Mãe de aluno agride professora em escola de Sintra

Docente marcou falta disciplinar à filha da agressora

Jornal i | 23.05.17

Uma professora da Escola Mestre Domingos Saraiva 2º/3º ciclo em Algueirão, concelho de Sintra, marcou falta disciplinar a uma das suas alunas.

A mãe não terá gostado e dirigiu-se à escola para procurar a docente, mas não a encontrou.

No dia seguinte, sexta-feira passada, voltou e tendo encontrado a professora agrediu-a, escreve o Correio da Manhã.

As autoridades estão a tomar conta da ocorrência e a mãe da aluna já foi identificada.

 

Jovens indianas terminam greve de fome por segurança no caminho para a escola

Grupo de 80 raparigas indianas cumpriu oito dias de protesto.

PÚBLICO | 18.05.17

Mais de 80 raparigas indianas terminaram, esta quarta-feira, um período de greve de fome de mais de uma semana. As alunas, com idades compreendidas entre os 16 e os 18 anos, vivem no norte do país, na região de Haryana, e protestavam contra o assédio de estudantes no caminho para a escola. O trajeto é longo e as deslocações são perigosos — e acaba por constituir uma barreira à educação.

As estudantes indianas relatam episódios de assédio no caminho para a escola. Os momentos de violência são protagonizados por “indivíduos do sexo masculino que fazem comentários obscenos, puxam as roupas das adolescentes e tiram fotos dos próprios com os telemóveis das adolescentes”, descreve a Reuters.

“Devemos parar de estudar? Parar de sonhar? Só as pessoas ricas e os seus filhos podem sonhar? O governo deve proteger-nos ou abrir uma escola de ensino secundário na nossa aldeia”, diz Sheetal, uma das raparigas que esteve em greve de fome.

As adolescentes terminaram a greve de fome após oito dias em protesto, que decidiram suspender quando o ministro da Educação estadual afirmou que o estabelecimento de ensino do local onde vivem passaria a ter mais dois anos de escolaridade. As alunas não terão, assim, de se deslocar a outra aldeia para continuar a aprender. “Foi nomeado um diretor e as inscrições para o próximo ano lectivo de 2017-18 começam na próxima quinta-feira”, afirmou o ministro da Educação de Haryana, Ram Bilas Sharma, citado pela Reuters.

As imagens da televisão local mostram as alunas, em uniformes azuis e brancos, antes de terminarem o jejum. Algumas adolescentes foram hospitalizadas depois de se registarem desmaios.

Para frequentar o ensino secundário, as alunas percorrem três quilómetros até à escola. Muitas das adolescentes desta aldeia acabam por abandonar os estudos devido ao trajeto que são obrigadas a percorrer.

Os níveis de alfabetização na Índia têm aumentado nos últimos anos, mas à medida que o número de matrículas aumenta a taxa de desistência permanece em níveis muito elevados.

A organização não-governamental Save the Children, citada pela Reuters, indica que a taxa de abandono escolar das raparigas na Índia ronda os 70%. Problemas de deslocação para os estabelecimentos de ensino e assédio nos trajetos levam a uma taxa de alfabetização desigual entre mulheres (65%) face aos homens (82%).

Os alunos também têm propostas para combater a corrupção

Partilha, valores, recusa são algumas das “armas” apresentadas para travar a corrupção.

PÚBLICO | 27.04.17

Começou com uma brincadeira na aula de Português por causa da moda das calças rasgadas e acabou por evoluir para um vídeo que foi um dos vencedores do concurso Imagens contra a Corrupção, cujos prémios serão entregues nesta sexta-feira em Lisboa.

O concurso é promovido pelo Conselho de Prevenção da Corrupção, um organismo ligado ao Tribunal de Contas, e tem como destinatários as escolas do ensino básico e secundário. Foram apresentadas cerca de 120 candidaturas, das quais sete foram distinguidas.

