A Bolsa ou a vida

Este governo tem a sensibilidade social de um rinoceronte.

Correio da Manhã | 01.12.18

 

O governo decidiu não pagar as bolsas de mérito a estudantes pobres. Há miúdos carenciados com média acima de 14 no Secundário e que recebem um subsídio que é, frequentemente, aquela pequena ajuda que lhes permite concluir o ensino obrigatório. Portanto, o Estado tem esse compromisso com estas crianças e respectivas famílias que contam com este auxílio. Algumas até já compraram material escolar na expectativa de serem ressarcidos.

Eis que Costa e Centeno decidem pagar apenas 50%, ao mesmo tempo que se vangloriam de embolsar totalmente o FMI ou de alcançar o Défice Zero. Os nossos estudantes que vingam apesar das suas dificuldades económicas são menos dignos de receberem o que lhes é devido?! Estão menos necessitados? O PS já se esqueceu como prometeu apostar na educação e recuperar a drenagem de jovens para o estrangeiro? Oferece manuais escolares a todos (desfavorecidos e muito ricos) mas corta nos que mais precisados e que, ainda por cima, se esforçam?

Este governo tem a sensibilidade social de um rinoceronte, as prioridades políticas de uma máquina de calcular. Não estima a meritocracia ou as bolsas de estudo. Deve preferir as bolsas de ar, as bolsas de valores, as bolsas das cunhas e dos amiguismos. Feliz Natal também para si, Sr. Primeiro Ministro.

Joana Amaral Dias

 

 

Esquerda chumba manuais escolares gratuitos no ensino privado

A extensão aos alunos do ensino privado da gratuitidade dos manuais escolares dentro da escolaridade obrigatória a partir do próximo ano letivo foi esta terça-feira chumbada no parlamento.

Jornal de Notícias | 27.11.18

 

A extensão da gratuitidade dos manuais escolares a toda a escolaridade obrigatória a partir do próximo ano letivo vai apenas acontecer para os alunos que frequentam as escolas públicas, tal como proposto pelo Governo.

Nas votações na especialidade do Orçamento do Estado para 2019 (OE2019) no parlamento, que estão hoje no segundo dia, a proposta do Governo foi aprovada com os votos favoráveis do PS, Bloco de Esquerda e PCP, abstenção do CDS-PP e voto contra do PSD.

A proposta do CDS-PP que estendia a medida a todos os alunos que frequentem a escolaridade obrigatória incluindo os dos colégios particulares, foi chumbada pela maioria de esquerda, tendo apenas conseguido os votos favoráveis do PSD e do CDS-PP.

A proposta do PSD, que previa a gratuitidade dos manuais escolares para todos os alunos cujo agregado familiar tenha rendimentos brutos anuais inferiores a 40 mil euros, foi chumbada por PS, Bloco de Esquerda e PCP, tendo ainda recolhido a abstenção do CDS-PP e apenas o voto favorável da bancada parlamentar social-democrata.

Até agora, os livros gratuitos abrangiam somente os 1.º e 2.º ciclos, ou seja, até ao 6.º ano de escolaridade, alargando-se agora aos 7.º, 8.º, 9.º, 10.º, 11.º e 12.º anos de escolaridade das escolas públicas.

O acordo para este alargamento foi anunciado em outubro, pelo PCP, que estimou o custo da medida em cerca de 100 milhões de euros.

 

Escolas só reaproveitam 10% dos manuais usados

Jornal de Notícias | 26.11.18

A reutilização dos manuais escolares disponibilizados pelo Ministério da Educação ainda é baixa. Dos livros fornecidos no ano anterior no 1.º Ciclo, só 10% estão a ser reaproveitados este ano e um quarto das escolas não conseguiu reutilizar qualquer livro. Mas há bons exemplos: 210 agrupamentos superaram a média nacional.

 

Livrarias ainda não foram pagas pelos manuais escolares gratuitos

Dois meses depois do início das aulas há comerciantes que ainda não foram pagos pelos manuais escolares gratuitos

Jornal i | 11.11.2018

 

As livrarias estão a considerar se, no próximo ano letivo, aderem ou não ao sistema de vouchers – que possibilita os alunos dos estabelecimentos do ensino público terem acesso a manuais escolares gratuitos.

Dois meses após o ano letivo ter começado várias livrarias ainda não foram pagas. O pagamento é feito com dinheiros públicos, disponibilizados pelo Ministério da Educação às escolas, que ficam responsáveis por pagar os livros.

