dizia detestar a raça humana.

“Ouvi tiros e raparigas histéricas a gritar. Duas alunas vieram em direção ao meu gabinete e disseram-me que um homem estranho estava a disparar”, contou à AFP Jukka Forsberg, funcionário da escola profissional de Kauhajoki. O contínuo garantiu que o atirador mudou de carregador a meio do tiroteio. “Estava vestido de negro e tinha um estilo militar”, recordou. Forsberg explicou ainda ter espreitado à janela. “Felizmente não fui atingido pelos disparos. Fugi e corri em zigue-zague”, acrescentou.

Eram 11.00 quando Saari entrou na escola. Segundo testemunhas citadas pelos media finlandeses, este fã de filmes de terror começou a disparar sobre “tudo o que mexia”. Os tiros duraram uma hora e meia na escola de Kauhajoki, localidade de 14 mil habitantes. No interior do edifício estavam 200 alunos. Mal chegou ao local, a polícia evacuou o edifício, que revistou à procura do autor dos disparos.
Entretanto, uma explosão cuja origem permanecia pouco clara deixara parte da escola em chamas. Bombeiros e meios de socorro locais falavam numa dezena de feridos que deram entrada no hospital. As autoridades receavam o aumento das vítimas.

As primeiras informações davam conta de que o atirador se tinha suicidado, mas segundo o diário finlandês Helsingin Sanomat, Saari terá acabado por falecer às 16.46 (menos duas horas em Lisboa) no hospital universitário de Tampere na sequência dos ferimentos. Pouco depois, a ministra do Interior, Anne Holmlund, garantiu que o tiroteio em Kauhajoki fez 11 mortos, contando com o atirador.

A mesma responsável anunciou ainda que Saari fora detido e interrogado pela polícia na véspera do tiroteio. O motivo? Os vídeos recheados de ameaças que colocara no You Tube e nos quais surgia de arma na mão, aparentemente a treinar a pontaria numa carreira de tiro. A determinada altura, o estudante vira-se para a câmara e faz ameaças diretas para a objetiva. Os vídeos foram colocados no site com o nome de Wumpscut86, homenagem ao grupo de música eletrónica alemão Wumpscut. Alguns títulos das músicas deste são bem reveladores da violência da sua mensagem: Black Death (Morte Negra) ou Bleed in Silence (Sangra em Silêncio).

“O agente decidiu que o suspeito não era perigoso e não havia razão para lhe tirar a licença de posse de arma”, admitiu Holmlund. Mas estava enganado. Um dia após a detenção, Saari, que no seu perfil do YouTube se descreveu como alguém “interessado em computadores, armas, sexo e cervejas”, cometeu um massacre que voltou a deixar a Finlândia em choque, menos de um ano após um aluno ter matado oito colegas em Tuusula. As semelhanças entre os dois casos são inegáveis: também na altura o atirador havia anunciado as suas intenções no YouTube e acabou por se suicidar, morrendo no hospital. Estes casos vêm abalar um país com um dos sistemas educativos mais prestigiados do mundo. No final do ano passado, o Governo reforçou o controlo à venda de armas. Na Finlândia, 12% da população possui uma arma.

Bruxelas e o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, já enviaram condolências para as famílias das vítimas.

Massacre na Finlândia foi anunciado num vídeo colocado no YouTube

Público | 2008-09-24

Matti Saari foi interrogado pela polícia por causa de um vídeo que pôs na Internet mas não lhe foi tirada a licença de porte de arma. No dia a seguir matou 10 colegas.

Dez meses depois de um massacre numa escola em que morreram oito pessoas, a Finlândia volta a estar de luto por idênticas razões. Vestido de preto, com o rosto coberto por uma máscara de esqui e um grande saco na mão, um rapaz de 22 anos entrou ontem numa escola da pacata cidade de Kauhajoki, pegou numa arma, matou 10 colegas e feriu três. O diretor da escola, Tapio Varmola, disse que o autor dos disparos terá sido um estudante do segundo ano do curso de Hotelaria, Matti Juhani Saari, que tentou suicidar-se e acabou por morrer no hospital.

O massacre aconteceu pelas 11 horas locais, 8 horas em Lisboa, um dia depois de o autor dos disparos ter sido interrogado pela polícia por causa de um vídeo colocado no YouTube, onde aparecia a disparar uma arma. “A polícia estava ao corrente e falou com ele na segunda-feira”, disse em conferência de imprensa a ministra finlandesa do Interior, Anne Holmlund. “No entanto, o oficial da polícia decidiu que não havia razão para lhe retirar a licença de porte de arma”, adiantou. Era uma licença temporária para disparar armas de calibre 22 que tinha sido obtida já este ano. “O procedimento da polícia será avaliado com detalhe”, garantiu a ministra.

“Vocês serão os próximos”
O vídeo no YouTube foi ontem divulgado por vários órgãos de informação e mostra um rapaz de cabelo curto a treinar os disparos num campo de terra ladeado por muros brancos, onde apenas se encontra um banco de madeira usado para colocar o estojo da arma, uma Walther P22, de calibre 22 (o estojo com a pistola foi por ele fotografado e publicado no YouTube, conforme se vê na caixa em baixo). Os vídeos foram rapidamente retirados do site, e foi também suspensa a conta do autor no YouTube, que se apresentava como Wumpscut 86 e referia o que mais gostava: “computadores, armas, sexo e cerveja”.

Uma colega de Saari, Susanna Keronen, diz que ele era “alegre e sociável”, alguém com quem era fácil conversar. Vivia sozinho com um gato. No seu perfil na Internet descrevia-se como um misantropo empenhado. “Tinha amigos”, recordou Susanna Keronen, sem compreender os motivos que poderão ter levado Saari a disparar sobre os colegas.

Num dos vídeos que aparecia quando se pesquisava por Kauhajoki, a cidade de 14 mil habitantes a cerca de 330 quilómetros de Helsínquia onde o massacre aconteceu, um jovem afirmava “vocês serão os próximos a morrer”, adiantou a agência AFP. Na escola, um estabelecimento de ensino secundário com cursos profissionais ligados à hotelaria e à saúde, estariam na altura dos disparos cerca de metade dos 400 alunos, adiantou o reitor Tapio Varmola.

“Vi um rapaz a deixar um saco preto no corredor, a entrar numa sala de aulas e a fechar a porta”, contou à AFP um funcionário da escola, Jukka Forsberg. “Fui espreitar pela janela e ele atirou na minha direção. Então telefonei para o número de emergência da polícia. Felizmente não fui atingido. Ele disparou, mas comecei a correr em zigue-zague.” Forsberg ouviu vários tiros e o autor dos disparos a carregar a arma. “Tinha roupa preta e um estilo militar. Caminhava calmamente. Não o reconheci, mas disse à polícia que se tratava de um adulto.”

A polícia confirmou a morte de 10 alunos, tal como foi noticiado no site da estação televisiva finlandesa YLE. A Kauhajoki School of Hospitality foi evacuada e chegou a deflagrar um incêndio no edifício que foi rapidamente extinto pelos bombeiros.

Mais “um dia trágico”
Poucas horas depois o autor do massacre acabou por não resistir aos ferimentos na cabeça e morreu no hospital universitário de Tampere. “Tinha um ferimento grave no cérebro, um ferimento provocado por uma bala na cabeça”, adiantou à AFP um médico do hospital, Matti Lehto. “Falei com um neurocirurgião, mas não pudemos operá-lo. Quando chegou estava inconsciente e com os sinais vitais muito baixos.”

“Este é um dia trágico para a Finlândia”, disse o primeiro-ministro Matti Vanhanen, que decretou para hoje um dia de luto nacional. “Todos devemos estar unidos para que estas situações não voltem a acontecer.” Vários psicólogos foram enviados para o local. “Isto é muito deprimente. Só tivemos algum tempo depois do caso de Jokela, em novembro”, disse à Reuters o coordenador do apoio, Kari Saarinen. Em novembro, um jovem de 18 anos, Pekka-Eric, disparou no liceu Jokela, na cidade de Tuusula, a cerca de 60 quilómetros de Helsínquia, e matou sete colegas e uma professora.

Numa carta enviada ao primeiro-ministro da Finlândia, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, e o comissário finlandês, Olli Rehn, manifestaram-se “profundamente chocados e tristes” com o massacre na escola de Kauhajoki. “Temos a certeza de que todos os cidadãos da União Europeia partilham a dor que é hoje sentida na Finlândia.”

Uma cópia do massacre de novembro

Público | 2008-09-24

Primeiro-ministro da Finlândia quer restringir a posse de armas.

A Finlândia é dos países com maior número de armas de fogo nas mãos de particulares – cerca de 1,6 milhões – e estava ainda mal refeita de um massacre cometido a 7 de novembro em Tuusula, uma cidade de 30 mil habitantes a cerca de 60 quilómetros de Helsínquia. Ontem, o primeiro-ministro, Matti Vanhanen, disse à estação televisiva MTV3 que o país deve limitar o uso de armas. “Já não é suficiente falar de limites de idade ou entrevistas. Depois de dois incidentes tão trágicos, temos de discutir se deve ser permitido o uso de armas por particulares.”

Em novembro, um jovem de 18 anos, Pekka-Eric, entrou armado na escola secundária local e matou sete colegas e uma professora. Agora, Matti Juhani Saari terá procurado copiar o massacre de Tuusula em muitos dos seus pormenores. Tal como Pekka-Eric, também se filmou a disparar, imitou as mesmas posições e colocou o vídeo na Internet. Lado a lado, as imagens parecem a repetição do mesmo acontecimento.

O site que permite a colocação de vídeos na Internet, o YouTube, que é propriedade da empresa que criou o motor de pesquisa mais usado em todo o mundo, a Google, volta a estar numa posição delicada. “A nossa comunidade de utilizadores é muito eficaz a assinalar os vídeos que violam as nossa regras mas, neste caso concreto, os vídeos colocados na conta original não violavam as nossas recomendações”, disse um porta-voz do YouTube na Europa citado pela AFP. Nas regras do site é referido que os vídeos não podem chocar e que “a violência gráfica ou gratuita é interdita”. Na lista de regras é ainda dito que as ameaças “não são toleradas” e é estabelecida uma condição: “Se o vosso vídeo mostra alguém a ferir-se, a atacar ou a humilhar, não o ponham.” No entanto, logo após o massacre de novembro o YouTube admitiu que um controlo antecipado dos vídeos “é quase impossível”. Tanto em novembro como ontem, os vídeos só foram retirados depois.

EUA registam o maior número de casos

Público | 2008-09-24

Os ataques mais graves dos últimos dez anos.

EUA, 24 de março de 1998
Dois rapazes com cerca de doze anos disparam sobre os colegas numa escola do Arcansas e matam quatro alunas e um professor.

EUA, 20 de abril de 1999
Dois rapazes de 17 e 18 anos, com revólveres e bombas artesanais, matam 12 alunos e um professor no liceu de Columbine, no Colorado, e suicidam-se.

Japão, 8 de junho de 2001
Oito crianças são mortas numa escola de Tóquio por uma pessoa com perturbações mentais.

Alemanha, 26 de abril de 2002
Um grupo de 16 pessoas, entre as quais 12 professores e dois alunos, são mortos no liceu de Erfurt, em Thuringe, por um antigo aluno de 19 anos, que se suicidou.

Rússia, 3 de setembro de 2004
332 pessoas, entre as quais 186 crianças, morrem no massacre da escola de Beslan, no Sul da Rússia. Tinham sido feitas reféns por um comando tchetcheno.

China, 26 de novembro de 2004
Oito adolescentes mortos e quatro feridos por balas no dormitório do liceu de Ruzhou, em Henan.

EUA, 21 de março de 2005
Em Red Lake, Minnesota, um adolescente de 16 anos mata nove pessoas, entre as quais nove estudantes, no liceu que frequentava, antes de se suicidar.

EUA, 3 de outubro de 2006
Cinco raparigas foram mortas e seis ficaram gravemente feridas numa escola de Pensilvânia.

EUA, 16 de abril de 2007
Na Universidade de Virgínia Tech, um aluno dispara sobre os colegas e professores e mata um total de 32 pessoas.

Finlândia, 7 de novembro de 2007
Um rapaz de 18 anos, Pekka-Eric, dispara no liceu de Tuusula e mata sete alunos e uma professora. No fim, dispara sobre si.

EUA, 8 de fevereiro de 2008
Uma estudante mata duas pessoas no Instituto Técnico de Baton Rogue, no Luisiana, antes de se suicidar.

EUA, 14 de fevereiro de 2008
Um homem dispara no campus universitário de Illinois, causa cinco mortos e quinze feridos e depois dispara sobre si.

China, 25 de fevereiro de 2008
Um ex-aluno de uma escola da província de Guangdong mata à facada dois alunos e fere outras quatro pessoas. Depois suicida-se.

Alto nível de vida rivaliza com tendências suicidas

Público | 2008-09-24

João Esteves, um professor português que vive na Finlândia há seis anos, não sabia, ontem à tarde, do tiroteio ocorrido no interior de uma escola que fica a cerca de 300 quilómetros do local onde vive: Helsínquia. “Está-me a falar do massacre ocorrido o ano passado?”, estranhou, entrevistado pelo Público por telefone. Não é que este professor de 52 anos estivesse alheado da atualidade do dia. O que acontece é que os media finlandeses acordaram reduzir as notícias sobre o homicídio ao mínimo essencial. Porquê?

“Os jornalistas sentem-se culpabilizados porque consideram que este massacre é consequência direta do ocorrido em 2007, em Tuulusa, em que morreram oito estudantes. O episódio foi amplamente noticiado e teve um impacto brutal na sociedade finlandesa. De repente, as profundamente enraizadas convicções luteranas dos finlandeses, de muita tolerância e entreajuda, ficaram muito abaladas, com o Governo finlandês a reunir-se extraordinariamente para questionar até o próprio sistema de ensino”, explica André Demony, 32 anos, um jornalista freelance português que vive na Finlândia.

Este acordo de autorregulação, que abrange até os jornais mais sensacionalistas, só espanta quem não conhecer a cultura finlandesa. Com uma mulher na presidência, o país da Nokia tem das mais altas qualidades de vida. Porém, o suicídio é a principal causa de morte dos rapazes entre os 20 e os 24 anos de idade. Tem das maiores taxas de posse de arma (à frente, só os EUA e o Iémen), mas também tem dos mais baixos índices de criminalidade. “Em seis anos, não me lembro de ver uma notícia de homicídio na televisão”, assegura João Esteves.

Jovens em mundos virtuais
Não é que não os haja: as estatísticas internacionais dizem que 138 finlandeses foram vítimas de homicídio em 2006 (em Portugal, com o dobro da população, houve 194 homicídios, segundo o Relatório de Segurança Interna relativo a esse mesmo ano). Mas 84 por cento dos homicídios envolveram pessoas que se conheciam entre si. Quase todos tiveram origem passional, em comunidades isoladas e dentro de portas. Quase todos impulsionados pelo álcool. “é uma forma de alienação”, diz João Esteves. “Ninguém bebe socialmente, para apreciar a bebida. Ao fim de semana, é comum ver alguém caído na rua, porque bebeu até perder a consciência.” Ao contrário do álcool, as armas parecem servir sobretudo para a caça: apenas 16 por cento dos homicídios registados em 2006 envolveram disparos. “Há aqui muitos caçadores porque há muita vida selvagem: ursos, lobos e alces”, aponta Esteves.

A segunda diferença entre Portugal e a Finlândia é que a criminalidade relacionada com assaltos ou os chamados “crimes de colarinho branco” é praticamente inexistente. “Não se vê violência gratuita, em que um indivíduo vai na rua e corre o risco de ser assaltado”, diz Demony. Em Helsínquia, “as pessoas deixam as portas de casa abertas e as bicicletas na rua, sem cadeado”, reforça Esteves.

No tocante às escolas, a Finlândia foi a mais bem classificada nos três últimos PISA – o programa internacional que avalia os alunos do secundário de 57 países. O normal é que os adolescentes saiam de casa aos 18 e beneficiem de um empréstimo bancário para poderem viver por sua conta até que terminem os estudos. “Quando começam a trabalhar, começam a pagar esse empréstimo.”

Num país que se destacou por ter revolucionado as telecomunicações e a forma como as pessoas se conectam, é a finlandesa Paivi Arponen, mulher de João Esteves, que arrisca uma explicação para as elevadíssimas taxas de suicídio. “Acho que estamos a viver bem demais. Em tempos de guerra, as pessoas entreajudam-se e têm um propósito na vida. Nos tempos atuais, os finlandeses não têm desafios, nem nada por que lutar.” João Esteves diz que também, mas não só. “Os finlandeses procuram não precisar de ninguém e tendem a isolar-se.” Aliás, ainda segundo Esteves, “as crianças são educadas desde muito cedo para a autonomia, ao ponto de ser raríssimo ver uma criança de mão dada com o avó ou com o pai na rua”. Na adolescência, “os jovens vivem voltados para a televisão e para a Internet, onde têm comunidades virtuais de amigos, pelo que os pais não têm qualquer controlo sobre a forma como passam o dia”. Lá como cá.

