Os óscares da Educação

Público | 2008-12-20

Há quem seja visto como “o grande motor” de uma escola e quem seja apontado por ser meigo e saber cativar os estudantes; quem lembre que “não basta entregar computadores nas escolas” e quem diga que o segredo está em tratar os alunos como pessoas. O Ministério da Educação voltou a premiar cinco professores que sobressaem no seu trabalho diário. O número de candidaturas foi de novo muito reduzido.

Se as candidaturas à primeira edição do Prémio Nacional de Professores tinham sido poucas (65), em 2008 o número voltou a ser ainda mais curto. Escolas ou grupos de professores indicaram nomes de apenas 27 profissionais que consideravam ser dignos de uma distinção nacional. Sendo que há cerca de 140 mil a dar aulas.

Falta de informação? Expressão do descontentamento num setor que vive em ebulição há quase um ano? Para João Dias da Silva, secretário-geral da Federação Nacional dos Sindicatos da Educação (FNE), a iniciativa, por mais meritória que seja, não pode ser dissociada do contexto. “E o contexto é fortemente desmobilizador da profissão docente. O Ministério da Educação (ME) tem tido uma atitude contrária à valorização e reconhecimento dos professores. Passa uma mensagem de que faltam, que são despreocupados. Não pode ao mesmo tempo dar um prémio que vai ao arrepio do que são as suas afirmações”, justifica.

Conclusão: “Estes prémios não estão a ter qualquer impacto nas escolas. Não estão a constituir uma forma de mobilização das pessoas”, constata Dias da Silva.

Que há muitos professores preocupados e descontentes, João Simões, presidente do conselho executivo da Escola Básica Padre Alberto Neto, concede. No entanto não vê na falta de adesão aos prémios atribuídos pelo ME um sinal de revolta. “As pessoas estão tão absorvidas pela questão do estatuto [da carreira docente], da avaliação, que andam abstraídas de tudo o resto”, afirma o promotor de uma das candidaturas vencedoras. “Mas não é uma atitude consciente”, reforça.

Na Alberto Neto (concelho de Sintra), o conselho executivo não se esqueceu da iniciativa do ME e não teve dificuldade em escolher o nome de Carlos Pinheiro, coordenador da biblioteca da escola, para candidato ao prémio de mérito Inovação. “Enquanto presidente de um órgão de gestão tenho de cumprir os meus deveres. Tenho de distinguir as águas entre o direito de, individualmente, as pessoas se manifestarem e as responsabilidades que tenho como presidente da escola”, esclarece João Simões.

Mas há também quem veja nas candidaturas um ato de cumplicidade ou conivência com as políticas educativas do ministério de Maria de Lurdes Rodrigues, que tanta contestação têm merecido.

Quando se soube que a vencedora do Prémio Nacional de Professores deste ano – Jacinta Moreira, da Escola Carolina Michaëlis, no Porto – tinha aderido à última greve, o facto foi politicamente usado no Parlamento. “Como interpreta que a ‘melhor’ professora do país tenha feito greve?”, perguntou o deputado do PSD Pedro Duarte à ministra da Educação, querendo demonstrar que o modelo de avaliação é rejeitado por quase todos os docentes, incluindo os que se distinguem pelos melhores motivos.

Independentemente das leituras e das explicações para a pouca participação no que poderia ser uma espécie de óscares da Educação – em Inglaterra, por exemplo, a atribuição destes prémios tem honras de transmissão televisiva -, a iniciativa é para continuar. As candidaturas à 3.ª edição já foram abertas pelo ME e podem ser apresentadas pela Internet até 31 de maio de 2009. As categorias continuam a ser as mesmas: Prémio Nacional (com direito a um cheque de 25 mil euros), Inovação, Carreira, Liderança e Integração.

Jacinta Moreira, professora de Biologia e Geologia, ainda não pensou no que vai fazer com o dinheiro, disse ontem ao P2. Vê o prémio como o “reconhecimento do trabalho” e, sobretudo, “um incentivo para persistir”. No currículo conta com uma licenciatura em Geologia, um doutoramento em Ciências da Educação e a autoria de sete manuais escolares e dezenas de artigos científicos. Nas aulas, tanto pode servir-se de um filme como de uma música de Maria Bethânia para pôr os alunos a refletir sobre reproduções e afetos, explicou quando o prémio foi anunciado.

Hoje retratamos os restantes premiados, escolhidos por um júri presidido pelo ex-ministro da Educação Roberto Carneiro. José Alves Rocheta, professor na Escola Secundária Dr. Azevedo Neves, Amadora, e vencedor do prémio Integração – pelo trabalho com alunos com necessidades educativas especiais ou de outras culturas -, mostrou-se indisponível para colaborar neste trabalho.

João Simões, presidente do conselho executivo da Escola Básica Padre Alberto Neto (concelho de Sintra), ainda hesita antes de lhe atribuir a alcunha, mas ao fim de alguns segundos acaba por admitir que Carlos Pinheiro é mesmo aquilo a que se chama um “cromo” da informática.

Já o era há 10 anos, quando João Simões chegou à quele estabelecimento de ensino e tudo o que era novidade na área das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) chegava pela mão daquele professor de História, ainda os computadores estavam longe de ser o objeto mais comum nas escolas e muito menos na rotina dos seus colegas.

“Foi um mentor e um estímulo para a utilização das TIC. Está sempre muito mais à frente. Fazia ações de formação para os outros professores e não os deixava desistir”, recorda o presidente da escola e promotor da candidatura de Carlos Pinheiro ao Prémio de Mérito Inovação, promovido pelo Ministério da Educação.

Quando se soube que tinha vencido, a reação na escola foi imediata: “Ficámos babadíssimos”, diz com indisfarçável orgulho João Simões, que, entretanto, arranjou outra alcunha para o colega. Em jeito de brincadeira, trata-o por “senhor professor inovador”, quando o P2 liga a Alberto Neto para combinar o trabalho.

Carlos Pinheiro, 43 anos, ri-se com o nome, mas garante que nada mudou na relação com os colegas. Diz que nunca foi muito “chegado” a prémios e foi até com “relutância” que aceitou que apresentassem a sua candidatura.

A humildade do professor de História, coordenador, nos últimos anos, do centro de recursos educativos da escola, torna-se evidente noutra expressão que lhe sai com frequência. Fala sempre na segunda pessoa do plural – o “nosso” trabalho, “nós aqui na biblioteca” – quando quase tudo o que se passa em torno do centro de recursos educativos da escola sai da sua cabeça e é o resultado das dezenas de horas de trabalho que, praticamente sozinho, dedica aos inúmeros projetos que criou.

Um dos mais bem sucedidos é o portal de recursos eletrónicos onde se encontram links para mais de 1500 páginas da Internet – de textos de apoio, fichas de trabalho ou exercícios relacionadas com várias disciplinas – e que conta com quase quatro milhões de visitas desde que foi criado, há dois anos.

Num dos computadores do pequeno centro de recursos da escola – onde muitas vezes é obrigado a pôr o letreiro de “lotação esgotada” – Carlos Pinheiro vai abrindo links atrás de links para mostrar os vários projetos que criou. Do blogue dedicado à leitura, passando pela página do HI 5 (rede social na Internet muito utilizada por adolescentes e jovens), onde está o “perfil” do centro de recursos educativos e que já conta com 169 “amigos”. Na prateleira ao fundo da sala, onde estão os muitos filmes da videoteca que montou – o cinema, sobretudo europeu, e a fotografia são outras das suas paixões.

Mas a iniciativa mais recente e a que lhe consome mais tempo é a criação de uma biblioteca digital, com mais de 500 eólios e secções dedicadas à escola, imprensa e imagens.

O objetivo é sempre o mesmo: chegar de forma mais eficaz aos alunos e levá-los a estudar mais e melhor, a ler mais, a saber utilizar as tecnologias de forma competente. “Quando fiz o estágio para professor, há 20 anos, percebi que a escola não tinha mudado nada desde os tempos em que lá tinha estudado. Senti que havia algo a fazer nesta área e que as tecnologias, pelo interesse que despertam, podem tornar a escola e a qualidade do ensino melhores”, explica.

Desde então, é isso que tem feito. Explorar as potencialidades das tecnologias, sabendo que não valem por si só. “São apenas um meio para melhorar o ensino, como eram as ardósias há uns anos. Não basta entregar os computadores nas escolas e dizer: ‘Agora é que vai ser bom.’ Por exemplo, com o Magalhães [portátil que o Governo quer fazer chegar a todos os alunos do 1.º ciclo gratuitamente ou a preços reduzidos] tenho sentido a ansiedade enorme que está criar nos professores porque foram entregues sem preparação prévia, sem software pedagógico”, critica.

Incansável na atualização dos seus projetos e apesar de há vários anos estar a tempo inteiro como coordenador do centro de recursos educativos, Carlos Pinheiro só este ano conseguiu deixar de dar aulas. Chamado a coordenar a nível concelhio a rede de bibliotecas escolares, viu-se obrigado a deixar de fazer o que mais gosta. “Gosto mesmo de ser professor. Vou chegar ao final do ano e sentir que falta algo”, confessa.

Não é o único. “Ele ensina bem, é meigo e sabe cativar-nos”, descrevem Carla e Renato, dois dos alunos que este ano deixaram de tê-lo como professor.

Tem qualquer coisa de Robbin Williams no filme O Clube dos Poetas Mortos. “Oh captain, my captain.” Mas com bigode, mais rugas em torno do olhar e sotaque nortenho a pontuar as interjeições. E uma carreira de professor construída, não à volta de Walt Whitman, mas de Ramalho Ortigão, Alexandre Herculano ou Eça…

Aos 61 anos, Afonso Rema, vencedor do Prémio de Mérito Carreira, ri-se da comparação com a personagem cinematográfica e garante que nunca, em nenhuma das centenas de aulas de Português e de Francês que deu, desafiou algum aluno a rasgar o prefácio de um livro. “Tenho muito respeito pelos autores. Mas é verdade que sempre tive a preocupação de criar um clima agradável nas aulas. Sem isso, a matéria não passa.”

O desafio de manter plateias de adolescentes presos a anacronismos como a lírica de Camões ou de Cesário Verde foi ganho à custa de ir espreitando a vida dos autores. “Dizem-me que sou bom contador de histórias e então vou contando aos meus alunos episódios da vida do Camilo, que foi julgado por adultério, do Eça, que tinha um pai juiz…”, explica.

Chez lui – sim, porque a escola em que ainda dá aulas, a Secundária Dr. Joaquim Ferreira Alves, em Valadares, Gaia, tornou-se uma espécie de segunda casa -, o P2 foi encontrá-lo a pouco tempo de iniciar uma aula no horário noturno no âmbito do Novas Oportunidades. Foi ele que pediu que o pusessem a trabalhar à noite, porque “a reforma está a chegar e não queria ter turmas de muita responsabilidade, com alunos que vão a exame”.

Passaram poucos meses mas ele, que, em 2003, conseguiu que uma turma chegasse ao 1.º lugar do ranking nos exames nacionais de Português A, já sente saudades de ensinar literatura. E, com a autoria de vários manuais escolares inscrita no currículo, Afonso Rema discorda dos que acham que Camões preferia perder outro olho a ler muito do que se escreve hoje em dia. “Essa linguagem dos telemóveis, por exemplo, nunca me apareceu em nenhum teste”, relativiza. Não raro, ele próprio se vale do domínio que os alunos têm no manuseamento das teclas do telemóvel para lhes pedir que lhe tratem dos SMS. “Quando preciso, passo-lhes o telemóvel para a mão e eles escrevem essas mensagens em segundos.”

Menos tempo para ensinar
Se calhar por causa dessa empatia é que teve a casa cheia de alunos quando, há uns anos, sofreu um enfarte de miocárdio. Mas isso exige tempo. “E hoje os professores, apesar de passarem mais horas na escola, têm menos tempo para ensinar”, lamenta, numa alusão direta à burocracia inerente ao modelo de avaliação do desempenho dos professores. Numa escola cujo conselho executivo é presidido pelo responsável máximo do Conselho de Escolas, álvaro Santos, este professor subscreveu a moção reclamando a suspensão do atual modelo. Mas esse é um livro que prefere manter fechado. “Não me apetece falar disso”, diz, quando lhe perguntamos se aderiu a alguma das manifestações de protesto.

Vagueemos então pelos blogues em que antigos alunos lhe traçam o retrato. Dizem que Afonso Rema é daqueles professores que conquistam os alunos a rir-se. Que se habituou a entregar os testes na aula seguinte a terem sido feitos, porque, de outra forma, seria incapaz de pedir contas sobre os trabalhos de casa. Que, tanto como ensinar, ajudou a definir vocações.

“O que o torna tão fora de série é o facto de despertar sorrisos em ocasiões em que sorrir era a última coisa que apetecia”, recorda uma ex-aluna – agora professora – num blogue (http://www.inseparabilidade.blogspot.com/).

Outro ex-aluno recupera o tempo em que o viu, quadro de lousa preta ao fundo, voltado para a plateia de alunos, confidenciar que do que gostava mesmo era de poder chegar à velhice com um Ferrari vermelho à porta de casa e um campo nas traseiras para cultivar. O carro em que se desloca não é vermelho e muito menos Ferrari. Mas terreno para cultivar já tem.

Antes que nos veja, já o vimos. Está distraído, junto a um dos pavilhões, com o auricular de um aluno nos ouvidos, a ouvir a música que o rapaz leva no aparelho portátil. Despede-se do aluno quando chamamos o seu nome. João Paulo Mineiro, 42 anos, venceu o prémio de mérito Liderança. é o presidente do conselho executivo da Escola Secundária com 3.º ciclo Quinta das Palmeiras, na Covilhã. Como é um dia normal? “São todos diferentes.”

é irrequieto, quer mostrar cada laboratório e projeto da escola (“deviam ficar cá uns três dias para ficarem a conhecer tudo”), mas suspeitamos que não é isto que o torna digno de um prémio. A verdade é que João Paulo Mineiro tem uma grande capacidade para convencer os professores com que trabalha de que, sim senhor, podem dar mais um bocado do seu dia à escola. E sem receber horas extraordinárias por isso – garante que nunca pagou uma que fosse. Inês Cravinho, professora de Geografia, sorri: “Ele sabe levar-nos muito bem. Gosta de ver toda a gente brilhar e consegue convencer-nos a dar mais do que estaríamos dispostos a dar naquele momento.”

João Paulo nem se importava que a professora dissesse que é chato. Ele sabe que chateia, mas por um bom motivo – está atento a qualquer programa a que a escola possa concorrer, para obter mais material, mais um equipamento essencial. Seja o que for. Trabalha, procura aqui, pede ali, e consegue.

Sentir melhor a escola
O resultado é sintetizado pela professora Inês: “Esta escola está a anos-luz de outras onde já andei, e que considerava boas escolas.” Na biblioteca, onde os miúdos enchem todos os computadores disponíveis e podem requisitar, além dos livros, CD, DVD e até portáteis (“nunca nos desapareceu nada, nem se estragou um computador”), a coordenadora Albertina Leitão chama a João Paulo “o grande motor desta escola”. Então e porquê? “Quando o presidente do conselho executivo não se empenha, as coisas acabam por não andar. Ele é muito dinâmico, tem muitas ideias e trata a escola como se fosse a casa dele”, diz.

João Paulo sai da biblioteca, entra no gabinete que partilha com três colegas (“não quero uma sala só para mim, preciso do contacto com as pessoas para sentir melhor a escola”), mostra a sala onde recebe os pais, o espaço “Aprender Compensa”, onde os alunos em risco de abandono contam com uma equipa multidisciplinar, e volta a sair para ser parado por um aluno de ar compenetrado, que lhe estende a mão. “Parabéns, ainda não o tinha felicitado.”

Hugo Matos, aluno do 11.º ano, parece ter preparado um discurso, mas não tem muito tempo para impressionar o professor, cuja atenção é agora disputada por dois jovens da associação de estudantes que lhe entregam um plano para um torneio de futsal. Querem saber quando podem contar com uma resposta. Ele promete uma conversa para o dia seguinte de manhã. Para João Paulo Mineiro o segredo da sua liderança não está no facto de ser muito exigente, perfeccionista (“à s vezes até me canso a mim próprio”) ou de dar à escola a maior parte do seu dia (chega antes das 9h e sai, muitas vezes, depois das 20h, porque gosta das horas mais sossegadas do final do dia para receber os pais dos alunos ou tratar de papelada). Nem sequer no facto de não conceber uma escola estática (“mudamos de estratégias sempre que é preciso; à s vezes, de semana para semana, parece uma escola diferente”). Para João Paulo o segredo está na forma como se lida com os alunos. “São tratados como pessoas. Foi-se construindo, ao longo dos anos, um sentimento de responsabilidade, de participação e civismo. Eles sabem que tudo na escola é para eles e tratam-na bem. Ficaria muito preocupado se não preparasse os alunos para serem cidadãos ativos da sociedade.”

Afonso Rema é professor de Português e de Francês na Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves, em Valadares. João Paulo Mineiro é presidente do conselho executivo da Escola Secundária com 3.º ciclo Quinta das Palmeiras, na Covilhã.

Biblioteca digital para crianças lançada amanhã

Público | 2008-12-17

“Está a surgir uma nova forma de leitura”.

Muito se tem dito sobre os hábitos de leitura dos portugueses não serem os ideais, principalmente os dos mais novos que, cada vez mais, se deixam enfeitiçar pela televisão e, acima de tudo, pela Internet. Como ultrapassar estas dificuldades? Juntam-se os livros à Internet. Desta associação nasceu a Biblioteca de Livros Digitais, que disponibiliza livros dirigidos a crianças e jovens para leitura on-line.

“Está a surgir uma nova forma de leitura”, afirmou Carlos Correia, diretor do Centro de Investigação para Tecnologias Interativas, responsável pelo projeto. “Queremos privilegiar as crianças mais novas, de sete, oito anos, mas sem deixar de lado as outras faixas etárias”.

Apesar da maioria dos livros serem infantis, alguns já são dirigidos para adolescentes. “Eu e a Isabel [Alçada] tivemos um desafio: ajudar as crianças mais novas a usar a informática, nomeadamente o Magalhães, de uma forma que as interesse.”

Na abertura, o site contará com nove livros digitais, alguns deles originais, outros já publicados, e durante o próximo semestre serão colocados mais 35. Os que estarão lá inicialmente serão muito mais do que um texto num computador. Permitirão folheá-los, contam com ilustrações, algumas delas animadas, e terão ainda a opção de serem lidos por atores. “é altamente criativo. Para os mais pequenos, o uso da voz por atores ajuda-as a ler melhor.”

A Biblioteca de Livros Digitais pretende também criar uma rede social. Aos registarem-se, os utilizadores poderão juntar-se como amigos e participar na secção Os Livros da Malta, onde cada um pode acrescentar algo no final de qualquer livro. “O livro passa a pertencer a alguém”, sugere Carlos Correia.

Esta biblioteca digital, criada em parceria com o Plano Nacional de Leitura, será apresentada amanhã de manhã na Escola EB1 de Telheiras e enquadra-se no Clube de Leituras, uma iniciativa lançada em junho do ano passado.

CD-Roms para ajudar estudantes a lidar com o stress

Lusa | 2008-12-15

Universidade de Coimbra pretende melhorar a vida académica e pessoal dos alunos.

A Universidade de Coimbra (UC) lançou hoje um CD-Rom interativo que visa ajudar os estudantes a lidar com o stresse dos exames, a aumentar a eficiência do estudo e a serem mais bem-sucedidos na vida académica.

Apresentado no Centro Cultural D. Dinis, o CD-Rom contém três manuais de formação e foi produzido pela equipa técnica do Gabinete de Aconselhamento Psicopedagógico dos Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra (GAP-SASUC), no âmbito de uma colaboração com o projeto “Plano de Apoio à Transição do Ensino Secundário para o Ensino Superior – Melhor Adaptação, Mais Resiliência, Mais Sucesso”, promovido pela Reitoria da UC.

Gestão e Controlo do Stresse no Ensino Superior, Métodos de Estudo e Desenvolvimento de Competências Pessoais, Sociais e Académicas são os três manuais incluídos e que visam facilitar a transição e adaptação dos estudantes no meio universitário.

De acordo com o gestor daquele projeto da Reitoria da UC, o pró-reitor José Manuel Canavarro, foram produzidos mil CDs para distribuir aos alunos e está a ser equacionada a criação de um link com os respetivos conteúdos.

Aprender a lidar com os pensamentos automáticos negativos que fazem, por exemplo, com que os jovens “bloqueiem” nos exames, ultrapassar a ansiedade causada pelas provas orais e conseguir que o estudo académico tenha mais rendimento são alguns dos ensinamentos transmitidos pelo CD, segundo explicou na sessão Anabela Pereira, coordenadora científica do GAP/SASUC.

Os alunos são também ajudados a serem bem-sucedidos na vida académica, através do treino das suas competências transversais, explorando dimensões como autoestima, a assertividade, empatia, resiliência ou liderança, entre outras.

“é para os alunos serem bem-sucedidos na sua vida pessoal, académica e interpessoal”, disse ainda Anabela Pereira, adiantando que os programas foram desenvolvidos ao longo do último ano letivo com alunos que recorreram aos serviços.

Os vice-reitores da Universidade de Coimbra Avelãs Nunes e Cristina Robalo Cordeiro, o administrador dos SASUC, Luzio Vaz, a responsável do GAP e o presidente (cessante) da direção-geral da Associação Académica de Coimbra, André Oliveira, foram outros dos participantes na sessão de lançamento do CD, intitulado “Plano de Apoio à Transição: Programas de Intervenção”.

Orçamento de Lisboa para 2009 prevê criação de transporte escolar

Público | 2008-12-12

643 milhões de euros é o montante global do orçamento camarário para 2009, anteontem aprovado pelo executivo. As principais áreas serão a reabilitação urbana, o espaço público e o ensino.

O orçamento de 643 milhões de euros da Câmara de Lisboa para 2009, anteontem aprovado na reunião do executivo municipal, vai permitir a construção de 11 novos estabelecimentos de ensino (ensino básico e jardins de infância) e prevê uma “intervenção profunda” em 16 jardins e sete miradouros da cidade. O presidente da autarquia, António Costa, destacou ainda a criação, em regime piloto, de um sistema de transporte escolar.