É o caso da escola EB 2/3 Jacinto Correio de Lagoa, Algarve, que ganhou na categoria do 2.º ciclo, com um vídeo elaborado por uma turma do 6.º ano de escolaridade, nível onde os alunos têm entre 11 e 12 anos, que fala de um país, “num tempo não muito longínquo”, onde todos os dias são cinzentos e que é governado pela Dona Corrupção e o seu marido Sr. Dinheiro.

Os seus habitantes são a tristeza, a pobreza, o medo, o trabalho árduo, até que chegam uns forasteiros com nomes como união e justiça que acalentam os habitantes a substituir a ganância pela partilha, o que levou até a que a Dona Corrupção fizesse um lifting para se tornar em Dona Igualdade.

No vídeo só aparecem pés, uma forma de contornar a objecção de vários pais a que os seus filhos fossem filmados, conta a professora de Português, Sílvia Paixão, que acompanhou todo o projeto. O argumento foi escrito nas suas aulas a partir de ideias apresentadas pelos alunos.

Para além da brincadeira das calças rasgadas, o ponto de partida para esta história teve na base a “observação da realidade da escola, onde muitos miúdos têm fortes carências económicas”, relata a professora bibliotecária, Isabel Rosa, que também acompanhou a iniciativa. E desta observação saiu também a pergunta se será mesmo inevitável que para uns estarem bem, outros têm de estar pior. Os alunos de Lagoa, que esta sexta-feira estarão em Lisboa para receber o prémio, responderam pela negativa.

“Criação de espaços de reflexão”

Com este concurso, que vai na quinta edição, o Conselho de Prevenção da Corrupção pretende “contribuir para a criação de espaços de reflexão dentro da comunidade escolar e na sociedade, sobre esta temática”. “A prevenção da corrupção e a educação para os valores e para a ética, são matérias relevantes para conseguirmos uma cidadania de qualidade”, frisa o conselho.

E é também esta mensagem que chegou do 7.º ano de escolaridade do Externato Infante D. Henrique, em Braga, que recebeu dois prémios: um na categoria do 3.º ciclo e outro na do ensino secundário. Dos alunos mais novos veio a proposta de uma sopa de valores feita de verdade, transparência, responsabilidade e honestidade, para que a cidade não fique toda a perder quando um dos seus foge às suas obrigações de cidadão, o que pode passar por não pagar impostos ou pedir favores e cunhas.

ando um dos seus foge às suas obrigações de cidadão, o que pode passar por não pagar impostos ou pedir favores e cunhas.

“Para muitos deles foi quase a primeira vez que ouviram falar de corrupção e associavam-na apenas ao futebol e à política”, conta o professor de Educação Moral e Religiosa Católica, Filipe Pereira, que foi o responsável do projeto. Durante seis aulas houve 20 minutos para debater o tema e “desconstruir as ideias feitas” que existem em seu torno. Foi a preparação para o trabalho que resultou todo ele de “ideias apresentadas pelos alunos”, diz aquele docente.

Já os alunos do 12.º ano deste externato questionaram as razões pelas quais “a nossa sociedade continua a andar para trás” e encontraram uma das respostas nos “truques” que muitos fazem para obterem benefícios pessoais. Para estes alunos, mudar esta realidade exige uma resposta colectiva. Afirmam o seguinte: “Quando todos acabarmos com os truques é a corrupção que vai andar para trás”.

O concurso é também aberto aos alunos do 1.º ciclo de escolaridade, com idades que variam entre os seis e os 10 anos. Em vez de vídeos os alunos são convidados a fazerem um trabalho de artes plásticas. Os estudantes do 4.º ano do agrupamento de escolas Poeta António Aleixo, de Portimão, foram os vencedores com uma ilustração que propõe “a receita para acabar com a corrupção”. Quais são os ingredientes? Ouvir, observar, falar.