Novo banho de sangue em escola da Finlândia

Correio da Manhã | 2008-09-24

Eram 11h00 na Finlândia (09h00 em Lisboa) quando o horror se repetiu, desta feita na Escola Profissional de Kauhajoki, na região oeste do país. Um jovem de 22 anos, de capa negra e máscara de esqui, entrou no recinto com um enorme sacoe, logo a seguir, desatou a disparar sobre colegas e funcionários.

O pânico foi total, com todos a tentarem escapar ao tiroteio. Mas sucedeu o banho de sangue – pelo menos dez pessoas mortas e várias outras feridas. Após o massacre, o homicida disparou sobre a cabeça. Ainda chegou vivo ao hospital mas acabou por morrer. é o segundo incidente do género, que acontece naquele país nórdico, em menos de um ano.

Na altura em que ocorreu o tiroteio estavam na escola aproximadamente 150 pessoas. Jukka Forsberg, um funcionário, contou, ainda não refeito do choque: “Disparou com uma pistola a sangue-frio. Não disse uma palavra. Também disparou na minha direção, mas eu consegui fugir dali. Só se ouviam tiros e gritos.” Logo após o tiroteio, deflagrou um incêndio, eventualmente provocado pelo atirador, que terá levado explosivos na bolsa.

O reitor daquele estabelecimento de ensino profissional, Tapio Varmola, informou que a polícia identificou o jovem como sendo Matti Juhani Saari, um estudante matriculado no segundo ano de Artes Culinárias.

Tal como tem sucedido em casos semelhantes, também este estudante tinha colocado na internet vídeos que indicavam o seu carácter violento. Matti Saari tinha quatro vídeos no YouTube. As imagens mostram um indivíduo vestido com roupas de cor escura, incluindo um casaco de cabedal preto, a disparar sobre um alvo. Num deles, aponta para o espectador e ameaça: “Os próximos são vocês.” No seu perfil de utilizador tinha também escrito frases como: “A vida é uma guerra. A vida é uma dor. E tu vais lutar sozinho na tua guerra pessoal”; “E subitamente rebentou uma guerra e as mães gritavam. Por vingança e represálias, por uma outra guerra.”

A ministra do Interior finlandesa, Anne Holmlund, adiantou que o atirador tinha sido interrogado pela polícia um dia antes do ataque, a propósito de um dos vídeos no YouTube em que ele dispara sobre um alvo, mas os agentes decidiram que não havia razões para lhe retirar a licença temporária de porte de uma pistola de calibre 22, que obtivera em agosto passado.

Sendo um país com tradição de caça, a Finlândia é o terceiro país do Mundo com mais armas de fogo por habitante, logo a seguir aos EUA e ao Iémen.

“VOCêS SãO OS PRóXIMOS”

Vídeo
Tal como já aconteceu em outros casos, também desta vez o assassino, Matti Saari, colocou na net, através do YouTube, vídeos que ‘anunciavam’ o massacre. Mal as imagens começaram a circular, a polícia interrogou Matti. Os agentes decidiram, no entanto, que não havia razão para lhe retirar a licença de porte de armas.

Perfil
No perfil de utilizador, que introduziu no site com o nome de Mr. Saari e pseudónimo ‘Wumpscu86′, afirmou ter 22 anos e morar em Kauhajoki, localidade a 290 km de Helsínquia. Descreveu-se como um jovem interessado em computadores, armas, sexo e cervejas, com especial predileção para filmes de terror.

Matou mulher em colégio
A polícia britânica está a investigar o caso de um indivíduo que na noite de segunda-feira entrou no colégio de línguas St. George, Londres, e esfaqueou até à morte uma mulher e feriu outra, antes de tentar suicidar-se. O indivíduo usava uma peruca e uma máscara igual à do ‘Fantasma da ópera’.

Segundo fontes policiais o indivíduo entrou no local onde estavam as duas mulheres, dirigiu-se a uma delas, uma asiática de 23 anos, e esfaqueou-a várias vezes no pescoço e no peito. A segunda mulher apesar de ferida conseguiu escapar e alertar a polícia, sendo em seguida transportada para o hospital. O agressor tentou então suicidar-se mas não conseguiu e encontrava-se ontem hospitalizado. A polícia confirmou que a vítima mortal era o alvo do crime, pois o agressor entrou no edifício à procurava de alguém em particular. A polícia afirma que o agressor será detido quando sair do hospital e que de momento não procura mais envolvidos no caso.

Tiroteio idêntico no ano passado
O massacre de Kauhajoki acontece quase um ano depois de um outro ocorrido na cidade de Tuusula, no Sul da Finlândia. Foi a 7 de novembro do ano passado que Pekka-Eric Auvinen, um estudante de 18 anos, abriu fogo na Escola Secundária de Jokela e matou oito colegas, uma enfermeira e o reitor, tendo-se suicidado em seguida com um tiro na cabeça. Antes de cometer o massacre, o jovem deixara uma carta à família e também colocara um vídeo no YouTube, em que anunciava o ataque.

A Finlândia reagiu com choque. Era a primeira vez que acontecia um episódio deste tipo, mais frequente nos EUA. O governo de Helsínquia anunciou então uma série de medidas: aprovou leis que proíbem a menores usarem armas e aumentou a idade legal para porte de armas de 15 para 18. Não foram suficientes.

OUTROS CASOS

Março, 1996 – Reino Unido
Um homem armado entrou uma escola em Dunblane, Escócia, e matou a tiro 16 crianças e uma professora.

Março, 1997 – Iémen
Um homem atacou centenas de estudantes em duas escolas, em Sanna, e matou oito pessoas.

Março, 1998 – EUA
Numa escola em Jonesboro, Arkansas, dois jovens de 11 e 13 anos mataram a tiro quatro estudantes e uma professora.

Maio, 1998 – EUA
Numa escola em Springfield, Oregan, um estudante matou a tiro dois colegas e feriu outros 22.

Abril, 1999 – EUA
Dois estudantes armados mataram 13 pessoas numa escola no Colorado antes de se suicidarem.

Junho , 2001 – Japão
Um jovem entrou numa escola perto de Osaka e com uma faca de cozinha matou oito estudantes.

Janeiro, 2002 – EUA
Um jovem na Virgínia matou o reitor, um estudante e feriu outros três.

Fevereiro, 2002 – Alemanha
Na Baviera um estudante matou a tiro três pessoas antes de cometer suicídio.

26 de abril, 2002 – Alemanha
Um homem armado disparou vários tiros numa escola em Erfut. Um total de 18 pessoas morreu, incluindo o agressor.

1 de setembro, 2004 – Rússia
Um ataque de rebeldes tchetchenos numa escola em Beslan matou 333 pessoas, das quais 186 eram crianças.

setembro, 2004 – Argentina
Um jovem de 15 anos matou três estudantes e feriu outros cinco, após disparar vários tiros na sala de aula.

21 de março, 2005 – EUA
Um estudante, de 16 anos, matou a tiro cinco outros estudantes, uma professora e um segurança numa escola no Minnesota.

13 de setembro, 2006 – Canadá
Um indivíduo matou a tiro um estudante e feriu outros 19 numa escola em Montreal. Acabou por se suicidar.

2 de outubro, 2006 – EUA
Um indivíduo entrou numa sala de aula de uma escola na Pensilvânia e matou cinco raparigas e depois suicidou-se.

16 de abril, 2007 – EUA
Um estudante matou 32 pessoas e feriu outras 15 em dois incidentes no mesmo dia, na Virgínia. Antes do crime o jovem enviou um vídeo para a TV.

7 de novembro, 2007 – Finlândia
Um estudante matou a tiro seis colegas e o diretor de uma escola secundária e suicidou-se. Antes do crime colocou um vídeo no YouTube.

8 de fevereiro, 2008 – EUA
Uma estudante matou duas mulheres e em seguida suicidou-se numa escola no Louisiana.

14 de fevereiro, 2008 – EUA
Numa universidade perto de Chicago um homem matou cinco pessoas e suicidou-se.

SAIBA MAIS

5,3 milhões
De habitantes tem a Finlândia, membro da UE desde 1995. A localidade onde ocorreu a tragédia, Kauhajoki tem 14 mil.

2/3
Do território do país está coberto por florestas.

APONTAMENTOS

Idades: jovens de 20 anos
De acordo com informações de responsáveis da escola e da polícia, a média de idades dos estudantes, que frequentam o estabelecimento de ensino, é de 20 anos

Homicida: aluno da escola
O assassino, que acabou por morrer no hospital, era um jovem de 22 anos, aluno da escola, que estava matriculado no segundo ano do curso de Artes Culinárias

Armas: tradição de caça
País com uma longa tradição de caça, a Finlândia é o terceiro país do Mundo com mais armas de fogo por habitante, logo a seguir aos EUA e ao Iémen.

Rebentam bombas na escola

Correio da Manhã | 2008-09-20

A polícia esteve ontem na Escola Secundária Passos Manuel.

Quando foram abordados por agentes do programa Escola Segura da PSP, na tarde de quinta-feira, explicaram aos polícias que apenas construíram duas bombas artesanais a partir de uma receita retirada de uma qualquer página da internet. Os dois jovens, com idades entre os 14 e os 15 anos, são alunos do 6.º ano da Escola Secundária Passos Manuel, em Lisboa, e arriscam ser expulsos pelo comportamento que tiveram no pátio do recinto escolar.

“Foi uma brincadeira de miúdos que queriam ver se a experiência que viram na internet funcionava. Usaram lixívia e umas garrafas de plástico para fazer umas bombinhas”, revela uma funcionária da escola ao CM.

Segundo o relato de alguns alunos, os engenhos rebentaram ontem à tarde. O relógio marcava as 14h20 quando a primeira bomba caseira rebentou. “Ouviu-se um grande estrondo, apanhámos um grande susto”, conta um aluno.

As bombas – que não se sabe ainda se foram feitas na escola ou fora dela – são, segundo o CM conseguiu apurar no local, feitas à base de vários produtos tóxicos misturados com lixívia. Os líquidos foram colocados dentro de duas garrafas de litro e meio de coca-cola. O primeiro engenho a rebentar estava colocada no ramo de uma árvore, tendo provocado alguns danos nesta. A segunda bomba caseira foi encontrada dentro de um caixote do lixo já depois de explodir.

Segundo o relato de um funcionário da escola, “a explosão poderia ter tido consequências graves”, dado que “havia várias crianças junto ao local onde ocorreu a explosão”. Alegadamente, ambos os alunos que fizeram os engenhos quiseram mostrá-los aos colegas.

A situação ocorrida na escola Passos Manuel “está a ser investigada” pela direção, disse ao CM, o presidente do conselho executivo João Paulo Leonardo, que não quis prestar mais comentários sobre este caso.

OUTROS CASOS

Explosão em Idanha
No início de abril deste ano, um aluno de 14 anos fez explodir um engenho numa arrecadação da Escola EB 2,3 José Silvestre Ribeiro, em Idanha-a-Nova. O adolescente tinha levado material explosivo de casa. O padrasto, que trabalha numa pedreira, foi constituído arguido.

Figueira e Covilhã
Em abril do ano passado, a Polícia Judiciária de Coimbra identificou seis estudantes, entre os 15 e os 17 anos, que fabricaram duas bombas artesanais que fizeram explodir na Figueira da Foz e na Covilhã.

Está tudo na Internet
‘Como preparar uma bomba caseira’ ou ‘Bomba de cloro, aprenda a fazer com quem sabe’ são apenas dois títulos de vídeos disponíveis na internet que explicam o processo de construção de um engenho explosivo.

190 docentes vítimas de alunos e pais

Correio da Manhã | 2008-09-10

Agressões, ameaças e indisciplina: a violência é habitual em várias escolas.

Pelo menos 190 professores foram vítimas de alunos e encarregados de educação no último ano letivo. Segundo João Grancho, presidente da Associação Nacional de Professores e responsável da Linha SOS Professor, os docentes que contactaram a linha são alvo de agressões, ameaças, indisciplina e comportamentos delinquentes. Para as vítimas, que têm entre 20 e 69 anos, o dia de hoje, em que recomeçam as aulas em algumas escolas, é também de regresso ao local do crime.

Os números agora revelados são idênticos aos que o Observatório para a Segurança Escolar registou no ano letivo anterior (2006/20007), período em que se verificaram 185 agressões a professores. João Grancho destacou, em declarações ao CM, o facto de as queixas por agressão terem diminuído, uma vez que os docentes “agora já se queixam mais vezes diretamente nas escolas ou junto das autoridades”. Estes dados parecem indicar que as palavras do procurador-geral da República, Pinto Monteiro, surtiram efeito, quando aconselhou os docentes a fazerem queixa às autoridades sempre que fossem alvo de agressão.

Segundo a psicóloga Joana do Carmo, não existe um perfil do docente vítima de agressão. A idade, os anos de ensino ou o grau em que se leciona contam pouco. As mulheres são mais vezes alvo de agressões, que deixam marcas profundas. A vítima vive “constantemente angustiada” com a ideia de poder encontrar o agressor. Muitas vezes o professor agredido sente “tremores e sensações de desmaio quando se aproxima do recinto da escola, não conseguindo ir sozinho ao local”.

Foram também ontem revelados números da PSP que apontam para um aumento de 40 por cento nos crimes de ofensa à integridade física no exterior das escolas no último ano letivo. No total, foram registados três mil crimes, 40 por cento dos quais na Grande Lisboa e 24 por cento no Grande Porto. A PSP revelou ainda que “os roubos no perímetro exterior das escolas diminuíram 17 por cento e os furtos estabilizaram”. Refira-se que o programa Escola Segura envolve 328 agentes da PSP.

Novo ano encarado com receio
Apreensão. é com este estado de espírito que João Dias da Silva, líder da FNE, encara o ano letivo que hoje arranca.

“Temos um conjunto de receios, em especial quanto ao impacto da avaliação do desempenho dos professores, excessivamente burocrático e que vai suscitar o aparecimento de relações pessoais degradadas nas escolas”, disse ao CM. O responsável frisa que “os avaliadores são pessoas com percursos idênticos aos dos que vão ser avaliados e por isso não são reconhecidos por estes”. O líder sindical defende ainda que é preciso haver “turmas mais reduzidas e espaços adequados para o trabalho experimental, como laboratórios e oficinas”. E exigiu a criação de “equipas multidisciplinares para acompanhar alunos com problemas de aprendizagem”.

Turmas ainda são pequenas
Portugal é dos países da OCDE com as turmas mais pequenas. De acordo com o relatório ‘Education at a Glance 2008′, as turmas tinham em média 19 alunos em 2006, abaixo da média da OCDE (21,5). Em consequência, Portugal ocupa o 28.º entre 33 países no rácio de estudantes por professor no Básico (8,1) e o 32.º lugar no Secundário (8 alunos por docente). No investimento na Educação está em 22.º lugar.

“Mudanças são aceites”
O primeiro-ministro José Sócrates afirmou ontem que a redução de reprovações no último ano letivo, que atingiram o nível mais baixo da última década, se ficou a dever “às mudanças políticas que melhoraram a eficiência das escolas”. “Muitas mudanças foram recebidas com desconfiança e incompreensão mas agora já são aceites e a escola e os professores são olhados com mais consideração social”, afirmou Sócrates, presente num encontro do Conselho de Escolas, juntamente com a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues. Sócrates voltou a sublinhar que a Educação é a prioridade do Governo. “O sucesso económico do nosso país está fortemente ligado ao sucesso escolar”, defendeu

MAIS DADOS

Falta qualificação
Cerca de 60 por cento da mão–de-obra em Portugal não tem qualquer formação específica. Apenas a Turquia, segundo a OCDE, tem um registo pior.

7028 ocorrências
Os últimos dados do Observatório da Segurança em Meio Escolar, relativos a 2006/07, indicam o registo de 7028 ocorrências, das quais 3533 no interior das escolas.

Telemóveis
O furto de telemóveis é o mais comum nas escolas, seguido dos furtos de dinheiro e de material audiovisual, como leitores de CD e de MP3.

Apoio social para 700 mil
Refeições gratuitas, desconto de 50 por cento nos passes sociais, apoio financeiro na compra de manuais e material escolar, computadores de graça ou com grandes descontos: no ano letivo que hoje arranca o Governo promete um reforço significativo nas ajudas às famílias mais carenciadas, passando a apoiar 700 mil alunos, cerca de meio milhão a mais em relação ao último ano.