O autarca socialista sublinhou, em conferência de imprensa, que os projetos previstos para as áreas consideradas prioritárias no orçamento são a reabilitação urbana, o espaço público e o ensino. Nesta área prevê–se um programa de três anos que, para além de envolver a criação de novos estabelecimentos de ensino, também compreende a reabilitação com obras de beneficiação geral em 15 escolas.

Os bairros típicos lisboetas também serão alvo de intervenções e o executivo diz que o orçamento permitirá o alargamento do projeto de requalificação do Bairro Alto a outros bairros.

Na zona da Baixa/Chiado, os terraços do Quartel do Carmo vão ser transformados em esplanada e há ainda projetos novos para ascensores na Rua dos Fanqueiros e no mercado do Chão do Loureiro. Por sua vez, o Museu de Arte Antiga e a zona ribeirinha vão ficar mais próximas, através da criação de uma passagem desnivelada.

No espaço público, Costa destacou a rede de vias cicláveis e o sistema de uso partilhado de bicicletas que está previsto para a cidade e, em particular, para a frente ribeirinha, a inaugurar em junho.

O orçamento contempla cerca de um milhão e meio de euros para pequenas intervenções ao nível das freguesias, confirmando-se também a existência de verbas para o Plano Local de Habitação, coordenado pela vereadora Helena Roseta. No entanto, esta criticou o facto de o documento não fazer referência a estratégias entre 2010 e 2012.

Centro Interpretativo do Passeio Geológico da Foz do Douro inaugurado para unir a Ciência à Educação

Público | 2008-11-28

Os olhares atentos fixam-se num filme sobre a origem do planeta e sobre o processo de formação e degradação das rochas. é de Geologia que se fala no Centro Interpretativo do Passeio Geológico da Foz do Douro, ontem inaugurado junto à Praia dos Ingleses.

Agora, o simples curioso e o público amante do estudo da Terra já não têm motivos para fazer “em branco” o percurso geológico que a Foz do Douro oferece. Os visitantes partem para os dois quilómetros de percurso temático entre o Forte de São Francisco Xavier e a Praia dos Ingleses com a “mochila” ainda mais cheia de conhecimento.

Para além de documentos sobre a Geologia em geral e as rochas em particular, os mais interessados dispõem ainda, na pequena sala que constitui o Centro Interpretativo, de livros didáticos para os estudantes, guias de campo para os mais adultos e folhetos sobre os mais variados temas, mas sempre sobre o estudo da Terra. E não só em Português, mas também com tradução em várias línguas. é que, como esclareceu ao Público a coordenadora do projeto, Luísa Borges, a criação do Centro Interpretativo da Foz do Douro está altamente “vocacionada para promover o turismo científico estrangeiro”.

Os visitantes do centro podem ainda “ver e experimentar os instrumentos com os quais trabalham os geólogos”, assinalou Luísa Borges. Assim, “quando vão para a visita, já vão com uma noção mais clara sobre aquilo que irão ver”, acrescenta. é que “com o apoio dos livros é muito mais simples”, diz.
Uma pequena sala, com algumas cadeiras, documentos e microscópios basta. A ideia é que o centro seja um ponto de partida para a viagem pelo passeio geológico existente na Foz do Douro, desde 2005. O percurso do passeio é constituído por seis paragens assinaladas com cartazes explicativos. Durante a viagem de dois quilómetros, os viajantes aprofundam conhecimentos, por exemplo, sobre a erosão das rochas ou os vários tipos de afloramentos existentes.

Conciliar a Ciência e a Educação é, como defende o vereador do Urbanismo, o grande preceito da estrutura nascida por colaboração da Câmara do Porto com o departamento de Geologia da Faculdade de Ciências. O projeto conta ainda com o apoio da agência Ciência Viva. Por enquanto, as portas do Centro Interpretativo abrem-se apenas “por marcação”. O alargamento dos horários vai depender da recetividade que o centro vá adquirindo ao longo do tempo, e que a coordenadora “espera que seja grande”, especialmente em épocas de bom tempo, quando as visitas de estudo se avolumam.

Documentos sobre animais e plantas na Internet

Público | 2008-11-23

Vai ser possível ler, gratuitamente, 1500 documentos que o Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB) está a digitalizar e a colocar no seu portal na Internet (portal.icnb.pt), com mais de 30 anos de informação sobre plantas, animais e áreas protegidas.

Paula Abreu, coordenadora do projeto, conta ter disponíveis pelo menos 500 relatórios e publicações até ao final do ano. Por enquanto ainda só estão acessíveis documentos sobre o Parque Nacional Peneda-Gerês e o Parque Natural de Montesinho.

Na biblioteca digital, organizada por áreas geográficas e temáticas, já se pode ler sobre os cogumelos e a floresta natural da Peneda-Gerês, a vegetação do rio Sabor e os moinhos de água de Vinhais, sobre o gato-bravo, o lobo, a lontra e os morcegos de Montesinho.

“é um trabalho muito exigente, tem de ser feito aos poucos”, contou ao Público Paula Abreu. Em 2006, o ICNB começou a visitar as 25 áreas protegidas do país e a estudar o seu arquivo central em Lisboa para reunir documentação dispersa. Muita informação apenas existia nas sedes de parques e reservas espalhadas pelo país.

“Há pessoas que nos pedem informação sobre aspetos específicos das áreas protegidas, mas são as plantas ameaçadas e aromáticas as mais procuradas”, comentou Abreu.
Quiseram viver a ciência e contam que valeu a pena

Público | 2008-11-22

Associamos todos o Ciência Viva a grupos de miúdos em laboratórios, de bata, a mexer, a testar. Mas os miúdos crescem. E alguns dos que quiseram experimentar assim a ciência, quando andavam no secundário, acabaram por escolhê-la como profissão.

São três histórias com alguns pontos comuns. Verónica Gomes, 25 anos, queria ser veterinária e hoje é investigadora na área da genética populacional. Filipa Sousa, 22, estava à procura de qualquer coisa na área da “investigação científica” e hoje estuda genes associados ao cancro do cólon. António Freitas, 20, estava confuso quanto ao futuro e hoje frequenta o segundo ano do curso de Eletrónica Industrial. Ponto comum: foi o programa Ciência Viva que lhes deu certezas sobre o futuro. Outro ponto comum: valeu a pena.

Ao longo de 12 anos, o programa, da Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, envolveu já mais de 600 mil estudantes e três mil escolas em projetos de ensino experimental das ciências na escola. E a ação Ocupação Científica de Jovens nas Férias permitiu que, nos últimos dez anos, mais de 6500 tivessem experimentado o quotidiano de um trabalho de investigação.

Verónica fez a sua primeira ação de Ciência Viva, no Planetário do Porto, com 16 anos. Na altura frequentava a Escola Secundária de São Pedro da Cova, em Gondomar, e sonhava ser veterinária. No ano seguinte, quis repetir o programa, mas dessa vez passou as duas semanas de férias no laboratório do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (Ipatimup). Quando fez o curso de Biologia já tinha uma meta bem definida: “Voltar a trabalhar no Ipatimup tornou-se o meu objetivo.” Está cumprido.

Tem 25 anos e fala com o P2 na bancada do Ipatimup, onde está a fazer um doutoramento sobre caracterização genética das populações africanas, sob orientação da especialista Leonor Gusmão. O tempo passou e até já orientou na sessão de 2007 duas alunas do Ciência Viva. “Elas vinham muito nervosas mas tentei fazer com elas o que fizeram comigo. Deixar que fossem elas a explorar, e tentei dar-lhes responsabilidade.” Uma dessas meninas já lhe mandou um mail para dizer que foi para Biologia. Com aconteceu com ela.

Já passaram quase oito anos. Verónica lembra: “Adorei. Vinha completamente em branco. Acabei por fazer colheitas de material que vinha com tumor, contagem de células malignas.” O que esperava quando chegou? “Queria aprender mais” – sempre foi “muito aplicada”.

Parece óbvio que os jovens que “caem” nas ações do programa Ciência Viva são alvos fáceis. São alunos que logo no momento da inscrição (no site http://www.cienciaviva.pt/home/) revelam queda para estas áreas. Mas Verónica Gomes sublinha que aquelas férias de verão lhe deram mais do que a possibilidade de entrar num território apetecível. “Isto marca uma pessoa. Na escola não temos acesso a isto.”

Cura para o cancro
Filipa Sousa também já tinha uma inclinação para a ciência. Era uma daquelas miúdas que queriam um dia encontrar uma cura para o cancro ou para a sida. Os ambiciosos planos desta rapariga tímida tornaram-se mais realistas e no final do secundário sabia que o seu futuro haveria de passar pela “investigação científica”. Faltava saber qual. A “confirmação de que era mesmo isto que queria” teve o patrocínio do Ciência Viva.

“Abri os meus horizontes”, diz depois de três experiências no programa (duas semanas de engenharia química no Instituto Superior de Engenharia do Porto, em 2003, uma semana no serviço de bioquímica do Hospital de S. João, em 2004, e finalmente duas semanas no Ipatimup). “Sabia muito pouco quando cheguei ao Ipatimup. Não sabia pegar numa pipeta. Aqui vesti uma bata e trabalhei com DNA. Não tem nada a ver com a escola. é tudo muito à frente. Tivemos mesmo que trabalhar! O Ciência Viva é muito importante para trazer os alunos à realidade e acabar com a visão romântica que podemos ter.”

Fez o curso de Bioquímica e, quando chegou a altura de escolher um local para estagiar, no seu segundo ano de mestrado, pensou no Ipatimup. Voltou para fazer a tal investigação científica. Hoje, estuda um gene que poderá estar associado ao cancro do cólon. Sobre a cura para o cancro diz: “Se calhar não está nas minhas mãos uma coisa tão grande. Mas espero estar a contribuir de alguma forma para isso.” Filipa cresceu e põe um ar sério, concentrado, quando confessa que já não faz “planos a longo prazo”.

António Freitas gostava de eletrónica mas “estava confuso”. Foi há apenas dois anos e hoje, com 20 anos, garante que as dúvidas estão esclarecidas. Uma participação no festival de robótica e no Roboparty, duas iniciativas organizadas pela Universidade do Minho e apoiadas pelo Ciência Viva, terão sido suficientes para lhe dar as certezas de que precisava. “Estava vocacionado para isto, mas estas experiências ajudaram na decisão e muito. Na escola não temos nada disso. Nem material, nem nada”, conta o aluno da Universidade do Minho. Para António, o impacto que o programa parece ter nas vidas dos alunos assenta num ponto simples: “Ao fazer projetos, vai-se ganhando gosto e só queremos aprender mais e mais.”

Houve outras vidas tocadas pelo Ciência Viva. Como a de Luís Cirnes, investigador do Ipatimup que parece conhecer os nomes e rostos dos quase 300 alunos que passaram pelo instituto à boleia do programa. “Queremos que trabalhem aqui. Que vistam a bata e que façam o que faz um investigador”, diz, notando que o registo está limpo de desistências. Muitos querem voltar no ano seguinte mas, para esses, a resposta do investigador é desarmante: “Já viste que se os teus colegas do ano passado tivessem pensado assim tu não estarias aqui este ano?”

A agência nacional não terá mudado a vida de Fernando Ribeiro mas, pelo menos, deu uma ajuda. Desde 2001 que o professor da Universidade do Minho organiza o Festival Nacional de Robótica e o Roboparty, apoiados pelo Ciência Viva. “Isto muda muito as vidas dos miúdos. Ações como o Roboparty, onde eles passam três dias e duas noites a trabalhar para construir um robô, têm um efeito. Na primeira noite nem dormem com o entusiasmo. Depois, escrevem mails a fazer perguntas sobre outros projetos. Pode ser decisivo na escolha do percurso profissional. Os pequenitos adoram ver como a ciência funciona.”

Ana Noronha, diretora executiva do programa Ciência Viva, não hesita: “A minha vida mudou certamente. E espero ter contribuído para mudar a vida de muitos jovens.” é que, além do lado mais visível do programa com 12 centros espalhados pelo país, “há uma mão oculta que faz acontecer muita coisa”.

Fim de semana na FIL
O Ciência Viva, faz questão de esclarecer, não é só miúdos a fazer experiências de ciência. “Há palestras, debates, exposições, excursões, etc.” Mais do que isso, também organiza ações para adultos. E Ana Noronha defende que, tanto como funcionar como gatilho para a construção de carreiras profissionais, a maior vitória do programa foi criar um novo conceito: “As pessoas chamam ciência viva a coisas que não são nossas. Acho incrível, por exemplo, entrar numa escola e ver escrito algo como: ‘Hoje temos Ciência Viva.’ é um termo que hoje está associado a atividades experimentais. Acho que ter criado essa confusão foi a nossa maior conquista.”

A diretora executiva sabe que 12 anos é pouco e falta fazer muito. Falta, por exemplo, “criar iniciativas para captar as camadas mais desfavorecidas”. Ou seja, conquistar as pessoas que não são como Verónica, Filipa e António e não têm queda para estas áreas.

Um passo nesse sentido é ter este ano, pela primeira vez, o fórum aberto ao público. O Fórum da Ciência Viva – “ponto de encontro entre a ciência que se faz, que se ensina e se divulga” – ocupa este fim de semana um pavilhão da FIL, em Lisboa, anunciando uma “festa da ciência”. Há um pouco de tudo. Desde workshops a conferências, passando por debates, oficinas e até lançamentos de iniciativas como a ação Ler+, dedicada especialmente à ciência. No local, diz o programa, será possível “explorar uma casa ecológica, extrair o seu próprio ADN, interagir com um robô ou reproduzir algumas técnicas pré-históricas de fabrico de pigmentos.”

Promete-se falar de “organismos geneticamente modificados, células estaminais e outros que tais”, do projeto Pólen e Volvox; e, entre outros workshops, está até agendada a apresentação de um possível elixir da longevidade. Trata-se de um trabalho desenvolvido num projeto Ciência Viva por um professor e alunos (com idades entre os 12 e 14 anos) de uma escola de Vila Nova de Poiares. Consiste no estudo inédito do “extrato purificado de uma planta que vive mais de cinco mil anos” e que quer demonstrar, através de uma simples experiência, que é possível aumentar a longevidade de seres vivos.

Assim, se a sua vida não mudar no Ciência Viva este fim de semana pode, pelo menos, aprender como prolongá-la.

Escolas do Algarve assinam protocolo com o Banco Alimentar contra a Fome

Lusa | 2008-11-03

Institucionalizar prática que já existe. Esta aposta serve para “dinamizar o espírito cívico e de solidariedade dos alunos e professores”.

Três dezenas de escolas do Algarve assinam esta terça-feira um protocolo com o Banco Alimentar contra a Fome com o objetivo de oficializar uma prática de recolha de alimentos para famílias carenciadas. A atividade vem sendo desenvolvida nos últimos anos.

Adriano Pimpão, responsável pelo Banco Alimentar contra a Fome (BAF) no Algarve, explicou que o protocolo que vai ser assinado com a Direção Regional de Educação do Algarve “vem institucionalizar uma prática que já existia com as escolas”.

“Há escolas que já faziam recolha de comida, como por exemplo a Escola Secundária Tomás Cabreira”, assegurou a mesma fonte.

“Dinamizar o espírito cívico e de solidariedade dos alunos e professores para participarem nas campanhas de recolha de alimentos”, bem como “angariar mais voluntários para as campanhas” são os dois grandes objetivos do protocolo entre as escolas e a organização não governamental.

O Banco Alimentar contra a Fome pretende combater o desperdício dos bens alimentares que existem nas sociedades atuais e redirecioná-los para as famílias carenciadas.

O protocolo é subscrito por 32 escolas do Algarve e a cerimónia está agendada para as 17h00, no Auditório da Direção Regional de Educação do Algarve

O filme A Turma estreia hoje mas os pais portugueses dizem que a nossa escola não é assim tão má

Público | 2008-10-30

Quatro pais assumem o divórcio da maioria dos encarregados de educação com a escola. Mas as culpas, ressalvam, “têm que ser repartidas”.

“Graças a Deus, esta não é a nossa escola”. A frase sai com um suspiro de alívio e é subscrita pelos quatro pais que o Público reuniu numa sala para ver A Turma, o filme em que o francês Laurent Cantet retrata as tensões de uma escola de um bairro problemático de Paris – em estreia hoje nas salas portuguesas.

Não é que não se repitam nas salas de aula portuguesas os episódios de tensão retratados no filme que, aliás, viaja entre a ficção e o documentário e até é protagonizado por alunos de uma escola real. E não é que não aconteça a estes pais detetarem nos filhos o mesmo tédio em relação à escola nem que não lhes intuam uma ocasional insolência perante a autoridade do professor. Mas, ainda assim, estes pais não se reveem no filme que venceu a Palma de Ouro no último Festival de Cannes. “As nossas turmas não são iguais a esta turma que é multirracial e composta quase só por alunos problemáticos. As nossas turmas têm alunos com problemas, mas temos conseguido fugir à quela coisa de criar as ‘turmas dos maus’ e as ‘turmas dos bons’ – que é, aliás, reforçada pelos próprios rankings”, rejeita Manuel Monteiro, de 60 anos, pai de um adolescente com 17, para quem “o normal nas escolas portuguesas é colocar dois ou três alunos problemáticos numa turma boa para que eles sintam a pressão dos melhores”. No filme, “o que se vê são dois ou três bons alunos que são puxados para baixo por uma turma de maus alunos”.

Colocado no centro de uma acesa discussão sobre a escola atual, o filme o que faz é desdramatizar o conflito: assume que os alunos se aborrecem e que os professores se deixam frustrar e conclui que isso decorre da própria natureza da escola. Quanto aos pais, surgem como meros espectadores do enredo. Há uma mãe cujo filho está na iminência de ser expulso e que não percebe sequer as razões pelas quais isso acontece porque não fala francês. O episódio ilustra uma realidade multirracial, mas também pode servir de metáfora à incomunicabilidade entre pais e escola.

“Muitos pais demitem-se e limitam–se a descarregar os filhos na escola, também porque não têm tempo”, reconhece Adelaide Veludo, advogada, com dois filhos adolescentes. Mas, para o engenheiro João Queirós, pai de outro adolescente, a escola também não está preparada para acolher os pais. “Quando um pai é atendido num corredor por um professor sem tempo, dificilmente volta lá uma segunda vez”, acusa. O raciocínio é reforçado por Adelaide: “Os horários em que os diretores de turma estão disponíveis não são compatíveis com os horários dos pais que trabalham”.

No filme, o conselho de turma reúne-se para avaliar o comportamento dos alunos e comunicá-lo aos pais presencialmente. “Na escola do meu filho não fazem reuniões com os pais em separado”, diz João Queirós, segundo o qual as cadernetas, que deviam servir de correia de transmissão entre a escola e pais, chegam muitas vezes ao fim do ano letivo vazias. “Contam-se pelos dedos os recados que nos chegam através das cadernetas…”.

Para Cristina Braga, mãe de uma adolescente com 14 anos, há pais que se importam e pais que mantêm os filhos na escola porque só assim é que conseguem aceder ao Rendimento Social de Inserção. E outros “que podem receber cinco cartas registadas que continuam sem pôr os pés na escola”, reforça Manuel Monteiro, que procura razões históricas para este divórcio: “A partir de 1930, os pais foram proibidos de ir à escola e eram chamados só quando havia mau comportamento dos filhos. Depois, com a massificação do ensino, a escola abriu-se, mas o hábito de os pais irem à escola entretanto perdeu-se”.

Perto do final do filme, uma aluna confessa ao professor que não aprendeu nada durante o ano. “A escola não lhe disse nada, porque ela não está vocacionada para aquilo”, interpreta Adelaide Veludo, para quem devia haver programas adaptados aos alunos que não querem entrar na idade adulta pela via da escolaridade. “Há alunos que andam na escola a encher pneus, que acabam por fazer o 9.º ano mas que basicamente estorvam os que querem aprender”. Para esta mãe, “a solução era começar os cursos profissionalizantes mais cedo”.

João Queirós também diz saber de alunos insatisfeitos com a turma. “São alunos preocupados com as médias que não se sentem bem porque as aulas estão sempre a ser interrompidas por três ou quatro que não querem estar ali”. Para estes pais, o Inferno são os outros. é da natureza deles.

Biblioteca Itinerante de Vila Real leva livros aos reclusos a partir de hoje

Lusa | 2008-10-30

Serviço vai repetir-se uma vez por mês. Os reclusos que queiram requisitar um livro apenas têm que se inscrever.

Os reclusos do Estabelecimento Prisional de Vila Real podem, a partir de hoje, requisitar livros e revistas através da biblioteca itinerante, um gesto que se vai repetir uma vez por mês. Disponibilizado pela Biblioteca Municipal Júlio Teixeira, o serviço vem juntar-se aos circuitos sénior e júnior, que passam periodicamente por seis lares de idosos e 52 escolas do concelho de Vila Real.

Segundo Vítor Nogueira, diretor da biblioteca, os reclusos que queiram requisitar um livro apenas têm que se inscrever. Com esta iniciativa, a Biblioteca Júlio Teixeira pretende criar um veículo que funcione como uma extensão das suas instalações.

Apesar de já ter 169 anos de existência, a biblioteca de Vila Real possui um edifício construído de raiz, há apenas dois anos, onde está guardado um acervo com mais de 47 mil livros. O grande objetivo de Vítor Nogueira é atingir os 60 mil volumes até ao final de 2009.

Entre o acervo da biblioteca, destacam-se alguns volumes com cerca de quatrocentos anos, que foram legados por três conventos, em tempos, existentes no concelho. Por entre a coleção, pode encontrar-se uma primeira edição do livro de Padre António Vieira.

A partir de novembro, passa a funcionar no edifício o atelier “A minha turma salva um livro”, que tem como objetivo ensinar à s crianças algumas técnicas de restauro e conservação.

Estão inscritos na biblioteca vila-realense 2744 leitores, mas, segundo o responsável, este ano já passaram pela estrutura cerca de 53 mil utentes.

chef foi à escola, os alunos entraram na cozinha e os alimentos ganharam novas cores em Cascais

Público | 2008-10-29

O cozinheiro italiano utilizou alimentos correntes polvilhados com doses de criatividade q.b. para captar a atenção dos mais novos.