Quem é a ministra que vacilou na palavra proficiência e defende armas nas escolas

A multimilionária Betsy DeVos passou (à justa) no exame do Senado e é a nova secretária (ministra) da Educação dos Estados Unidos. Critica a utilização de dinheiros federais para financiar o ensino, defende que seja cada estado a decidir se autoriza armas nas escolas ou não e, sobre outras questões relacionadas com o ensino, tanto o seu percurso como a sua prestação perante o Senado são, para dizer o mínimo, muito pálidos

Expresso | 08.02.2017

Ninguém podia adivinhar que um cargo tão pouco dado a polémicas como o de chefiar o Ministério da Educação viesse a ser uma das grandes dores de cabeça do Congresso, de maioria republicana, neste início de mandato. Mas estes não são tempos comuns. A contestação política e civil contra vários dos homens que o Presidente norte-americano nomeou para a sua administração tem sido notória para todos menos para o Governo e os seus “factos alternativos”.

Veja-se o caso de Rex Tillerson, que já assumiu a pasta dos Negócios Estrangeiros, apesar das ligações comprovadas ao governo russo, de Vladimir Putin. A epítome da profunda divisão dos Estados Unidos ao final da segunda semana da era Trump não foi contudo essa nomeação, mas a de Betsy DeVos para secretária (ministra) da Educação.

Da direita à esquerda, há muitos a defender que não é para menos. Ao longo da última semana, os telefones dos senadores não pararam de tocar; pais, professores, auxiliares de educação, pedagogos, ativistas e cidadãos comuns passaram os dias a ligar para a câmara alta do Congresso na esperança de convencerem pelo menos três republicanos a votarem contra a nomeada de Trump. A ideia, apontava há alguns dias a “Slate”, era conseguir que um mínimo de senadores do partido maioritário “sentissem que vão ter mais problemas com os seus eleitores se votarem a favor de DeVos do que com a administração Trump se votarem contra ela”. Missão falhada.

Houve uma luz ao fundo do túnel no final da semana passada, quando duas senadoras do partido no poder, Susan Collins e Lisa Murkowski, anunciaram que iam votar contra a escolha de Trump. Estava firmado um empate na câmara, com os 48 senadores democratas e as duas desertoras republicanas alinhados contra os outros 50 senadores republicanos, que não cederam nem um milímetro. Pat Toomey, senador da Pensilvânia, chegou a ser apontado como o homem que ia virar o jogo contra DeVos, mas rapidamente emitiu um comunicado a garantir que não. Jeff Flake, Dean Heller, Thom Tillis, Mike Crapo, John Hoeven e Rob Portman foram apenas alguns dos que também fizeram questão de assegurar publicamente que iam dar luz verde à multimilionária Betsy.

Isso tem uma razão de ser. Ao longo da sua carreira política, Toomey, por exemplo, recebeu mais de 60 mil dólares em doações de DeVos e da sua família. Tillis, eleito pelo estado da Carolina do Norte para o Senado federal nas intercalares de 2014, recebeu mais de 70 mil. Portman, que representa o Ohio desde 2011, 51 mil dólares. Mitch McConnell, atual líder da maioria republicana no Senado, mais de 36 mil dólares. Marco Rubio, que disputou as primárias do partido com Trump, quase 100 mil dólares. John McCain, rival de Obama nas presidenciais de 2008, metade disso.

A própria Lisa Murkowski obteve de DeVos um financiamento de campanha na ordem dos 43 mil dólares, o que não a impediu de “votar em consciência” contra uma mulher que defende a privatização do ensino e a presença de armas nas escolas e que já deu provas de que não conhece nem o bê-á-bá do ensino escolar. Não saberá sequer construir frases em inglês — há duas semanas a legenda de uma fotografia que publicou no Instagram, onde surge ao lado do marido na tomada de posse de Trump, gerou uma cadeia de correções e ensinamentos de gramática e sintaxe nas redes sociais.