“Não há memória de um alargamento tão grande na Ação Social Escolar”, sublinha a ministra Maria de Lurdes Rodrigues, que afetou cerca de 73 milhões de euros do orçamento do Ministério da Educação (ME) para concretizar estas medidas. Com as alterações introduzidas, para além dos alunos do Ensino Básico também os do Secundário (10.º, 11.º e 12.º anos) passam a ser abrangidos pelas ajudas.

“As pessoas que precisam, que sofrem mais, nunca tiveram tanta proteção como agora”, reforça Rui Nunes, assessor do ME, frisando que o facto de ser o abono de família a determinar o escalão do aluno garante que “as ajudas vão mesmo para quem precisa”.

Os alunos oriundos de famílias mais carenciadas, que irão integrar o escalão A, serão cerca de 400 mil, de acordo com as previsões do Governo. Terão direito a refeições grátis e a apoios que vão dos 95 aos 140 euros na compra de manuais e entre 11 e 12,50 euros para material escolar. Já quem integra o escalão B tem direito a metade do valor destas ajudas.

Para João Dias da Silva, secretário-geral da Federação Nacional dos Sindicatos da Educação (FNE), as medidas são positivas embora “insuficientes para a situação difícil das famílias”. O orçamento terá de continuar a esticar.

Albino Almeida, que preside à Confederação Nacional das Associações de Pais, também destaca o facto de “500 mil alunos que não eram apoiados passarem a ter ajudas”. Mas lembra que a classe média fica sem apoios, contrariando a Constituição, que fala em ensino universal e gratuito. “Há famílias que, pelos seus rendimentos, não podem ser consideradas abastadas e que ficam de fora. é por isso que defendemos que deve ser permitida a dedução no IRS pelo menos do valor mais alto concedido pela Ação Social Escolar”.

Desconto de 50% no passe
Os estudantes que tenham entre quatro e 18 anos passam a ter 50 por cento de desconto na compra do passe social para os transportes coletivos. Esta medida, denominada passe escolar 4_18@escola.tp, visa apoiar as famílias e incentivar a utilização regular dos transportes coletivos.
O cartão do passe 4_18@escola.tp é requerido nos operadores de transportes, mediante a apresentação de uma declaração da escola frequentada pelo aluno, comprovando que este não é beneficiário de transporte escolar.

DISCURSO DIRETO

“Estímulo para os pais e alunos”, Susana Amador – Presidente da Câmara de Odivelas

Correio da Manhã: A Câmara de Odivelas é uma das várias autarquias do País que ofereceram manuais escolares aos alunos do 1.º Ciclo. Porquê?
Susana Amador: Os números do absentismo no 1.º Ciclo são alarmantes e Odivelas é um município que tem muitas famílias com problemas socioeconómicos. Este apoio é um estímulo para os alunos e para os pais e é uma medida que visa ajudar as famílias no regresso pós-férias.

CM: Quantos livros foram oferecidos?
SA: São 15 778 manuais para as 5258 crianças do 1.º Ciclo no concelho. Oferecemos a todos, sem discriminação, porque o início do ano letivo é pesado para as carteiras de todas as famílias.

CM: Qual o investimento do município no apoio escolar?
SA: Para os manuais são 150 mil euros, num total de 200 mil euros em ajudas escolares. Este ano também tivemos parcerias, que permitiram oferecer as mochilas aos alunos. E foram criados dois gabinetes de apoio psicológico em escolas do 1.º Ciclo na Pontinha e na Arroja.

DICAS

Declaração
A Segurança Social emitirá uma declaração da qual consta o escalão de rendimentos do abono de família, que será enviada aos destinatários para ser apresentada na escola.

Passe para todos
O novo passe para alunos dos quatro aos 18 anos poderá ser utilizado nos transportes públicos coletivos de passageiros, rodoviários e fluviais, a nível nacional, bem como nos ferroviários urbanos e regionais.

Portáteis gratuitos
Os alunos cujos agregados familiares tenham rendimentos mais baixos poderão ter acesso a computadores portáteis grátis com acesso à internet.

E-escolinha
As crianças do 1.º Ciclo vão poder ter computador portátil com acesso à internet em banda larga, gratuitamente ou a preços muito reduzidos, ao abrigo do programa e-escolinha. O projeto deverá abranger meio milhão de alunos do 1.º Ciclo.

NúMEROS DAS AJUDAS

700 mil
Alunos dos 2.º e 3.º ciclos e Secundário que vão ter apoio da Ação Social Escolar.

400 mil
Alunos passam a integrar o Escalão A, com direito à totalidade dos apoios, incluindo nas refeições.

300 mil
Alunos vão integrar o Escalão B, com direito a metade dos apoios.

140
Euros é o valor máximo concedido para compra de manuais escolares no Básico, destinado aos alunos do 7.º ano.

203,70
Euros é o rendimento máximo per capita mensal de um agregado familiar que integra o escalão 1 do abono de família.

407,21
Euros é o rendimento máximo per capita de um agregado do escalão 2 do abono de família

Família Almeida: pai vai trabalhar para França
é a vindima que paga a despesa da escola

A vida da família de José da Silva Almeida, de 49 anos, nunca foi fácil, mas as dificuldades acentuam-se bruscamente a cada mês de setembro, no início do ano letivo. Porque “ter quatro filhos a estudar não é para toda a gente”, ainda para mais quando os rendimentos da família são quase sempre incertos.

A residir numa modesta casa do bairro da Formiga, em Moimenta da Beira, José Almeida queixa-se da incerteza de ter de viver dos biscates que lhe vão aparecendo, sabendo que todos os meses tem de levar dinheiro para casa para sustentar a mulher e os seis filhos, todos menores. Quatro – Ana (14 anos), Catarina (13), André (10) e João (6) – frequentam a escola e este mês vão precisar de mil euros para gastar em livros, mochilas, outro material escolar e transportes. “é sempre uma dor de cabeça nesta altura, mas vou conseguir dar-lhes o mínimo que eles precisam”, garante José de Almeida, que para não pedir dinheiro emprestado vai partir para as vindimas em França. “Grande parte do dinheiro que lá vou ganhar é para lhes pagar as despesas da escola. Mas merece a pena, prefiro vê-los na escola do que para aí ao Deus-dará”, acrescenta o único sustento da família – a esposa “está muito doente e também precisa de cuidados”. A mulher recebe um subsídio social de 305 euros que “mal chega para pagar as despesas com os medicamentos”. Os filhos entendem que os pais não têm possibilidades de lhes poder dar tudo aquilo que mais anseiam, mas revelam que nunca faltou dinheiro para comer na escola e para os livros. “Nunca nos faltou nada, temos o mínimo que é necessário para frequentar a escola”, refere Catarina Almeida, lamentando que agora os livros “não passem dos irmãos mais velhos para os mais novos”

NOTAS

Leite e refeições nas escolas
Entre os apoios concedidos pelo Estado está também o programa do leite escolar, que garante um pacote de leite diário e abrange todos os alunos do 1.º Ciclo e da educação pré–escolar. A generalização das refeições nas escolas é outra das componentes da Ação Social Escolar. As refeições são gratuitas para os alunos mais carenciados e comparticipadas para os restantes. n

Visitas de estudo grátis
Para além dos auxílios económicos aos alunos com baixos rendimentos para aquisição de manuais e material escolar, a Ação Social Escolar garante também que este estudantes possam participar em atividades complementares, como visitas de estudo, sem terem de pagar. O Estado também comparticipa as despesas de alojamento em residências escolares.

Insucesso: não é melhoria
Paulo Feytor Pinto, presidente da Associação de Professores de Português, considera que a quebra nos chumbos “não significa uma melhoria real das aprendizagens”.

Segurança: cuidados a ter
A Fenei/Sindep alertou para que, face às situações de insegurança, os pais devem incentivar os filhos a não levar roupas de marca e telemóveis para a escola

Ministra: escolas do Porto
A ministra da Educação visita hoje a EB 23 de Miragaia às 11h00 e a EB23 Dr. Leonardo Coimbra (Filho), ambas na cidade do Porto, para assinalar o primeiro dia de aulas

Manuais: mais queixas
Vários livreiros queixaram-se do atraso na entregue de manuais escolares encomendados ao grupo Leya, tal como o CM noticiou na edição de ontem.

Investimento: 73 milhões
O impacto financeiro do alargamento dos apoios é de 30 milhões de euros nos manuaise material escolar e 43 milhões para as refeições escolares

1.º Ciclo: manuais de Inglês
O Governo Regional dos Açores distribuiu este ano pelas escolas do arquipélago todos os manuais de língua Inglesa para o 1.º Ciclo para minimizar as despesas das famílias com os filhos

Pais: apelo à participação
A Confap vai desencadear uma “grande campanha de sensibilização” para estimular a participação dos pais e encarregados de educação na educação dos filhos e educandosE

Escolas: diretores
O ano que agora começa marca a introdução da figura do diretor de escola, que substitui o conselho executivo. Haverá também mudanças na gestão escolar, com mais poder das autarquias

Hoje: “ser bom aluno, bora lá?”
é hoje lançado o livro “Ser Bom Aluno Bora Lá?”, de Jorge Rio Cardoso, que pretende ensinar os alunos a organizar o estudo, comportar-se na escola, evitar os erros e preparar as avaliações.

Professores de escola no Texas vão poder andar armados

Público | 2008-08-17

Um agrupamento escolar do Norte do Texas vai deixar os professores trazerem armas para a sala de aulas já a partir do próximo ano letivo, este mês. Os responsáveis dizem que a escola Harrold Independent, um campus algo isolado com 110 alunos de diferentes níveis de ensino, será a primeira em todo o país a adotar tal medida.

A decisão, diz o diretor deste agrupamento escolar, visa proteger o staff e os alunos no caso de algum ataque ao campus. “Se alguma coisa acontecer aqui, prefiro telefonar aos pais a dizer-lhes que as suas crianças estão bem e que nós conseguimos protegê-las”, explicou David Thweatt, citado pelo site do jornal Fort Worth Star-Telegram. A comunidade de Harrold fica a 30 minutos de carro da esquadra de polícia mais próxima, argumenta.

Thweatt não acredita que trazer armas para a escola – para além dos professores, os funcionários também vão poder fazê-lo – aumente os riscos de violência. “Os tiroteios nas escolas começaram quando Washington transformou as escolas em zonas livres de armas. Porque é que devemos apregoar que há um grupo de pessoas que não tem como se defender?”, questiona o responsável de Harrold.

Os professores que quiserem trazer as suas armas para as escolas têm de ter autorização para transportarem armas escondidas emitida pelo estado do Texas e terão de ser treinados para situações de crise.

Tiroteios recentes em escolas norte-americanas provocaram alguns apelos para os responsáveis escolares autorizarem estudantes e professores a usarem armas. O Congresso dos EUA proibiu as armas nas escolas de todo o país, mas o Supremo reverteu essa medida. Muitos estados proíbem – o Texas exige autorização das escolas.

57 queixas por agressão em escolas nos primeiros seis meses do ano

Correio da Manhã | 2008-08-02

De janeiro a junho Procuradoria-Geral recebeu, em média, duas denúncias por semana. Dos 57 casos de violência nas escolas que deram origem a inquéritos na área da Procuradoria Distrital de Lisboa, 21 aconteceram no Círculo de Almada.

O Ministério Público registou nos primeiros seis meses deste ano, só no distrito judicial de Lisboa, 57 casos de violência nas escolas – o que corresponde a uma média de duas agressões por semana.

Segundo dados oficiais do Ministério Público divulgados pela Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa (PGD), a maioria dos casos (34) ocorreu nos primeiros três meses do ano e 23 no segundo trimestre, com maior incidência em Almada – 21 casos registados neste círculo judicial, que abrange as comarcas do Seixal e de Sesimbra. Segundo apurou o Correio de Manhã, as principais vítimas são professores e auxiliares agredidos por encarregados de educação.

Este é o primeiro balanço sobre violência no meio escolar divulgado pelo Ministério Público no final de um ano letivo, o que acontece na sequência da entrada em vigor da Lei de Política Criminal, em janeiro, que atribuiu prioridade à investigação deste tipo de crimes.

No início do ano o Procurador-geral da República, que chegou a criticar a ministra da Educação por minimizar o problema, deu instruções às procuradorias distritais para solicitarem às escolas que denunciassem todos os factos suscetíveis de integrar crimes de natureza pública no meio escolar.

No entanto, e até ao momento, só são públicos os dados do distrito judicial de Lisboa, que abrange 42 comarcas, incluindo as regiões autónomas dos Açores e da Madeira, através da habitual avaliação semestral do trabalho do Ministério Público.

A violência em meio escolar foi assumida desde o início do mandato como uma preocupação do Procurador-geral, mas o assunto só ganhou contornos mediáticos quando uma aluna de uma escola do Porto foi apanhada, num vídeo colocado na net, a agredir uma professora. Os docentes reuniram-se com Pinto Monteiro e este foi chamado para uma reunião como Presidente da República, que terá ficado chocado com as imagens.

Após este episódio – que a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, voltou a desvalorizar, considerando tratar-se de uma situação rara – o Procurador-geral da República exortou os conselhos executivos das escolas a denunciarem todas as situações de violência, garantiu ter conhecimento de que há alunos que vão armados para as escolas e mostrou-se determinado a acabar com a impunidade neste tipo de ilícitos.

Os alertas do procurador

“Um miúdo de 15 anos que bate no professor e a diretora, com medo, não participa, é uma situação tremenda.” Pinto Monteiro
Outubro 2007

“Tenho elementos seguros de escolas em que os alunos vão armados com pistolas de 6,35 e 9 milímetros.”

Pinto Monteiro
Abril de 2008
“A violência escolar funciona como uma espécie de embrião para níveis mais graves de criminalidade.” Pinto Monteiro
Junho 2008

Cinquenta idosos violentados
Pinto Monteiro tem repetido que “os idosos não têm voz “e, por isso, pediu às autarquias que comunicassem ao Ministério Público todos os factos suscetíveis de integrarem crimes de natureza pública praticados contar pessoas vulneráveis. Seis meses depois das instruções do Procurador-geral, 51 casos de violência contra idosos foram registados na área do distrito judicial de Lisboa. Já a violência contra profissionais de saúde, outra das matérias que segundo a Lei de Politica Criminal é de investigação prioritária, apenas deu origem a seis inquéritos, quatro dos quais no primeiro trimestre de 2008.

Discurso direto: Mário Nogueira, Secretário-geral da FENPROF
“Problemas sociais têm reflexos na escola.”

Correio da Manhã: A maior parte das queixas de violência escolar é da Margem sul do Tejo. Há alguma justificação?
Mário Nogueira: é uma zona onde a taxa de desemprego é muito alta, com muita precariedade laboral e social. A existência de problemas complexos leva a atos de delinquência. E natural que, num contexto social complicado, os problemas se reflitam depois na escola.

CM: Já conheciam estas situações?
MN: A noção que temos é de que é uma zona em que é complicado trabalhar. Muitos dos professores que vão para Almada, Barreiro e Setúbal são jovens. Por vezes vê-se situações muito complicadas em que viviam, de pânico até.

CM: O número de queixas na Procuradoria-Geral da República está dentro do esperado?
MN: São números preocupantes, mas provavelmente estão aquém do que será a própria realidade. Haverá ainda muitas situações em que não são apresentadas queixas, mas não deixa de ser um número elevado. Qualquer caso de violência numa escola é sempre preocupante. E sabemos que o Procurador-geral da República está preocupado. O que é que falta fazer para aumentar as denúncias? -A escola ainda é muito burocrática. é preciso facilitar as denúncias. Mas já há muitos casos resolvidos dentro da escola.

Caso do Porto com castigos para alunos
As imagens correram mundo – foi através de um vídeo do YouTube que o caso foi conhecido – e resultaram em semanas de discussão sobre o fenómeno da violência nas escolas. A agressão de uma aluna a uma professora da Escola Carolina Michaelis, no Porto, por causa de um telemóvel, resultou na transferência de escola da aluna e do colega que filmou acena. O jovem foi castigado com vinte horas de serviço comunitário, a mesma pena aplicada a dois colegas que impediram o auxílio à professora. A agressora pediu desculpa à docente na audiência preliminar no Tribunal de Menores de Matosinhos e vai cumprir trinta horas de trabalho comunitário.

Confederação de pais atribui maior parte da violência escolar à falta de funcionários

Público | 2008-08-06

“A CNIPE atribui 65 por cento dos casos de violência e indisciplina ocorridos com alunos à falta cada vez maior de pessoal auxiliar nas escolas”, refere a confederação, num comunicado hoje divulgado.

Segundo dados da Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa (PGDL), só nos primeiros seis meses deste ano foram apresentadas 57 queixas por violência nos estabelecimentos de ensino do distrito judicial de Lisboa, a maioria dos quais ocorridos no círculo de Almada.