Augusto Gemelli não corre. A cozinha torna-se mais pequena, assim tão cheia. Gira sobre si mesmo e limpa o suor de uma busca interior. Percorre com o olhar os instrumentos, junta ingredientes, pinta de verde pedaços de batata, agita as frigideiras, completa a receita.

Na cozinha da Escola EB 1 n.º 2 de Cascais, o cozinheiro italiano, com a ajuda de várias funcionárias, parte à procura de um ingrediente especial: a criatividade. Para despertar o interesse de um público muito resistente à comida saudável, dão-se novas cores e novas formas aos já habituais alimentos que povoam os pratos das principais escolas portuguesas.

Na cozinha, Augusto Gemelli não corre, mas há quem o faça. As funcionárias da escola mostram mais pressa. De um lado para o outro, ultimam a primeira refeição que – ontem – deu vida ao projeto O Chef Vai à Escola. A iniciativa é financiada pela Câmara Municipal de Cascais, no sentido de promover, entre alunos e professores, o caminho por uma alimentação mais saudável.

Isabel Passarinho, uma das responsáveis pelo projeto, fala numa luta que tem lugar todos os anos nas escolas. é a luta dos vegetais e legumes versus crianças. Na maioria das vezes, são os mais novos que vencem, com a ajuda de uma arma de peso: a birra. A iniciativa surge, pois, no sentido de tornar a comida dos refeitórios mais apelativa, sem alterar ingredientes nem aumentar custos. “Houve uma necessidade local de trabalhar a educação alimentar”, disse a responsável.

Na receita deste projeto, juntam-se os seguintes ingredientes: nove escolas do concelho, nove chefs famosos a custo zero, vários funcionários, diversos alimentos, muitos alunos, alguns professores, algum aparato e criatividade q.b. Resultado? Grande animação da criançada, muitas perguntas feitas ao cozinheiro, prato original e apelativo, porque afinal os olhos também comem. E, claro, um pouco de birra também não podia faltar, mais não fosse pela obrigação de comer sopa.

Na primeira escola a receber o projeto, enquanto uns comiam, outros aguardavam. A espera fazia-se lá fora, em fila pouco alinhada, que balançava ao ritmo da excitação e do vento que debandava mais do que o habitual. A ementa estava já a ser saboreada pela primeira levada de alunos. Primeiro a sopa de grão mais a custo, depois os pedaços de batata salteada e o peixe coberto de pão (ralado) de tomate e orégãos e, por fim, a sobremesa: risotto de leite com banana e espuma de canela.

Augusto Gemelli acredita que a iniciativa pode ter um resultado positivo caso tenha continuidade. O cozinheiro conhece Portugal há 12 anos e entende que as escolas portuguesas têm um problema: as instalações, que não permitem que a comida seja confecionada no seu interior e tenha de ser distribuída por uma empresa de catering. Das 69 escolas do concelho de Cascais, apenas nove confecionam as refeições nas suas cozinhas.

Por outro lado, o caminho para melhorar a alimentação dos alunos passa, segundo Gemelli, por “afastar a fast-food e provocar a curiosidade e abrir os horizontes gustativos das crianças”.

Isabel Passarinho revela que a câmara pretende continuar o projeto e está já a cozinhar, junto da Associação de Cozinheiros Profissionais de Portugal, a realização de workshops dirigidos a agentes educativos e à s famílias dos alunos.

Livros digitais: Google chega a acordo com autores e editores norte-americanos

Público | 2008-10-28

A empresa vai financiar parte dos direitos de autor.

Depois mais de dois anos de negociação a empresa norte-americana Google conseguiu chegar a um acordo amigável com o Sindicato de Autores norte-americanos (Authors Guild) e com a Associação de Editores Americanos a propósito do seu projeto de pesquisa de livros, o Google Book Search que foi lançado há quatro anos, mas vai ter que lhes pagar 125 milhões de dólares (99,8 milhões de euros).

O conflito existia há anos por causa do projeto da empresa Google de digitalizar milhões de livros e de os colocar disponíveis, em alguns casos na íntegra, na Internet. O acordo terá agora de ser ratificado por um tribunal norte-americano, e prevê que a Google financiará uma parte dos direitos de autor e terá a seu cargo as despesas do processo em nome coletivo que foi intentado contra si por autores (em setembro 2005) e um outro, acionado pelas editoras McGraw-Hill, Pearson Education, Penguin, Simon & Schuster e John Wiley (um mês depois).

Este acordo vai permitir ao Google aumentar o número de livros que se podem procurar, ler e comprar através deste projeto. E os autores e editores das obras que ainda estejam abrangidas pelos direitos de autor vão ser compensados monetariamente. Todas as obras que estiverem com a edição esgotada nos EUA vão ficar disponíveis para leitura integral pelos americanos. Este acordo só terá efeito nos EUA, fora do território da lei americana continuará tudo na mesma.

“O acordo reconhece os direitos e os interesses dos detentores de direitos de autor, dá-lhes um meio eficaz de controlar o acesso online à sua propriedade intelectual e permite-lhes serem remunerados pelo acesso à s suas obras na Internet”, anunciaram os envolvidos. Vai ser criado um fundo, o Book Rights Registry, onde ficarão registados todos os direitos dos livros e que poderá ser consultado quer por editores quer por autores.

O acordo está disponível online e pode ser consultado em http://books.google.com/booksrightsholders/agreement-contents.html.

Resíduos eletrónicos reciclados por escolas

Público | 2008-10-24

Perto de 400 escolas e 260 mil alunos de todo o país estão envolvidos numa campanha de recolha e gestão de Resíduos e Equipamentos Elétricos e Eletrónicos, numa iniciativa “inédita” da associação Amb3E.

O projeto visa “sensibilizar” os jovens para o esforço de reciclagem e valorização de equipamentos elétricos e eletrónicos em fim de vida. O tema será incluído nos planos curriculares, pelo que são disponibilizados materiais didáticos diversos, desde fichas de trabalho e propostas para trabalhos de área de Projeto, salienta a associação em comunicado. Espera-se que o projeto se reflita nos hábitos familiares.

Uma Bíblia em audiolivro para crianças

Público | 2008-10-23

Uma Bíblia para crianças, em audiolivro, foi editada pela fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), recolhendo 99 textos bíblicos e adaptados numa linguagem acessível aos mais novos. O projeto completa a edição desses mesmos textos em livro mas é complementado, nesta edição com três discos, com várias canções. As receitas deste audiolivro, com o título Deus Fala aos Seus Filhos, destinam-se a apoiar o seu envio para crianças mais pobres de países lusófonos. A AIS é uma organização internacional católica de apoio a cristãos pobres ou perseguidos.

Sobre a sua história pessoal com a Bíblia falou o cardeal-patriarca na terça-feira à noite, na Fundação Gulbenkian, em Lisboa. Na conferência, no âmbito da exposição Weltliteratur, D. José Policarpo afirmou que o desconhecimento da Bíblia é “uma forma de iliteracia cultural” e “não apenas uma carência do ponto de vista religioso”, significando “perder de vista uma parte decisiva do horizonte onde historicamente nos inscrevemos”.

Num registo confessional, o patriarca afirmou que “os textos mais apaixonantes são aqueles em que o autor deixa um vasto espaço para o leitor”. E contou que começou por ler os “que procuravam demonstrar racionalmente a existência de Deus”, e os “que questionavam a existência de Deus, de Marx a Camus”.

“Se os argumentos da razão não conseguiam dar-me força para comprometer a vida com Deus, a negação de Deus em nome da grandeza do homem […] mergulhavam-me numa dolorosa sensação de vazio e de ausência de sentido”, admitiu.

D. José entrou depois nas “narrativas de vida” e na história. Passou pela “grande literatura portuguesa” de Eça, Camilo, Garrett. Procurou as “narrativas de experiências espirituais” de quem viveu “um drama semelhante” ao seu – Agostinho de Hipona, Teresa de Lisieux ou Edith Stein. A poesia e a pintura apareceram no caminho: “A longa caminhada da humanidade na busca da verdade e do sentido pode ser escrita sob a forma de uma história da beleza”. A Bíblia, importante para a “identidade europeia”, está no culminar desse processo.

“O professor do meu filme corre riscos, mas não quis fazer dele um exemplo”

Público | 2008-10-23

Laurent Cantet em Lisboa para apresentar o filme vencedor da Palma de Ouro em Cannes.

Laurent Cantet não quis fazer da sua personagem, o professor do filme A Turma, uma figura exemplar de um professor de liceu francês. Mas foi precisamente nisso que François se tornou aos olhos de vários professores franceses. E foi por isso que os incomodou – não se reviram naquela estratégia pedagógica.

“Os professores não são todos assim. Nós criámos uma personagem de ficção”, explicou o realizador ontem, numa conversa com jornalistas na embaixada de França em Lisboa, horas antes de A Turma passar no festival DocLisboa (tem a estreia nas salas marcada para o próximo dia 30). “Há professores que funcionam como ele, que correm os riscos que ele corre. Mas nada no filme diz que ele é um exemplo.” E, sublinha, o filme “não é um documentário” e não deve ser visto como tal, apesar de ser feito com alunos e professores que não são atores profissionais.

Cantet admite, contudo, “uma certa simpatia por esta pedagogia”, em que o professor acredita “que a primeira etapa da transmissão é a sedução e que é preciso instaurar um diálogo com os alunos para lhes passar algum conhecimento”. E isso é correr riscos.

“Lembrámo-nos de vários filmes americanos em que o professor aparece como uma referência, alguém que nunca se engana”, conta, para explicar que procuraram precisamente o oposto. “Aqui quis mostrar como aquele professor é alguém confrontado com tantas perguntas, com tantas coisas à s quais tem de reagir em segundos que acaba por dizer coisas que não devia ter dito e ultrapassar um limite, numa atitude que os alunos não lhe autorizam.”

A Turma parte de um livro de François Bégaudeau, baseado na experiência deste numa escola (e Bégaudeau é também o “ator” que faz de professor no filme). Cantet criou um atelier, no qual os alunos podiam inscrever-se, e durante um ano trabalhou com aqueles que se mostraram interessados. “Não quisemos criar uma turma modelo, e não pensámos em quotas, com x chineses, x negros, x árabes”, garante. Mas, naturalmente, o filme acaba por refletir essa diversidade étnica – e os problemas que dela decorrem – existente em muitas escolas francesas.

A questão da autoridade
O sucesso do filme – e sobretudo a Palma de Ouro no Festival de Cannes – foram muito importantes para os alunos-atores, que “estão mais habituados a ser apontados a dedo e chamados idiotas do que a ser reconhecidos pelo seu trabalho”.

As cenas foram discutidas, mas o realizador quis dar espaço para a improvisação e optou por fazer “uma coisa mais sentida do que refletida”. “Para mim a questão da autoridade não é central no filme”, afirma. Interessavam-lhe, antes, “os momentos em que o professor aceita instaurar um debate”, em que se coloca numa posição quase de igual para igual relativamente aos alunos. E, embora partisse de um livro escrito por um professor, Cantet não quis privilegiar o ponto de vista deste em detrimento do dos alunos. “Filmamos sempre um pouco de perfil, quer o professor quer os alunos, colocando-os nessa posição quase de igualdade.” E interessa-lhe “o tipo de relação que se pode estabelecer entre aquelas 25 pessoas nesses momentos de reflexão”.

Cantet foi um aluno “talvez bem comportado de mais”, mas isso passou-se “há 30 anos, numa pequena cidade de província”. Hoje a escola – e sobretudo numa grande cidade como Paris – é muito diferente, e ele sabe-o também porque tem dois filhos adolescentes. Com este filme quis entrar nesse mundo no qual, geralmente, não entra mais ninguém para além dos alunos e dos professores.

“Em França o meu filme chama-se Entre les murs [Entre as paredes] porque partiu dessa vontade de ir ver o que se passa para lá das paredes de uma escola. Os meus filhos, por exemplo, contam-me muito pouco sobre o que se passa ali, é o mundo deles, o primeiro espaço de independência em relação aos pais.”

E os professores, por seu lado, também tendem “a proteger-se por trás das paredes” da escola, até porque esta é “uma profissão muito exposta” e “toda a gente tem sempre qualquer coisa a dizer sobre o que deve ser um professor”.

Castelo Branco: Jogo sobre segurança rodoviária e arte vai chegar a 30 escolas do distrito

Lusa/Público | 2008-10-21

O objetivo é ensinar à s crianças bons comportamentos a adotar nas estradas. Iniciativa pode chegar a outros pontos do país.

Um jogo sobre segurança rodoviária e arte vai viajar nos próximos três anos por trinta escolas de Castelo Branco. Com o nome “Segurarte”, o jogo foi criado por duas companhias de teatro que pretendem pôr em ação 600 alunos do primeiro ciclo, inicialmente apenas em freguesias do distrito, mas a ambição é chegar a outros pontos do país.

Numa sala de aula ou num pavilhão desportivo, os alunos de uma turma dividem-se em duas equipas e debruçam-se sobre um tabuleiro gigante, onde tentam ser os primeiros a completar as provas, desde a casa de partida até à chegada. Por entre sinais de trânsito e uma maquete de uma cidade, com um palco ao centro, há tarefas para peões, ciclistas, passageiros de autocarro, além de outros cenários de trânsito que os alunos podem encontrar no dia a dia. Mas também há arte…

No jogo, coordenado por duas animadoras das companhias de teatro, as crianças podem ter que identificar sinais de trânsito ou explicar as ações corretas a tomar em determinadas situações. “Ou podem também ter que fazer um desenho, pintar, ou fazer uma pequena representação teatral”, refere Rui Sena, diretor da associação de artes performativas Quarta Parede.

“O jogo serve para explicar à s crianças como devem circular e ligar esta ideia a visitas a museus e teatros. Ou seja, queremos indicar como atravessar a rua e mostrar que o podem fazer em direção à arte”, sublinha.

A iniciativa é apoiada pela Scutvias, concessionária da Autoestrada da Beira Interior (A23), Autoridade Nacional para a Segurança Rodoviária e Governo Civil de Castelo Branco, “num investimento direto que ronda os 35 mil euros por ano”, informou Levi Ramalho, diretor-geral da empresa.

Segundo diz, a iniciativa é “uma forma muito interessante de abordar a segurança rodoviária. é um trabalho que nos compete a todos, em várias frentes, e está a uma delas, junto das crianças”.

Por sua vez, a governadora civil de Castelo Branco, Alzira Serrasqueiro, acredita que a iniciativa “vai ser um êxito” e que “pode ser usada por todo o país”. “Esta é a primeira versão. Acredito que vai haver afinações”, referiu, anunciando a intenção de convidar outros governadores civis e a Autoridade Nacional para Segurança Rodoviária para assistirem a uma apresentação.

A primeira sessão do Segurarte teve lugar hoje, na Escola de São Silvestre, na Covilhã.

Escolas no DocLisboa

EDUCARE | 2008-10-13

Educação sobre diferentes prismas na tela do VI Festival Internacional de Cinema Documental, de 16 a 26 de outubro, em Lisboa.

Dez alunos nos quatro primeiros anos de escolaridade numa escola primária em risco de fechar no interior de Portugal. A realizadora portuguesa Sílvia Firmino registou as ambições e medos destas crianças em “Queria ser”, uma longa-metragem que está em competição no VI Festival Internacional de Cinema Documental. O DocLisboa está de volta à capital portuguesa de 16 a 26 de outubro. Os filmes são exibidos na Culturgest e nos cinemas Londres e São Jorge.

Obras cinematográficas sobre temas educativos, olhados por diferentes homens e mulheres da Sétima Arte, fazem parte desta edição. O cineasta português Carlos Eduardo Viana centra-se numa pequena zona rural de Angola para abordar os diferentes intervenientes, comunidade educativa incluída, no desenvolvimento social da comuna do Lombe.

Ainda dentro da competição de longas-metragens, está “Alone in four walls” da alemã Alexandra Westmeier. Uma história no interior de um reformatório juvenil na Rússia, onde se encontram presos com menos de 15 anos de idade condenados por vários delitos. Muitas experiências para contar.

Jovens problemáticos oriundos de famílias disfuncionais e que as instituições desistiram de recuperar. A Mulberry Busch School, em Oxfordshire, tem mais de 100 responsáveis para 40 crianças com traumas psicológicos. “Hold me tight, let me go” do inglês Kim Longinotto capta essa realidade feita de insultos e de manifestações de carinho. Um filme que não entra na competição do festival.

O DocLisboa dedica ainda um espaço a uma retrospetiva do realizador norte-americano Frederick Wiseman. “High school” passa-se num dos maiores liceus de Filadélfia para mostrar um meio que não se destina apenas a transmitir o saber, mas onde também se trabalham valores sociais. “High school II”, do mesmo realizador, dá a conhecer um modelo alternativo de sucesso no Harlem hispânico de Nova Iorque, onde entre 85% a 90% dos alunos ingressam na universidade.

No programa, está também “Entre le murs” de Laurent Cantet, filme que venceu a Palma de Ouro no último Festival de Cannes. Tensões acumuladas numa turma de liceu em Paris. Um adaptação do livro do jornalista e escritor François Begaudeu que se centra nas experiências diárias do ensino e seus protagonistas.

“After school”, de António Campos, fecha-se numa escola preparatória de elite na costa este dos Estados Unidos. Um trabalho de vídeo para homenagear dois colegas de turma que morreram desencadeia um clima de desconforto entre alunos e professores. Mais uma história do DocLisboa que em 11 dias exibe cerca de 150 documentários.

Informações:
http://www.doclisboa.org/

A arquitetura convive mal com cenários de catástrofe e emergência

Público | 2008-10-09

Arquiteta distinguida com bolsa de viagem esteve em Timor-Leste e no Sri Lanca a ver as escolas pós-independência e os alojamentos pós-tsunami. Regressou “desiludida”, por ter constatado a falta de enquadramento social da arquitetura nestas situações limite.

Entre 2002/2003, Maria Moita, uma jovem arquiteta de Lisboa licenciada na Escola do Porto, integrou um grupo de arquitetos portugueses que coordenou o Fundamental School Quality Project, destinado à construção de 80 escolas básicas e primárias em Timor-Leste. Cinco anos depois, Maria Moita idealizou o regresso à quele país para observar in loco o estado daqueles edifícios e como estavam a ser utilizados.

Foi com esse objetivo, e com esse projeto, que concorreu ao Prémio Távora. Acrescentou, então, à viagem a Timor-Leste uma passagem pelo Sri Lanca, para verificar também de perto o desempenho da arquitetura no realojamento da população após o devastador tsunami do Natal de 2004.

Venceu o prémio e, entre 30 de junho e 10 de agosto, viajou pelos dois países à procura da Arquitetura para o desenvolvimento. Intervenções de emergência e de permanência no Sudoeste asiático. Foi também sob este título que, na segunda-feira à noite, Dia Mundial da Arquitetura, Maria Moita fez em Matosinhos a conferência que justifica a bolsa de viagem recebida.

Na abertura da sessão, Eduardo Souto Moura, presidente do júri desta 3ª edição do prémio lançado pela secção regional do Norte da Ordem dos Arquitetos, lembrou que “a função social da arquitetura está esquecida”, ultrapassada que tem sido “pela arbitrariedade da forma”. Maria Moita confirmou que o papel do arquiteto tal qual o entendemos na nossa sociedade convive mal com situações de emergência decorrentes de catástrofes naturais ou de guerras.

A sua intervenção foi uma longa e interessante viagem, num diaporama em jeito de “diário” e de “guia” (que pode ser consultado na Internet em www.mariamoita.blogspot.com/), que mostrou como a arquitetura que se produz naquelas situações e naquelas paragens está muito distante (no espaço e no conceito) daquela que nos é mais próxima.

Depois de admitir que o seu regresso a Timor-Leste tinha sido “uma escolha emocional e afetiva”, Maria Moita partilhou com os presentes na Câmara de Matosinhos (patrocinadora do Prémio Távora) as impressões contraditórias que reteve ao fim de duas semanas de viagem em que atravessou o jovem país: por um lado, gostou de ver que foram já construídas mais de cem escolas espalhadas pelo território na sequência daquele projeto patrocinado pela ONU e pelo Banco Mundial; por outro, sentiu-se “desiludida” por constatar que muitos edifícios estão já degradados e que a população não está a ser acompanhada para retirar deles o melhor proveito.

“Em Timor-Leste, as pessoas gostam das escolas, usam-nas, mas não têm uma verdadeira cultura do usufruto”, explicou Maria Moita ao P2, no final da conferência. Um exemplo: muitas delas têm vidros partidos, mas os habitantes não são sensíveis a isso. “Eles vivem em palhotas, onde os porcos entram e saem. O vidro partiu-se? Eles nunca viram um vidro na vida, não têm janelas em casa, não sabem que é preciso substituí-lo.”

Na conferência, Maria Moita lamentou também a decisão do Parlamento timorense, que, a dada altura, aprovou a aposta na quantidade em detrimento da qualidade no plano de construção das escolas. “Foi um erro, e é uma tristeza ver o resultado dessa decisão política.”

Casas pensadas à distância
Já no Sri Lanca, onde Maria Moita passou outras duas semanas antes de seguir para Timor, a observação do atual estado das habitações e da arquitetura do realojamento dos mais de um milhão de habitantes afetados pelo tsunami deixou-lhe uma impressão ainda mais amarga.

“O grande problema do Sri Lanca é que havia que dar uma resposta rápida, e as intervenções pós-catástrofe são sempre complicadas.” Maria Moita lembrou o caudal de ajuda humanitária de todo o mundo que foi enviado para aquela ilha a sul da índia, realçando a grande dificuldade que o Governo teve em coordenar todas essas contribuições. As autoridades de Colombo, a capital, determinaram as tipologias das habitações para alojar as vítimas nos primeiros 18 meses pós-tsunami: teriam 25 m2, dois quartos, uma cozinha e casas de banho coletivas, devendo custar entre 450 a 600 dólares (330 a 440 euros); para o alojamento futuro e sustentado, as habitações já cresceriam para os 50 m2, com dois quartos, sala, cozinha e casa de banho, e um custo de cinco mil dólares (3600 euros).