Durante a primeira audiência de confirmação na comissão especializada do Senado, Bernie Sanders colocou-lhe diretamente a pergunta: “Acha que se a sua família não tivesse feito contribuições de centenas de milhares de dólares para o Partido Republicano, você estaria aqui sentada hoje?” A “Vox” chamou-lhe “a pergunta para os 200 milhões de dólares”, que é quanto dinheiro a família DeVos já desembolsou para o partido e causas conservadoras ao longo das últimas décadas. Depois de uma pausa, a candidata respondeu: “Acho que haveria essa possibilidade. Tenho trabalhado com afinco para dar voz aos estudantes e poder aos pais para que possam tomar decisões em nome dos seus filhos, em primeiro lugar crianças de [famílias com] baixos rendimentos.”

Tudo parece apontar para o contrário do que assegura a nova secretária da Educação — esta terça-feira confirmada para o cargo por Mike Pence, vice-presidente de Trump, que num passo sem precedentes usou o seu voto para desempatar a votação na câmara a favor dela. Num longo perfil de DeVos publicado a 17 de janeiro, ainda Trump não tinha tomado posse, a revista “Mother Jones” referia que não só a milionária não tem qualquer experiência de ensino (o mais perto que esteve foi ser monitora de ATL), como os seus planos para a escola pública são perigosos. Em última instância, apontava a revista, quer transformar a rede de ensino americano no “reino de Deus”.

Dos 100 milhões de dólares que doou entre 1999 e 2014 através da fundação que criou com o marido, metade foram para organizações cristãs, muitas delas escolas privadas onde se ensina o criacionismo. Do leque de opções curriculares à disposição de cada um dos 50 estados norte-americanos, defende, deve constar esta crença religiosa e sem base factual de que a humanidade, a vida, a Terra e o universo foram criados por uma entidade divina há alguns milhares de anos — quando décadas de avanços científicos já comprovaram que o nosso sistema solar, a via láctea, tem cerca de 5 mil milhões de anos e que as origens da espécie humana remontam ao final do mioceno, uma das eras geológicas do planeta Terra que terminou há 5 milhões de anos. Assim que a sua nomeação foi confirmada, um internauta criou o que diz ser o novo logótipo do Departamento de Educação ao leme de DeVos — em vez da árvore da escola, Jesus Cristo montado num dinossauro.

DeVos não contesta apenas o evolucionismo. Sem nunca ter estudado numa escola pública (nem os seus filhos), critica a utilização de dinheiros federais para financiar o ensino e defende um controverso sistema de vouchers através do qual pretende redirecionar 11 milhões de alunos do público para o privado: o Estado federal oferece uma espécie de “cheque-prenda” aos encarregados de educação para ser usado em escolas charter, instituições de ensino criadas por grupos de pais, professores ou comunidades, que são financiadas pelo Estado mas que não respondem às mesmas regras e padrões que as escolas públicas — muitas são religiosas. Para DeVos são “uma escolha muito válida” mas criar uma rede de escolas charter a nível nacional é coisa que leva tempo, pelo que “até lá há muito boas escolas não-públicas, a aguentarem-se por um fio, que podem começar a receber alunos”.

Em 2015, lançou um dos mais ferozes ataques ao sistema público de ensino que, ironicamente, denotam semelhanças com o seu currículo para ser ministra da Educação. “Acho que o ensino se tornou muito desprofissionalizado ao longo dos anos e passou a integrar uma indústria muito hermética, que só serve os seus próprios interesses. Acredito que abrir o sistema [à privatização] vai contribuir muito para dar um valor renovado à qualidade de um bom professor. E acredito que cada vez mais jovens vão ser encorajados a enveredar pelo ramo do ensino se tivermos este tipo de inovação e criatividade na educação em geral, que penso que deve passar por uma opção educacional totalmente aberta.”