Segundo avançou ontem o Jornal de Notícias, as livrarias têm receio que, no próximo ano letivo – em que os manuais escolares gratuitos serão alargados até ao 12.º ano –, os atrasos nos pagamentos sejam maiores.

Este ano, 520 mil alunos do 1.º ao 6.º ano de escolaridade tiveram acesso a manuais escolares gratuitos. No próximo ano letivo, serão abrangidos pelo sistema mais de um milhão de alunos.

Vários donos de livrarias, em declarações ao mesmo jornal, falaram em prejuízos na ordem dos vários milhares de euros. Há ainda situações de livreiros que tiveram de pedir ajuda aos bancos para conseguir pagar às editoras e noutros casos as encomendas tiveram de ser suspensas para que as dívidas não aumentassem.

Tiago Brandão Rodrigues, ministro da Educação, garantiu que as escolas já receberam verbas para efetuar o pagamento dos livros escolares. No entanto, admitiu que é preciso ainda limar o programa: «O Ministério da Educação, juntamente com as nossas escolas, está a fazer o seu trabalho de forma diligente e de forma substantiva».

Contudo, esta situação também está a preocupar a Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação (Cnipe). Em declarações à rádio TSF, Rui Martins, presidente da Cnipe, revelou que os pais se mostram preocupados porque não têm locais onde comprar os manuais. «Espero que isso não passe apenas de uma ameaça e que tudo se venha a concretizar e que todos os pais possam comprar os seus livros onde bem entenderem, desde que tenham o voucher na mão», completou.

Manuel Pereira, presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), também à mesma rádio, confirmou que existem efetivamente atrasos nos pagamentos dos livros e reconheceu que a situação é grave.

O responsável disse ainda que as escolas estão a efetuar os pagamentos assim que recebem o dinheiro, culpabilizando a tutela de Tiago Brandão Rodrigues: «Muitas escolas logo que têm o dinheiro em sua posse rapidamente saldam as suas dívidas. O problema acontece sempre por atrasos nas transferências de verbas para as escolas. Eu não faço ideia nenhuma qual é a solução. O ministério sabe exatamente qual é a verba que cada escola precisa para pagar os manuais que terá que comprar e fornecer».

Já Filinto Lima, presidente da Associação de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas afirmou que se o programa não for aperfeiçoado, o «problema pode ser maior».

O ministério afirmou ao Jornal de Notícias que as transferências das verbas para as escolas estão a ser feitas desde o mês de setembro, mas há estabelecimentos de ensino que se queixam que ainda não receberam o dinheiro.

 

Diretores culpam governo por atraso no pagamento dos manuais escolares entregues aos alunos

Livrarias ainda esperam para receber verbas dos livros escolares.

Correio da Manhã | 10.11.18

Dezenas de livrarias continuam à espera de receber das escolas o dinheiro dos manuais escolares entregues aos alunos. O Ministério da Educação diz que está a pagar consoante as escolas vão solicitando, mas os diretores culpam a tutela pelo atraso. “A demora é responsabilidade do Instituto de Gestão Financeira da Educação (IGEFE), não somos nós que ficamos com o dinheiro”, disse ao CM Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (Andaep), acrescentando: “Até ao início de outubro o dinheiro requisitado à IGEFE chegou a tempo, mas depois deixou de chegar.”

A livraria Isabsa, em Lisboa, é uma das afetadas. “Recebi 20 mil euros mas ainda falta receber 100 mil euros. Tive de fazer um empréstimo de 50 mil euros para poder pagar os livros às editoras”, disse ao CM Abdul Gafar, proprietário da livraria, que ameaça boicotar o processo no próximo ano letivo: “Se mantiverem o mesmo sistema prefiro vender aos colégios privados e não ao Estado.” Susana Silvestre, gerente da Livraria D. Afonso V, em Mem Martins (Sintra), também espera pelo pagamento de 100 mil euros. “Tive de pedir dinheiro emprestado a uma pessoa. Isto é um problema generalizado que afeta os livreiros mais pequenos porque não temos fundo de maneio”, afirmou ao CM.

O Ministério da Educação esclarece que “a faturação das livrarias é feita às escolas, que por sua vez requisitam os fundos ao IGEFE”. Segundo a tutela, “as transferências para as escolas tiveram início em setembro, de acordo com as verbas que foram sendo solicitadas pelas escolas para fazerem os pagamentos às livrarias, tendo neste momento já sido assegurada uma transferência substantiva de verba”. O ME não diz quanto pagou e quanto falta pagar. E garante que “as verbas estão a ser transferidas para as escolas para que estas possam fazer os pagamentos devidos, contando-se que este procedimento se conclua o mais brevemente possível”.