No terreno, a arquiteta portuguesa observou uma grande disparidade de situações, mas que maioritariamente denotam um desfasamento entre os projetos e a realidade a que se destinavam. Houve boas soluções de arquitetura, como a desenhada pelo japonês Shigeru Ban em Kirinda, “que reinventou a tipologia base” das casas e a adequou ao lugar e à s populações; só que estas preferiram substituí-las por casas “sem arquitetura”, mas com as divisões e os espaços a que estavam habituadas. Noutros lugares, há casas que foram desenhadas nos próprios países doadores e “exportadas” para o Sri Lanca, sem o conhecimento de quem eram os destinatários. O exemplo mais caricato, descreveu Maria Moita, foi o de cozinhas construídas sem chaminés, para populações que continuam a cozinhar em lareiras tradicionais – o resultado é que os habitantes fizeram cozinhas anexas à s casas, sem qualquer relação com os materiais ou a tipologia inicial.

Houve também empresas italianas que urbanizaram aldeias com ruas e piazzas – um conceito que não existe no imaginário urbanístico local -, e com nomes de personalidades da história da… Itália; e algumas casas, incluindo tanques para recolha de águas pluviais, foram implantadas no Leste do Sri Lanca, onde nunca chove…

Em resumo, apesar de ressalvar que tudo foi feito numa situação de grande urgência, Maria Moita constatou que, na maioria das intervenções, o modelo de arquitetura utilizado não teve em conta o lugar e menos ainda as necessidades das populações. “O grande problema dos arquitetos é faltar-lhes preparação para intervirem nesta realidade. Eles acham que têm capacidade para fazer um projeto para qualquer lugar do mundo. Seguem aquelas premissas formais – observar o lugar -, mas há sempre muitas coisas que ficam de fora. Não têm a capacidade de olhar para o lado e verem para que comunidade estão a trabalhar e que impacte é que o seu projeto vai ter na vida dela.”

Depois de ter tomado consciência dessa lacuna logo aquando da sua primeira estada em Timor-Leste, Maria Moita decidiu estudar as implicações de se fazer uma arquitetura para o desenvolvimento e inscreveu-se no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), em Lisboa, onde está a fazer um mestrado sobre o tema. A viagem que fez no verão constituiu um valioso trabalho de campo para essa investigação. Mais ainda por ter sido feita ao abrigo da “lição” de Fernando Távora, arquiteto de quem Maria Moita ainda foi aluna no Porto e de quem aprendeu “a importância da viagem na cultura e numa arquitetura” que verdadeiramente tenha o homem, e as populações, como destinatário.

Depois de concluir o mestrado no ISCTE, Maria Moita quer voltar a “fazer arquitetura nesses países longínquos” e “pôr em prática” essa aprendizagem da arquitetura como fator de desenvolvimento.

Vinte milhões de euros para apoio escolar

Correio da Manhã | 2008-10-09

Abono: 780 mil beneficiários vão passar a receber uma 13.ª prestação. Sócrates combateu argumentos da Oposição exibindo o Orçamento de 2005.

Mais de 780 mil beneficiários do abono de família vão passar a receber uma 13ª prestação no mês de setembro para apoiar as despesas escolares. A medida, que custará por ano cerca de vinte milhões de euros, foi anunciada ontem pelo primeiro-ministro, José Sócrates, e tem por objetivo ajudar as famílias a enfrentar a crise.

‘Na situação presente justifica-se fazer mais um esforço orçamental de apoio à s famílias. Em particular nas despesas que as famílias têm com a educação dos filhos’, afirmou Sócrates, anunciando que o Governo vai propor no Orçamento do Estado para 2009 o alargamento da 13.ª prestação de abono de família, até agora atribuída apenas ao 1º escalão, a todos os beneficiários. O valor da prestação vai variar entre os 42,45 euros e os 11,03 euros.

Mas os anúncios não acabaram aqui. Sócrates não esqueceu as empresas: avançou com uma ‘redução substancial’ do IRC e aumentou em mil milhões de euros a linha de crédito destinada à s pequenas e médias empresas.

A situação económica internacional foi o tema escolhido pelo primeiro-ministro para o debate na Assembleia, onde não poupou críticas: “O que aconteceu não foi uma crise bancária, foi um escândalo bancário. Foi o resultado escandaloso de lógicas de gestão orientadas para o imediato, uma regulação totalmente permissiva, práticas abusivas e uma ganância com proporções históricas”, afirmou. José Sócrates sublinhou no entanto que o ‘sistema financeiro nacional tem sido capaz de enfrentar, de forma positiva, esta situação difícil’ e assegurou que o Estado irá intervir de imediato caso se verifique algum problema num banco. “Os depósitos dos portugueses estão seguros”, insistiu. Apesar da crise, garantiu que o Orçamento do Estado para 2009 irá cumprir o rigor orçamental e anunciou que o objetivo para este ano será alcançado: ‘O défice será de 2,2 por cento. O valor mais baixo da democracia portuguesa.’

A Oposição apresentou várias propostas para ajudar as famílias a enfrentar a crise, mas Sócrates rejeitou. Entre elas, a proposta do BE para que os PPR possam ser utilizados para uma amortização excecional das dívidas com a habitação, sem qualquer penalização.

“Sem efeitos a curto prazo”
O PSD acusou ontem o Governo de “não querer saber das aflições de tesouraria” das pequenas e médias empresas (PME) e de tomar medidas sem ‘efeitos a curto prazo’. Em causa está o facto de José Sócrates ter recusado a proposta do PSD para que as empresas passassem a pagar o IVA no recibo e não na fatura.

“As medidas que cá trouxe para as PME não resolvem problemas de tesouraria, de liquidez. Pese embora sejam positivas no médio prazo, não são positivas para agora. Vão refletir-se, mas em 2010, não em 2008 ou 2009”, afirmou o líder parlamentar do PSD. Paulo Rangel acusou ainda o PS de ter aprovado duas propostas que vão “asfixiar as empresas”: a antecipação do pagamento especial por conta de 30 de dezembro para 15 desse mês, ou seja, para ‘um momento anterior à s vendas de Natal’, e a duplicação da taxa sobre despesas de representação, de 5% para 10%, com efeitos retroativos.

Paulo Rangel acusou também o Governo de estar centrado nos “megainvestimentos e nas grandes obras públicas” quando o País não tem dinheiro. “Para os bons projetos há sempre dinheiro. O Estado tem de dar um sinal de que não desiste de fazer os bons projetos. O Governo reage à crise com ação, não com desistência”, afirmou José Sócrates.

Reações políticas

“Fim do fundamentalismo do mercado”: Alberto Martins, Líder parl. PS
O líder parlamentar do PS, Alberto Martins, atribuiu ao PSD a defesa da privatização da Caixa Geral de Depósitos. O líder da bancada referiu-se ainda ao “fim do fundamentalismo de mercado”.

“Valorização de salários e pensões é essencial”: Jerónimo de Sousa, Líder do PCP
é essencial a valorização dos salários dos trabalhadores e das pensões para os portugueses terem poder aquisitivo. é fundamental para o desenvolvimento da economia, do mercado interno.

“Aumentar pensões mínimas dos idosos”: Paulo Portas, Líder do CDS-PP
O Governo que vá buscar o dinheiro ao Rendimento Social de Inserção, que disse estar a ser distribuído a quem não quer trabalhar, para aumentar as pensões mínimas aos idosos.

“Corte na taxa de juro é operação de cosmética”: Francisco Louçã, Líder do BE
O corte na taxa de juro de referência é uma operação de cosmética, que fica aquém do necessário. Um dia haverá um primeiro-ministro que fará frente à s políticas erradas do Banco Central Europeu.

Valores das prestações

Escalão Beneficiários Valor
1.º 524 mil 42,45 euros
2.º 350 mil 31,21 euros
3.º 200 mil 25,79 euros
4.º – * 22,06 euros
5.º – * 11,03 euros

* O 4.º e 5.º escalões integram no total 230 mil beneficiários. Não foram disponibilizados dados

NOTAS

Segurança Social
O Governo assegurou que os 200 trabalhadores do call center da Segurança Social em Castelo Branco vão ter contratos sem termo.

Fim das offshores
O BE propôs a proibição das offshores para combater a fraude e exigiu a devolução dos prémios de 70 milhões de euros atribuídos aos administradores do BCP.

Devolução do IVA
O CDS vai propor que a devolução do IVA passe a ser feita todos os meses, não de 3 em 3.

Linha de crédito de mil milhões
O ministro da Economia, Manuel Pinho, explicou ontem que dos mil milhões de euros da linha de crédito para as pequenas e médias empresas (PME), anunciada pelo primeiro-ministro, 800 milhões destinam-se a empresas na área da indústria e serviços e 200 milhões ao comércio. Para Pinho, esta medida ‘corresponde ao princípio de que as PME querem soluções concretas para problemas concretos’. O ministro adiantou que as PME vão ter um período de carência de um ano e meio e beneficiarão de uma taxa de juro inferior à Euribor.

Redução de IRC custa 170 milhões
A redução da taxa de IRC e o alargamento da prestação para apoio à s despesas com a educação vão custar aos cofres do Estado 190 milhões de euros, revelou ontem o Ministério das Finanças. De acordo com Teixeira dos Santos, só a diminuição da taxa de IRC custará 170 milhões de euros, enquanto que a medida de apoio à s despesas de educação vai onerar o Orçamento do Estado em 20 milhões. A primeira medida vai abranger perto de 300 mil empresas, segundo as contas do Governo, enquanto a segunda beneficiará 780 mil pessoas.

NOTAS

CIP – Sem impacto imediato
O presidente da CIP, Francisco Van Zeller, considerou positivas as medidas anunciadas, mas frisou que não terão um impacto imediato nas tesourarias das empresas

IRC – Só para quem tem lucro
O fiscalista Samuel Almeida afirmou que a redução da taxa de IRC só beneficiará as empresas que têm lucros e não aquelas que estão em dificuldades

ANJE – Iniciativa louvável
Armindo Monteiro, presidente da ANJE, considerou ‘louvável’ o aumento da linha de crédito à s PME, mas afirmou-se preocupado com os critérios a usar pelos bancos

Minho – Expectativas maiores
O líder da Associação Industrial do Minho, António Marques, aplaudiu o aumento da linha de crédito à s PME, mas afirmou que tinha a expectativa de que o Governo fosse mais longe

PSD – Cópia de resposta
O deputado social-democrata Miguel Macedo afirmou que o Governo seguiu uma proposta apresentada por Marques Mendes em 2006ao anunciar a criação de dois escalões de IRC

Despesas escolares reforçadas abrangem 780 mil famílias

Lusa | 2008-10-08

Proposta do Orçamento de Estado para 2009.

O primeiro-ministro anunciou hoje que o Governo vai criar uma 13ª prestação de apoio à s despesas escolares a todas os agregados familiares que beneficiam do abono de família, medida que disse abranger mais de 780 mil famílias.

A 13.ª prestação é uma ajuda concedida pelo Governo no mês de setembro com o objetivo de auxiliar as famílias mais desfavorecidas com as despesas escolares. Se até agora apenas os agregados familiares com rendimentos mais baixos (primeiro escalão) recebiam este apoio, José Sócrates anunciou o alargamento da medida de forma a abarcar todos os que recebem o abono de família.

“Na situação presente justifica-se fazer mais um esforço orçamental de apoio à s famílias. Em particular nas despesas que as famílias têm com a educação dos seus filhos”, justificou o primeiro-ministro durante o debate quinzenal na Assembleia da República.

A medida será proposta no Orçamento de Estado para 2009 e, segundo José Sócrates, “vai apoiar mais beneficiários, reforçando fortemente as políticas sociais do Estado dirigidas à s famílias portuguesas”

Programa educativo da Gulbenkian com mais de 1500 eventos até setembro de 2009

Público | 2008-10-05

Rui Vieira Nery é o diretor do programa que se destina a crianças desde os dois anos até a públicos seniores e que integra todos os serviços educativos da fundação.

Entre visitas, oficinas, cursos e concertos, são mais de 1500 os eventos que vão acontecer na Gulbenkian, até setembro de 2009, no âmbito do novo programa de Educação para a Cultura desta fundação. Uma agenda ambiciosa dirigida por Rui Vieira Nery, que deixou a direção do serviço de música da Gulbenkian, para liderar o programa Descobrir – Educação para a Cultura, ontem apresentado.

A grande novidade do Descobrir é a articulação entre todos os serviços educativos da fundação, que até aqui estavam dispersos entre os dois museus, a área da música e dos jardins. “A fundação foi pioneira no lançamento de serviços educativos e formativos. E há um potencial enorme que se pode aproveitar nesta área”, explicou Rui Vilar, presidente da Gulbenkian. “As pessoas passam agora a bater a uma só porta, em vez de quatro. é este um dos objetivos do programa: criar um sistema de informação e relacionamento com o público mais eficiente.”

As várias atividades já agendadas, e que podem ser consultadas na página da Gulbenkian na Internet, destinam-se a crianças desde os dois anos até públicos seniores. Há programas pensados para escolas e grupos organizados, outros para criança, famílias e adultos. E foi ainda criado o conceito Menu do Dia, que permite à s pessoas, desde que o façam antecipadamente, selecionar diferentes atividades em que querem participar nesse dia.

Este ano, as atividades disponíveis alargam-se a outras áreas, como a ciência ou o cinema (em colaboração com a Cinemateca). “Fomentar as abordagens transversais” e “contribuir para a inovação e alargamento do programa educativo” são precisamente outros dos objetivos do programa, sublinhados por Rui Vilar.

Para Rui Vieira Nery, a mensagem é simples: “Vir à fundação é entrar num mundo de descobertas e experiências fascinantes que se vão tendo livremente”. A temporada terminará com uma ópera destinada a crianças.

Escola Básica pede donativos aos pais

Correio da Manhã | 2008-09-26

Olhão – são aceites detergentes, papel higiénico, clips e agrafos. Encarregados de educação da escola denunciam graves carências no estabelecimento de ensino.

Numa circular, a coordenadora da Escola Básica 1 n.º 4 de Olhão, pede aos pais e encarregados de educação “donativos em dinheiro, que ficará ao critério de cada um, ou então géneros”. Papel higiénico, detergentes, panos, esfregões, vassouras, esfregonas, baldes, sacos de lixo, clips, agrafos, pioneses e tonner de impressora fazem parte da longa lista entregue, que nem esquece o pedido de ajuda para pagar “a conta do telefone”.

“é uma vergonha, quando sabem que a maioria dos pais é gente pobre”, queixa-se a mãe de uma das alunas. Maria da Luz denuncia o “grave abandono do estabelecimento de ensino, da responsabilidade da Câmara de Olhão, que se limita a enviar 300 euros, de três em três meses, quantia que não permite o normal funcionamento”.

A escola não tem refeitório, o que obriga os alunos a terem de ir comer, acompanhados por uma auxiliar, à escola secundária, situada a 500 metros. “Os miúdos são obrigados a atravessar a perigosa Estrada Nacional 125 e, quando chove, porque a edilidade recusa um autocarro, ficam sem comer, ou apanham uma molha”, diz Maria da Luz, que se queixa ainda “do teto danificado, que leva a que chova nas salas de aula”.

Os pais vão reunir e, se nada for feito, “fecharemos a escola a cadeado”, garante Maria da Luz.
Francisco Leal, presidente da Câmara Municipal de Olhão, mostrou estranheza por estas queixas.

“A Junta de Freguesia tem a responsabilidade de apetrechar as escolas básicas e ninguém me falou em falta de material ou de um autocarro”, garante o autarca, que lembra os seis milhões de euros que a autarquia tem disponíveis para o apetrechamento das escolas. “Realizámos, recentemente, um forte investimento na escola do Largo da Feira e a EB 1 n.º 4 vai ter um refeitório e uma sala de apoio, já adjudicados”, garante. A utilização do refeitório e de uma sala de apoio alugada são “uma situação provisória”.

PORMENORES

Números
A EB1 n.º 4 tem 302 alunos e 16 professores, funcionando com turnos de manhã e de tarde.

Aspeto
Escola tem um bom aspeto exterior. O interior denota graves deficiências estruturais.

Um cartão que controla a vida dos alunos de uma escola em Oliveira de Azeméis

Público | 2008-09-22

Cartão eletrónico deverá alargar-se, a partir deste ano letivo, a todas as escolas de 2.º e 3.º ciclo e secundário.

Diana Filipa introduziu o cartão escolar no terminal situado numa entrada lateral da Escola Básica 2,3 Comendador ângelo Azevedo, em Oliveira de Azeméis, Aveiro. Já só tinha 1,34 euros de saldo. Não era dramático. Só faltava uma semana para as aulas terminarem. E já comprara as senhas do almoço. Gosta de se precaver. “Se comprar no próprio dia, apanho multa.”

A escola frequentada por Diana Filipa antecipou-se, em parte, à espécie de revolução tecnológica que o Governo quer introduzir no parque escolar nacional. Na maior parte dos estabelecimentos de ensino do país, a era do cartão eletrónico só agora está a começar.

Uma resolução publicada no mês passado em Diário da República prevê a aquisição de serviços e bens necessários à instalação do sistema de cartão eletrónico para as escolas de 2.º e 3.º ciclo e ensino secundário. Gastar-se-ão 18 milhões de euros num período de quatro anos.

Na Escola Básica Comendador ângelo Azevedo, desde maio de 2002 que a circulação de dinheiro termina na papelaria. “Arranjámos patrocínio”, resume António Figueiredo, presidente do conselho executivo. E o sistema informático revelou-se “uma ótima peça de gestão”.

António Figueiredo convoca outro aluno para uma demonstração. Naquele dia, a uma semana de terminar as aulas, o cartão de José Filipe marca 0,01 euros. E o que pode ele fazer com 0,01 euros? “Nada.” Onde gastara o dinheiro?, perguntámos nós. Os pais dele não precisavam de perguntar.

José Filipe inseriu o cartão e consultou o seu horário, as suas notas, as suas faltas. Os pais, lá em casa, desde o seu computador pessoal, também podiam verificar o seu horário, conferir as suas notas, controlar as suas faltas, aferir se levantara ou não a senha para o almoço. Se os pais não quisessem que José Filipe comprasse doces no bar da escola, bastar-lhes-ia ir à secretaria dizê-lo. E o rapaz até os podia pedir, mas não poderia comprá-los porque o seu cartão recusar-se-ia a pagá-los. Os de José Filipe não o fazem, mas os de um colega com diabetes já o fizeram.

é como se o braço dos pais se esticasse até ali dentro. Se os encarregados de educação optam por autorizar a saída apenas no fim das aulas, os torniquetes virtuais dos portões, acionáveis através do cartão, barram qualquer antecipação. O aluno tem de permanecer ali dentro, em atividades de tempos livres ou em estudo, até o relógio marcar a hora certa.

Pais só veem vantagens
Para já, Rui Pinho, presidente da Associação de Pais, só vê vantagens no sistema informático. “Os pais ficam mais descansados sabendo que os filhos estão dentro da escola. Já aconteceu as minhas filhas quererem sair antes da hora e eu ter de vir à escola assinar uma declaração.”

O sistema até contempla uma possibilidade de aviso automático: os encarregados de educação recebem um SMS mal um filho falte a uma aula. Tal mecanismo não foi, porém, aqui ainda acionado. Se quiser avisar um pai ou uma mãe de que o filho se está a portar mal, a faltar muito, professores como Anna Stavridou fazem-no por telefone, caderneta ou carta. Ordens do presidente do conselho executivo.

“As escolas não são sítios onde se despeja os alunos”, sublinha António Figueiredo. Por maior que seja o avanço tecnológico, o contacto personalizado entre professores e pais não deixará de ser importante.

A partir de terminais como os montados na sala de aula ou de professores, Anna Stavridou pode ver se um aluno com quem quer falar saiu ou está dentro da escola. E marcar faltas, lançar notas: “Já não preciso de andar a ver o registo folha a folha no livro de ponto ou de ter um registo à parte”, diz. Os dados introduzidos ficam automaticamente disponíveis.

Os próprios miúdos podem controlar os professores. Averiguar, por exemplo, se a falta que justificaram já está justificada. Espreitámos o processo de José Filipe. Vimos que tinha seis faltas a Francês, três a Inglês, seis a Educação Visual, duas a Matemática, duas a Ciências, quatro a oficina de leitura. “Todas justificadas.”

Experiência começou em Amarante
Alargamento do cartão a todas as escolas vai custar 18 milhões de euros

Quando a Escola Básica 2,3 Comendador ângelo Azevedo decidiu investir “havia poucas” empresas a oferecer um programa informático que permitisse compilar e gerir toda a informação da vida da escola. E o conselho executivo optou pelo “mais completo” que encontrou. O “mais completo”, na altura, era o Projeto Autónomo de Automação de Escolas (PAAE), desenvolvido pela empresa Quinta Sinfonia, que começou como experiência-piloto na Escola Básica 2,3 de Amarante.

Dinis Monteiro, acionista e administrador da Quinta Sinfonia, orgulha-se dos torniquetes virtuais, tecnologia patenteada que controla as entradas e saídas de alunos e professores no espaço escolar. Quando arrancou, em Amarante, o sistema – reconhecido pela Associação Portuguesa de Software desde 10 de junho de 2000 – “era uma solução única no mercado”.

Hoje, há muita concorrência. Muitas empresas estão já preparadas para participar nos concursos públicos para alargar o sistema do cartão eletrónico a todas as escolas de 2.º e 3.º ciclo e ensino secundário. Embora a Quinta Sinfonia “lidere o mercado, com o PAAE a funcionar em 150 escolas” no ano letivo 2007/2008.

A direção de cada escola é que define áreas de acesso para cada tipo de utilizador: professores, alunos, pais. A aplicação faculta o acesso de vários gestores para que cada um possa lançar a informação necessária. Os dados introduzidos ficam logo disponíveis. E todas as operações de controlo ou gestão são desencadeadas a partir do cartão eletrónico.

A preparar a internacionalização, a empresa procura funcionalidades adicionais. Ambiciona, explica Bruno Castro, outro acionista e administrador, “certificar a aplicação na área da segurança e tecnologias de informação [networking, homebanking, monitorização e controlo do aluno por GPS]”.

Pais e encarregados de educação fecham escola em Vila do Conde

Lusa | 2008-09-19

Falta de auxiliares educativos. Os encarregados de educação afirmam que foi dispensada “uma tarefeira”.