Na altura estava longe de pensar que viria a ter a oportunidade de avançar com o seu modelo e objetivos. Talvez por causa do dinheiro com que a sua família comprou vários republicanos ao longo dos anos, também não se deu ao trabalho de estudar antes do seu derradeiro teste de avaliação feito pelos senadores democratas. Para perceber isso e traçar a figura da próxima ministra da Educação, destacamos a seguir quatro momentos das sessões de perguntas e respostas que a conduziram ao cargo.

Sobre deficientes nas escolas

Num momento de alta tensão, o senador Tim Kaine desafiou DeVos a dizer se concorda que todas as escolas que recebam fundos federais devem cumprir os mesmos padrões de ensino, entre eles a Lei para a Educação de Indivíduos com Deficiência e a obrigatoriedade de denunciarem às autoridades competentes casos de bullying e assédio verbal ou físico. DeVos pareceu nervosa e tentou dar respostas evasivas, até passar a outra fase. “Penso que cada estado é que deve decidir sobre isso”, declarou sobre a lei que protege os direitos de crianças deficientes ao ensino. “Quer dizer que defende que alguns estados podem ser bons com crianças deficientes e outros não?” “Penso que cada estado é que deve decidir sobre isso.” “Mas e quanto à lei federal que protege crianças com deficiência? É uma lei federal, que se aplica a todo o país.” “Penso que cada estado é que deve decidir sobre isso.” Antes disso, a senadora Maggie Hassan, que tem um filho com paralisia cerebral, já tinha confrontado DeVos com essa lei, a IDEA. e perante a sua ignorância perguntou-lhe se ela sabia que se trata de uma legislação federal. DeVos disse: “Posso ter feito confusão com outra.”

A IDEA, que entrou em vigor em 1990, é o que permite que crianças americanas como o filho de Hassan ou Edmund possam aceder ao ensino público apesar de serem portadores de deficiência, neste último caso uma doença rara chamada síndrome Cri du Chat, que o prende a uma cadeira de rodas, a um tubo de alimentação e a um estado não-verbal. “Sim, Edmund vai à escola”, escrevia há algumas semanas a mãe, Elizabeth Picciuto, num artigo intitulado “Tenho um filho deficiente e um medo de morte de Betsy DeVos”.

“Só posso assumir que vários adultos não-deficientes não saibam que isto é assim porque quando éramos mais novos, crianças como o Edmund não iam à escola, pelo menos não às nossas. […] Depois do testemunho de DeVos no Senado, estou petrificada de medo. Ponhamos os vouchers de lado. DeVos não parecia sequer saber que a IDEA existe. […] A IDEA tem sido historicamente subfinanciada pelo governo federal, um problema que precisa de respostas urgentes. Com uma administração indiferente ou até hostil à educação de crianças com deficiência, não há como saber se os direitos do meu filho e de tantas outras crianças educáveis como ele vão ser protegidos de forma adequada.”

O que é proficiência?

A dada altura, o senador Al Franken questionou DeVos sobre se acha que os testes feitos aos alunos nas escolas devem medir a proficiência de cada estudante, ou seja se acumulou conhecimento suficiente para atingir um certo patamar, ou a evolução de cada estudante, ou seja quanto é que melhorou ao longo do percurso académico. A candidata não sabia do que é que o democrata estava a falar. “Isto é um tema de debate na comunidade educativa há anos. Admira-me que nunca tenha ouvido falar deste assunto”, disse Franken, visivelmente surpreendido.

Violações em Universidades

Tal como aconteceu quando Kaine lhe perguntou sobre a proteção de alunos portadores de deficiência, DeVos voltou a evitar dar uma resposta clara quando o senador Bob Casey falou do tema das violações e agressões sexuais em campus universitários dos EUA. A pergunta foi direta: enquanto ministra da Educação, vai manter as regras delineadas pelo departamento em 2011 que ditam que crimes desta natureza têm obrigatoriamente que ser denunciados às autoridades de ensino? DeVos respondeu que era “prematuro” pronunciar-se sobre esse assunto e que ia reunir-se com legisladores para decidir o que fazer.