“Ainda não nos pagaram nada e para o ano já não vamos aderir”

Na cidade do Porto algumas livrarias aderiram aos vouchers de manuais escolares gratuitos. Teresa Carvalho é, juntamente com a irmã, proprietária da Livraria Saldanha, na Foz, e até agora ainda não recebeu os cinco mil euros a que tem direito. “Não nos pagaram nada até agora, zero. Aderimos para satisfazer os clientes que todos os anos nos compram os manuais escolares. O volume de encomendas que tivemos aumentou.” Garante que os livros eram como “uma bolha de oxigénio, que agora já não temos e fica difícil sustentar o negócio”. Em relação ao próximo ano garante: “Não vamos aderir porque é insustentável.” “Ficamos sem dinheiro e com o livro de reclamações cheio: assim, não”

As papelarias mais pequenas começam a optar por não venderem livros escolares, por entenderem ser um foco de problemas. António Dias, dono de uma papelaria na Baixa de Coimbra, é disso um exemplo: “Ainda vendi uns este ano, mas desisti dos vouchers, que foram entregues muito tarde. Era um foco grande de reclamações. Em boa hora o fiz, porque dos poucos que vendi ainda não recebi nada e ainda são umas centenas de euros”, refere o comerciante, que nestes moldes prefere não trabalhar com o Ministério da Educação. “Fico sem dinheiro e com o livro de reclamações cheio.”

Livreiros surpreendidos

Segundo Abdul Gafar, da Livraria Isabsa, “as escolas dizem para aguardar pela verba que vem do Ministério da Educação”. Mas o livreiro estranha que “algumas escolas paguem e outras não”. “Será que o dinheiro é gasto noutras coisas quando devia ser direcionado para os manuais?”, questiona. Livros para 40 escolas O proprietário da livraria lisboeta, situada na rua Morais Soares, negociou a venda dos manuais escolares com cerca de 40 escolas por todo o País. A maioria são escolas de Lisboa, Loures, Sintra, Amadora, Oeiras e Almada.

Próximo ano preocupa

Filinto Lima, da Andaep, avisa que no próximo ano letivo o sistema tem de funcionar melhor, até porque a gratuitidade é alargada e vai abranger alunos do 1º ao 12º ano. “Era bom que começassem já a preparar o próximo ano letivo”, disse. 1,2 milhões de alunos Este ano letivo os manuais são gratuitos do 1º ao 6º ano, nas escolas públicas. A partir do próximo ano letivo os livros serão grátis para 1,2 milhões de alunos do 1º ao 12º ano.

Dificuldades preocupam

A distribuidora José Almeida Gomes & Filhos, em Coimbra, tem cem mil euros para receber do Ministério da Educação. Com 16 funcionários, a empresa está já com dificuldades de tesouraria. Acusa o Estado de não pagar o que deve e de “fazer ofertas daquilo que não é dele”.

 

Livrarias ameaçam boicotar manuais escolares em 2019

Empresários enfrentam problemas financeiros por falta de pagamento dos livros deste ano. Ministério diz que desde setembro está a transferir verbas para as escolas.

Jornal de Notícias | 09.11.18

 

Dois meses após o arranque das aulas, ainda há livrarias que não receberam o dinheiro dos manuais escolares, cuja responsabilidade é das escolas, mediante verbas transferidas pelo Ministério da Educação. Dada a complexidade do sistema, muitas ameaçam não aderir em 2019, comprometendo, assim, o alargamento da medida ao 12.º ano, que irá abranger 1,2 milhões de alunos. Há quem tenha recorrido à Banca para suportar o atraso. Ministério garante que está a pagar às escolas e pais estão preocupados.

Na Livraria Isabsa, em Lisboa, Abdul Gafar faz contas. Com “vouchers” de agosto e setembro ainda por receber, decidiu a 1 de outubro não aceitar mais encomendas. “Dos 100 mil euros que tinha a receber, só me pagaram uns 20%”, revela. O capital da empresa não foi suficiente e teve de “pedir um empréstimo de 50 mil euros para pagar às editoras”. No próximo ano, com o alargamento da medida ao 12.º ano, serão “mais livros e mais caros”. Por isso, diz Abdul Gafar, “se o sistema de pagamento for igual, não vou aderir”.