A escola EB 1 de Pinhal, em Labruge, Vila do Conde, foi encerrada hoje de manhã pelos pais e encarregados de educação dos alunos. Os portões do estabelecimento de ensino foram fechados como protesto contra a falta de auxiliares educativos.

Os encarregados de educação afirmam que foi dispensada “uma tarefeira”, pessoa que garantia a limpeza da escola e a sua vigilância durante a hora do almoço.

A vereadora responsável pelo pelouro da Educação da autarquia, Elisa Ferraz, afirmou que a colocação de auxiliares não é da competência da Câmara de Vila do Conde, mas da Direção Regional da Educação do Norte (DREN).

“A Câmara não tem competência legal mas, preocupada com o assunto, juntamente com agentes no terreno, conseguiu [apesar disso] resolver o problema colocando uma pessoa” na escola, frisou.

Segundo referiu, esta manhã “estavam todas as condições reunidas para que tudo funcionasse normalmente na escola”.

Elisa Ferraz referiu ainda que a funcionária substituta irá manter-se no estabelecimento “até que seja necessário”, ou seja, até que o lugar seja ocupado.

Em comunicado enviado hoje, o PSD de Vila do Conde acusa a autarquia de “descoordenação na política educativa”, afirmando que a câmara “resolve casuisticamente os problemas”.

Contando que esta manhã esteve presente na escola escutando “as inúmeras queixas dos encarregados de educação”, o líder do PSD/Vila do Conde, Pedro Brás Marques, refere que, “se a situação é já complicada atualmente, o cenário afigura-se negro quando as competências em matéria de educação estiverem transferidas para a Câmara Municipal”.

A vereadora da Educação lamentou que se politize a questão.

Material do 1.º ciclo faz disparar despesas

Diário de Notícias | 2008-09-09

Há escolas com listas acima dos 100 euros/aluno.

A Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap) acusa algumas escolas primárias de divulgarem listas de material letivo recomendado que custa quatro vezes mais do que os manuais e suspeita que se estejam a reforçar os ATL à custa dos pais. Nestas páginas, o DN divulga também o cabaz de manuais escolares do 1.º ano ao 9.º, para este ano letivo, em que se registam aumentos de 5,4% a 3,7% nos preços

As listas de material didático recomendado pelas escolas do 1.º ciclo chegam a implicar gastos “mais do que três e quatro vezes superiores” aos dos manuais. A denúncia é da Confederação Nacional de Associações de Pais (Confap), que “desconfia” que muitos estabelecimentos estejam “a apresentar como necessário à s atividades letivas material que na realidade se destina à s atividades de enriquecimento curricular (AEC)”.

De acordo com o cabaz de preço dos livros da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (AEPL) para 2008/09, que o DN divulga nestas páginas, os manuais do 1.º ciclo vão custar este ano entre 21,26 e 28,17 euros. Uma subida de 5,5% face ao ano passado. Mas, segundo a Confap, há listas de material das escolas que chegam aos 110 euros”, e incluem artigos de utilidade “letiva” difícil de justificar.

“Já tivemos ocasião de denunciar alguns casos à Comissão de Acompanhamento das AEC”, disse ao DN Albino Almeida, presidente da Confap. “Para que precisam por exemplo algumas escolas de pedir uma resma de papel A4 por aluno, como vimos em algumas listas? Vão gastar dezenas ou centenas de resmas num ano?”, questionou. “é preciso também que os pais sejam informados pelas escolas de que não precisam de comprar o material todo de uma vez. E que há material de outros anos que podem ser reutilizados”, acrescentou.

Outra crítica prende-se com a recomendação, para as AEC, de “artigos que os pais não devem comprar. é o caso de um livro de Inglês para o 1.º ciclo que, como é usado por algumas empresas privadas que dão apoio à s atividades de enriquecimento curricular, acaba por ser recomendado aos pais pelas escolas”.

Aos pais, a Confap deixa um alerta: “Que estejam muitos atentos ao que lhes é pedido. E que, quando concordarem em ajudar em despesas que não são obrigados a fazer, peçam para ver as contas no fim”.

“Insensibilidade social”
Para a Confap, além de “abusivas”, estas listas revelam “grande insensibilidade social” por parte das escolas em causa, sobretudo num ano em que foram anunciados aumentos significativos nos apoios da Ação Social Escolar para alunos carenciados, com mais de 400 mil a garantirem manuais gratuitos e muitos outros a conseguirem-nos a metade do preço.

“Muitos alunos vão ter os livros de graça, mas para os materiais o Estado dá até 12,5 euros”, criticou. Se pensarmos em listas de material acima dos 110 euros, percebemos a dificuldade que estas representam para algumas famílias”, acrescentou. “Há pais que vão poupar nos livros mas depois terão de se endividar para comprarem os materiais recomendados”, criticou.

O DN tentou confirmar estas denúncias junto do Ministério da Educação, mas não foi possível obter resposta até ao fecho desta edição. à hora a que esta notícia foi elaborada já não era possível entrar em contacto com alguns dos estabelecimentos que integram o conselho das escolas.

Revolução tecnológica chega à s escolas

Correio da Manhã |2008-09-09

Governo investe 400 milhões em novas tecnologias.

O novo ano letivo marca o arranque de uma autêntica revolução nas escolas portuguesas. No âmbito do Plano Tecnológico da Educação, o Governo vai investir um total de 400 milhões de euros com o objetivo de colocar Portugal entre os cinco países europeus mais avançados em matéria de modernização tecnológica. Até 2010 as escolas do 2.º e 3.º ciclos do Ensino Básico e as do Ensino Secundário terão ligação à Internet em banda larga e estarão apetrechadas com 310 mil computadores, nove mil quadros interativos e 25 mil videoprojetores.

“é a maior mudança de sempre na forma de ensinar”, diz Albino Almeida, presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), sublinhando que “o computador ensina mas não educa”, pelo que o papel do professor “é ainda mais valioso”.

Atualmente há em Portugal um computador para cada 13 alunos, contra um para seis de média europeia. O objetivo a atingir em 2010 é de um computador para dois alunos, mas no final deste ano letivo haverá já um para cada cinco. João Grancho, da Associação Nacional de Professores, considera o plano “uma medida positiva, que ajuda à infoinclusão, à inovação e ao desenvolvimento científico”.

Mário Nogueira, secretário-geral da Federação Nacional de Professores (Fenprof), defende que o papel dos professores tem vindo a ser desvalorizado: “O discurso do Governo tem apostado no desenvolvimento tecnológico, mas esquece-se do fator humano e os computadores sozinhos não funcionam. Com novas tecnologias e quadros interativos mas com profissionais insatisfeitos e com carreiras desfeitas uma escola não pode funcionar “.

Refira-se ainda que o PTE tem uma vertente virada para a segurança que prevê a instalação de câmaras de vigilâncias nas escolas. O cartão eletrónico do aluno também evitará que estes levem dinheiro para a escola, contribuindo assim para que haja menos assaltos.

Novo cartão para 800 mil
O Governo pretende que o cartão eletrónico do aluno chegue já este ano letivo a 800 mil estudantes. O novo cartão permite controlar entradas e saídas na escola, bem como consultar o processo administrativo do aluno e o seu percurso académico. Outras das vantagens do cartão é que permite fazer pagamentos na escola, pelo que os alunos deixam de precisar de levar dinheiro – um aspeto relevante em termos de segurança.

Gémeos na escola são despesa a dobrar
Se o início das aulas é um problema de matemática para muitas famílias, para quem tem gémeos a fatura é sempre a duplicar. Livros, material e atividades extracurriculares que não são oferecidas pela escola representam o dobro das despesas.

é o que acontece em casa de Gabriela Lusio: os gémeos André e Gonçalo, de nove anos, vão ingressar no 4º ano na Escola Básica da Glória, em Aveiro. Os dois irmãos já têm as mochilas prontas, com todos os livros escolares e material necessário para o regresso à escola.

De acordo com a mãe, que é professora de Educação Visual, “só se gasta dinheiro nesta altura com os livros e cadernos, porque de resto eles continuam a usar a mesma mochila do 1.º ano, uma vez que está em muito bom estado”. O mesmo não acontece com outros materiais. “Os lápis de cor desaparecem rapidamente e têm de ser repostos várias vezes ao longo do ano”, explica Gabriela Lusio.

Quando vai à s compras, por exemplo para comprar vestuário, Gabriela já vê as etiquetas dos preços a dobrar e sabe que deve optar apenas pelo essencial, porque qualquer extravagância “tem de ser igual para os dois”. O mesmo acaba por acontecer quando chega a época de regressar à escola.

O agregado só não faz poupanças no que diz respeito à s atividades extracurriculares dos gémeos: “Têm os dois aulas de guitarra, fazem natação e vão este ano para um instituto aperfeiçoar o Inglês. Tudo isto representa cerca de 280 euros mensais, mas entendemos que são áreas em que vale a pena o sacrifício”, refere Gabriela.

Metas
310 mil computadores com ligação à Internet, o que dá dois computadores por aluno (2.º e 3.º ciclos e Secundário).
9 mil quadros interativos (um por cada três salas de aula).
25 mil videoprojetores.
800 mil cartões eletrónicos do aluno.
500 mil computadores portáteis Magalhães (1.º Ciclo).
400 milhões de euros de investimento total.

Videovigilância e alarmes
Com o investimento em novas tecnologias as escolas passam a ser lugares apetecíveis para os assaltantes, pelo que o Governo vai investir em alarmes eletrónicos e sistemas de videovigilância, com dez câmaras por cada escola, de modo a garantir a segurança das instalações.

Quadros interativos substituem velhinhos quadros de ardósia
Os velhos quadros de ardósia onde se escreve com giz vão gradualmente ser substituídos pelos modernos quadros interativos.

Inicialmente estava previsto que só em 2010 os nove mil quadros interativos estivessem disponíveis nas escolas.

Contudo, o Governo terá conseguido antecipar alguns dos objetivos traçados e no final deste ano letivo estarão já instalados nas salas de aula dos 2.º e 3.º ciclos do Ensino Básico e nas do Secundário nove mil quadros interativos e 25 mil videoprojetores, numa relação de um quadro por cada três salas.

“Venha a formação de professores”: João Grancho, Presidente Assoc. Nacional Professores

Correio da Manhã: Como avalia o Plano Tecnológico da Educação?
João Grancho:
 Parece bem concebido mas é preciso não esquecer a componente humana. Será feito por pessoas e essas pessoas devem ter estabilidade emocional, a sua missão deve ser reconhecida.

CM: Os professores estão preparados?
JG:
 Nem todos. Que venha a formação para se poder explorar todas as potencialidades.

CM: Qual o principal benefício do Plano Tecnológico?
JG:
 Vai no sentido da infoinclusão. Mas é preciso referir que isso tem de caminhar a par da melhoria das condições materiais das escolas, o que até tem vindo a ser feito. Não faz sentido investir em novas tecnologias em escolas degradadas.

DICAS

Consumo moderado
Os computadores e a Internet ajudam ao estudo, mas o seu consumo deve ser moderado e controlado, nomeadamente no acesso a certos sites.

Carregar os cartões
Com a generalização dos cartões eletrónicos, o dinheiro vivo deixa de circular na escola. No entanto, carregue o cartão do seu filho com baixos valores de cada vez, para que ele aprenda a gerir o orçamento.

NOTAS

Telemóveis – pioneiros
Foi através dos telemóveis que as novas tecnologias de informação e comunicação primeiro chegaram à s escolas, mas cada vez os equipamentos são mais sofisticados.

1.º Ciclo – 500 mil Magalhães
Os alunos do 1.º Ciclo terão ao dispor 500 mil computadores Magalhães, um portátil feito para crianças que custa 50 euros mas será gratuito para o 1.º escalão da ação social escolar.

30 milhões – Centro de apoio
Para ajudar as escolas a gerir os novos equipamentos informáticos, o Ministério da Educação vai investir 30 milhões de euros em quatro anos para criar o Centro de Apoio Tecnológico.

Encher o cabaz escolar com 25 euros

Diário de Notícias | 2008-09-07

Antecipando o início do ano letivo, o DN fez a lista do material escolar e foi à s compras em três hipermercados de Lisboa para ver onde fica mais em conta fazer as compras para o próximo ano escolar.

Continente revela-se o hiper mais barato
Com o início do ano letivo marcado para quarta-feira, à já conhecida lista dos livros junta-se a de material escolar. Antecipando a chegada a casa da lista que até ao final da semana deverá ser enviada pelos professores dos mais de 1,4 milhões de alunos que se preparam para o primeiro dia de aulas, o DN foi encher o cabaz de compras em três hipermercados lisboetas para comparar preços.

No total dos 21 artigos comprados, a conclusão é de que o Continente apresenta o cabaz mais em conta: 24,74 euros. Segue-se o Jumbo (28,69 euros) e o Feira Nova (36,55 euros). Destaque-se que para este resultado muito contribuíram as marcas brancas dos dois primeiros hipers e que o Feira Nova sai claramente a perder por não ter estes produtos.

E, apesar da ressaca das férias, em que o orçamento familiar é esticado ao máximo, e do aumento do custo de vida, os pais não conseguem resistir ao entusiasmo dos miúdos. Quem os vê, nos corredores dos hipermercados, percebe a dificuldade dos pais em refrear tanta excitação. Tudo em nome do sucesso escolar. “Uma aposta no futuro”, não hesitam em dizer. E há quem não hesite em recorrer a créditos bancários nesta altura ou em pedir a antecipação do subsídio de Natal.

Não admira por isso que o regresso à s aulas seja já a segunda época do ano mais importante para as empresas da grande distribuição, depois da época natalícia. Quem o diz é a APED (associação do setor), que estima em 160 milhões de euros o volume de vendas nesta época do ano.

Apoio dos pais é essencial para o sucesso escolar 

Diário de Notícias | 2008-09-06

No final de cada ano letivo, as notas nas pautas resumem a números o resultado de meses de estudo ou falta dele. Mas é no início do ano que se começam a definir as classificações. Por isso, o DN pediu a professores e alunos conselhos para conseguir melhores resultados.

Confiança é fundamental para bons resultados
O que é que distingue um bom aluno? Para as professoras com quem o DN falou, o interesse: nas aulas, nas matérias e o interesse dos pais. Aliás, o papel dos encarregados de educação no desempenho do aluno é mesmo fundamental, consideram as educadoras.

“Estar atento, é o meu lema”, diz Maria de Jesus Pena, professora reformada e coordenadora pedagógica do Centro de Estudos X-Plain, em Lisboa. Como é que isso se traduz no dia a dia? A educadora aconselha os pais a acompanharem os filhos nas tarefas escolares, ajudá-los nos trabalhos de casa – “sem os fazer por eles” -, estar atento à s datas dos testes, perguntar como correram, saber as notas. Sobretudo, “nunca perder a oportunidade de elogiar”. Porque a confiança é fundamental, explica. “Já vi muitos alunos melhorarem a todas as disciplinas porque tiveram apoio numa. Entusiasmam-se e percebem que são capazes”, conta.

“Acreditarem em si próprios é fundamental”, concorda Maria João Saraiva de Menezes, professora de Filosofia. A autora de livros com conselhos para pais diz ainda que os educadores devem estimular a ambição das crianças. No entanto, recusa a atribuição de recompensas (dinheiro ou prendas) por notas, já que considera que os resultados devem servir para aumentar o ego e não a carteira. Já Maria de Jesus Pena valoriza a abordagem positiva e não vê esta prática com maus olhos.

Para Maria de Menezes, os educadores servem ainda para estabelecer regras. E uma das regras deve ser o estudo diário, diz. “Estar com atenção nas aulas pode não ser suficiente. O tempo de estudo necessário varia muito de criança para criança”, realça Maria de Jesus Pena. As professoras falam em pelo menos uma hora por dia e consideram que, quando aumenta o número de disciplinas, não é suficiente. Quando não é possível os pais acompanharem o estudo dos filhos, Maria de Jesus Pena considera que as explicações e os centros de estudo podem ser solução, “desde que sejam bons e tenham professores motivados e competentes”. Um segredo é estar atento aos interesses da criança e usar isso para a motivar, diz.

O mesmo se passa na leitura, diz a educadora. é um dos hábitos que melhoram o desempenho escolar, no entanto, é também muito difícil de incutir. Maria de Jesus Pena recomenda muito cuidado na escolha dos primeiros livros. “Tem de ser criteriosa, o livro tem de ir ao encontro dos gostos da criança, e prendê-la nas primeiras páginas, porque uma má experiência pode arruinar a criação do hábito.” Ao mesmo tempo, os livros competem com a multimédia, lembra a professora de Filosofia. “Os computadores são ótimos, mas sem exageros. Não se pode rodear as crianças de tecnologia para ficarem entretidas”, alerta Maria de Jesus Pena.

As educadoras lembram também que as crianças e os adolescentes precisam de tempo. “Tempo para não fazer nada, viver o seu espaço, a relação com os irmãos, a busca do eu”, diz a professora de Filosofia. Por isso, cuidado para não os sobrecarregar com atividades extracurriculares.

160 milhões na compra de material escolar

Correio da Manhã | 2008-09-06

1,6 milhões de alunos enchem mochilas.

A quatro dias do regresso à s aulas, 1,6 milhões de alunos dos Ensinos Básico e Secundário estão na contagem final do regresso aos espaços comerciais para a compra de material escolar.

Um negócio de lápis, cadernos e companhia, que todos os anos movimenta mais de 160 milhões de euros: uma mochila já razoavelmente composta não fica por menos de cem euros por aluno. Se para os pais é uma dor de cabeça, para as grandes superfícies é já a segunda época do ano que mais rende – só no Natal é que há mais faturação.

O empenho pela compra das ferramentas que permitem saber mais tem para Ana Nunes uma explicação simples: ‘A escolha das coisas ao nosso gosto faz-nos sentir melhor, e isso leva a obter melhores resultados’. é o sucesso escolar que está em jogo para esta aluna de 14 anos, que estuda no 10º ano e cuja modéstia a leva a dizer que as notas são razoáveis, quando interrogada se é boa aluna. O empenho da filha pelos estudos é confirmado pela mãe, que ao seu lado abana a cabeça em sinal afirmativo, acrescentando que ‘as notas da filha enchem de orgulho a família’.

‘Comprar o material para a escola é um sacrifício que fazemos, mas sabemos que a estamos a ajudar a construir o seu futuro’, explica a mãe, também chamada Ana, empregada de limpeza. O pai, Manuel, desempregado, reconhece que a filha ‘não é muito exigente e compreende que também não pode pedir muito’. No total, esta família espera gastar cerca de 100 euros.

Com metade da idade da Ana, a Patrícia Monteiro escolhe com a mãe e a madrinha a mochila que vai levar para o 3º ano. ‘Quero aquela’, avança, quando pela frente lhe surge um corredor cheio de malas e sacos. Entre elas, há uma cor-de-rosa com um coelho estampado que lhe conquista a vista. A mãe, Sílvia Santos, expressa a mesma opinião do que Ana Nunes: ‘A compra de material escolar desperta nas crianças o sentido para estudar.’

‘Com apenas 7 anos, a minha filha anda a falar desde julho que quer voltar para a escola e que quer determinados lápis e cadernos’, explica Sílvia Santos. ‘A professora todos os anos manda trabalhos para fazerem nas férias. E é nesta altura, em que se começa a falar da escola, que ela tem mais vontade para estudar’, acrescenta, referindo que ‘a professora fornece uma lista com todo o material a comprar, o que torna tudo mais simples’.

A juntar aos 70 euros que conta gastar com Patrícia, Sílvia acrescenta 150 euros para ‘equipar’ o filho mais velho, de 13 anos. ‘é com parte do subsídio de férias que consigo pagar os livros, cadernos e canetas’, resume, contando ainda com a ajuda dos padrinhos dos filhos.

De ano para ano, o negócio do regresso à s aulas faz animar o comércio. Depois da venda do material para as férias na praia, a aposta forte antes do Natal é com as crianças e jovens. é um mundo que representa milhões. Só no material escolar serão mais de 160 milhões de euros. E isto sem contar com os manuais escolares, que valem uns 80 milhões de euros.

O regresso à s aulas envolve ainda gastos em outras áreas fora da papelaria, como o vestuário, a informática. O diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), José António Rousseau, refere que ‘esta é a segunda campanha mais importante do ano, logo a seguir ao Natal’. Para o responsável da APED, justifica-se o investimento nas ações publicitárias, cada vez maior, pois ‘as compras de regresso à s aulas são induzidas pelas crianças, que dizem aos pais o que querem utilizar’.

Mesmo comprando o ‘mínimo dos mínimos’, o regresso à s aulas representa 500 euros a menos na conta para a família Santos, de Vila Nova de Poiares. ‘é um gasto maluco, sobretudo nos manuais e em material escolar, que normalmente não dá de um ano para o outro’, explica Cristina Santos, com dois filhos a estudar.

O que vale é que o Diogo, que vai repetir o 9.º ano, já vai juntando ‘um dinheirito’ para os gastos. Para minimizar a fatura, a família tem pequenos truques: ‘Sempre comprei os livros de um em agosto e do outro em setembro.’

Exatamente cem euros foi quanto Cristina Santos gastou para encher a mochila da filha, Ana Isabel, que passou para o 7.º ano. Mas apenas para o material, pois gastou ‘pelo menos mais cem euros para o fato de treino e sapatilhas’ para as aulas de Educação Física. Felizmente, Ana Isabel não tem de utilizar transportes públicos. O que se poupa no passe gasta-se em explicações: 75 euros.

Se para a maioria das crianças a chegada do início das aulas é uma época de euforia, para a mãe de Lara e Gabriel é uma altura do ano bem complicada. Sara Nascimento vive na Guarda, é divorciada e desempregada há mais de três anos. Com dois filhos, Lara, de 6 anos, e Gabriel, de três, não é fácil para esta mãe gerir um orçamento familiar que não ultrapassa os 300 euros que recebe do Rendimento Social de Inserção. Os últimos anos desta família não têm sido os melhores. ‘Ou é porque tenho dois filhos ou porque sou muito velha’, desabafa Sara Nascimento, ao comentar as recusas de emprego que já recebeu, tanto num lar, como num hipermercado.