Armas em escolas

O senador Chris Murphy, um dos grandes defensores de mais controlos de armas, perguntou a DeVos se é aceitável haver armas de fogo em escolas, uma questão sensível, dado que o país continua a ser assolado por tiroteios e massacres, muitos deles em estabelecimentos de ensino. A primeira resposta foi a mesma de quase sempre. “Compete a cada estado e a cada localidade decidir isso.” No contra-ataque de Murphy, que ficou chocado com a resposta, DeVos invocou o exemplo de uma escola primária do Wyoming que um senador republicano tinha dado numa sessão anterior. A defesa: “Julgo que naquela escola deve

 

Casos reportados pelos diretores estão a diminuir

Os chamados atos contra a liberdade e a integridade física continua a ser o “crime” com mais ocorrências nas escolas.

PÚBLICO | 07.02.2017

No ano lectivo passado, os diretores reportaram ao Gabinete de Segurança Escolar do Ministério da Educação (ME) 686 ocorrências registadas no interior das escolas. Dois anos antes este número foi de 1321, segundo dados revelados ao PÚBLICO pelo ME.

Os chamados atos contra a liberdade e a integridade física das pessoas continuam a figurar em maioria. Em 2013/2014 foram registados 704, valor que baixou para 386 em 2015/2016. A seguir surgem os atos contra a honra e o bom nome das pessoas com 292 registos em 2013/2014 e 90 no ano lectivo passado.

Seguem-se-lhe os atos contra os bens e os equipamentos escolares, que passaram de 117 registos há dois anos para 72 em 2015/2016. Os atos contra os bens e equipamentos pessoas aparecem em quarto lugar: de 109 passou-se para 56.

Mas também há registos de apreensão de armas: 17 em 2015/2016 e o dobro no ano lectivo imediatamente anterior. Quanto à existência de estupefacientes existem 33 registos reportados em 2015/2016, ligeiramente menos do que nos anos anteriores.

Para além destes registos elaborados pelos diretores, existem também relatórios anuais da PSP e da GNR sobre os casos registados nas escolas e sobretudo nas redondezas dos estabelecimentos escolares. Em conjunto reportaram cerca de cinco mil ocorrências.

 

Nas salas de aulas reina a “pequena indisciplina”

Só 0,01% dos alunos foram transferidos compulsivamente de escola em 2014/2015, revela o Ministério da Educação. Aulas expositivas “potenciam” problemas, dizem pais e diretores.

PÚBLICO | 07.02.2017

Este é um dos casos em que as minorias contam. Segundo um inquérito realizado junto dos diretores de 45 agrupamentos frequentados por 53.664 alunos, 8,23% dos estudantes tiveram em 2015/2016 participações disciplinares. E, no entanto, a nível internacional, os professores portugueses são dos que se queixam mais de problemas de indisciplina em sala de aula, conforme dão conta inquéritos internacionais a docentes.

“Basta um aluno ou dois malcomportados por turma para darem cabo de uma aula”, comenta a propósito Alexandre Henriques, professor do 3.º ciclo e secundário e autor do inquérito sobre indisciplina nas escolas, feito em colaboração com a Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), que nesta terça-feira será publicado no blogue ComRegras de que também é responsável.

É o segundo inquérito sobre o tema realizado por Alexandre Henriques. O primeiro retratava a situação em 2014/15. Para que pudessem ser feitas comparações entre ambos, o autor levou em linha de conta apenas uma parte dos agrupamentos que este ano responderam ao inquérito, de modo a abranger um universo de alunos idêntico ao do ano passado: cerca de 35 mil. Resultados: o número de alunos, neste universo, com participações disciplinares passou de 2014/2015 para 2015/2016 de 2641 para 3035; registou-se também um acréscimo nos dois tipos de medidas disciplinares previstas pelo Estatuto do Aluno. Nas medidas ditas corretivas, de que o exemplo mais frequente é a ordem de saída da sala aula, passou-se de 4,18% para 5,28%; nas sancionatórias, que podem levar à suspensão ou à transferência compulsiva de escola, a oscilação foi de 1,96% para 2,28%.