Considerando a situação “preocupante e alarmante”, a confederação exige “a tomada de medidas urgentes”, nomeadamente a contratação de mais funcionários e a promoção do envolvimento dos pais na vida escolar dos filhos, através do Código do Trabalho. “O conceito de família vai-se perdendo na conjuntura socio-económica nacional e a instabilidade na Educação agrava esta situação”, lamenta a CNIPE.

De acordo com os dados da PGDL, das 57 queixas apresentadas 21 dizem respeito a situações ocorridas no círculo de Almada, nove em Lisboa, sete no Barreiro e as restantes divididas pelos círculos judiciais do Funchal, Caldas da Rainha, Angra do Heroísmo, Loures, Oeiras, Sintra, Torres Vedras e Vila Franca de Xira. Dos 14 círculos que compõem o distrito judicial de Lisboa só Cascais e Ponta Delgada não registaram qualquer queixa de violência escolar.

Pai condenado a multa de 120 euros por dar bofetada à filha de 16 anos no meio da rua

Público | 2008-08-01

Tribunal considerou que estalada “causou dor” e que “uma menor de 15 ou 16 anos não se educa à bofetada”.

Lídio Pires Costa, residente em Braga, foi condenado a 120 euros de multa por ter batido, no meio da rua, na filha de 16 anos. O indivíduo foi condenado no Tribunal Criminal de Braga e viu a sentença ratificada na Relação de Guimarães.

Os factos ocorreram em plena cidade de Braga, em julho do ano passado. Lídio Costa estava separado e a filha tinha passado as férias com a mãe. Segundo a regulação do poder paternal, a jovem deveria regressar a casa do pai quando chegou de férias. A filha recusou, contudo, voltar a casa do pai, e este encontrou-a na rua. Como a jovem manteve a recusa, iniciaram uma discussão. Os ânimos exaltaram-se e a filha bateu com as mãos no peito do pai. Enervado, Lídio Costa agarrou-lhe um dos braços e deu-lhe uma bofetada na cara.

Ambas as instâncias consideraram que a bofetada que o pai desferiu à filha lhe “causou dor”; e que o arguido agiu de forma “deliberada, livre e conscientemente, com o propósito concretizado de atingir a ofendida sua filha, na sua integridade física, ofendendo-a no corpo e na saúde, bem sabendo que a sua conduta era proibida por lei”.

Sem “intenção educativa”
As duas sentenças referem ofensas à integridade física, crime pelo qual o pai foi condenado. A Relação entendeu que o arguido “não agiu com intenção educativa”, utilizou “uma conduta inadequada (…) e, além do mais, lesiva da dignidade de uma adolescente”. O tribunal considerou ainda que a agressão ter ocorrido na rua prova que o conflito não foi resolvido no seio familiar, mas num “local pouco aconselhável para tratar assunto tão delicado”.

Aliás, o acórdão vai mais longe e considera que “tal reação, em especial na via pública, sempre seria pedagogicamente desaconselhável”. E conclui que “uma bofetada não pode ser considerada um ‘castigo insignificante’ e, muito menos, adequado nas circunstâncias”.
Os magistrados consideraram que “uma menor de 15 ou 16 anos não se educa à bofetada e muito menos em locais públicos”.

Colégio Décroly “indignado” com suspeitas de maus-tratos

Público | 2008-07-26

A direção do Décroly permitiu a visita de jornalistas às suas instalações, para mostrar que “não há nada suspeito”.

Responsáveis e funcionários do Colégio Décroly, que acolhe crianças e jovens com deficiência, manifestaram “indignação” pelas suspeitas de maus-tratos lançadas contra aquela instituição lisboeta de ensino especial e que originou uma investigação policial.

Reagindo a uma notícia de ontem no Diário de Notícias, segundo a qual o Colégio está a ser investigado pela PSP pela alegada prática de maus tratos, a direção do Décroly permitiu a visita de jornalistas às suas instalações, para mostrar que “não há nada suspeito”.

Luís Vasconcelos Salgado, advogado dos proprietários do colégio, disse que a instituição tem três décadas de atividade, é inspecionada regularmente por diversas entidades e “não há qualquer observação” a registar, pelo que é “injustificável o alarme social em redor do caso”.

Salgado admitiu que três proprietários do colégio foram inquiridos e constituídos arguidos, mas salientou que, neste momento, o estatuto de arguido é meramente “formal”. Em março, a ASAE, a polícia e o Ministério Público executaram um “mandado de busca e apreensão” ao colégio.

Colégio de ensino especial suspeito de maus-tratos

Diário de Notícias | 2008-07-25

Colégio Décroly, de ensino especial, que acolhe crianças com paralisia cerebral, está a ser investigado pela PSP pela alegada prática do crime de maus-tratos. Advogado de defesa queixa-se que ainda não teve acesso ao processo e fala em interesses escondidos.

O cheiro doentio que se faz sentir nas instalações do colégio Décroly, em Lisboa, que acolhe crianças e jovens com deficiência, deve-se ao facto de as fraldas serem mudadas nas salas de aula e de não existir sistema de ventilação. Já a alegada utilização de fraldas descartáveis como babete parece não ser um hábito, mas uma medida de recurso. Estes são dois pontos referidos na investigação que a Divisão de Investigação Criminal da Polícia de Segurança Pública (PSP) levou a cabo no colégio, de acordo com um documento a que o DN teve acesso. Os proprietários acabaram por ser constituídos arguidos por suspeitas do crime de maus-tratos.

Alegadamente o colégio não possuiu sistema de ventilação porque este pode ser prejudicial para alguns alunos com problemas respiratórios. Mas uma das mais graves acusações que recai sobre os proprietários do colégio diz respeito aos internamentos sucessivos de um dos alunos. Outra questão levantada pela investigação diz respeito aos métodos que os funcionários usam para imobilizar os alunos durante as suas crises.

Há cerca de dois meses, o estabelecimento de ensino foi alvo de uma mega operação de fiscalização. “Estiveram no colégio a ASAE, PJ, PSP, Segurança Social, um procurador e o delegado de saúde. Até as crianças ficaram assustadas”, refere o advogado dos proprietários, Vasconcelos Salgado. Ao que o DN conseguiu apurar, a ação foi movida após terem sido registadas várias denúncias relativas ao funcionamento do estabelecimento.

Aparentemente, a operação descobriu que os medicamentos se encontram ao alcance de todos, em armários com as portas abertas. Enquanto as casas de banho não têm sabonete, nem papel higiénico de forma a evitar que as crianças os arremessem aos colegas e funcionários.

As acusações dizem respeito a factos como a violação das regras elementares de acolhimento de pessoas deficientes, que provocam lesões físicas, défices nutricionais, exposição dos utentes a ambientes muito frios no inverno e muito quentes no verão, falta de higiene e ausência de atividades lúdicas e pedagógicas que promovam o desenvolvimento das capacidades dos alunos. Estes são alguns dos factos imputados aos três proprietários do colégio.

Os alunos são colocados no colégio pela Direção Regional de Educação de Lisboa e Vale do Tejo (DREL). A instituição acolhe atualmente cerca de 160 alunos, 70 dos quais em regime de internato. Os alunos dos 6 aos 18 anos estão incluídos na valência de escolaridade obrigatória e são tutelados pelos Ministério da Educação. Enquanto os utentes dos 19 aos 24 anos são apoiados pela Segurança Social. De acordo com fonte da Segurança Social, estes jovens recebem um Subsídio Mensal Vitalício no valor de 171,78 euros, ao qual acresce um subsídio por frequência de estabelecimento de educação especial, pago aos jovens e não ao colégio.

O Ministério da Educação disse ao DN que a Inspeção-geral da Educação se “deslocou muito recentemente” ao colégio Décroly a fim de verificar se as condições exigidas para o seu funcionamento estão a ser cumpridas. “O Ministério paga os miúdos que lá estão em idade escolar 492,02 euros”, acrescentou ainda a mesma fonte da tutela.

Se os males da Quinta da fonte entravam na escola, a escola tinha de descer ao bairro

Renascença | 2008-07-20

Em três anos, um grupo de escolas problemáticas transformou-se num modelo a seguir.

Félix Bolaño conhece a Quinta de fonte por dentro e por fora. E os seus habitantes também. Como presidente do Agrupamento de Escolas da Apelação, mudou as escolas e empenhou-se em mudar o bairro. O seu trabalho levou mesmo o Presidente da República a visitar a escola para aí falar sobre como, mesmo numa zona difícil, é possível mobilizar os jovens para a cidadania. O que mostra que poucos conhecerão tão bem aquele bairro, os seus males e as suas virtudes como Félix Bolaño.

Ficou surpreendido com o tiroteio da semana passada?
Sim e não. O trabalho de intervenção social só tem resultados a longo prazo e é um caminho com altos e baixos. O que interessa é que se progrida, que não se desista.

As autoridades querem que a população que fugiu regresse, esta recusa-se. O que aconselha?
Para cada problema é preciso encontrar sempre uma solução, e cada problema tem de ser visto como uma oportunidade. Neste caso, a oportunidade é tentar que aumente o diálogo com os que têm mais dificuldade de integração. O que verifico no terreno é que se geraram ondas de solidariedade dentro do bairro e que este está mais disposto a aceitar as pessoas de etnia cigana. Por isso, o problema é eles aceitarem voltar e trabalharmos para fazer daquele bairro um bairro cada vez melhor.

Como é que se trabalha numa zona daquelas? Há problemas de polícia, há carências sociais (90 por cento das famílias beneficiam de apoios sociais), mas também parece haver quem tenha um nível de vida que não se esperaria encontrar num bairro social…
O meu papel é o de criar, em conjunto com todas as entidades que estão no terreno, oportunidades de inclusão, mesmo para os criminosos. Cada marginal que opta por cumprir com as regras da sociedade representa uma vitória para nós. E, quando isso sucede, normalmente os que se tornam cidadãos cumpridores tornam-se também nos nossos melhores aliados no terreno.

Como é que, em quatro anos, transformou a escola num agente de intervenção social?
Quando aqui cheguei, e formei a minha equipa, deparei com uma escola fechada, que tinha virado as costas aos problemas do bairro. Por isso, o clima do bairro e da escola piorava de ano para ano.

O que se passava na escola? Indisciplina, agressividade, a perceção pelos alunos de que a escola lhes queria mal…O que é hoje a Quinta da fonte? De fora parece um bairro com uma qualidade de construção e do espaço urbano bem superior à de muitos outros bairros sociais…
Sim, porque esteve para ser uma cooperativa de habitação. Mas depois o Estado despejou lá as pessoas desalojadas pela Expo, sem um mínimo de preparação.

Isso potenciou os problemas dos bairros de barracas?
A passagem da horizontalidade de um bairro de barracas para a verticalidade de um bairro social cria sempre problemas se não for bem acompanhada. Num bairro de barracas eu tenho a minha, ao meu lado está um amigo, criam-se comunidades onde os membros se entreajudam. Lá dentro, com os de dentro, nem costuma haver criminalidade. Mas, quando se passa para a verticalidade, as relações de vizinhança desfazem-se e as famílias são colocadas junto de vizinhos que não conhecem, muitas vezes com formas de vida diferentes.

Passaram, entretanto, dez anos… é difícil recriar esses laços sem uma intervenção adequada. Quando voltei à escola apercebi-me de que a conflitualidade do bairro vinha para dentro da escola.

E como reagiram?
Abrindo a escola à comunidade. Não para pedir, antes para oferecer. Por exemplo: sabendo que a Segurança Social não tem meios, oferecemo-nos para ser interlocutores, para fazer tudo o que fosse necessário como mediadores porque conhecíamos melhor o bairro. O mesmo com a Câmara de Loures e por aí adiante, criando uma rede social com os nossos parceiros…

Que parceiros?
Para além da câmara e da Segurança Social, os clubes, a Pastoral dos Ciganos, a Ajuda de Mãe, os Médicos do Mundo, a PSP. Estas instituições estavam soltas, cada uma atuava pontualmente e de forma dirigista. O que fizemos foi sentar todos à mesa e passarmos a atuar de forma coordenada.

Mas não há choque entre as comunidades de origem africana e as de etnia cigana? O que falhou no vosso esforço de integração?
Integrar comunidades é muito difícil, sobretudo quando trabalhamos com pessoas de etnia cigana, que é mais fechada e a quem não podemos exigir que mude a sua forma de ser e de estar.

Quando o Presidente veio à vossa escola, nas imagens só se viam africanos, não ciganos…
Perto de 90 por cento dos alunos são de origem africana, até porque nos 2.º e 3.º ciclos a etnia cigana tem tendência a desistir da escola e temos feito tudo para a convencer de que vale a pena continuar. Para isso temos de combinar a educação formal, a que o Ministério nos obriga, e a educação não formal, que tem tanta ou mais importância que seguir os currículos.

O que é a educação não formal?
é transmitir competências sociais tão importantes como saber estar em grupo, conseguir ser diferente do grupo, ser capaz de ser minoritário e respeitar os outros, sabendo que os outros o respeitam, conseguir formular um projeto de vida, dizer o que se quer ser quando se for adulto. é também saber resolver problemas de relacionamento, saber pedir ajuda, não ter vergonha, no fundo, responder aos problemas de um bairro onde há muitos ilegais que têm medo e não sabem o que fazer. A nossa preocupação é dar-lhes ferramentas para viverem melhor na nossa sociedade.

E há famílias desestruturadas?
Muitas, sobretudo devido à instabilidade e às exigências do mercado de trabalho. Muitos pais trabalham longe e não podem regressar para as famílias, muitas mães fazem horários nas limpezas que as impedem de estar com os filhos. E há também os que nem estão preparados para ter filhos…

Mães adolescentes?
Sim, muitas, mas isso passa-se em quase todos os bairros sociais. Aqui, como em Espanha ou na Alemanha. Não podemos é ficar agarrados aos problemas. Se conseguirmos dar outras perspetivas de vida às pessoas, elas aderem. Hoje temos ex-alunos que, em vez de ficarem num bar a beber cerveja, colaboram, trazem-nos pessoas, trabalham para a comunidade. Um bairro social tem líderes como não há em muitas outras zonas, e são lideranças fortes. Se conseguirmos que venham para o lado da comunidade, e não para o da criminalidade, são lideranças com um potencial fantástico.

“NãO HOUVE NEM UM CONFLITO éTNICO NEM UMA TROCA DE TIROS ENTRE GANGUES”
Ainda há ciganos a viver no bairro, já há jovens africanos disponíveis para acolher os que fugiram. Félix Bolaños acredita na “gente boa” da Quinta da fonte.

Como explica o que aconteceu?
Primeiro que tudo é preciso saber o que realmente aconteceu. A minha leitura pessoal é que nem houve um conflito étnico nem uma troca de tiros entre gangues. Tudo começou, ao que pude apurar falando com as pessoas do bairro, com uma discussão, quinta-feira à noite, entre um marido e uma mulher que gerou uma confusão; no meio da confusão, um dos que se envolveram estava mais alcoolizado, tinha uma arma e começou a disparar indiscriminadamente. Ora, como outros que lá estavam também têm armas em casa, foram buscá-las para se defenderem.

Mas isso envolveu ciganos e africanos?
O indivíduo que estava alcoolizado era de etnia cigana e, depois do tiroteio, a comunidade cigana ficou à espera de uma retaliação da comunidade de origem africana. Que não houve, só que tiveram medo e saíram do bairro. O que depois aconteceu foi uma pilhagem, pois muitos aproveitaram-se das casas dos que saíram terem ficado vazias. Houve um grupo de delinquentes que o fez ali, como podia ter feito nos melhores bairros.

Na sexta-feira os ciganos regressaram, armados, à espera da tal retaliação. Quando chegaram não foram recebidos com tiros, mas quando viram o espetáculo degradante das suas casas pilhadas, foram para a rua e dispararam, mas dispararam contra ninguém. Ninguém do outro lado foi buscar uma arma, e podemos perceber que não houve troca de tiros se virmos as imagens com atenção. Ninguém dispara e se esconde, viram as costas e vão-se embora tranquilamente. Por isso é que digo que não houve troca de tiros: houve um descarregar de raiva da etnia cigana quando viu as suas casas destruídas e roubadas.

Como se conserta o mal feito?
Uma das qualidades que procurámos desenvolver foi a resiliência, a capacidade de enfrentar dificuldades e não desistir, e essa resiliência está a permitir que a comunidade esteja a reagir bem, a dizer que quer um bairro melhor e a fazer uma série de atividades para mostrar que o bairro continua a progredir. Há aqui muita gente boa, honesta, trabalhadora, com capacidade de liderança, e que se está a organizar. O que se pretende transmitir aos que saíram da Quinta da fonte é que o bairro não é o que apareceu naquelas imagens, antes quer arrancar para uma vida melhor. A população está a ir ter com a etnia cigana, os jovens estão a dizer-lhes para voltarem. Mas claro que ainda há tensão e a etnia cigana tem de querer voltar para o bairro.