Sara diz ser ‘muito complicado’ e que é com ‘muito esforço’ que vai fazer face à s despesas da filha. ‘Na creche já me disseram que vão aumentar a mensalidade porque a Lara saiu, e ainda vou ter as despesas dela na escola’, explica. Para Sara, os 34 euros dos livros são uma dificuldade, a que se juntam a mochila, cadernos e roupa, já procurando esquecer a recente despesa dos óculos da filha.

“Pais ensinam filhos a poupar”
‘As compras de material escolar são um hábito de família, pelo que os pais ensinam os filhos a comprar’, disse ao CM o diretor da loja Continente do Centro Comercial Vasco da Gama (Lisboa), Rui Gonçalves. Sem revelar números, o responsável acrescentou que, de ano para ano, as vendas têm crescido. A pensar nesse mercado em crescimento, os bancos criaram ofertas para atrair as famílias com estudantes. A Caixa Geral de Depósitos garante descontos até 20% em livros escolares e a oferta de acesso a uma disciplina à escolha na Escola Virtual. O Millennium BCP oferece condições especiais para aquisição de portáteis, que permitem ‘poupar 250 euros em impostos’, segundo a instituição bancária. Também há crédito para os livros, com taxa fixa.

“Têm vontade de estrear coisas” (Nelson Lima, Neuropsicólogo, Presidente do Instituto da Inteligência)

Correio da Manhã: O uso de material escolar novo serve de estímulo para aprender?
Nelson Lima:
 Pode funcionar. O início do ano escolar é acolhido com entusiasmo pelos alunos. Isto porque o espírito consumista também existe nas crianças e manifesta-se na vontade de estrear coisas, como por exemplo os cadernos.

CM: O entusiasmo é maior em determinada idade?
NL:
 Sim, entre os mais pequenos. Quanto mais novo é o aluno maior é o efeito de euforia. Nos adolescentes, o efeito do novo material escolar sobre a vontade de aprender é muito menor.

CM: Este estímulo acaba, contudo, por morrer?
NL:
 Com o tempo, o efeito de novidade termina. Com a rotina do dia a dia, a novidade dos cadernos e dos lápis novos deixa de funcionar como estímulo para a criança estudar. O efeito acaba por ser efémero.

Família numerosa com truques para poupar
Margarida Araújo, mãe de seis crianças com idades compreendidas entre um ano e dez anos, sabe que no regresso à s aulas há que fazer contas para as compras de material escolar não desequilibrarem o orçamento. ‘Habitualmente, eu e o meu marido vamos sem os filhos à s compras e optamos por adquirir produtos de marcas brancas. Em regra são produtos de boa qualidade, embora no ano passado um compasso se tenha estragado com facilidade’, disse. ‘Ainda que sejam crianças, tentamos fazê-los compreender que é importante não estragar nem perder o material escolar’, acrescentou. Professora de Química (o marido é professor de Matemática), Margarida Araújo, de 38 anos, tem os quatro filhos mais velhos a estudar. O custo dos livros ronda os 400 euros e no material escolar serão gastos cerca de 150 euros.

CUSTO DO SABER

571 euros por ano
Um estudo do Instituto Nacional de Estatística (INE) revela que as famílias portuguesas com filhos despendem em média 571 euros (1,7 %) do orçamento anual para a Educação.

Europa gasta menos
Os portugueses gastam mais na Educação do que a média obtida entre os 27 países da União Europeia, que atinge os 1,2%.

Grande Lisboa no topo
A Grande Lisboa lidera nos gastos com 2,3% (604 euros), seguida da Região Norte (1,8% – 472 euros) e Centro (1,1% – 289 euros).

Algarve e Açores
Algarve e Açores são as regiões que gastam menos: 0,8 % (210 euros). Alentejo e Madeira gastam 0,9% (236 euros).

NOTAS

Moda: Cristiano Ronaldo
Cristiano Ronaldo é um filão comercial. A imagem do futebolista em estojos e mochilas faz disparar a procura destes objetos pelos mais pequenos. A mochila custa 16,99 euros.

Mochilas: pais ficam indecisos
Mochila ou trolley são os artigos que, segundo os lojistas, maiores dúvidas causam aos pais na hora de comprar. Isto porque a mochila pode prejudicar a coluna e o trolley é difícil de usar.

Quebra-cabeças: rolo de crepe
A lista de compras de material escolar de Patrícia Monteiro integrava um rolo de crepe colorido, cuja descoberta para a mãe se transformou num verdadeiro quebra-cabeças.

Erro: ceder à s crianças
Ceder ao desejo das crianças sem olhar a custos é um erro a evitar, sublinha o psicólogo Daniel Sampaio, lembrando que ‘o excesso de gratificação não é benéfico’.

DECO: benefícios fiscais
A associação de defesa do consumidor DECO sublinha a possibilidade de dedução fiscal dos custos resultantes dos estudos que as famílias têm de suportar.

Marcas: evitar tentação
O presidente da Confederação das Associações de Pais, Albino Almeida, alerta para a tentação das ‘marcas’ e dá o exemplo do preço de cadernos de ‘bonequinhos’.

5.º ano: mudança crítica
A coordenadora da consulta de adolescentes do Hospital Santa Maria, Helena Fonseca, defende que a passagem do quarto para o quinto ano está assinalada como uma fase crítica.

Aulas: começam quarta-feira
O calendário escolar estipula que as aulas no Ensino Pré-escolar, Básico e Secundário se iniciem entre 10 e 15 de setembro. Todos os anos a abertura é dividida por vários dias.

Hipers agarram escola
Cresce o número de corredores concedido pelos hipermercados ao material escolar entre meados de agosto e setembro.

CABAZES DA ESCOLA
Lista de 25 artigos apresenta preços acessíveis a todas as bolsas. Em regra, artigos mais baratos integram as chamadas marcas brancas, que por menor riqueza de cores e modelos menos arrojados vencem no melhor preço.

ARTIGO MAIS BARATO MAIS CARO
Compasso 1,99 7,49
Caderno de linhas A4 0,43 4,99
Canetas de feltro (12) 0,99 3,39
Borracha 0,39 1,49
Tesoura 0,59 4,99
Lápis de cor (12) 0,69 13,99
Máquina de calcular 4,50 159
Cola 0,86 2,89
Agrafador 1,39 4,89
Caderno desenho A3 1,89 6,99
Caderno Quadr. A4 0,43 4,99
Dicionário Bilingue 7,59 21,99
Dicionário Português 4,39 34,65
Estojo 1,29 14,99
Furador 1,49 5,89
Lápis 0,39 3,39
Marcadores (6) 0,99 3,79
Mochila 4,99 29,99
Régua 40cm 0,91 1,99
Trolley 11,99 39,99
Dossiê 0,99 3,59
Recargas A4 0,99 1,49
Separadores A4 0,84 1,99
Papel forrar manuais 0,99 3,89
TOTAL 52,58 euros 385,02 euros

Universidade do Porto transforma alunos do secundário em investigadores numa semana

Público | 2008-09-02

Alunos do 11.º ano vêm de todo o país para experimentar a investigação na Escola de Ciências da Vida e da Saúde da Universidade Júnior.

Têm apenas 17 anos e, se ontem ouviam as explicações dos investigadores, no sábado vão apresentar as suas próprias conclusões científicas num minicongresso. Dos 170 alunos do 11.º ano de todo o país que se candidataram, apenas os cem melhores vão participar nos projetos de investigação da 4.ª Escola de Ciências da Vida e da Saúde (ECVS), uma das iniciativas da Universidade do Porto (UP) que, tal como a Escola de Física e a Escola de Matemática, faz parte do projeto Universidade Júnior.

Um dos objetivos da ECVS é mostrar que “as ciências da saúde não são só Medicina”, explica o coordenador científico da iniciativa e professor da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da UP, Pedro Graça. Os projetos são 25 e mobilizam várias faculdades da UP – Medicina, Ciências da Nutrição e Alimentação, Farmácia, Medicina Dentária e Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar – e também duas unidades de investigação – o Instituto de Biologia Molecular e Celular e o Instituto de Patologia e Imunologia Molecular. O estágio científico cobre temas tão variados como toxicologia forense e cuidados alimentares para hipertensos, passando pela medicina veterinária.

“Cativar os bons alunos do país inteiro para conhecerem a UP” é intuito principal da ECVS, segundo Pedro Graça. O coordenador científico considera que estes miniestágios são uma “forte ajuda pedagógica” para a escolha do curso superior, uma vez que permitem aos alunos experimentar como funciona a investigação na universidade. “Participam e, a partir daí, fazem melhores escolhas”, defende.

Este ano, a maior parte dos participantes não vem da região do Porto. Segundo Filomena Mesquita, da organização, a afluência de alunos do Centro e do Sul deve-se ao esforço de promoção que a UP fez junto dos estabelecimentos de todo o país e ao “interesse dos professores e das escolas”, explica.

Mas muitos dos participantes descobriram a ECVS por si próprios, como Margarida Magalhães, de Ponte de Lima, que tomou conhecimento do projeto na Internet. “Vim por ser uma experiência diferente, para fazer coisas que na escola não temos”, explica. Porque o convívio também é importante, Margarida espera “conhecer pessoas com gostos semelhantes”. Quer ir para Medicina, tal como Diogo Chula, mas este vem da outra ponta do país, de Portimão. Foi o professor de Biologia que lhe sugeriu o estágio científico. “Vim aprender a trabalhar melhor em laboratório e desenvolver conhecimentos numa área específica”, conta.

A interação com os jovens também motiva os próprios profissionais, explica Pedro Graça: “é sempre bom receber pessoas novas, estimuladas para o trabalho na ciência, que, muitas vezes, se fecha”. E sublinha que é “fundamental” que a UP se abra aos jovens, já que uma das suas “missões” é “divulgar a ciência”. “é motivante cativar os alunos para o nosso trabalho e receber entusiasmo em retorno”, conta Alexandra Gouveia, professora na Faculdade de Ciências da Nutrição e monitora de um dos projetos. “A ciência também tem um lado de serviço público”, acrescenta.

Despesas e apoios no regresso à escola

Público | 2008-08-30

Entre 10 e 15 de setembro as escolas básicas e secundárias de todo o país abrem as portas a um novo ano letivo. Este ano tem uma novidade: apoios sociais mais alargados e mais simples para um conjunto alargado da população estudantil. Mas mesmo assim, por estes dias, muitos pais queixam-se de gastar muito com o regresso à escola.

* Montante calculado com base nos preços praticados no Continente do Centro Comercial Colombo, em Lisboa. As listas de material foram feitas com base numa lista exemplificativa constante do site do Instituto do Consumidor e com base na lista de material exigida por uma escola de Lisboa a um aluno do 1.º ano.

Nota:
 Nem o Ministério da Educação nem a associação nacional de municípios forneceram em tempo útil os montantes de apoio destinados aos alunos do 1.º ciclo.

Ação SOCIAL ESCOLAR
Quanto recebem as famílias para livros e material escolar?

CUSTOS DOS MANUAIS ESCOLARES
Valor médio do cabaz em euros.**


** A APEL não divulgou este ano os valores médios dos manuais; os cálculos apresentados foram feitos tendo em conta o custo médio dos manuais para cada ciclo de ensino divulgados no ano passado, aos quais foram somados os aumentos máximos permitidos por lei para este ano.

AUXíLIOS ECONóMICOS
Quantos alunos se prevê que sejam abrangidos?

Em milhares

 

QUE APOIOS Há PARA TER UM COMPUTADOR?
Alunos do 1.º ciclo terão acesso ao novo computador Magalhães. O Ministério da Educação diz que os pais devem contactar a escola para obter informações. No âmbito do programa de acesso a computadores pessoais e banda larga, os alunos do 3.º ciclo e secundário dos escalões A e B poderão ter computador gratuito e pagar 5 euros de mensalidade pelo acesso à Internet. Mais informações em www.eescola.pt/indexA.aspx.

O QUE SIGNIFICAM OS ESCALõES DE AçãO SOCIAL ESCOLAR?
Com o novo regime, serão abrangidos pelo escalão A todos os alunos do escalão 1 do abono de família. Ou seja, alunos integrados em famílias cujo rendimento de referência calculado para efeitos de atribuição do abono é de até 2851,87 euros por ano.

Ao escalão B pertencem todos os alunos do escalão 2 do abono de família, cujo rendimento de referência vai de 2851,88 a 5703,74 euros por ano.

Há ainda um escalão C que dá acesso aos computadores do programa e.escola e a um custo mais baixo no alojamento em residências.

QUE OUTROS APOIOS EXISTEM?
Por exemplo: os programas do leite escolar (abrangem todos os alunos do 1.º ciclo e da educação pré-escolar); comparticipação de refeições em refeitórios escolares para todos os alunos (gratuitas para os mais carenciados); comparticipação de mensalidades em residências para alunos deslocados.

Total de alunos no setor público e privado
1 438 776 (dados de 2006/2007, só continente).

Quanto custam estes apoios ao ministério?
Só no que respeita a manuais e apoios para material escolar – 31 milhões de euros.

Mais de 270 alunos do secundário vão participar em projetos reais de investigação científica

Lusa | 2008-08-28

Em julho, a Universidade do Porto já tinha aberto as portas a mais de 5000 alunos.

A partir de segunda-feira, 275 alunos do secundário vão trabalhar, durante uma semana, em projetos reais de investigação científica nas áreas da Saúde, Física e Matemática, nos centros de investigação da Universidade do Porto (UP).

O objetivo da Universidade do Porto é sensibilizar jovens pré-universitários para as áreas ali lecionadas.

Segundo Filomena Mesquita, responsável pela organização da iniciativa, os jovens participantes foram selecionados após uma “avaliação rigorosa” do currículo académico.

“De modo a potenciar esta primeira aventura no mundo da investigação, todos terão a oportunidade de apresentar as suas descobertas perante uma Comissão Científica, composta por investigadores doutorados da Universidade do Porto”, salientou.

Em julho, a Universidade do Porto já tinha aberto as portas a mais de 5000 alunos do 5.º ao 11.º anos.

Monopólio: Cidades portuguesas excluídas da nova versão do jogo. Candidatos a milionários não vão poder comprar cidade de Lisboa

Público | 2008-08-28

O Monopólio mudou, mas só no aspeto. Tem novas peças e cidades do mundo em vez de ruas. Lisboa ficou de fora por pouco. De resto, a ideia é a mesma: tentar enriquecer a brincar.

Venceu o advento dos jogos eletrónicos e continua a ser uma das brincadeiras com mais adeptos no mundo a que mesmo muitos adultos não resistem. Aos 73 anos (nasceu em 1935) apresenta-se com novas roupas e algumas novidades, mas a velha fórmula do capitalismo puro e duro continua inalterada: comprar propriedades, enriquecer e levar os concorrentes à falência. Foi o que tentaram fazer ontem jogadores de 27 países em simultâneo no lançamento mundial do novo Monopólio. Os portugueses também alinharam, com o campeão nacional presente. Na nova edição, Lisboa ficou de fora das cidades escolhidas para figurarem no tabuleiro como propriedades.

A nova edição mundial foi lançada no Centro Comercial Colombo, em Lisboa, com os cerca de 60 adeptos presentes a alinhar na partida global que marcou a apresentação do jogo, que cumpriram o objetivo de entrar para o Guinness com o recorde mundial de mais de 4000 pessoas a jogar ao mesmo tempo.

Mais de cinco milhões de votos on-line decidiram as cidades que figuram no novo tabuleiro. Os fãs de todo o mundo puderam votar no início de 2008 nas cidades que gostariam de ver representadas, entre as 68 disponíveis. Lisboa também era candidata, mas não conseguiu um lugar entre as 22 escolhidas por uma posição (ficou em 23.º lugar).

As mais votadas, Montreal e Riga, são as propriedades mais caras do tabuleiro (lembram-se do Rossio e da Rua Augusta, na velhinha versão portuguesa?). As duas propriedades mais baratas, Taipé e Gdynia, foram as duas cidades mais votadas que não faziam parte da lista inicial de cidades nomeadas, mas que os votantes tinham oportunidade de escolher. Entre essas cidades estão a Cidade do Cabo, Belgrado, Paris, Jerusalém, Hong Kong, Pequim, Londres, Nova Iorque, Sydney, Vancouver, Xangai, Roma, Toronto, Kiev, Istambul, Atenas, Barcelona e Tóquio.

é a primeira vez que a Hasbro, empresa que comercializa o Monopólio, lança e comercializa o Monopólio num layout mundial, segundo revelou Rui Botelho de Sousa, diretor de marketing da filial portuguesa. O jogo foi lançado em 60 países, em 37 línguas.

A iniciativa lisboeta de ontem contou com juízes oficiais que validaram as jogadas, entre os quais fez parte o campeão nacional de Monopólio. Chama-se Vítor Cândido, tem 34 anos, é portageiro da Ponte 25 de abril e até já representou Portugal no campeonato mundial de Monopólio em Tóquio, Japão, em 2004.

Vítor joga Monopólio desde miúdo, não se lembra desde que idade. Começou a jogar com familiares, depois com amigos. Na adolescência, quando tinha mais tempo livre e mais parceiros disponíveis, jogava três a quatro horas por dia. “à s vezes até deixava o jogo de um dia para o outro”, confessa. O “vício” era tal que “já sabia tudo de cor, não precisava olhar para saber quanto ia pagar” pelas propriedades.

Participou pela primeira vez num campeonato em 2000, no qual conseguiu um quarto lugar. Estava a passar por um supermercado Continente, deram-lhe um panfleto com informações do campeonato e pensou: “Porquê não?” Em 2004 consagrou-se campeão nacional.

Quanto ao novo Monopólio, Vítor não hesita e diz que “é uma inovação”, que “causa impacto à vista”.

Apesar da era das consolas, o diretor de marketing da Hasbro afirma que “o Monopólio continua a ser um jogo acarinhado” pelos portugueses. De acordo com Rui Sousa, as vendas crescem todos os anos, sendo o “jogo mais vendido em Portugal, com mais de 50 mil unidades comercializadas por ano”. Para os adeptos de consolas, a versão eletrónica do Monopólio, que já existe em países como os Estados Unidos, está prevista para o mercado nacional em 2009. O Monopólio Edição Mundial está à venda em todo o mundo desde ontem e custa, no mercado nacional, cerca de 34,50 euros. Quem quer ser milionário?

Novidades
As propriedades são cidades de todo o mundo.

Foi introduzido um temporizador de leilão, para tornar as jogadas mais rápidas nas negociações.

Os peões simbolizam os vários continentes, como um chapéu de safari africano ou um canguru de Austrália.

As casas e os hotéis simbolizam as arquiteturas mundiais, como arranha-céus e pirâmides.

A “Energia Eólica” e “Energia Solar” substituíram a “Companhia das águas” e a “Companhia da Eletricidade”.

Ministério atribui prémio de 500 euros aos melhores alunos do ensino secundário

Público | 2008-08-06

De acordo com o comunicado publicado no site da tutela o objetivo deste prémio é “reconhecer e valorizar o mérito, a dedicação e o esforço no trabalho e desempenho escolares. O ministério explica ainda que os 500 euros serão atribuídos “em cada escola do ensino público ou privado, bem como em escolas profissionais, ao melhor aluno dos cursos científico-humanísticos e ao melhor aluno dos cursos profissionais ou tecnológicos”.

Na cerimónia de entrega do prémio – que deverá ocorrer a 12 de setembro, dia em que será assinalado pela primeira vez o Dia do Diploma – os alunos receberão também um diploma assinado pelo respetivo presidente do conselho executivo ou diretor e, nos casos do ensino particular e cooperativo, pelo diretor pedagógico.

O nome dos vencedores será divulgado nas escolas, no site da direção regional de educação respetiva e no Portal da Educação. “O apoio financeiro para a atribuição dos prémios e para a organização da cerimónia pública de entrega dos diplomas deve ser proporcionado à s escolas pelas direções regionais de educação e pelo Gabinete de Gestão Financeira”, lê-se também no comunicado do ministério.

Nos cursos científico-humanísticos, o prémio será entregue ao aluno que tenha obtido, relativamente a cada um dos cursos, a melhor classificação, arredondada à s décimas. Em caso de empate, é distinguido o aluno que tenha obtido melhor classificação na disciplina trienal da formação específica, funcionando como segundo critério de desempate a classificação na disciplina de Português.

Nos cursos profissionais e tecnológicos, o prémio será atribuído ao aluno que tenha obtido a melhor classificação final. Para estes alunos, o primeiro critério de desempate é a classificação obtida na prova de aptidão profissional ou tecnológica, funcionando como segundo critério de desempate a classificação na disciplina de Português.

A decisão, que já tinha sido avançada pelo ministério e noticiada pelo Público, foi agora publicada em Diário da República.

As escolas devem pagar aos alunos que tiram boas notas? 

Público | 2008-08-03

Acenar com dinheiro pode ajudar a tirar boas notas? Talvez, respondem os especialistas, mas isso é assumir o total falhanço da Escola. Michael Bloomberg, o mayor de Nova Iorque, pagará até 500 dólares aos alunos com melhores resultados.

Dar dinheiro aos alunos que tiram boas notas nas escolas públicas é uma prática que está a ganhar cada vez mais adeptos. No Brasil, no México, mas também em Nova Iorque, nos EUA, onde os pedagogos anseiam pelos resultados de um projeto experimental que prevê o pagamento de alguns dólares aos estudantes que tiram boas notas nos exames e que abrange 58 escolas daquele Estado.

Por cá, a moda ainda não pegou. O máximo a que se chegou foi à criação dos prémios de mérito, mediante os quais o Ministério da Educação prevê a atribuição de um prémio de 500 euros aos melhores alunos do ensino secundário, já no próximo dia 12 de setembro. Esta tendência, porém, está a preocupar os especialistas ouvidos pelo PúBLICO, que se mostram receosos quanto aos efeitos que esta importação do modelo empresarial para as escolas poderá ter no desenvolvimento dos alunos.

“Tudo isto é uma deturpação dos valores que a escola deve passar e que devem ir no sentido de criar cidadãos conscientes e intervenientes na sociedade porque querem ser felizes. E isto não se faz pondo as crianças a cumprir tarefas a troco de dinheiro”, considera a psicóloga Rita Xarepe, para quem “é errado pensar-se que os miúdos não são melhores alunos porque não querem e que passarão a sê-lo a troco de dinheiro”.