 

Manuais escolares devem ser usados três vezes e substituídos, diz Governo

Os manuais escolares gratuitos, que no próximo ano serão distribuídos a um 1,2 milhões de alunos do 1.º ao 12.º ano, deverão ser utilizados três vezes e depois substituídos por novos, afirmou esta quarta-feira o secretário de estado da Educação.

Jornal de Notícias | 17.10.18

 

“A ideia é cada manual ter três utilizações”, afirmou o secretário de estado da Educação, João Costa, durante uma audição na Comissão de Educação e Ciência, hoje no parlamento.

A pedido do CDS-PP foi discutida a forma como correu o alargamento da distribuição de manuais escolares até ao 6.º ano, abrangendo cerca de meio milhão de estudantes, com os centristas a considerar que correu mal e a equipa do Ministério da Educação a reconhecer algumas falhas, mas fazendo um balanço positivo.

Este ano letivo, o Ministério da Educação distribuiu manuais a cerca de 500 mil alunos até ao 6.º ano, através de uma plataforma informática que atribuiu ‘vouchers’ para que as famílias pudessem escolher onde queriam levantar os livros.

Apesar de saudar a medida, a deputada do CDS-PP Ana Rita Bessa não poupou críticas, considerando que famílias, escolas e livreiros locais “foram prejudicados” devido à “incompetência do Governo”.

Para o CDS, o Ministério da Educação “falhou com as famílias”, uma vez que houve atrasos no processo de distribuição dos manuais que levou a que muitos alunos começassem as aulas sem livros, “falhou com as escolas” ao aumentar o seu trabalho burocrático e “falhou com os livreiros locais”, uma vez que só os grandes grupos conseguiram dar resposta às famílias.

Para a equipa do Ministério da Educação a visão é diferente: A distribuição de manuais “correu verdadeiramente bem”, afirmou o ministro Tiago Brandão Rodrigues, apoiado pela secretária de Estado Alexandra Leitão.

A secretária de Estado lembrou que se tratou do primeiro ano de funcionamento da plataforma e de alargamento aos alunos do 2.º ciclo, e que era preciso garantir “um equilíbrio entre o rigor na despesa pública e a agilização que se quer”.

“Perguntam se correu tudo bem? Não. Se era possível montar um sistema que funcionasse logo bem? Não”, defendeu Alexandra Leitão.

Para o ano, a medida será alargada a cerca de 1, 2 milhões de alunos do 1.º ao 12.º ano, que frequentam as escolas públicas do país, de acordo com a proposta de Orçamento do Estado para 2019.

Alexandra Leitão acredita que irá correr melhor, uma vez que já não será o ano piloto da plataforma.

“Política de reutilização tem de fazer o seu caminho”

Questionado pelo PCP sobre a possibilidade de os manuais serem oferecidos a título definitivo aos alunos no 1.º ciclo, Tiago Brandão Rodrigues explicou que a ideia é criar hábitos de reutilização: “A política de reutilização tem de fazer o seu caminho”.

Joana Mortágua considerou a “medida revolucionária” e a deputada do PCP Ana Mesquita lembrou que a decisão significa “uma poupança para as famílias de 1.435 euros por percurso escolar”.

Da discussão da aplicação da medida, passou-se à discussão da medida em si, com o PSD a criticar a distribuição de manuais por todos independentemente da capacidade financeira das famílias.

Lembrando que os “recursos do Estado são escassos”, a deputada Ana Sofia Bettencourt criticou a opção de “desviar fundos para suportar manuais a famílias que têm capacidade para os adquirir”.

Assim, a social-democrata olhou para a iniciativa como uma “medida igualitária e não como uma igualdade de oportunidades”.

Declarações que levaram a secretária de Estado Alexandra Leitão a colocar as visões políticas em dois patamares: os que defendem um “estado social de direito” e os que preferem “o estado assistencialista”.

Já o ministro acusou o PSD de ser contra a gratuitidade: “O PSD quer um sistema para aqueles que têm possibilidades e são ricos e um sistema para os outros”, criticou Tiago Brandão Rodrigues, considerando a medida “um avanço civilizacional e ambiental”.

Os deputados discutiram ainda, a pedido do PSD, a situação de carência de assistentes operacionais nas escolas.

Álvaro Batista, do PSD, lembrou um estudo do ministro das Finanças que, há três anos, concluía que o regresso às 35 horas semanais iria significar uma carência de cerca de 3500 assistentes operacionais nas escolas, tendo apresentado escolas onde esta falha impediu a realização de aulas.