Por que é que, mesmo antes destes incidentes, o número de membros da etnia cigana já era muito menor do que há dez anos?
Porque gostam de estar numa posição dominante no seu espaço e, por isso, conforme ia aumento a desproporção relativamente aos africanos, iam-se sentindo menos à vontade. Mesmo assim, nem todos saíram do bairro: há famílias ciganas que continuaram lá depois dos incidentes, calmas e tranquilas.

A intervenção da escola parece ter-se traduzido mais no apoio a organizações que já existiam, em ter ajudado a coordenar o seu trabalho com outras organizações da sociedade civil e em aproveitar programas que também já existiam. Já se tem escrito que é necessário investir muito dinheiro em bairros como a Quinta da fonte. é um problema de dinheiro ou de forma de trabalhar com as pessoas?
De forma de trabalhar com as pessoas. é evidente que é preciso dinheiro, mas não tem sequer de vir todo do mesmo lado. Fazemos um desafio à sociedade civil, pedimos o seu envolvimento, e até temos conseguido o apoio de empresas privadas. A participação é o mais importante.

A sua atitude é uma raridade?
Não, mas também não encontro outra forma de atuar numa escola que se encontrava perto daquele bairro social e tinha todo o tipo de problemas. Até por proteção, pois a melhor forma de proteger a escola era conhecer o bairro, interagir com o bairro. Sentimo-nos protegidos pelo conhecimento que temos das próprias pessoas. Para além de acreditarmos que a escola tem de ter um papel líder na sociedade e, especificamente, na sua comunidade.

Bullying – vítimas sofrem de ansiedade e depressão

Correio da Manhã | 2008-06-29

Recreios vigiados evitam agressões. Especialista em bullying, Sónia Seixas, diz que a prevenção e a formação são fundamentais.

Mais do que uma prática condenável, o bullying começa a ser visto como um fenómeno que influencia a saúde e o desenvolvimento das crianças. Numa tese de doutoramento, a investigadora Sónia Seixas concluiu que as vítimas de bullying são as que têm “mais queixas de saúde e também mais probabilidade de desenvolver doenças do foro psicológico”, como ansiedade e depressão. Já os agressores têm “elevada autoestima e gostam de dominar os outros”.

O bullying – violência física ou psicológica, intencional e repetida, praticada por um indivíduo ou grupo sobre outro incapaz de se defender – é um fenómeno que está a crescer em Portugal. Para Sónia Seixas, os dados são “assustadores”.

A docente da Escola Superior de Santarém considera que a “estratégia de intervenção” passa por avaliar a situação em cada escola, estabelecer regras de conduta e incentivar a supervisão por parte de adultos, sobretudo nos recreios. é também urgente “romper com o pacto de silêncio” existente. “Quando os agressores não confessam e as vítimas não se queixam, o que podemos fazer?”

à procura de resposta, um grupo de investigadores da Universidade Complutense de Madrid desenvolveu o IeSocio, programa informático para identificar potenciais vítimas de bullying através de testes sociométricos, usando fotografias dos alunos. “Esta ferramenta é muito vantajosa, mas não chega; há todo um trabalho de equipa a fazer e a prevenção deve começar no Pré-escolar”, salvaguarda a investigadora.

Antibullying
O IeSocio está disponível na Internet (www.iesocio.es/) e já foi testado com sucesso numa escola de Madrid.

O meu caso david gouveia: torturado três meses por colegas
Durante três meses, David Luís Gouveia sofreu em silêncio. Tinha 16 anos e era aluno do 9.º ano na Escola EB 2,3 Dr. Daniel de Matos, em Vila Nova de Poiares, quando começou a ser vítima da chamada “ida ao poste” – uma brincadeira perigosa em que um rapaz é atirado de pernas abertas contra uma árvore ou poste.

A tortura começou em dezembro de 2005 e só terminou em fevereiro de 2006 quando David não aguentou mais e contou aos pais que o levaram ao médico. O jovem apresentava lesões graves nos órgãos genitais e acabou por ser operado, tendo estado em risco de perder um testículo. “Era sempre eu que ia ao poste. De vez em quando levavam outro colega, mas a mim era sempre”, conta David, lembrando que o medo era tanto que no final de cada aula arrumava os cadernos à pressa para ser o primeiro a sair e fugir dos colegas.

“Na escola ainda me disseram que o culpado era eu”, recorda. Os pais do jovem ponderaram apresentar queixa às autoridades, o que só não aconteceu “porque se tratava de crianças”. Em maio do ano passado, a situação voltou a repetir-se na mesma escola com uma criança de 11 anos.

Mais drogas no balanço da Escola Segura

Público | 2008-06-27

A PSP apreendeu 21 136 doses de drogas junto a escolas entre maio e junho, contra 1200 em 2007 e 977 em 2006.

Em três semanas, entre 26 de maio e 20 de junho, a PSP apreendeu, nas imediações das escolas portuguesas, mais 19.936 doses de droga do que em idêntico período do ano passado. O balanço da operação Escola Segura – Final do Ano Letivo 2007-2008 é marcado por este aumento brutal transposto sem qualquer outro tipo de informação num comunicado ontem divulgado pela PSP, mas que o subintendente Luís Elias, chefe da Divisão de Prevenção da Criminalidade, justifica assim em declarações ao Público: “Não estaríamos à espera de tanta quantidade, mas foi um facto circunstancial”.

Registaram-se “duas grandes apreensões”, especificou, acrescentando que a “esmagadora maioria” das 14 450 doses de haxixe, 5976 doses de heroína e 710 doses de cocaína (21 136 no total) foram apreendidas a elementos estranhos à atividade escolar.

Luís Elias não conclui que exista de novo mais droga nas imediações das escolas, mas apenas que, em relação ao ano passado, se registou “um aumento estatístico”. Apesar de “mais de 90 por cento dos interpelados” não pertencerem à comunidade escolar, o responsável policial reconhece que acabam por ter “um impacto negativo”: “A polícia quer elevar a segurança nas zonas residenciais envolventes aos estabelecimentos de ensino”.

A PSP tem “noção dos locais em que deve intervir”, garantiu. As áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto foram aquelas em que se registaram mais ocorrências, mas não foram adiantados outros pormenores.

A PSP fez 504 detenções, 15 das quais por tráfico, mais uma que no ano anterior.

Bullying envolve 65% dos alunos

Correio da Manhã | 2008-06-24

Dados de inquérito a alunos do 2.º ciclo da Grande Lisboa.

Quase dois terços dos alunos (64,7%) do 3º ciclo da Grande Lisboa estão envolvidos em fenómenos de bullying, de acordo com um estudo divulgado ontem na 4.ª Conferência Internacional sobre Violência Escolar e Políticas Públicas, a decorrer até amanhã em Lisboa.

A investigação conduzida pela psicóloga Sónia Seixas, da Escola Superior de Educação João de Deus, envolveu 680 alunos dos 7.º, 8.º e 9.º anos de 11 escolas de Amadora, Lisboa, Loures, Odivelas e Sintra. Dos inquiridos, apenas 35,3 por cento disseram não estar envolvidos em bullying, enquanto 30,1% dizem ser vítimas, 11,6% se assumem como agressores e 23% apresentam um padrão misto. O estudo conclui que as vítimas têm níveis mais baixos de autoestima, sentem-se rejeitados e têm pouca confiança em si, enquanto entre os agressores se passa exatamente o oposto.

‘é preciso sensibilizar a escola para este fenómeno, que causa grande sofrimento. Em última análise, as vítimas pensam no suicídio’, alertou Sónia Seixas.

Na sessão de abertura da conferência, que trouxe a Lisboa especialistas de 51 países, a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, considerou que a violência escolar é um fenómeno residual, frisando que “90 por cento dos casos ocorre em cinco por cento das escolas”. A governante sublinhou ainda que não se pode confundir “violência com indisciplina”. O psiquiatra Daniel Sampaio refutou a ideia da ministra: “Quando se diz que indisciplina nada tem a ver com violência não estamos no bom caminho. A indisciplina cria condições favoráveis ao aparecimento de violência.”

Já o Procurador-geral da República, Pinto Monteiro, que nos últimos meses denunciou a violência escolar, reafirmou que o fenómeno não pode ser ignorado, mas considerou que “a situação é hoje melhor do que há um ano”, destacando o aumento do número de denúncias.

Quais os sinais de alarme
A investigadora Sónia Seixas aponta diversos sinais a que os pais, professores e funcionários das escolas devem estar atentos para detetar casos de bullying. No caso das vítimas, os livros, o material escolar e outros bens aparecem muitas vezes estragados ou desaparecem. Ferimentos, cortes, arranhões ou danos na roupa podem também ser sinais de bullying. Muitas vezes são alunos isolados nos intervalos, que podem procurar mais a proximidade com o professor ou com outros adultos. Receosos de ir à escola, têm queixas frequentes de dores de barriga ou de cabeça e manifestam pouco interesse pela escola.

Os agressores revelam muitas vezes raiva descontrolada, são impulsivos e zangam-se facilmente; Retiram satisfação do medo que provocam às vítimas, gostam de provocar os pais e os professores e envolvem-se precocemente em comportamentos antissociais.

NOTAS

O que é o bullying
Conceito que descreve atos de violência física ou psicológica de carácter sistemático que causam sofrimento físico ou emocional.

Realidade escondida
Bullying não-físico passa despercebido e as queixas são poucas.

“Violência escolar tende a aumentar no Mundo”

Correio da Manhã | 2008-06-24

Carlos Neto, co-organizador da Conferência de Violência Escolar, em discurso direto.

Correio da Manhã: O Governo diz que a violência escolar está a diminuir. Há dados científicos que o confirmam?
Carlos Neto: Não temos ainda dados para poder responder. Sabemos sim que este é um problema disseminado por todo o Mundo e que tende a aumentar. A curto prazo haverá estatísticas nacionais.

CM: Um estudo de Margarida Matos aponta uma redução…
CN: é um estudo importante, mas relativo aos adolescentes e a violência nas escolas tem de ser vista antes disso, no Pré-escolar e principalmente no 1.º Ciclo, porque é aí que os exemplos de bullying e agressividade física acontecem com mais frequência.

CM: Muita gente desconhece o que é o bullying…
CN: Não é um fenómeno novo mas agora estamos mais atentos a ele. é um comportamento sistemático de violência física e psicológica entre pares. Há crianças que são vítimas persistentes, que sofrem esta forma de violência ao longo de dias, meses, anos de forma silenciosa. Há que ter muita atenção a essas crianças.

CM: Trouxe para Portugal a 4.ª Conferência Mundial sobre Violência na Escola, que decorre até amanhã em Lisboa. Qual o objetivo do evento?
CN: Este congresso é uma oportunidade única, estão cá os maiores especialistas. Este fenómeno é preocupante e devemos, com base em critérios científicos, procurar soluções, estratégias, modelos de intervenção no meio escolar e na comunidade para resolver o problema de forma progressiva.

CM: O poder político está sensibilizado para o fenómeno?
CN: A ministra [da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues] fez aqui na conferência uma intervenção muito acertada, porque definiu o problema e também definiu um rumo. Mas precisamos de uma classe política mais consciente de que este fenómeno tem de ser atacado com urgência.

Daniel Sampaio diz que “sinais de alarme” começam na infância

Correio da Manhã | 2008-06-23

As crianças com sete anos já revelam sinais de que podem vir a tornar-se delinquentes e por isso há que intervir muito cedo, defende Daniel Sampaio.

O psiquiatra é um dos oradores da “4.ª Conferência Mundial sobre Violência Escolar”, que entre hoje e quarta-feira reúne em Lisboa os maiores especialistas da área. “Podemos ter sinais de alarme muito precoces, logo aos 7, 8 anos, que tornam a criança suscetível de vir a ter comportamentos delinquentes. Esses sinais são comportamentos de violência para com os colegas, destruição de material escolar, dificuldade em fazer amigos. Há, por isso, que intervir muito cedo, a três níveis: escola, família e comunidade”, afirmou ao CM.

As últimas estatísticas oficiais indicam uma redução da violência escolar, mas Sampaio alerta para a violência escondida: “Em Portugal, não temos comportamentos de grande violência, mas muitas vezes esta instala-se de forma surda, com pequenas situações de ameaças nas casas de banho ou casos de bullying, provocação e humilhação entre alunos”, indica.

Já para a investigadora Margarida Matos, que coordenou um estudo a apresentar na Conferência, há claramente uma melhoria. “A violência e o bullying subiram entre 1998 e 2002, mas a partir daí têm vindo a descer. Por vezes a perceção que as pessoas têm é contrária porque, felizmente, somos cada vez mais intolerantes face à violência. A imprensa relata mais casos e as pessoas assustam-se”, conclui.

Pinto Monteiro na conferência sobre violência
O Procurador-geral da República, Pinto Monteiro, um dos principais promotores do debate mantido nos últimos tempos em Portugal sobre violência escolar, estará hoje na abertura da “4.ª Conferência Mundial sobre Violência na Escola e Políticas Públicas”, que decorre até quarta-feira na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

Também marcarão presença na abertura da conferência a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, e o antigo ministro David Justino, em representação da Presidência da República.

“CHEGAM CASOS GRAVES” (João Grancho, Coordenador da Linha Bullying)

Correio da Manhã: A linha de apoio a vítimas de bullying (808 968 888) já recebeu muitas chamadas?
João Grancho: Já recebemos cerca de vinte contactos num mês. Em quantidade não é muito, mas os casos que nos chegam são graves, de jovens que sofrem muito com a situação em que vivem e que pode provocar insucesso e abandono escolar ou outras situações bem mais complicadas.

CM: São jovens de que idades? Os pais também ligam?
JG: Até são os pais quem mais ligam para a linha. As vítimas têm entre 11 e 15 anos. Importante é que cada vez estão mais alerta e percebem a diferença entre o que é normal e o que é uma agressão.

OCORRêNCIAS

Violência nas escolas
Ocorrências: 10 964 (2005/2006)/7028 (2006/2007)
Interior da Escola: 7740 (2005/2006)/3533 (2006/2007)
Exterior da Escola: 3224 (2005/2006)/3495 (2006/2007)

Dados de 2006/2007
Furtos: 25,8%
Ofensa à integridade física/tentativa de agressão/agressão: 24,2%
Injúrias/ameaças/difamação: 15,2%
Posse/uso de arma: 2%

1252 ocorrências com alunos
402 ocorrências com professores
322 ocorrências com funcionários

fonte: Ministério da Educação e MAI

Professores não são treinados para agir em caso de violência

Público | 2008-06-23

Sentimento de pertença dos alunos pode reduzir conflitos. é a escola que tem de mudar, alerta Eric Debarbieux.

A violência nas escolas não está a aumentar, mas é preciso agir – não com medidas repressivas, mas pensadas a longo prazo, diz Eric Debarbieux, professor de Ciências da Educação da Universidade de Bordéus, em França. Ele é presidente do Observatório Internacional da Violência Escolar, uma organização não governamental “científica”, uma “federação de investigadores” de 52 países, que faz estudos e recomendações aos governos.

A quarta conferência internacional sobre violência escolar decorre entre hoje e quarta-feira na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

Qual é a influência do observatório sobre os governos?
O nosso objetivo é ter influência nas políticas públicas. Por exemplo, sabemos que o melhor caminho não é ter políticas de repressão nas escolas e dizemos isso. Mas não significa que sejamos ouvidos pelos políticos. A violência na escola é um tópico que é recorrentemente recuperado pelos meios de comunicação e pelos políticos, que exageram sobre as suas causas e os seus efeitos. Contudo, a investigação mostra que a violência na escola não está a aumentar.

Não está a aumentar?
Por exemplo: recentemente, um país africano pediu-nos para fazermos um estudo. Concluímos que o problema era as crianças não irem à escola. é claro que as entidades não ficaram satisfeitas. A razão científica nem sempre é palavra de ação.

A violência escolar vai da agressão verbal aos massacres nas escolas?
Os tiroteios não são um problema real. Nos EUA, os estudos dizem que o risco de um aluno ser vítima de um tiroteio é de um para um milhão; no entanto, 80 por cento dos estudantes têm medo de ser vítimas. O verdadeiro problema é a violência continuada e repetida, o bullying, sobre alunos, mas também sobre professores. Por vezes, pensa-se que não é importante, que é uma coisa pequena, mas sabemos que as consequências são muito graves. Há uma pesquisa que mostra que uma vítima de bullying pode tentar o suicídio quatro vezes mais do que alguém que nunca sofreu bullying na escola. é contra esta pequena violência que temos de lutar.

Disse que a violência escolar não está a aumentar, mas são tornados públicos cada vez mais casos. Porquê?
Em França, a média do número de alunos vítimas de bullying não está a aumentar, mas, se observarmos as escolas dos subúrbios, de zonas mais frágeis em termos socioeconómicos, a violência escolar está a crescer. Na Europa, a violência na escola está ligada à exclusão social. Mas não é assim em todos os países.