A partir da experiência que decorre em Nova Iorque e que abrange crianças dos oito aos 11 anos de idade, muitas das quais provenientes de meios marcados por fenómenos como o abandono escolar e a exclusão social, Rita Xarepe diz temer também os efeitos que tal prática terá na relação das crianças com a família. “Imagine a pressão de uma família sobre uma criança que deve ir à escola e ganhar dinheiro: já não lhe basta sentir que não é boa aluna e ainda tem que sentir que não está a levar dinheiro para casa e que a responsabilidade é dela.”

O pedagogo Sérgio Niza também olha horrorizado para a remuneração do desempenho escolar. “é um truque ridículo que assenta na brutal ignorância dos governantes acerca das questões da Educação”, qualifica este professor no Instituto de Psicologia Aplicada, lamentando que “as pessoas que gerem a Educação tenham esquecido que esta é um contrato de natureza social, onde adultos e jovens se comprometem entre si a atingir metas de conhecimento”.

Fundador da “Escola Moderna” – um movimento de professores que aposta na maior participação dos alunos na aprendizagem -, Sérgio Niza acrescenta em tom de alerta que “o comércio e o lucro não são os valores adequados para preservar e promover a responsabilidade”.

Viver na competição
Na mesma lógica de raciocínio, Rui Trindade, professor da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, diz que “não é através de prémios financeiros que se resolve o problema da falta de sentido da escola”. “Não me admiraria se os meninos começassem a viver na competição e se metessem a fazer batota ou a tomar drunfos para aguentar”, antevê, insistindo que o desafio a não perder de vista é conseguir que a escola faça sentido para os alunos.

“Eu, como professor, tenho que ser capaz de imprimir um sentido à quilo que peço aos meus alunos e de lhes transmitir que o exercício que lhes estou a pedir lhes permitirá dar um salto em frente e que isso nem sempre é uma coisa lúdica, que implique recompensa imediata.”

Noutra perspetiva, este “abrir da caixa de Pandora”, como qualifica Rui Trindade, poderá deixar para trás os que têm mais dificuldade em obter boas notas. “Se os bons alunos são bons alunos, por que é que precisam de receber dinheiro? Não conseguimos que eles tirem prazer do facto de serem bons alunos sem ser pagando-lhes? Por outro lado, já tive crianças que nunca tinham tido uma positiva e que, por via do esforço e investimento, tiveram um dia um dez. Eu quero saber se essa gente não tem que ser valorizada pelo esforço que fez.”

Sérgio Niza vai mais longe ao considerar que “não viria mal nenhum ao mundo se deixasse de haver atribuição de notas nas escolas”. A quem o ouve com ceticismo, o pedagogo aponta o exemplo da Finlândia, país que obteve a melhor classificação nos três últimos Pisa – o programa de avaliação de alunos que abrange estudantes do ensino secundário de 57 países. “Na Finlândia, não há exames e os alunos progridem automaticamente, porque lá, em vez de se gastar brutalidades com alunos a repetir anos inteiros, o dinheiro é aplicado em professores auxiliares e assistentes que se vão encarregando dentro das salas de aula de não deixar atrasar os alunos.”

Olhando para a realidade portuguesa, o pedagogo lamenta que se tenha enveredado pelo caminho da competição dentro das escolas, antes de apontar o que considera ter sido um erro crasso da atual ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, “que resolveu tornar públicos os resultados das provas aferidas, independentemente de dizer que não reprova as crianças”. “Os professores começaram a reter os alunos no segundo e terceiro anos para não chegarem ao quarto e sentirem vergonha por ver maus resultados dos seus alunos expostos perante todos.”

Prémios começam a ser pagos em setembro

Público | 2008-08-03

ME investe meio milhão de euros no programa.

O Ministério da Educação (ME) vai atribuir, já no próximo dia 12 de setembro, um prémio de 500 euros aos melhores alunos do ensino secundário, numa iniciativa que implica um investimento global de meio milhão de euros.

As regras dos prémios, que aguardam ainda publicação em Diário da República, já estão disponíveis no Portal da Educação (www.min-edu.pt/) e assentam no direito do aluno “a ver reconhecidos e valorizados o mérito, a dedicação e o esforço no trabalho e desempenho escolares”, como se lê no despacho assinado pela ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues. Nesse sentido, o dia 12 de setembro passará a ser reconhecido como o “Dia do Diploma” e será assinalado todos os anos.

O prémio é atribuído em cada escola do ensino público ou privado, bem como em escolas profissionais, ao melhor aluno dos cursos científico-humanísticos e ao melhor aluno dos cursos profissionais e tecnológicos. Assim, escolas que tenham as duas valências de formação entregarão mais do que um prémio. Além do dinheiro, os melhores alunos terão direito ao respetivo diploma assinado pela direção da escola.

Refeições e manuais escolares gratuitos para quase 400 mil alunos a partir de setembro

Público | 2008-07-25

Bolsas de mérito no valor de mil euros poderão ser acumuladas com outros apoios sociais.

O número de alunos a beneficiar de refeições e manuais escolares gratuitos (ou quase) vai passar de 185 mil para 400 mil já a partir de setembro. O anúncio sobre o alargamento dos apoios atribuídos à s famílias mais carenciadas (do escalão A da ação social escolar) tinha sido feito em julho por José Sócrates e foi agora concretizado num despacho do Ministério da Educação (ME) divulgado ontem, ficando a saber-se que terá efeitos já para o próximo ano letivo.

O número de estudantes do escalão B – que beneficiam de ajudas equivalentes a metade das recebidas pelos do escalão A – aumentará de 44.500 para 311 mil. Tudo somado, as alterações no cálculo dos beneficiários da ação social escolar (ASE), que passará a ser feita em função dos abonos de família, fazem triplicar os alunos apoiados para um total superior a 700 mil. “é um alargamento sem precedentes desde que existe o sistema da ação social escolar. Mais de 50 por cento dos alunos do básico e secundário passam a ter apoios”, diz Jorge Pedreira, secretário de Estado Adjunto e da Educação.

Pedreira destaca a evolução no ensino secundário, onde a ASE tem tido um “carácter residual”. Se no ano passado havia 25 mil beneficiários, o ME estima que em 2008/2009 sejam 170 mil.
Mais 73 milhões de euros

No caso das refeições, a lei já previa a comparticipação total para os alunos do escalão A; o que muda é o número de beneficiários. Em relação aos manuais escolares, para além do alargamento no número de alunos abrangidos, o ME aumentou os valores da comparticipação nos anos de escolaridade que ainda não eram cobertos na íntegra pelos apoios do Estado. “No caso do 5.º e do 7.º ano, por causa dos manuais de Educação Física, Música e Educação Visual e Tecnológica, o plafond atribuído não cobria o custo de todos os livros. O que fizemos foi aumentar o montante dos apoios nesses níveis de ensino”, explica Jorge Pedreira.

Em relação ao secundário houve também um aumento da comparticipação, no valor de cinco por cento. Ou seja, “quase o dobro” da inflação, cuja taxa passou a servir de referência ao aumento dos manuais do 10., 11.º e 12.º (tal como acontecia no básico).

Mesmo assim, Pedreira admite que os apoios previstos poderão, em alguns casos, não cobrir a totalidade dos custos das famílias com a aquisição dos livros, já que o preço varia muito consoante as disciplinas. Para os alunos do escalão A no secundário, a comparticipação prevista é 120 euros. E no 5.º ano é 100 euros.

Outra das novidades no diploma, que ainda vai ser publicado em Diário da República, diz respeito à atribuição das bolsas de mérito no ensino secundário, cujo valor é fixado em mil euros por ano. A estes apoios continuam a poder candidatar-se apenas os alunos carenciados e que tenham obtido, no ano anterior, uma classificação média igual ou superior a quatro no 9.º ou a 14 valores no 10.º ou 11.º.

A diferença é que as bolsas passam a poder ser acumuladas com outros apoios (manuais, refeições, alojamento) que o aluno esteja a receber.

Estas medidas representam “um contributo fundamental para a integração social, para a promoção do sucesso e prevenção do abandono escolar”, defende o ME, que passará a gastar mais 73 milhões de euros com a ASE: 43 milhões para as refeições e 30 para os manuais escolares.

O secretário de Estado Jorge Pedreira diz que este alargamento “não tem precedentes” na ação social escolar.

As bonecas deficientes podem ajudar as crianças? 

Público | 2008-07-14

Têm os olhos amendoados, a língua ligeiramente de fora, as mãos sapudas. São bonecas com síndroma de Down. Uma brincadeira de mau gosto ou uma maneira de promover a diferença? As opiniões dividem-se.

Podem ser louras, mas não têm umas pernas sem fim, nem cintura de vespa. Não são Barbies, nem Bratz com roupas e pinturas glamorosas. Têm os olhos grandes e amendoados, algumas têm-nos salientes; os narizes são arrebitados, as orelhas pequenas e coladas à cabeça, a boca aberta e com a língua meio de fora. São bonecas que se parecem com crianças com síndroma de Down. Mas não estão sozinhas no mercado. Existem umas que são carecas, como os meninos que fazem quimioterapia. Outras andam de cadeira de rodas, de muletas ou usam um cão guia porque são cegas. São bonecas com deficiências, a pensar nos meninos que são diferentes, mas não só.

A Diferenças – Associação Portuguesa de Portadores de Trissomia 21 e a Raríssimas – Associação Nacional de Deficiências Mentais e Raras rejeitam este tipo de brinquedos. “As meninas olham e admiram o perfeito, o ideal, a Barbie que não existe. Porquê retirar-lhes também o sonho de se reportarem nelas, como acontece com as meninas sem deficiência?”; pergunta Paula Costa, presidente da Raríssimas.

O ideal é serem oferecidas à s crianças sem deficiência para perceberem que há diversidade, defendem os investigadores David Rodrigues e Teresa Brandão, da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa (FMH/UTL).

Mas, entre as associações que acompanham crianças deficientes não há consenso. Em Espanha, a Federação Espanhola das Instituições para o Síndroma de Down (Down España) apoiou e acompanhou o desenvolvimento da Baby Down, uma boneca que representa um bebé, de fralda, que pode ser comprada com o cabelo louro, castanho ou ruivo e na versão feminina ou masculina.

A ideia foi de Pedro Cubells, da Des.toys, uma empresa espanhola de brinquedos, que sempre sonhou com uma boneca assim. A Baby Down está à venda em todas as lojas e distribuidores especializados de brinquedos, mas também pode ser comprada pela Internet (www.babydown.es/). Neste primeiro ano foram vendidas cerca de cinco mil bonecas e a Des.toys doa 40 por cento do lucro da fabricação à Down España.

“Temos recebido feedback de pessoas de várias nacionalidades que elogiam, apoiam e incentivam esta iniciativa”, informa Pedro Cubells, por e-mail, acrescentando que também já houve reações negativas.

Há alguns anos, Helga Parks imaginou uma boneca com Trissomia 21, começou a fabricá-las e a vende-las pela Internet (http://www.downsyndromedolls.com/), desde 2001. Parks foi mais longe e criou bonecas carecas a que chamou Chemo Friends, uma alusão à s crianças que fazem quimioterapia; e ainda um ursinho, o Anatomical Teddy, a quem se podem tirar os órgãos internos – a pensar nas crianças que vão ser operadas.

Mas há mais. Na Carolina do Sul, Donna Moore, uma mulher que perdeu a visão gradualmente, decidiu dedicar a sua vida à causa do síndroma de Down através da produção de bonecas em tudo semelhantes à s crianças com Trissomia 21, pode ler-se no seu site (www.downicreations.com/). à venda na Internet, há oito modelos de bonecas, com roupas cheias de rendas e de corte antiquado. As primeiras bonecas que Moore criou chamam-se Kathryn, Elizabeth e Timothy, nasceram todas em 1997.

São bonecas de coleção, mais caras que a Baby Down (19 euros) ou que as de Helga Parks (cerca de 30 euros) e quem as compra recebe um certificado de autenticidade. O portal de Donna Moore prevê ainda que quem quiser deixe um donativo para que as crianças deficientes, com rendimentos mais baixos; os hospitais e escolas possam receber uma daquelas bonecas que podem custar mais de 110 euros.

“Roça o mau gosto”
A verdade é que estas bonecas estão a tornar-se populares nos EUA, no Reino Unido e um pouco por todo o mundo. Pedro Cubells apresentou este ano, na feira dos brinquedos no Brasil, a Baby Down e foi um sucesso. “Talvez se fabrique lá para distribuir por toda a América Latina”, espera.

Atualmente a viver nos EUA, Helga Parks, de origem alemã, já sofreu na pele as reações negativas à s suas criações. Alguém escreveu num blog: “Tudo aquilo roça o mau gosto”. Foi por causa deste comentário que a criadora pôs uma declaração de intenções no início do seu portal na Internet, escreve o Times On-line. “Estes brinquedos podem ser importantes para que as crianças com síndrome de Down construam a sua autoestima”, defende. “As crianças com deficiência podem sentir-se mais integradas na sociedade”, defendem alguns produtores de brinquedos, citados pelo Daily Mail. “Elas sabem que não são iguais e precisam de se identificar com qualquer coisa, como todas as outras crianças”, declara Donna Moore.

“Não é preciso dizer-lhes, elas sabem muito bem que são diferentes e não querem ser”, responde Paula Costa, da Raríssimas. Para esta mãe de uma criança diferente, oferecer um boneco com traços de Down é o mesmo que “marcá-la” ou “dizer-lhe, indiretamente: Tu és diferente, só podes ter um dia um bebé como tu.”

“Não queremos promover a diferença, mas promover a sua beleza e fazer-lhes saber podem ser diferentes por foram, mas por dentro somos todos iguais. Eles têm os mesmos sonhos e as mesmas esperanças”, contrapõe Donna Moore, no britânico Daily Mail.

Teresa Brandão, professora do Departamento de Educação Especial e Reabilitação da FMH/UTL, aponta que muitas crianças com síndroma de Down não vão sequer aperceber-se que aquele boneco é diferente dos outros ou que é parecido consigo. “Antes dos sete ou oito anos não têm ainda noção do eu e do outro, porque têm a maturidade de uma criança de três ou quatro anos. Quando perceberem esses conceitos já não têm idade para brincar”, explica.

Para esta especialista e para o investigador David Rodrigues estes brinquedos “devem ser dados a todas as crianças”. “São uma vantagem educativa porque representam a diferença”, defende Teresa Brandão que considera que podem ser usados nas creches e jardins de infância para falar com as outras crianças. “Serão úteis para quem não tem deficiências, para a educação das crianças em geral”, acrescenta David Rodrigues que alargaria a oferta a bonecos gordos ou de outras etnias para que todas as crianças aprendam a lidar com a diferença.

“Todos diferentes, todos iguais”, lembra Paula Costa que considera fundamental que as crianças sem deficiência olhem para os que são diferentes “com naturalidade”. Apesar de tudo, a presidente da Raríssimas preferia que estas bonecas “não existissem”.

Fruta nas escolas

Público | 2008-07-11

Entre abril e junho passado, a Plataforma contra a Obesidade, em colaboração com a Galp, distribuiu cerca de 240 toneladas de maçãs e peras em 50 escolas do ensino básico, segundo informação daquela empresa. Esta iniciativa, que abrangeu cerca de 12 mil alunos, vai deslocar-se em agosto para as praias do Algarve. Em outubro deverá ser também lançado em Portugal o novo projeto europeu Pro Greens, que deverá promover e avaliar o consumo de fruta e produtos hortícolas em crianças entre os 10 e 12 anos.

Ser aluno universitário é “uma oportunidade fantástica” e “uma aventura muito divertida”

Público | 2008-07-03

Universidade Júnior oferece experiências lúdicas e formativas porque “desistir é o pior que se pode fazer antes de atingir o ensino superior”.

Durante o mês de julho, todos os horários estão definidos, todas as rotinas e atividades estão programadas. Catarina estuda no Barreiro e foi de lá que viajou até ao Porto para conhecer algumas facetas da profissão que deseja desempenhar no futuro. Ainda faltam três anos para entrar no ensino superior, mas “o sonho é ser médica pediatra e não podia perder a oportunidade” de participar na Universidade Júnior da Universidade do Porto (UP).

Bárbara e Mariana chegaram ao Porto com um objetivo comum: o jornalismo. Mas as razões que as motivaram em nada se relacionam. Bárbara veio de Monção, e o sonho passa pela enfermagem e não pelo jornalismo. Mas “o gosto pela escrita é muito grande” e agora tem a possibilidade de exercer a profissão que considera a “segunda grande paixão”. Mariana é lisboeta e a estadia no Porto só tem um sentido: “aprender tudo quanto puder sobre o curso” porque o futuro já está definido – quer ser fotojornalista. Há três dias não se conheciam e agora, inscritas na Universidade Júnior são parceiras em todas as atividades.

Tal como Catarina, candidataram-se também ao programa de alojamento assegurado pela UP. Na Escola Prática de Transmissões, o recolher é feito ainda com sol, o dia começa à s 6h30 porque a organização das tarefas exige muita antecedência. A maioria dos alunos considera o sistema “rígido e muito cansativo”, mas ninguém pondera não repetir a experiência. A opinião é unânime: em 2009 todos querem voltar ao Porto (cidade que muitos nem sequer conheciam) para participar na Universidade Júnior.

A iniciativa da UP é a maior do género a nível nacional. Através de “um grande trabalho de logística”, a universidade oferece a 5300 jovens, de todo o país, um conjunto de 120 atividades distribuídas pelas 14 faculdades e 69 unidades de investigação. Os alunos do 5.º ao 11.º ano podem ocupar o tempo livre das férias (“aborrecido” quando “não há nada para fazer”, confessam alguns) para “conhecer a vida universitária e explorar vocações”. Algo não tão cativante para os mais novos, como o Tiago que tem apenas onze anos. é o segundo ano que participa no programa, mas ser filho de um docente da UP dá-lhe um know-how que lhe garante “amigos de verão”. E já tem muitos, assegura.

Ao terceiro dia de atividades, o reitor da UP, Marques dos Santos, visitou algumas salas e laboratórios de atividades, conversou com os participantes, questionou-os e falou das grandes mais-valias de um projeto “com tamanha dimensão”. A Universidade Júnior pretende “contribuir para a diminuição do abandono escolar” e “ajudar os jovens a escolher o curso superior dando a conhecer toda a oferta”, ao mesmo tempo que é “uma ótima oportunidade para a UP se dar a conhecer e atrair mais jovens”, explicou.

E agora, o que fazer com os miúdos?

Público | 2008-06-29

Férias de verão: as aulas acabam, mas muitos pais têm de continuar a trabalhar. Há, um pouco por toda a parte, programas preparados para manter ocupadas as crianças durante os próximos meses.

O problema repete-se regularmente: as escolas fecham para férias e os encarregados de educação dão voltas à cabeça para encontrar um meio de manter as crianças ocupadas e acompanhadas. Os avós nem sempre estão disponíveis e, sabendo disso, são cada vez mais as instituições que preparam programas especialmente dedicados a ocupar o tempo dos mais pequenos de uma forma criativa, saudável ou instrutiva.

A oferta é, pois, variada e inclui, entre outras atividades, oficinas de artes plásticas e ateliers de leitura, atividades que promovem o contacto com a natureza e com valores ambientais, visitas a exposições e prática de várias modalidades desportivas. O Público apresenta aqui algumas das opções disponíveis no Porto e concelhos em redor.

Serralves
Entre 7 de julho e 5 de setembro, o Serviço Educativo da Fundação de Serralves disponibiliza vinte oficinas diferentes, abrangendo áreas como a natureza e as artes e propondo atividades que estimulem a criatividade, desenvolvam a expressividade e favoreçam a experiência de grupo. As iniciativas destinam-se a crianças e jovens entre os 4 e os 14 anos e decorrerão nos vários espaços da fundação (museu, parque, casa e quinta), entre as 9h30 e as 12h30 e entre as 14h00 e as 17h00. Aos domingos de manhã haverá ainda oficinas para a família. O preço para uma oficina (cinco sessões) é de 50 euros e a inscrição pode ser feita na receção do museu.

Museu dos Transportes e Comunicações
O programa preparado abrange crianças com idades entre os 6 e os 12 anos e inclui tardes ou manhãs animadas (cinco euros) com visitas à s exposições, caças ao tesouro, sessões de leitura, clubes temáticos de rádio, televisão, ciência e imaginação corporal (12,50 euros), oficinas temáticas de biologia, com 4 ou 5 dias de duração (75 euros por semana) ou programas familiares. Os preços incluem merenda e qualquer informação complementar deve ser pedida pelo telefone 223403000.

Instituto Português da Juventude
O programa de atividades deste ano inclui oficinas de fotogramas, nos dias 2, 3 e 4 de julho (20 euros, jovens dos 12 aos 18 anos), de fotografia pinhole, nos dias 9, 10 e 11 de julho (20 euros, jovens dos 12 aos 18 anos), iniciação à fotografia, nos dias 14 a 25 de julho (80 euros, dos 15 aos 30 anos), book fotográfico, de 28 a 31 de julho (12 aos 26 anos, 25 euros) e pintura a acrílico e colagem, em três datas diferentes (20 euros, dos 8 aos 18 anos). Informações pelo telefone 226085799.

Casa da Música
Para estudantes do 7.º ao 11.º anos de escolaridade, a Casa da Música propõe uma oficina de hip-hop (uma semana de duração, de 30 de junho a 4 de julho e de 21 a 25 de julho), um atelier de vídeo e som (uma semana de duração, de 7 a 11 de julho), uma oficina de formação de uma orquestra de computadores e autómatos (4 dias de duração, 25 euros, de 30 de junho a 3 de julho e de 14 a 18 de julho), um atelier de gamelão (de 14 a 18 de julho) e um teatro em que os movimentos corporais acionam um instrumento eletrónico (25 euros, de 30 de junho a 4 de julho). Informações e inscrições na Casa da Música ou em http://universidadejunior.up.pt/.

Biblioteca de Gondomar
As atividades decorrerão durante todo o mês de julho e destinam-se a crianças com idades compreendidas entre os 6 e os 14 anos, implicando uma inscrição prévia na biblioteca. O programa inclui cursos de xadrez, visitas ao Parque Biológico de Gaia, ao Pavilhão da água e ao Zoo da Maia, ateliers de conto, origami, informática, magia, pintura, ciências e dança. Informações pelo telefone 224664770.