Tiago Brandão Rodrigues referiu que se tratava de casos pontuais: “Temos cerca de seis mil escolas e o senhor deputado traz cinco casos de escolas, que não deixam de ser muito importantes mas são cinco casos”.

 

Manuais escolares passam a ser gratuitos até ao 12º ano

Está “ainda por operacionalizar a forma como a medida vai ser implementada no terreno”

Jornal i | 12.10.2018

 

Os alunos terão livros escolares até ao décimo segundo ano, confirmou o PCP.

A gratuitidade dos manuais estende-se assim ao ensino secundário, anteriormente só o ensino básico beneficiava desta iniciativa.

O líder parlamentar comunista, João Oliveira, mostrou-se satisfeito com o acordo, alcançado no âmbito das negociações do Orçamento do Estado para 2019.

O deputado explicou, no entanto, que está “ainda por operacionalizar a forma como a medida vai ser implementada no terreno”.

O PCP prevê que os custos da medida anunciada ascendam a “pouco mais de 100 milhões de euros”.

A confirmação da extensão da gratuitidade surge já perto do fim da data para a entrega da proposta governamental da Lei do Orçamento do Estado para 2019 (OE2019), faltam três dias.

 

Europa defende alteração dos manuais no ensino dos Descobrimentos

O Conselho da Europa defende que o ensino da História, especialmente das antigas colónias deve ser repensado

Jornal i |02.10.2018

 

Uma comissão do Conselho da Europa que avalia, de cinco em cinco anos, o racismo e a intolerância no país recomendou a Portugal que faça uma alteração aos livros escolares de história de forma a abordar a temática dos Descobrimentos de outra forma.

Segundo a comissão, “as autoridades portuguesas devem reforçar a educação para os direitos humanos e igualdade” enquanto repensa “o ensino da História, especialmente a história das antigas colónias”.

Ou seja, o Conselho da Europa defende que seja ensinado “o papel de Portugal no desenvolvimento e depois a abolição da escravatura”, não se cingindo à “discriminação e violência contra as populações indígenas das suas colónias”.

Também sobre a polémica à volta do nome do novo Museu das Descobertas, o Conselho da Europa defende que “a narrativa da descoberta do Novo Mundo deve ser questionada” e os livros de história devem ser melhorados, e incluírem o contributo para a sociedade portuguesa, assim como a história dos afrodescendentes e ciganos.

Para além disso, o relatório identifica ainda que existe uma tolerância ao racismo que está enraizada nas autoridades policiais e defende que o governo crie um organismo independente capaz de avaliar as condutas racistas e homofóbicas por parte das autoridades. Em causa está a falta de ação nos casos das alegadas agressões na prisão de Alfragide.

Uma sugestão presente no documento é a aplicação de câmaras de vigilância quer nas esquadras, quer nos carros policiais, quer nos uniformes.

 

Dos professores transmissores e velhinhos livros escolares, nem sinal!

Quem usa estes argumentos desconhece o que se faz nas escolas e a diferença que faz o professor.

PÚBLICO | 28.09.2018

 

Mais um ano letivo arrancou e muito se tem falado no processo revolucionário em curso nas escolas, com a adesão ao Projeto de Autonomia e Flexibilidade Curricular (PAFC). Mais uma vez, um outro novo modelo a prometer-nos boas posições nas fileiras do sucesso escolar.

E, como nós aderimos a tudo o que nos promete sucesso, aceitámos, uma vez mais, a experiência. O ministério tem usado os meios de comunicação social, ações de formação, colóquios e fóruns educativos para fazer a campanha de propaganda do PAFC, que, grosso modo, se pauta por duas ações estratégicas: enaltecer o “novo modelo” a entrar em cena e descredibilizar os atores de continuidade, entenda-se, os professores e os livros escolares.

Nesta senda de apoucar os professores, tenho lido expressões curiosas que nos retratam como meros transmissores de conhecimentos, como se, nos dias de hoje, nos limitássemos a estar sentados a debitar um conjunto de informações, prescritas num manual, para uma plateia indiferenciada de alunos em mera passividade auditiva. E, neste cenário, já de si grotesco, descrevem-se os livros escolares, esses objetos retrógrados em plena era digital, como castradores da liberdade de ação e da liberdade criativa, por se quererem constituir como única fonte do saber. Professores e livros escolares cheiram a velho, a tradicional, a passado. Estão desajustados ao novo Perfil do Aluno para o Século XXI, apregoam os arautos da mudança. Quem usa estes argumentos desconhece o que se faz nas escolas, desconhece o papel (ou melhor, os múltiplos papéis) e a diferença que faz o professor e desconhece as características e as potencialidades dos livros escolares.