Quer dizer que pode não estar ligada à exclusão?
Em muitos países pobres africanos e da América Latina, a violência escolar não é um problema porque a comunidade protege a escola. Para ela, a escola é um capital social, é uma oportunidade para sair da pobreza, enquanto noutros países, na Europa e EUA, a escola é vista como um inimigo. Sabemos que há dezenas de milhares de alunos, em todo o mundo, que odeiam o clima escolar.

Porque a escola continua igual desde a revolução industrial e recebe públicos para os quais diz não estar preparada?
Os professores não são preparados para intervir. Em termos políticos, é uma prioridade repensar a formação. A maneira como se gerem os conflitos é muito importante, há necessidade de formar os professores também para trabalhar em equipa. Senão, a porta da escola está aberta para entrar a cultura de violência. Não podemos mudar a família ou a sociedade, mas podemos mudar a maneira como se trabalha na escola. A pedagogia pode contribuir para a solução.

Os alunos precisam de gostar da escola?
O sentimento de pertença à escola é uma das chaves. Se um professor ou um aluno está isolado, corre maior risco de ser vítima de violência.

E as câmaras de vídeo ou a polícia à porta da escola?
Há escolas com os portões fechados e videovigilância. São meios que podem tornar-se perigosos porque os alunos interpretam que a escola os quer vigiar e controlar, bem como aos amigos e à família. As escolas devem criar regras claras contra o bullying.

Quais devem ser as responsabilidades dos governos?
Formar professores para gerir conflitos. Tomar medidas de apoio às vítimas, mas também de apoio aos agressores. Não basta agitar o cassetête, os governos devem dar uma resposta que não seja dura e imediata, mas de longo prazo. Os governantes sentem um enorme fascínio pela repressão da violência extrema e isso deve-se à pressão mediática. Não há imagens da pequena violência; mas das consequências de um tiroteio. As políticas públicas devem dirigir-se à pequena violência.

Novas formas de bullying
Não há estudos globais, mas os que existem apontam para uma nova forma de violência escolar repetida e persistente feita através de novos meios, o computador e o telemóvel. é o cyberbullying e está a aumentar, reconhecer Eric Debarbieux, presidente do Observatório Internacional de Violência Escolar. Uma “violência silenciosa”, define Carlos Neto, investigador da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa, um dos organizadores da conferência internacional, para quem a comunidade educativa devia estar “sensível” para este novo tipo de violência.

O bullying, na sua forma de agressão física ou verbal, começa nos 3.º e 4.º anos do ensino básico. São sobretudo os rapazes as maiores vítimas, ao passo que os métodos mais usados entre e contra as raparigas são o ostracismo e o boato. Para Debarbieux, a violência contra os rapazes pode ser mais grave porque associa a violência física à verbal. Neto lembra que este é um problema multidisciplinar que deveria envolver os ministérios da Educação, da Justiça e da Segurança Social na sua resolução. “As políticas públicas antiviolência devem ser uma prioridade. Apesar de haver boas práticas em Portugal, estamos ainda muito atrasados”, lamenta.

Aqui os professores vão a casa do aluno perguntar-lhe por que não vem às aulas

Público | 2008-06-23

Noutras escolas sentiam que “se uma pessoa não aprendia deixavam-na num canto”, esquecida. Na Azevedo Neves, da Damaia, que faz parte do programa Territórios Educativos de Intervenção Prioritária, os professores não desistem deles. “Choram connosco e nós choramos com eles”, dizem os alunos. Rosa Coutinho Cabral foi filmá-los.

Parecia combinado. Mas foi apenas uma coincidência. Naquele dia, quando a equipa de filmagens de Rosa Coutinho Cabral entrou no pátio da Escola Secundária Azevedo Neves, na Damaia, Marlene segurava na mão as fotografias que tinha ido tirar a um fotógrafo profissional. Lá estava ela, com “roupa especial”, em pose contra um fundo-jardim de cores de rebuçado.

“Nesse dia senti-me bem com esta roupa e nunca tinha tirado fotografias assim”, explica, sorriso ainda envergonhado, a desviar o olhar da câmara quase encostada à cara dela. Percebe-se – Marlene quer e não quer ser filmada. Está a tentar ficar à vontade, mas a câmara não se desvia nem um bocadinho, e todo o esforço tem que ser dela. Ainda por cima tem os colegas todos ali à volta a assistir.

Mas Marlene não é rapariga para desistir e lá vai explicando que se preocupa com a imagem, que todos os dias acorda com uma hora e meia de antecedência para escolher a roupa e chega até a filmar com o telemóvel as várias opções para mostrar às colegas. “Então para me pentear…”, continua, indiferente ao espanto de quem a ouve e olha o cabelo muito curto coladinho à cabeça. “Sim, tenho de pôr um espelho à frente, outro atrás. Se não não saio de casa. Se pudesse a minha casa era toda de espelhos”.

Para Rosa Cabral o que Marlene conta encaixa perfeitamente na pergunta que ela anda a fazer por toda esta escola do concelho da Amadora: que imagem é que os estudantes da Azevedo Neves têm de si próprios? O projeto partiu de uma proposta do Ministério da Educação, que convidou a realizadora de Cães Sem Coleira (1997) e Lavado em Lágrimas (2005) para filmar uma escola integrada no programa TEIP/Territórios Educativos de Intervenção Prioritária para escolas com um elevado número de alunos em risco de exclusão social e escolar. é também uma forma de fazer os alunos refletir sobre a sua relação com a escola.

“A câmara não morde”
Já não é o primeiro dia que a câmara anda pelo pátio, os corredores e as aulas, e os alunos começam gradualmente a habituar-se a ela. Até porque uma das estratégias da realizadora é precisamente passar-lhes as câmaras para as mãos e pedir-lhes para serem eles próprios a filmar-se uns aos outros ou a escola. Nuca, por exemplo, tem o descaramento necessário. Pega na câmara e volta-a para a equipa de filmagens, invertendo as regras do jogo. “Vá lá, a câmara não morde”, diz, provocatória.

No grupo de alunas sentadas no pátio da escola – quase todas de restauração, um dos cursos profissionalizantes que a Azevedo Neves oferece – há apenas uma branca. A conversa, sempre com a câmara ligada, acaba por se centrar nessa evidência. Há quem diga que esta é a escola mais africana de Portugal, e calcula-se que mais de 80 por cento dos alunos seja de origem africana.

Tatiana, 18 anos, é branca, mas aqui é como se não fosse. Dela, quando dizem “tuga” é sempre de forma carinhosa. “Ela nasceu connosco”, explicam os outros. Tatiana sente isso: “Quando estou com eles sou tratada como eles. Percebemos perfeitamente quando alguém vai a passar, vê um grupo de pessoas de raça negra e puxa logo a mala para a frente ou guarda o telemóvel.”

“Quando entramos no pátio da escola isso é muito evidente: eles têm uma cor de pele e atrás disso há um conjunto de ressonâncias culturais. Têm colada à pele a história das comunidades a que pertencem, têm-na nos cabelos, na cor da pele, na língua que falam”, diz Rosa Coutinho Cabral. Sabem que “a expectativa social que existe sobre eles é bastante negativa”.

E uma das coisas que interessam à realizadora é perceber “como é que a escola consegue trabalhar essa imagem negativa e transformá-la numa positiva”.

Perguntar-lhes que imagem têm de si próprios resulta, quase sempre, em respostas estereotipadas. E Rosa Cabral quer ir para além destas. “A forma como se filma corresponde sempre a um olhar. O que eu quero é encontrar esse olhar a partir do olhar deles.”

Cada dia vai abrindo novos caminhos. A 9 de junho há uma festa organizada pelos alunos do Curso Profissional de Técnicos de Restauração – mais uma forma de sentirem que a escola é um espaço deles e da comunidade. Estão todos impecáveis, vestidos de preto e branco, cabelos com gel puxados para trás, controlando à porta do pavilhão quem pode entrar e quem não pode entrar. Há um concurso de talentos, um júri, mesas corridas com pratos com batatas fritas e pipocas, há nervosismo no palco, uma cortina que se abre e fecha, rostos ansiosos que espreitam.

Finalmente o concurso começa. Um grupo dança cha-cha-cha, o outro arrisca o malhão, mas a sala só começa a aquecer quando o duo Nelson e Vicente, um negro e outro branco, saltam para o palco para, sem música, cantarem um rap com um refrão que garante que “Portugal é que está a dar!”. A partir daí já nada os para. O Gang Atrevidas, com saias mini-mini cor-de-rosa, arranca palmas e gritos entusiasmados em crioulo, e daí a pouco já se dança kizomba e kuduro no meio da assistência.

Enquanto os alunos da restauração asseguram que nos intervalos há sumos e croquetes para quem quiser, os de audiovisuais filmam o espetáculo seguindo atentamente as instruções do professor Pedro Falé, repórter da SIC que um dia foi fazer uma reportagem à escola, encantou-se e ficou lá, a dar o curso de audiovisuais.

“Sentem-se apoiados”
No final do espetáculo os alunos querem fazer uma surpresa aos professores do curso de restauração: a professora Cecília Almeida – que “é a nossa mãe” – e que não sabe ainda mas daí a pouco vai receber um quadro com o seu retrato desenhado, e o professor José Rocheta, que também tem uma surpresa reservada, a caricatura do seu rosto bonacheirão.

Rocheta é um homem grande, que todos conhecem. é ele que vai “aos bairros” – Cova da Moura, 6 de maio, Estrada Militar – bater à porta das casas quando os alunos faltam mais do que três dias e perguntar o que é que se passa. “Eu digo-lhes ‘achas que me estás a mentir a mim, mas não é a mim, é a ti’. Eles ficam chateados mas aquilo bate-lhes lá dentro”, conta o professor. Rocheta preocupa-se em ensinar-lhes regras de higiene, de apresentação, vai vê-los aos estágios. “Eu apareço e é como se vissem alguém da família, sentem-se apoiados.”

Nunca ninguém lhes tinha dado esta atenção. E eles sabem disso. Num outro dia, lá mais para a frente, quando Rosa Cabral os junta numa sala para uma espécie de workshop à procura da “forma certa de fazer a pergunta sobre a autoimagem”, eles dizem isso mesmo: “Aqui há relações diferentes entre os professores e os alunos. Temos confiança com os professores para falar dos nossos problemas, aqui choramos por eles e eles choram por nós.”

“Na outra escola onde andei antes”, conta Flávia, “eu não aparecia e os professores não me perguntavam ‘o que se passa? o que é que tens?’. Se uma pessoa não aprendia deixavam-na num canto. E eu sentia que sozinha não conseguia. Ainda ia até ao segundo período e depois voltava a faltar.” Na “outra escola”, António era só “um corpo presente”, não ia às aulas, chumbou três vezes.

Muitos deles tornaram-se, aos olhos das escolas, alunos-problema – e, ao fim de algum tempo, viram as suas inscrições rejeitadas. Na Azevedo Neves “ninguém é rejeitado”, diz o professor Rocheta. “Aceitamos toda a gente.”

Fundamental é depois não desistir dos alunos. E isso quer dizer ir buscá-los a casa se for preciso, levá-los ao médico se for preciso, ajudá-los a legalizar os papéis se for preciso.

Quando Rocheta, com a sua figura imponente, caminha pelas ruas estreitinhas do bairro 6 de maio, passando entre as casas por becos onde mal cabe uma pessoa, ouvem-se vozes de miúdos a exclamar “olha o professor Rocheta!”. é aí que ele leva a equipa de filmagens a comer uma cachupa com Amadu, um dos alunos do curso de audiovisuais, no barzinho da D. Lena, que fica muito contente por ter quem aprecie a sua cachupa, quando “os rapazes hoje só querem hambúrgueres e pizzas”.

Do meio do emaranhado de ruas aparece L., óculos espelhados, andar gingão, muitas ideias, muitos projetos – “gostava de fazer alguma coisa para os idosos do bairro, levá-los a passear, eles nunca saíram daqui” – mas a realidade a impedi-lo. Depois de lhe terem nascido os filhos teve que deixar a escola, foi trabalhar para as obras, ainda anda a tentar conseguir a documentação, está preso num círculo vicioso.

Do outro lado da escola está “o bairro” – os alunos sabem disso e os professores sabem disso. E do bairro podem sair os “ídolos” com “carros de grande cilindrada comprados com dinheiro que não se sabe de onde vem”, explica José Biscaia, o presidente do conselho executivo da Azevedo Neves, mas também podem sair exemplos como os de L., que queria fazer mais do que a realidade lhe permite.

Mostrar que há outros caminhos é um dos desafios da escola. Tatiana, por exemplo, fez o 9.º ano, desistiu de estudar e foi trabalhar – percebeu rapidamente que em trabalhos como o McDonald’s, por muito horas extra que fizesse, ganharia sempre menos do que precisava. “Quis seguir a minha cabeça, mas é preciso abrir os olhos e aprender com os erros.” Voltou à escola, está a estagiar e já pensa depois fazer um curso de cozinha e, talvez, abrir um restaurante.

“Aqui ajudam-nos a crescer, não só como alunos, mas como pessoas, a pensar em nós”, dizem no workshop. “Mais importante do que saber fazer as contas ou conhecer a História de Portugal é sabermos viver em sociedade com os outros que são diferentes de nós”, acrescenta António.

Rosa Cabral insiste: “Como é que perguntariam uns aos outros qual é a vossa imagem como estudantes?” Eles lançam hipóteses: como te sentes nesta escola? Como te vês? Sentes-te aceite? Como caracterizas a tua personalidade? Qual é a diferença entre estares com a família em casa e estares aqui?

“O que é engraçado é abrir a possibilidade de serem eles a fazer perguntas, a poderem dizer ‘não percebo as vossas perguntas’, a encontrarem a melhor forma de filmar”, diz Rosa Cabral. “Quando lhes passamos a câmara eles fazem perguntas que nós não faríamos, e abre-se uma brecha para serem observadores, coautores do projeto.”

“Eu quero brilhar”
Marlene encontrou uma pergunta para fazer aos outros: têm um objetivo? Têm força e vontade para chegar ao fim? Ela já tem a sua resposta: “Nós pensamos no futuro. Aquilo que os nossos pais viveram no passado, nós não queremos isso, não queremos que os nossos filhos passem por isso.” Levanta a cabeça, a câmara já não a intimida. “Eu quero ter sucesso, quero brilhar, quero ser tudo. As pessoas deviam pensar que queriam ser tudo”.

Dezassete adolescentes nos Estados Unidos fazem pacto para engravidarem juntas

Público | 2008-06-21

A revista Time publicou uma história sobre um grupo de jovens que se juntou para ter um filho. A notícia abalou Gloucester, comunidade católica e em declínio perto de Boston.

No liceu de Gloucester, Massachussetts, Estados Unidos, o número de jovens grávidas no final deste ano letivo quadruplicou. Tal aconteceu depois de 17 jovens terem engravidado ao mesmo tempo. Não foi obra do acaso, mas de um pacto entre elas. Nenhuma tem mais de 16 anos.

O próprio diretor do liceu, Joseph Sullivan, confirmou o caso que abalou esta pequena comunidade perto de Boston. “Algumas raparigas pareciam ficar mais perturbadas quando descobriam não estar grávidas do que quando estavam”, indicou Sullivan, citado pela Time, depois de um número invulgarmente elevado de jovens ter começado a pedir, na enfermaria do liceu, testes de gravidez.

Ainda de acordo com o responsável do liceu, algumas raparigas comemoraram a notícia da gravidez com gestos de gáudio e pondo em marcha planos para as tradicionais festas pré-parto onde é costume oferecerem-se presentes às futuras mães. Nenhuma das jovens nem os respetivos pais quiseram prestar declarações à imprensa.

Perante o óbvio estado de exaltação depois de confirmado o estado de graça, o diretor da escola diz que bastou uma simples pergunta a uma das jovens para que pelo menos metade delas confirmasse a existência de um pacto para que, até ao final do ano letivo, conseguissem engravidar e posteriormente viessem a tomar conta dos bebés umas das outras.

A dimensão nacional que a notícia adquiriu chocou a pequena localidade (de 30 mil habitantes) com fortes raízes católicas. “Acho horrível. São crianças a ter crianças”, indicou à estação televisiva CBS uma cidadã de Gloucester.

Crime de violação?
Desconhece-se a identidade dos pais, mas sabe-se que cerca de metade terão perto de 20 anos e que, pelo menos um, terá 24 e vive na rua. Os restantes contar-se-iam entre os colegas de liceu das adolescentes.

A lei do estado de Massachusetts considera crime os atos sexuais praticados com menores de 16 anos. Carolyn Kirk, a presidente da câmara de Gloucester, já fez saber que as autoridades poderão abrir queixas-crime por violação, embora reconheça a delicadeza do problema, porque, se o sexo foi consentido, os futuros pais – entre os quais se contarão menores – poderão ficar “em muito maus lençóis”, sobretudo “por causa daquilo que os pais das jovens possam fazer”, indicou a autarca à agência Reuters.