Em números absolutos, nos agrupamentos inquiridos há registo de 3807 medidas corretivas em 2015/2016 que foram aplicadas a 1854 alunos, o que quer dizer que muitos dos visados são repetentes na matéria. O mesmo se passa nas medidas sancionatórias, com um total de 1054 aplicadas a 802 alunos.

“Suspender um aluno não se faz”

Em resposta ao PÚBLICO, o Ministério da Educação indicou que em 2014/2015, últimos números que tem disponíveis, “foram instaurados 215 procedimentos disciplinares que originaram transferência de escola (a medida sancionatória mais gravosa), o que representa 0,01% do total de mais de um milhão de alunos”.

“Sou diretor há 14 anos e nunca suspendi um aluno, nem nunca o farei. Porque mandar um aluno para a rua é mandar também o problema para a rua e isso não se faz. Isto não quer dizer que não tenhamos tido problemas graves, mas conseguimos resolvê-los na escola”, refere a propósito o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), Manuel Pereira.

Ao contrário da evolução de crescimento identificada nas conclusões apontadas no estudo de Alexandre Henriques em colaboração com a ANDAEP, Manuel Pereira dá conta de que no agrupamento de que é diretor, agrupamento de Escolas de Cinfães, “há uma diminuição clara da indisciplina”, o que ele atribuiu à “grande política de proximidade com os alunos e encarregados de educação”.

 

“Gestão dos conflitos passa muitas vezes para as mãos dos alunos”

João Sebastião, investigador do ISCTE e antigo responsável pelo Observatório de Segurança em Meio Escolar, aponta mais o dedo aos professores do que aos alunos.

PÚBLICO | 07.02.2017

A indisciplina em sala de aula é um dos problemas da escola portuguesa?

O principal problema da escola é o insucesso escolar porque o objectivo da escola antes de tudo o mais é o de ensinar. Portanto, desviar o assunto para a indisciplina é desviar do essencial. Dito isto, lembro que a questão da disciplina é comum a todas as organizações, não é um problema específico das escolas. Trata-se de garantir que todos os indivíduos nessas instituições tenham comportamentos semelhantes e expectáveis.

O que é mais difícil nas escolas por causa das idades dos alunos?

Esse é um dos problemas. Muitos estão na adolescência em plena fase da contestação da autoridade. Depois há a questão da dimensão. Temos mais de um milhão de alunos todos os dias nas escolas e todos eles são diferentes. Não é possível levá-los a comportarem-se de forma igual.

E também temos os professores, que são mais de 120 mil, e muitos deles próprios também não cumprem as regras das escolas. Criam as suas próprias o que leva a uma diversidade muito grande de comportamentos que tem também influência no comportamento dos alunos. Por exemplo, há uns que não querem as mochilas em cima da mesa, outros que não querem chapéus nas cabeças, outros não se importam, etc. Portanto são os alunos que acabam por ter de descobrir quais são as características particulares dos professores para se adaptarem a elas. A gestão de conflitos passa assim, muitas vezes, para as suas mãos.

Nos inquéritos feitos a professores no âmbito dos testes PISA [estudo da OCDE feito de três em três anos], os docentes portugueses são dos que mais reportam situações de indisciplina. Quer isto dizer que os alunos portugueses são mais indisciplinados do que outros?

Nem de perto, nem de longe. O que se passa é que os professores portugueses têm uma cultura defensiva que os leva a considerar que tudo o que é problema na escola é responsabilidade de fora. Por exemplo, a indisciplina é um problema das famílias que não educam bem os seus filhos.

O que devíamos ter era um sistema de regras simples e claras para toda a comunidade escolar e que fosse discutido por todos e aplicado a todo. As escolas em que tal acontece, que são poucas, obtêm resultados muito mais eficazes.