Não se diminua o ato de ensinar a um relato ou transmissão. Mutatis mutandis as modas pedagógicas, nada substituirá as várias formas de explicação que o professor pode dar aos seus alunos, em contacto direto, olhos nos olhos! Não se confunda transmitir com explicar! O professor orienta, ensina a pensar, a questionar, dá respostas, ajuda e desenvolve muitas outras capacidades nos seus alunos, que os ajudam a crescer! Zanga-se, ri, chora, aconselha… importa-se! Sabem qual é o tema de conversa recorrente quando se juntam professores? Pois é, os alunos! Os seus sucessos, os seus fracassos, os seus potenciais, os seus comportamentos, as suas histórias e estórias. Dificilmente um professor desliga, porque se importa!

Por isso, todos os instrumentos e recursos que o ajudam no seu trabalho diário são importantes, não por ele, tão-só, mas por quem ele se importa, os alunos. E os livros escolares baseiam-se neste pressuposto. Quando estou a conceber e a produzir um recurso educativo, livro ou outro, a pergunta-chave é: de que forma eu posso ajudar os diferentes tipos de alunos, de hoje, a compreenderem este conteúdo ou a desenvolverem esta competência? Por esta razão, os livros escolares – e, claro, tomo como referência os manuais de História em que sou coautora e que conheço bem – são modernos e diversificados, estão ajustados aos tempos que correm, são ricos em atividades que levam os alunos para além de… Propõem trabalhos orientados de pesquisa, lançam desafios e projetos interdisciplinares, sugerem leituras, visitas de estudo e filmes. E, como não podia deixar de ser, têm o texto explicativo. Não se assumem como fontes únicas do conhecimento e propõem diferentes possibilidades de ensino ao professor e de aprendizagem aos alunos, orientando-se pelos pilares que, há já duas décadas, a UNESCO definiu para a Educação, a Ciência e a Cultura – aprender a conhecer, a fazer e a ser/estar; resumindo e concluindo, o tal Perfil do Aluno para o Século XXI. À abordagem de temas como a escravatura, os direitos humanos, os valores democráticos e a participação cívica, dei destaque nos livros de História e Geografia de Portugal. Ou seja, já lá está a tal Cidadania, em contexto, a mesma que agora se tornou mais uma disciplina a sobrecarregar os alunos, a tirar tempo a outras disciplinas e a espartilhar o currículo. Mas esta adequação do livro escolar ao nosso tempo passa também, claro está, pelos recursos digitais que lhe estão associados e que são acessíveis a professores e a alunos, em qualquer lado, a partir de computadores, tablets ou smartphones, assim venham também mudanças para remover das escolas os equipamentos tecnológicos obsoletos e introduzir tecnologia também com perfil do século XXI. Na sala de aula e em casa, o livro escolar, e tudo o que ele hoje engloba, serve de base de estudo, de contraponto de informação, de regulador das aprendizagens.

Curiosamente, li por estes dias alguns estudos, feitos no Reino Unido, sobre o impacto que a utilização destes recursos educativos tem nas aprendizagens, concluindo-se que há aprendizagens mais significativas por parte dos alunos, porque há aulas de maior qualidade. E isto acontece não só pela qualidade técnica e pedagógica dos recursos em si, mas também porque permite ao professor ganhar tempo diário, na preparação e no decorrer das aulas, e usá-lo em apoio individualizado aos seus alunos. Em contracorrente com a “desmanualização” defendida por esta equipa ministerial, na Finlândia, a percentagem de alunos cujos professores usam os livros escolares como base de aprendizagem é superior a 90% (Tim Oates, Why textbooks count, 2014). Acrescento que isto não implica qualquer seguidismo do livro escolar, quem me conhece sabe o quanto rejeito as vias únicas, significa tê-lo como um instrumento de trabalho, que é para isso que ele serve.

Além do mais, as escolas, com maior ou menor intensidade, sempre foram espaços dinâmicos, com projetos, com interdisciplinaridade, com uso das tecnologias que as condições permitem e, por isso, de novo este modelo não tem assim tanto. Os professores sabem isso, estão habituados, e vão-se adaptando às mudanças e adaptando essas mudanças às suas realidades.

Porque as políticas vão e vêm e o professor, apesar de tudo, permanece. Porque se importa!