O que poderá explicar que raparigas queiram ser mães numa idade tão jovem? Há todo um leque de respostas válidas, e o recente glamour com que Hollywood resolveu polir o assunto (ver caixa) é apenas uma das explicações. No caso particular de Gloucester – uma comunidade que vive sobretudo da pesca e que tem assistido a um declínio financeiro – as respostas podem residir na falta de perspetivas de carreira para os mais jovens. Perante este cenário, as adolescentes podem idealizar um futuro que passe unicamente por serem mães, como se esse estatuto lhes desse um passaporte para a independência
.
Outra das explicações avançadas por analistas será a de as jovens considerarem que ao darem à luz estão a criar alguém que terá por elas um amor incondicional, que lhes preenche as vidas e a autoestima.

Depois de uma queda contínua durante 15 anos – que começou em 1991 – registou-se em 2005 um aumento do número de adolescentes grávidas nos Estados Unidos. A taxa de nascimentos em mulheres com idades compreendidas entre os 15 e os 17 anos aumentou cerca de três por cento em 2006, de acordo com Centro americano para as Estatísticas da Saúde. Em Portugal, um dos países europeus com maior número de mães adolescentes, nasceram durante 2007 perto de 5000 bebés (4844 nados-vivos) de adolescentes até aos 19 anos, segundo o INE.

Hollywood projeta imagem de jovens grávidas “na moda”
Sempre que se fala em problemas sociais como a gravidez na adolescência ou a violência nas escolas, há uma franja de críticos que responsabiliza os media e dos produtos culturais de grande consumo.

Quando a história de Gloucester atingiu a nação, houve imediatamente quem culpasse recentes filmes – como Juno ou Knocked Up (Um Azar do Caraças) – como sendo parcialmente responsáveis pelo glamour que ultimamente se tem gerado em torno de jovens grávidas e solteiras.

Juno – filme candidato aos óscares – conta a história de uma adolescente (interpretada por Ellen page) que desiste de abortar e opta por dar o bebé para adoção. Longe de ser apresentada como uma vítima, Juno surge no grande ecrã como uma heroína cool.

Já na comédia romântica Um Azar do Caraças, Alison (Katherine Heigl), uma promissora jornalista, descobre que está grávida depois de um encontro sexual fugaz. O filme mostra as aventuras e desventuras da protagonista durante todas as fases da gravidez e termina com o típico happy end das comédias românticas.

Apesar de estes filmes datarem do ano passado, David Landry – analista do Instituto Guttmacher, um grupo que estuda os comportamentos reprodutivos dos norte-americanos – considera que eles só vieram reforçar uma tendência de antes das estreias.

A irmã mais nova da cantora pop Britney Spears acabou de dar à luz com 17 anos, passando assim a ser outro dos rostos desta nova equivalência entre glamour e maternidade; Jamie Lynn Spears, estrela do programa Zoey 101, do canal de televisão infanto-juvenil Nickelodeon, foi mãe de uma menina na passada quinta-feira.

Madeira: Agressão a professor investigada

Correio da Manhã | 2008-06-19

Secretaria da Educação instaura inquérito.

A Secretaria da Educação madeirense vai instaurar um inquérito para averiguar um caso de agressão perpetrado por um encarregado de educação contra um professor de uma escola do Funchal. O incidente ocorreu ontem, quarta-feira.

O professor da escola básica do primeiro ciclo com pré-escolar do Faial, situada na freguesia de Santa Maria Maior, foi alegadamente agredido física e verbalmente no interior das instalações, por um pai que contestava a avaliação feita ao seu educando.

O secretário regional da Educação, Francisco Fernandes, confirmou o sucedido, salientando que “não é uma situação normal” na região. Garantiu também que os órgãos competentes, assim como a vítima, vão apresentar queixa às autoridades.

Há escolas de 1.º ciclo com “casos graves” de violência

Público | 2008-05-21

É nas escolas com 3.º ciclo que acontecem mais problemas de indisciplina e violência. Mas alguns dos casos “mais graves” ocorrem em estabelecimentos do 1.º ciclo, com “dois ou três” a integrarem a lista dos 31 que, em 2006/2007, reportaram ao Ministério da Educação mais de 21 ocorrências só num ano.

A situação foi descrita ontem, durante uma audição na comissão parlamentar de Educação, pelo coordenador do Observatório de Segurança Escolar, João Sebastião. “São problemas que acontecem com alunos multirrepetentes, de 12, 13, 14 anos, mas que se mantêm por ali [na escola primária] e entram em disputa com miúdos de 6, 7 anos, levando a situações de conflitualidade grave.”

Para João Sebastião, estes alunos são um “problema”, que deveria ser resolvido com a sua transição para a escola do 2.º ciclo, onde poderiam continuar a aprender as matérias que não adquiriram. “Devia haver mecanismos que permitissem que fossem integrados na escola respetiva à sua idade.” E como os estabelecimentos de ensino estão atualmente organizados por agrupamentos, essa transição não seria difícil, explicou. “é humilhante para aqueles alunos de 14 anos estarem ali sentados em carteiras em que os seus joelhos são mais altos que as mesas.”

à saída da comissão, João Sebastião lembrou que a lei já diz que os alunos do 1.º ciclo devem acompanhar a sua turma e “grupo de idade” e que o secretário de Estado da Educação fez uma “diretiva” a reforçar essa orientação. “Mas as escolas fizeram ouvidos moucos”, lamentou.

Outro problema prende-se com o regresso à escola de milhares de jovens que estão a frequentar percursos alternativos como os cursos de educação e formação. “Pese embora a sua importância, são cursos que trazem potencialidades de alguma conflitualidade, pois muitos destes alunos já tinham abandonado a escola ou tinham com esta uma relação não muito pacífica”, disse Paula Peneda, coordenadora da Equipa de Missão para a Segurança Escolar.

Os dois responsáveis são também perentórios a afirmar que a “violência nas escolas está controlada e é localizada”. Quanto a números, João Sebastião adiantou que os dados do primeiro trimestre apontam um ligeiro aumento do número de escolas a reportar algum tipo de indisciplina ou violência, mas sem que se registe um crescimento global. Em 2006/2007, foram comunicadas, por apenas seis por cento de estabelecimentos de ensino, um total sete mil ocorrências.

No primeiro trimestre houve um ligeiro aumento de casos de “algum tipo de indisciplina ou violência”

Recolha de imagens nos balneários é prática corrente nas escolas

Público | 2008-04-18

Aconteceu numa escola de Ovar e noutras da Feira. Para os professores, esta já é uma situação “quase normal”. O assunto chega hoje à PGR.

Fala-se do caso à socapa, mas toda a gente parece estar a par. Mesmo assim, são poucos os que dão a cara para o confirmar. Há uma mãe que dá a cara ao Público mas não dá o nome. Aceitamos: a filha tem dez anos e foi fotografada, nua, nos balneários da Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos de Maceda, no concelho de Ovar.

Foi “uns dias antes do Natal” – no primeiro período deste ano letivo. A filha, aluna do 5.º ano, tinha acabado de tomar banho depois de uma aula de Educação Física. “Uma colega tirou-lhe fotografias e as imagens passaram entre os telemóveis das outras alunas”, recorda a mãe. Tudo indica que “uma funcionária” se apercebeu a tempo: o telemóvel da estudante que fotografou foi confiscado. E ela castigada: “Foi três dias para casa”, acrescenta. A filha é que “nunca mais tomou banho na escola”. “Eu não deixo”, explica a mãe.

Há quem relate outros casos. Numa reunião da assembleia de escola da EB 2/3 de Maceda realizada na semana passada, a associação de pais levantou o problema. “Em finais de janeiro, inícios de fevereiro, foi reportado um caso também de fotografias nos balneários, com alunos nus, que terão sido publicadas depois num blogue”, adianta ao Público um elemento da associação de pais.

O conselho executivo terá confirmado o caso. Informou que o incidente foi reportado e as fotografias retiradas da Internet “um dia depois”. O aluno que terá feito as fotos foi transferido de turma.

Elísio Almeida, assessor do conselho executivo, confirmou ao Público o caso que ocorreu em dezembro. “Aconteceu de facto, houve uma sanção ao aluno implicado e o assunto foi tratado.” Diz desconhecer todos os outros. Mara Tomás, vice-presidente do órgão de gestão, adianta que ainda não recebeu a ata da reunião da assembleia de escola e por isso prefere não se pronunciar.

Comentam-se mais coisas na escola de Maceda. Que uma outra aluna, de onze anos, foi filmada nua, as imagens caíram no YouTube e ela “caiu” nas mãos de um psicólogo; que, afinal, nenhuma destas histórias aconteceu lá, em Maceda, mas noutra escola vizinha, e que os miúdos acharam graça a alimentar o boato; que tudo isto aconteceu de facto e terá resultado de um acordo entre rapazes e raparigas. Qualquer coisa como isto: eles pediram-lhes para filmarem esta ou aquela aluna e pagaram na mesma moeda, com imagens “sacadas” no balneário masculino.

O Público contactou a Direção Regional de Educação do Centro, a que a escola de Maceda está adstrita, mas não obteve qualquer resposta. Procurou também saber se o Ministério da Educação conhece estes casos, mas igualmente sem sucesso.

Audiência com o procurador
Estas histórias não são, contudo, exclusivas da escola de Maceda. Através de vários relatos, o Público identificou situações semelhantes noutros estabelecimentos de ensino. Num deles, na zona de Santa Maria da Feira, um rapaz terá entrado no balneário feminino e usado o telemóvel para filmar as alunas; noutro, na mesma região, outro terá sido suspenso durante cinco dias também por ter fotografado colegas nas instalações desportivas.

Quem trabalha nas escolas já não se admira com estas práticas. “Isto para nós já é quase normal, embora admita que para a opinião pública seja surpreendente”, comenta João Paulo Silva, que dá aulas de Matemática e pertence à direção do Sindicato dos Professores do Norte. Tito de Morais, responsável pelo site Miúdos Seguros na Net (www.miudossegurosna.net/), vai mais longe: “Já ouço isto há muito tempo, e fico com a sensação de que andamos todos distraídos quando nos chega aos ouvidos um caso destes e ainda ficamos admirados.”

Tito de Morais recorda, aliás, o caso que lhe foi relatado por uma aluna numa das muitas sessões sobre segurança na Internet que vai fazer às escolas. “Contou-me que, quando as meninas estão a mudar de roupa nos balneários, há quem tire fotografias e depois ameace pô-las no Hi5 [uma rede social na Internet]”.

A Confederação Nacional das Associações de Pais está “atenta” ao problema – e este é um dos temas que vão hoje abordar na audiência que vai ter com o procurador-geral da República, Pinto Monteiro. “Queremos saber se existe algum mecanismo que permita aos pais prevenirem-se de situações como esta e ainda se é possível, e de que forma, punir quem as facilite”, adianta o seu presidente, Albino Almeida.

CNPD sem queixas
Apresentado hoje em Roma projeto Dadus.
à Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) nunca chegou qualquer queixa relacionada com a recolha de imagens não autorizadas nos balneários das escolas (que violam o direito à imagem, à privacidade e à proteção de dados), adiantou ao Público Isabel Cruz, secretária-geral daquele organismo.

No entanto, a responsável explica que os pais ou mesmo os alunos que se sintam lesados podem recorrer à comissão, bastando, para tal, que apresentem queixa. “Ou diretamente ao Ministério Público ou à CNPD. Se o Ministério Público entender que o caso não configura um crime, envia-nos uma exposição para nós. E se houver uma violação de dados pessoais, nós podemos atuar através da aplicação de uma contraordenação, que é normalmente uma coima, desde que estejam reunidas todas as condições necessárias para tal, nomeadamente a culpa”, esclarece Isabel Cruz.

Mas na CNPD a palavra de ordem parece ser “mais vale prevenir do que punir”. Foi por este motivo que a comissão assinou, no ano passado, um protocolo com o Ministério da Educação para a sensibilização dos alunos dos 2.º e 3.º ciclos para a proteção de dados e da privacidade. O projeto Dadus (http://dadus.cnpd.pt/)) arrancou em janeiro passado e teve uma “adesão assinalável” junto dos professores – são já mais de 1000 de todo o país, do ensino público e do ensino privado, os que participam. Usando o lema Os meus dados são pessoais, o Dadus desenvolve-se essencialmente em dois domínios: o escolar (que funciona através da disponibilização de conteúdos temáticos para alunos e professores) e o extraescolar (que tem num blogue a sua principal expressão). Este blogue é muito alimentado pelos alunos – é possível ler lá posts em que refletem sobre o uso das tecnologias, por exemplo.

“Tínhamos consciência de que era importante alertar esta camada da população para a proteção de dados. As crianças e os adolescentes estão a usar cada vez mais as novas tecnologias e agora parece que é da praxe que toda a gente divulgue a sua vida. A abordagem que nos parece mais correta para evitar situações de violação de dados passa pela consciencialização”, comenta Isabel Cruz. Hoje mesmo, o projeto Dadus, “inovador a nível europeu”, vai ser apresentado em Roma, no âmbito da Conferência Europeia dos Comissários de Proteção de Dados, a decorrer em Roma, Itália.

Fronteiras “entre o que é público e privado” esbateram-se
Os sites de partilha de fotos põem cada vez mais em causa a reserva da intimidade.

Isto tudo tem um nome: cyberbullying. Já ouvimos falar muito de bullying (atos premeditados e repetidos de violência física ou psicológica, praticados para intimidar ou agredir alguém); juntemos-lhe o termo cyber e estamos perante uma mistura explosiva – o cyberbullying lança mão da tecnologia como instrumento de humilhação ou intimidação.

Não é fácil quantificar as ocorrências de bullying entre alunos, mas os números reportados ao Observatório de Segurança Escolar no ano letivo de 2005-06 apontavam para 2160 casos. O cyberbullying é ainda mais difícil de contabilizar. Mas a verdade é esta: as redes sociais da Internet, os sites de partilha de fotos e vídeos e as imagens captadas por telemóvel põem cada vez mais em causa a reserva da intimidade.

Augusto Carreira, do Colégio de Psiquiatria da Infância e da Adolescência da Ordem dos Médicos, sabe bem do que estamos a falar. Já lhe passaram pelas mãos alunos “apanhados” pelas câmaras dos telemóveis dos colegas. O médico analisa assim este tipo de comportamentos: “Correspondem a um certo exibicionismo que faz parte de uma fase de desenvolvimento das crianças. E por isso filmam-se ou filmam os outros. Vivemos numa sociedade onde o culto da imagem está na ordem do dia. O problema é que a noção de público e privado tem-se esbatido. Perderam-se as fronteiras entre o que é privado e íntimo”.

As consequências de atos como estes “podem ser bastante complicadas”, refere Carreira. “Se os miúdos forem mais frágeis, podem ficar muito abalados. Conheço casos em que as consequências foram desastrosas, porque houve uma violação terrível da intimidade. Há casos que podem resultar em grandes dificuldades de integração escolar, com reações fóbicas à escola, ou mesmo social.”

é por isto que Augusto Carreira aconselha os pais cujos filhos são vítimas destas situações “a avaliarem bem as suas repercussões”. “Se deixou marcas pesadas, é urgente que procurem ajuda especializada.”

E o que se pode fazer para evitar estas ocorrências? Não há receitas únicas – aliás, não há receitas, há apenas algumas pistas. João Paulo Silva, professor de Matemática, julga que uma solução pode passar pela assinatura de um contrato pedagógico entre as escolas e os pais. “No início de cada ano,
estabelece-se um conjunto de direitos e deveres, aplicáveis às escolas e aos alunos. Os pais sabem que têm direito a isto e àquilo, mas sabem também que se os filhos pisarem o risco serão responsabilizados, quem sabe até em termos financeiros. Por exemplo, porque não penalizá-los em termos do abono de família?”

Margarida Gaspar de Matos, psicóloga e professora na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa, apresenta aquela tática do “se não podes vencê-los junta-te a eles”. “Os telemóveis vieram para ficar e estes problemas não se vão resolver com um braço de ferro com os adolescentes”, introduz. Proibi-los pura e simplesmente não é solução – pois não, corrobora Tito de Morais, responsável pelo site Miúdos Seguros na Net. “Já há alunos que levam dois telemóveis para a escola, para o caso de um lhes ser apreendido”, revela. Tito de Morais entende que “o esforço tem de ser feito no campo da sensibilização, levando os alunos a refletir sobre as situações”. Margarida Gaspar de Matos concorda: “Acho que através de um diálogo socrático com os jovens se pode chegar a algumas soluções”.

“Quando apareceu a escrita, depois a rádio, depois a televisão, houve uma mudança nos comportamentos interpessoais”, recorda a professora. Depois apareceram a Internet e os telemóveis, “que fazem parte do progresso e cujos contributos para a sociedade não são de deitar fora”. “Com as novas tecnologias abriu-se uma porta e essa porta é um desafio. A solução para alguns problemas pode vir da parte dos adolescentes”, remata.

No YouTube e na Internet, nem tudo o que parece é
é fundamental regulamentar o uso de telemóveis nas escolas, diz o responsável do site Miúdos Seguros na Net.

Basta entrar no YouTube e escrever “balneários escolas”. Aparece uma listagem longa de vídeos – mas não se encontra nenhum como os que o Público identificou em várias escolas. é possível, no entanto, ver situações de violência entre alunos. Um deles, por exemplo, mostra um miúdo a servir de “saco de boxe” [sic] aos colegas.

Só que muitos destes vídeos podem ser encenados. O que não deixa de causar problemas, alerta Tito de Morais, responsável pelo site Miúdos Seguros na Net.

Há cerca de duas semanas, o Público encontrou no YouTube um vídeo que mostrava uma rapariga no balneário masculino. Rodeavam-na uns seis ou sete rapazes, outro filmava. A dada altura, encostam-na à parede, um tira a t-shirt, começa a desapertar as calças e a filmagem termina.

Ao final da tarde de ontem, este vídeo já não estava disponível, mas isso não quer dizer nada, avalia Tito de Morais. “Podem resultar daí situações graves. A partir do momento em que um vídeo é colocado no YouTube nunca mais se consegue voltar atrás. Ele pode até ser retirado, mas entretanto já houve quem o visse ou mesmo quem o copiasse”, lembra.

Este vídeo em concreto até pode ter sido encenado, mas “pode induzir em erro”. “Se for encenado, os intervenientes sabem, mas quem está de fora não sabe. E quem está de fora pode pensar que com essa rapariga as coisas são de uma determinada maneira… E isso pode resultar em assédios frequentes, por exemplo”, interpreta Tito de Morais.

“Não nos podemos esquecer que vemos apenas uma pequena parte dos vídeos. Julgamos por um bocadinho e, às vezes, as coisas não são o que parecem”, prossegue. Noutros países, diz, estas situações de cyberbullying “já têm redundado em suicídios”.

é por esta razão que Tito de Morais acha fundamental “regulamentar o uso dos telemóveis nas escolas”. “E também para proteção dos professores, porque já há casos, embora poucos, em que as vítimas do cyberbullying são eles mesmos”, adianta. “As escolas não sabem muito bem como lidar com o assunto e estão a pô-lo debaixo do tapete. O Ministério da Educação, ao abrigo do chapéu da autonomia das escolas, diz-lhes que são elas que têm que lidar com os problemas. OK, pode dar-lhes autonomia, mas tem que dar também orientações”, considera Tito de Morais.

Manuel Valente, presidente da Federação Concelhia das Associações de Pais do Porto, acha que a solução para lidar com os telemóveis passa pela que vigora no ensino superior. “Tem de haver um sítio onde os telemóveis são depositados no início da aula, à vista do professor. E isto também nas instalações desportivas.”

A culpa é da Ministra, dos “paizinhos” e do país

Público | 2008-03-22

A partir do momento em que a notícia do confronto entre uma aluna e uma professora foi colocada no site do Público começaram os comentários – mais de 1100 ao final do dia de ontem. Resumo dos principais argumentos num debate sobre a educação em Portugal.

Ninguém sai bem visto. Em mais de mil comentários que em 24 horas (desde o final da tarde de quinta-feira até ao final da tarde de ontem) o site do Público recebeu à notícia sobre o confronto físico entre uma professora e uma aluna numa escola do Porto há muitos culpados, e todos saem mal vistos – da aluna à ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, passando pela professora (aliás, pelos professores em geral) e pelos “paizinhos” (é, geralmente, com este “carinhoso” diminutivo que são chamados).

A aluna
Dificilmente, a estudante do 9.º ano que inesperadamente se tornou notícia nacional vai encontrar grande consolo nos comentários dos leitores do Público. é, de forma quase unânime, condenada pelo seu comportamento na sala de aula, ao resistir à professora que tenta tirar-lhe o telemóvel. E o tom não é simpático. Carlos Santos, do Porto, considera-a uma representante dos “filhotes da geração rasca, ainda mais mal-educados que os progenitores”. Filipe II, de Olivença, manifesta uma preocupação menos altruísta: “São este os jovens que nos vão pagar as reformas? Bem podemos emigrar”.

São vários os que defendem como medida de punição a expulsão da aluna “de qualquer estabelecimento escolar público português” (Anónimo, de Tavira), ou mesmo “de qualquer sistema de ensino em Portugal, seja no privado ou no público durante dois anos” (Nuno Conceição, Amadora), ou ainda o trabalho comunitário “dentro da própria escola, como por exemplo manutenção da limpeza de todas as salas ou de todos os w.c.” (Diana, de Vila Nova de Gaia).

Aparecem também defensores de métodos radicais. Veja-se, por exemplo, este Anónimo de Coimbra: “Se fosse a minha filha teria nesse mesmo dia levado uma surra em frente a toda a gente com cinto e sem dó nem piedade. Se fosse professor, no primeiro instante em que me levantasse a mão levaria umas boas chapadas mesmo que disso resultasse a minha expulsão. Inadmissível”. Há quem sugira (é o caso de João, de Portugal) “três dias de prisão e 30 horas de trabalho comunitário”.

Há alguns casos – poucos, é certo, mas por isso mesmo mais polémicos e que provocam reações indignadas – de defesa da aluna. “Não defendo mas compreendo a reação da aluna”, escreve Jarbas. “Um telemóvel é hoje em dia como um diário. é pessoal, particular, for your eyes only, e na sociedade em que vivemos quem se atravessa neste caminho está a sujeitar-se”. Outros questionam o uso do termo “agressão”, como o Anónimo que escreve: “A agarrar e a puxar o braço da professora de Francês por esta lhe ter tirado o telemóvel. Duvido muito que isto caiba numa agressão, conforme o título, a aluna só quer o telemóvel. No meu tempo os professores não tiravam aos alunos nada que lhes pertencesse”.

A ministra
O primeiro comentário, que inaugura o debate, é das 18h23 de quinta-feira, vem de Beatriz, de Gaia, e é direto: “Lamentável o estado a que chegou o ensino em Portugal! Nós, professores, exigimos respeito!!!!!!!!!!!!!!!!!! Basta!!!!!!!!!!!! A ministra deve demitir-se!!!!!”. A partir daí foram muitos os que vieram recordar que “foi por isto que 100 mil foram para a rua”, numa referência à recente manifestação de protesto dos professores em Lisboa.

Repetida em vários comentários está a ideia de que a política da atual ministra está a descredibilizar os professores. “Quando um Governo não respeita uma classe; quando um Ministério passa para a opinião pública a imagem de que os professores são os principais responsáveis pela má educação do nosso país, do que podemos estar à espera?”, insurge-se Maurício Brito, de Viana do Castelo. “A indisciplina é hoje uma realidade permanente nas nossas escolas. […] São três anos a fazer passar uma mensagem que retirou completamente a autoridade aos professores”, acrescenta Rita Salema, de Lisboa.

Por detrás das críticas à ministra estão, obviamente, as críticas à política de Educação, com vários leitores a afirmarem que as mudanças curriculares e de regras de funcionamento da escola têm tido um mau resultado. Comenta, com ironia, Agostinho Vaz, de ílhavo: “Deem-lhes mais área projeto, estudo acompanhado, mais educação sexual e educação cívica que tudo se resolve […] haja coragem: já reduziram a segunda língua a uma aula por semana, acabem com ela de vez, e com a matemática e a gramática e o latim (ooops, Rip). Com tantos talentos que tem esta criançada só são precisos professores de sexo e ideologia televisiva”.

Outros insurgem-se contra o novo Estatuto do Aluno que, escreve Agostinho Santos, de Pombal, “não distingue faltas por doença de faltas por cabulice (apenas nos números, não nos efeitos); limita a capacidade de intervenção sobre estes comportamentos, etc., etc.”. Maria Rita, de Setúbal, reforça a opinião: “E agora, já perceberam que não basta escrever no Estatuto do Aluno que não são permitidos aparelhos eletrónicos nas aulas, é preciso ir mais longe e dar meios aos professores para exercerem a sua autoridade e isso passa por permitir que sejam marcadas faltas aos alunos que desrespeitam os professores e que essas faltas tenham reflexo na sua vida escolar!!!”.

“Qual é a pena máxima a que se sujeita esta aluna?”, interroga-se Ana Tavares, do Porto, para responder logo de seguida: “Dez dias de suspensão, que não têm nenhum efeito penalizador porque já nem sequer se reprova por faltas! […] à luz do novo estatuto do aluno provavelmente ainda terá direito a uma prova de recuperação por ter estado dez dias ausente das aulas”.

E há os que optam pelo humor: “Não incomodem a DREN [Direção Regional de Educação do Norte], por favor”, pede um Anónimo do Porto. “Eles andam a escutar as conversas nos gabinetes e a fazer queixa uns dos outros. Deixem-nos trabalhar”.

Apesar disso, há alguns leitores isolados que defendem a ministra. é o caso de Manuel Pavia, de Lisboa, que às oito horas da manhã de domingo escreve: “Mas, senhores professores, por favor, parem de uma vez por todas de insultar a competente e corajosa Ministra da Educação e o Primeiro-Ministro do governo de rigor reformista do nosso país, da forma soez como muitos o têm vindo a fazer”.

Surgem também referências à questão escola pública/escola privada. “Porque será que nos colégios particulares isso não acontece?, pergunta José Lourenço, de Lisboa. “é por causa desta indisciplina, a todos os níveis, que renuncio a tudo para ter os meus filhos num colégio particular. Não faço férias, mas também os meus filhos não são educados na selva do ensino oficial!”. A. Cardoso, de Lisboa, concorda: “A minha filha está numa escola privada. Não por elitismos, não por os professores do privado serem melhores, mas exclusivamente pela segurança”.

Os “paizinhos”
Ninguém os defende. São, segundo opinião generalizada, os grandes culpados. Porque se demitem do seu papel de educadores e esperam que a escola os substitua, porque mimam demasiado os filhos, porque justificam e chegam até a defender comportamentos deste tipo. “Solidariedade à professora e a todos os professores que têm que ensinar estas “bestas” que são o reflexo dos pais que têm em casa”, escreve Mário, das Caldas. “Paizinhos, então?”, desafia Jorge, do Porto. “A maioria desconhece o que se passa no interior da sala de aula! Outros nem conhecem os filhos que têm em casa. Outros dão cobertura às atitudes dos filhos! Outros, depois de convocados, não colocam lá os pés! Outros, se lá vão, armam confusão e ameaçam o diretor de turma (e quantos com pancada)!”.

“Onde andam e o que andam a fazer os paizinhos destes miúdos palermas?”, pergunta, a partir da Polónia, Patrícia Freixo. “Eles apenas tratam os professores como tratam os pais!! De quem será a culpa?” (Anónimo, Porto).

Pedro Santos, de Lisboa, resume: “Isto é o produto líquido de um falhanço geracional na socialização do indivíduo, onde os pais e a sua demissão permanente conduzem os filhos ao vazio de valores e à futilidade dos referenciais”. Ou, dito por outras palavras (neste caso as de João, dos Açores): “Estamos a produzir uma geração de mimalhos malcriados, com a bênção do Estado”.

A professora (professores)
As opiniões dividem-se entre os que se solidarizam com a professora e consideram que ela foi corajosa – “um professor menos corajoso deixaria passar para não se aborrecer”, acredita Paulo Semedo, de Coimbra -, e (em menor número) os que consideram que ela lidou mal com a situação. “Porque é que a professora não optou por outra solução?” questiona José Girão, de Lisboa. “Por exemplo, chamar pessoal auxiliar, não começar a aula sem que tivesse condições para isso; tentar negociar a situação; ou qualquer outra exceto o confronto físico”. Um leitor que se identifica como Acropolis e escreve de Sintra considera que a professora “não se sabe dar ao respeito, envolvendo-se em birras infantis”.

Vários professores participaram no debate no site do PúBLICO, alguns para dar exemplos de outras situações do mesmo tipo e da impotência que sentem perante elas. “Sou professora há 22 anos e de há uns anos para cá a indisciplina tem aumentado como se de um vírus se tratasse”, denuncia uma participante anónima. “Onde está a responsabilidade dos pais, que se demitem da sua função e nem à escola vão? Gostaria que houvesse uma estatística da comparência dos pais na hora do atendimento dos mesmos. Pode alegar que a hora é imprópria, os Diretores de Turma disponibilizam horas de atendimento fora do horário de trabalho. Quererá que o atendimento seja feito ao domicílio?”.

Este comentário era uma resposta a uma das intervenções mais polémicas, a de João Bernardo Salsicha, de Estremoz, que acusou a professora de ter demonstrado “total ignorância e inépcia pedagógica”.

O país
O país leva de todos os lados. “República das bananas” é uma expressão que aparece em vários comentários sobre “este país que temos”. Outros (Anónimo, de Odivelas) recordam o tempo em que “Portugal era realmente um país a sério […] em que cenas destas nunca se dariam”.

“Sinto que o meu país assim não vai a lado nenhum”, lamenta-se Pi, a partir de Roma. Diogo Barbosa, do Porto, considera que o episódio “retrata bem o país que temos, que não é mais do que um país do terceiro mundo que teve a sorte de se situar fisicamente na Europa”. Há mesmo quem já se tenha reposicionado no mundo: José Dias escreve de “Almada, Portugal, 4.º Mundo”.

Para terminar, o futuro (pouco risonho) visto por Rui Zink: “Muito mais tristes do que a rapariga na imagem são os comentários e os risos dos seus coleguinhas. Quando forem grandes vão de certeza ser Portugueses. Na volta, se calhar, já são”.

Risco de abandono escolar em paredes é o triplo do previsto

Público | 2008-03-22

Quase dois terços dos alunos do concelho não conseguem chegar ao fim do terceiro ciclo sem reprovações.

Dois terços dos alunos do 7.º e 8.º anos do concelho de Paredes correm risco de abandono escolar. O número foi avançado pela Associação Paredes pela Inclusão Social (APIS), o projeto-piloto do movimento Empresários pela Inclusão Social (EIS).

A primeira fase do projeto lançado em Paredes, um dos concelhos do país com mais problemas de abandono escolar, assentou na monitorização de parte da comunidade escolar do terceiro ciclo. Dos 2321 alunos, a frequentar os 7.º e 8.º anos, 1281 estão em risco de abandono escolar. Estes números contrariam as estimativas do Ministério da Educação, que apontavam para um risco de abandono entre os 10 e os 20 por cento.

Para o presidente da Câmara de Paredes, Celso Ferreira, “se os dados do ministério eram preocupantes, os elementos agora recolhidos são bem mais preocupantes”.

A equipa de monitorização divide os fatores que contribuem para o abandono em quatro categorias: aluno, família, escola e território.

A falta de motivação e o desinteresse do aluno são responsáveis por 40 por cento dos casos de risco, enquanto a falta de condições e a degradação da escola recolhem 17 por cento das culpas. O não acompanhamento dos alunos pela família e as condições do meio em que estes se inserem são responsáveis por 11 e 12 por cento dos casos, respetivamente. Perto de 205 alunos acumulam dois ou mais fatores.

Os números apresentados pela APIS são apenas uma pequena parte dos dados já coligidos, uma vez que os restantes elementos estão ainda sujeitos a confidencialidade. Sem revelar casos ou situações em concreto, os responsáveis da APIS sempre vão revelando que estão a braços com casos sociais que ultrapassam em muito o universo da educação. Um dado preocupante é o número elevado de reprovações, já que 57 por cento dos alunos não conseguem chegar ao fim do terceiro ciclo sem reprovar.

O projeto, que nasceu em resposta a um desafio lançado pelo Presidente da República, Cavaco Silva, para que se fizesse da inclusão uma “causa nacional”, envolve mais de 40 empresários locais. O objetivo traçado pela associação passa por conseguir que se atinjam os 12 anos de escolaridade obrigatória. Uma tarefa complexa num concelho com 7,6 por cento de taxa de analfabetismo e em que apenas 5,25 por cento da população com mais de 18 anos conseguiu concluir o ensino secundário.

Empresários ensinam
Os membros da Associação Paredes pela Inclusão Social foram desafiados a dispor de algum do seu tempo para ensinar o que é ser empreendedor. “Aprender a empreender” é o nome do projeto que visa habituar os mais novos a conviver com o mundo dos negócios.

Os empresários vão dinamizar seis módulos de 60 a 90 minutos, ao longo de seis semanas, em que treinarão pequenos empresários para uma economia de sucesso.