Praia de Matosinhos
A escola de surf Onda Pura, na Praia de Matosinhos, organiza campos de férias dedicados à quela modalidade, orientados para crianças e jovens com idades entre os 8 e os 16 anos. Os campos decorrerão entre os dias 30 de junho e 4 de julho, de 7 a 11 de julho e de 14 a 18 de julho e a inscrição custa 150 euros, incluindo o almoço e a realização de outras atividades, como jogos de praia, trampolins, patins em linha, skate, bicicletas de montanha a aventuras no parque da cidade.

Escola Secundária de Estarreja
O programa, que decorrerá entre 30 de junho e 25 de julho, das 9h00 à s 17h30, inclui atividades desportivas, culturais, de recreação e lazer. A inscrição custa 25 euros e deve ser feita junto da Divisão de Desporto da Câmara de Estarreja. Para crianças entre os 6 e os 12 anos.

Multiusos de Guimarães
As Férias Desportivas, destinadas a jovens dos 7 aos 14 anos, decorrem até 5 de setembro, das 9h00 à s 18h00. O programa inclui a prática de modalidades como o futsal, o basquetebol, o voleibol, o andebol, o badmington, os jogos tradicionais, a natação, o atletismo, o golfe, a dança e o bowling, decorrendo em vários espaços. O custo da inscrição vai dos 25 aos 30 euros por semana, podendo ainda ser providenciado transporte. Informações pelo telefone 253520300.

Piscinas Municipais da Feira
Atividades educativas, culturais e desportivas para crianças dos 6 aos 14 anos, incluindo visitas a museus, ateliers de expressão, atividades desportivas e radicais acompanhadas por monitores (escalada, slide, rapel, futebol, basquetebol, polo aquático, surf e bodyboard, entre outras). As atividades decorrerão entre os dias 30 de junho e 25 de julho, das 9h00 à s 17h30, podendo ser obtidas mais informações pelos telemóveis 938781082, 937781018 e 938781074.

Instrumentos com romance

Público | 2008-06-24

Eurico Cebolo criou métodos de aprendizagem dos mais diversos instrumentos. São mágicos, porque põem qualquer um a tocar. Sabu, a raposa do livro de solfejo, continua a seduzir.

Não ouve música. Encafua-se de manhã cedo num cubículo e alinha no computador a anarquia que lhe vai na cabeça. Notas, palavras, imagens, surgem-lhe em catadupa e, sem esforço, revelam-se. Compõe para acordeão, piano, guitarra, bateria; oito instrumentos ao todo. Constrói letras para canções populares e muitas quadras com rima que imprime em cartão e coloca na vitrina à direita dos vários instrumentos, para cativar compradores na sua loja/armazém que mantém há 30 anos no Porto. Inventa jogos, mímicas; uma série de artifícios para simplificar a aprendizagem de música.

Eurico Cebolo raras vezes se aventura a ir até ao balcão da sua loja. Só mesmo quando alguém insiste em conhecê-lo. Guardado por dois cães velhos e gordos, está sempre ali, num espaço de três por dois metros, apinhado de caixas de arquivo com cassetes e CD, registos da sua autoria. Três computadores, ecrãs enormes, facilitam-lhe o trabalho: música à esquerda e palavra à direita; Eurico Cebolo canta com naturalidade. A canção é Lisboa 2000, valeu-lhe um prémio no concurso de marchas populares que disputa há dez anos. E desde o início mantém-se a sequência: ganha dois anos, perde um. Canta bem, afinado. Não se deteta ser pouco o ar, praticamente nula a flexibilidade das costelas. Aos 19 anos, ao fim de 62 radiografias e da análise pormenorizada de oito especialistas, diagnosticaram-lhe espondilite ancilosante, uma doença que lhe ataca os ossos e o faz definhar. Uma doença que em Moçambique o fez trocar o trabalho de fiscal de cultivadores de algodão pela aprendizagem de acordeão. Ao fim de um mês, já dava aulas a principiantes e, mais um tempo, corria os dancings do país. Num espetáculo chegava a ganhar para comprar um carro. Investiu numa escola de música. E em pouco tempo dominava a guitarra, o piano, a bateria, uma série de instrumentos que se propôs aprender para concretizar um método capaz de vencer as dificuldades dos seus alunos.

Começou por fazer lições especiais, mas rapidamente se apercebeu de que era preciso mais: transformar o monótono em melodioso; “entre notas que custavam a dar, introduzia outras que lhes entrassem no ouvido”. Acabou por criar um método por instrumento. Chamou-o mágico porque garante pôr qualquer um a tocar o que lhe aprouver, sem professor.

Eurico Cebolo chama a secretária e manda vir livros que vai empinando após explicação. Planeta Mágico, para crianças a partir dos 4 anos, conta a história de sete astronautas que se apresentam na Terra a cantar o dó, do tio Jacó, que usa paletó… o ré, mi… As letras rimam, os desenhos e as notas são coloridos; há propostas de coreografias. Promete-se “solfejo entoado em bonitas canções”. O livro, sublinha, nunca o deu a conhecer ao Ministério da Educação.

Segue-se “uma teoria mágica condensada – a minha bíblia”, maldita por alguns professores de conservatório, mas deveras apreciado por alunos.

Guitarra 1, 2, 3 – os mais vendidos -, Concertina 4 – o último que concretizou a pedido de muita gente das aldeias.

Dois em um
A obra musical de Cebolo integra 71 títulos. Os primeiros escritos a tinta da china: “perfeitos”. As capas, desde sempre, fotografadas no seu escritório, sob a sua orientação. Arranjos de medronhos, camélias ou orquídeas, de página inteira, jarros em jarras, estatuetas e veleiros; guitarras em pose, em toalhas de mesa rendadas. Também há uma noiva retratada num Piano Mágico. Mas é Sabu, a raposa domesticada, que mesmo depois de morta continua a ser a imagem de excelência da aprendizagem mágica. Nas capas dos livros de solfejo, Sabu não falha o ritmo do compasso e sabe tocar órgão. Eurico Cebolo salvou-a de virar adorno de pescoço de senhora – comprou-a por 2500$00 – e ensinou-lhe vida de cão. Transformou-a na sua fiel ouvinte durante treze anos, até à morte.

Conta-se que há pais que nunca mais esqueceram o seu focinho, quando confrontados com o livro de aprendizagem musical sugerido pela escola dos filhos. O problema – colocado prontamente aos diretores de turma – estava nos anúncios da contracapa a outras obras suas, escondidos sob papel autocolante opaco: Matavam as Freiras Grávidas, O Falo Perdido, Casei com a Minha Irmã, A Filha do Padre, e outros tantos “títulos agressivos”, na classificação do autor. Os livros – com capa a lembrar a Anita – contam histórias que acabam bem. “Nada camilianas, mas sempre com surpresas. Não sou escritor, não rebusco a palavra, escrevo o que oiço. Sou um contador de realidades.” Matavam freiras grávidas? “Em miúdo vivia na Travessa Latino Coelho e brincava por ali, num vale, perto dos escombros de um convento. Nesse local construíam um edifício – tinha já uns poucos andares quando numa noite caiu. Concluiu-se que eram os subterrâneos do convento que não davam sustentabilidade à obra.” E? “Nos subterrâneos foram descobertos cadáveres de freiras mortas. A vida real tem coisas…” Eurico Cebolo avança com a história que o tenta, mesmo debaixo do seu nariz: “Um empregado descobriu aos 20 anos não ser filho único – tinha 32 irmãos – e estava prestes a casar-se com a irmã.”

Expostos logo à entrada da loja, os livros são dados a escolher ao público, que acaba por sair com um instrumento e um romance; uma prática de dois em um, aplicada por Cebolo há trinta anos.

Eurico Cebolo manda vir a sua biografia, apresentada resumidamente em qualquer um dos seus livros. 69 anos, nascido em Coleja, Trás-os-Montes, sempre que o pai tinha dinheiro, enviava-o para o Porto, Colégio João de Deus, onde aprende as primeiras letras e constrói histórias aos quadradinhos para vender ao amigo rico, Franklin. As histórias acontecem na selva, invariavelmente, diz que à conta da sua falta de jeito para desenhar mãos e pés – escondia-os sob lianas, cipós. Aluno exemplar, ganha uma bolsa e deixa de andar à mercê do pai que, entre outras excentricidades, gostava de casinos. E gostava de música, dominava a guitarra, que não deixava o filho tocar.

1200 livros para Moçambique: a secretária irrompe pelo escritório e exige uma assinatura. Eurico Cebolo aproveita a deixa e regressa a Moçambique, para onde o levaram aos 16 anos. Terra onde tinha um corvo que vinha dormir a casa, onde viveu sucessos como acordeonista, guitarrista, professor, autor de canções publicitárias como a da máquina de costura Oliva, do leite Bebé Holandês, da cerveja Reunidas.

Escola de acordeão
Em 1975, de férias em Portugal, um acidente de viação prende-o à cama de um hospital e daí assiste à nacionalização do que construíra. Fica paralisado do lado direito e dá-se o fim do seu percurso como músico. Instala-se na Rua da Boavista, no Porto, e, quando recuperada parte da mobilidade, abre uma escola de acordeão onde afluem dezenas de miúdos – e também muitos já senhores – espevitados pela novidade. Na época, lembra, “o acordeão era um instrumento respeitado, hoje, está muito abandalhado”. Com os anos, deixa de lecionar e elege a criação de métodos de aprendizagem musical.

Por fim, faz questão que se oiça uma das suas “peças difíceis”. Exótica: “Oriental. Ninguém a compra.” Eurico Cebolo ouve, sim, música. A sua.

O bebé Vasco já teve uma televisão no teto do quarto

Público | 2008-06-22

São cada vez mais as crianças que têm televisão no quarto. Convivem desde muito cedo com o ecrã ligado. Os pais enumeram vantagens, os especialistas não gostam nada da ideia e repetem alertas. é sobretudo quando os mais novos são deixados sozinhos que a televisão tem tudo para se tornar “perigosa”.

Quando os pais souberam que Vasco ia nascer, pintaram o quarto de azul, compraram móveis que vão crescer com o filho e instalaram no teto um ecrã de plasma. O bebé nasceu em maio do ano passado e aos seis meses mudou-se para o quarto novo, mesmo em frente ao dos pais. “Quando acorda e começa a choramingar, nós ligamos a televisão e ele fica entretido. E não precisamos de nos levantar da cama”, explica Marta, a mãe, de 33 anos, engenheira.

Agora a televisão já não está por cima do berço, presa no teto, mas mesmo em frente à cama. é apenas por não ter idade que Vasco, de 11 meses, ainda não faz oficialmente parte dos 60 por cento de crianças e jovens portugueses que se sabe terem aparelho no quarto – o estudo E-Generation: Os Usos de Media pelas Crianças e Jovens em Portugal, cujos resultados foram recentemente divulgados, teve como objeto os miúdos entre os oito e os 18 anos.

Esse enorme grupo quantificado por investigadores do Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), de Lisboa, pode ser muito maior se também forem tidos em conta os bebés e as crianças em idade pré-escolar que já têm televisão no quarto (além da consola de jogos e do computador), lembra Sara Pereira, investigadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho que publicou recentemente o estudo Por detrás do ecrã: televisão para crianças em Portugal.

Para Sara Pereira, é por quererem agradar à s crianças e por ser “cómodo” que os pais fazem tanta questão de dar a televisão aos filhos. A mãe de Vasco admite haver “algum comodismo” na sua opção: “Sempre que ele está mais rabugento, mais impaciente, ligamos a televisão porque o acalma.” Foi por ouvir as amigas a queixar-se de que acordavam muito cedo por causa dos filhos que Marta e o marido pensaram no plasma para o quarto do filho, confessa.

Mas não foi só por isso: a decisão surgiu também porque há programas que ajudam o bebé a desenvolver-se, justifica.

Também os pais de Mafalda, de ano e meio, recorrem à televisão para resolver um problema: as birras à hora das refeições, admitem João e Sofia, de 29 anos. Quando a família vai passar um fim de semana fora, leva o computador portátil para passar os DVD à s refeições. Atenta, Mafalda vai abrindo a boca enquanto vê o Ruca e os amigos no pequeno ecrã do computador. “à s vezes fica tão contente que até bate palmas. Interage muito com aquilo que vê”, garante o pai, professor do 1.º ciclo. Pai e mãe já combinaram comprar uma televisão para o quarto da filha, para lhe oferecer no Natal. “Há uma que fica mesmo bem no quarto! é cor-de-rosa e com motivos das Princesas [da Disney]!”, conta Sofia, vendedora.

Mais desenvolvidos
Os pais Marta, João e Sofia (pediram todos para ser identificados apenas pelo nome próprio) acreditam que a televisão estimula as capacidades cognitivas dos filhos e não concordam que a televisão possa fazer mal aos mais pequenos. “O Vasco sabe algumas canções que aprendeu com os DVD”, conta a mãe. Mafalda “é muito despachada para a idade”, confirma o pai, que atribui parte deste desenvolvimento ao que a filha vê no pequeno ecrã. “Tenho essa experiência da escola. Hoje em dia os miúdos são muito mais desenvolvidos, sabem imensa coisa porque veem na televisão”, diz.

Há no entanto estudos que alertam exatamente para o contrário. Um exemplo: as crianças de grupos sociais menos favorecidos, expostas à televisão e ao vídeo desde muito pequenas, tendem a ter poucas interações verbais com as mães, revela uma investigação da Escola de Medicina da Universidade de Nova Iorque, conhecida no mês passado. Mesmo quando os programas são educativos, as conversas entre mãe e bebé são limitadas (embora sejam maiores do que as que acompanham outro tipo de programas).

O problema, revela o mesmo estudo, é que, quando se trata de programas educativos, a tendência é para que as crianças não estejam acompanhadas enquanto os veem. “A nossa preocupação é que os pais olham para esses programas como uma justificação para deixar os filhos sozinhos à frente do televisor, em vez de também verem e interagirem com eles”, explica Alan L. Mendelsohn, coautor do estudo, citado pelo Archives of Pedriatrics and Adolescent Medicine.

“A televisão é a baby-sitter sem emoção, sem afeto, sem colo”, define Rizério Salgado, médico de clínica geral da Unidade de Saúde de S. Julião, Oeiras. Este centro de saúde promove reuniões de aconselhamento parental. O médico de família esclarece que não é contra a televisão, não concorda é que seja vista sem a companhia de um adulto. “A televisão não faz mal, mas precisa de ser explicada, é preciso que os pais deem nome à s coisas. Pode tornar-se perigosa se não houver interpretação”, defende.

As conclusões do estudo de Mendelsohn vieram dar razão à Academia de Pediatria Americana, que recomenda aos pais que a televisão deve estar fora do alcance dos mais novos até aos dois anos de idade. “As nossas conclusões são significativas porque as interações pais/filhos têm importantíssimas implicações no desenvolvimento da criança, bem como no seu futuro sucesso escolar”, justifica Alan L. Mendelsohn.

Rizério Salgado explica que o córtex visual tem uma grande expansão e desenvolvimento até aos 10 meses de idade, mas o seu desenvolvimento precisa de “relação” para ser estimulado; ou seja, para se desenvolver, a criança precisa de estar com alguém com quem tenha uma relação de afeto e não sozinha à frente do ecrã. “A televisão não pode ser o parceiro dominante”, diz o clínico geral.

Serge Tisseron, psiquiatra e psicanalista francês que se dedica a esta questão da relação das pessoas com as imagens, explica, num manual para pais cujos filhos veem demasiada televisão (das Edições 70), que as imagens transmitem “cargas emocionais consideráveis” à s crianças, mesmo nos programas que “lhes são oficialmente dedicados”.

O autor convida os pais a ver os desenhos animados transmitidos de manhã, aqueles que os pais acham que são adequados. Estes programas, continua Tisseron, “despertam a atenção pelo ritmo e pela cor”. No entanto, “para manterem a criança agarrada ao ecrã, mobilizam nela emoções extremamente intensas; ora isso provoca-lhes um estado de stress e de saturação emocional” logo pela manhã, explica o psiquiatra.

Os irmãos Afonso e Ana, de nove e cinco anos, têm televisão não só nos quartos mas também no carro. A viagem de quase uma hora para atravessar a Ponte Vasco da Gama até chegar à escola, no centro de Lisboa, é feita com auscultadores na cabeça, a olhar para dois pequenos ecrãs de DVD, incrustados no apoio de cabeça dos bancos da frente, onde se sentam o pai e a mãe. “Não implicam, vão sossegados e não se apercebem do trânsito”, são as vantagens enumeradas pelo pai, que os conduz diariamente. Viajam assim desde que a família trocou de carro, há ano e meio. Antes disso, “a viagem era terrível, eu vinha o caminho todo a gritar com eles para estarem quietos; agora andam mais calmos”, continua Manuel, 42 anos, empresário.

Higiene do sono
Também aqui é fácil encontrar teses a defender exatamente o contrário. “Quando [a criança] chega à escola, não consegue estar em condições de aprendizagem”, analisa Serge Tisseron. De acordo com um estudo publicado no final de 2007 no jornal Pediatrics, as crianças com menos de cinco anos que passam mais de duas horas por dia a ver televisão têm mais probabilidade de desenvolver problemas comportamentais. Tal como o trabalho de Mendelsohn, também este verificou que a interação social era mais pobre entre as que passavam mais tempo à frente do ecrã.

Manuel admite que os filhos são irrequietos e que “não é raro” ser chamado à escola por causa de problemas de comportamento, mas não os associa à televisão. “Eu quando era pequeno também era assim: terrível! Faz parte da idade”, defende.

Voltemos à televisão no quarto. Serve para “evitar conflitos, entreter a criança, os pais não necessitam de negociar com ela – o problema não é a televisão, mas a dinâmica familiar”, avalia Sara Pereira. Ou seja, quando os miúdos têm televisão no quarto, ninguém precisa de negociar que programa ver e os mais novos podem “ver tudo o que lhes apetecer”.

E eles não veem os programas “com que poderiam aprender alguma coisa”, alerta ainda a investigadora, que na sua pesquisa observou que crianças até aos 10 anos dizem ver telenovelas, séries de investigação criminal como o CSI e desenhos animados para adultos como American Dad.

O médico Rizério Salgado lembra que a “higiene do sono é contra a televisão”, ver televisão à noite “potencia as insónias”. Além de problemas de sono, as muitas horas passadas em frente ao televisor podem causar obesidade, diabetes e miopia, aponta também a revista inglesa Biologist. A pesquisa, divulgada no ano passado, foi feita a partir de 35 estudos científicos anteriores que identificavam os efeitos negativos de ver televisão em demasia. “Permitir que as crianças vejam tanta televisão demonstra uma falta de responsabilidade dos pais”, aponta sem rodeios Aric Sigman, diretor do estudo e membro do Instituto de Biologia do Reino Unido, citado pela imprensa espanhola.

Na Unidade de Saúde de S. Julião há reuniões de aconselhamento parental para cada etapa da vida da criança. Os pais recebem conselhos sobre, por exemplo, como ler com o bebé a partir dos seis meses, lembra Rizério Salgado.

Sara Pereira não tem dúvidas de que a educação para os media tem de ser feita na escola, com as crianças, tal como se fez com a educação ambiental, justamente porque é muito difícil chegar aos pais. “Os adultos têm a televisão de tal maneira impregnada nas suas rotinas que temos de partir dos mais novos para chegar aos pais.”

Ler é uma viagem e uma aventura

Público | 2008-05-31

Aristóteles descreveu-o como “um animal vivo”. Santo Agostinho chamou-o “alimento do espírito”. Todos concordam que é uma das formas de aprender a pensar. O melhor presente só pode ser… muitos livros.

O pós-Segunda Guerra Mundial deixou muitos países da Europa, do Médio Oriente e da China em crise: propagavam-se as más condições de vida e as crianças eram vítimas de abandono, abuso, maus-tratos, trabalho forçado, fome e discriminação. Depois da criação da UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), a 11 de dezembro de 1946, para ajudar as crianças vítimas da guerra e contribuir para o seu pleno desenvolvimento, a Federação Democrática Internacional das Mulheres (FDIM) propôs à Organização das Nações Unidas (ONU) a criação de um dia que alertasse para a defesa dos direitos das crianças.

Apesar de se ter celebrado pela primeira vez a 1 de junho de 1950, só nove anos mais tarde foi aprovada a “Declaração dos Direitos da Criança”, a 20 de novembro (razão pela qual muitos países festejam o Dia Mundial da Criança nessa data e não a 1 de junho). Nos 10 artigos que constam da Declaração, defende-se, entre outras coisas, que todas as crianças têm direito a um nome e a uma nacionalidade, alimentação, moradia e serviços médicos adequados, proteção contra todas as formas de abandono, exploração e discriminação e a ser educada num espírito de fraternidade e paz.

Exatamente 30 anos volvidos sobre a assinatura da Declaração, a ONU aprovou a “Convenção sobre os direitos da Criança”, um documento mais alargado com 54 artigos para proteção dos menores. Infelizmente, os registos de maus-tratos e exploração das crianças não acabaram. Em 2007, a organização humanitária Save The Children revelou dados chocantes: estima-se que 1,8 milhões de crianças no mundo são vítimas de prostituição, pornografia ou turismo sexual; 300 mil menores de 15 anos são usados como soldados; 100 milhões de meninas menores de 18 anos são obrigadas a casar, algumas delas com apenas quatro anos; e 1,2 milhões de crianças são anualmente vítimas de tráfico, a escravatura do século XXI.

O protagonista é quase sempre um herói, um animal, uma criança ou uma fada. As palavras são breves e as corres garridas. O enredo sem guerras, crimes hediondos ou violência, sem distinção de raças, cores e credos. O mundo é o dos não adultos. Se existem regras transversais à literatura infantil são estas e mais uma: ser o lugar dos finais felizes.

Criada no final do século XVII, com o objetivo de transmitir valores e criar hábitos, a literatura infantil foi conquistando a atenção imediata de crianças cada vez mais pequenas por aliar a diversão ao carácter educativo. Novas técnicas gráficas tornaram os livros infantis tão visualmente estimulantes que as crianças olham para eles como brinquedos que merecem ser manuseados.

“Os livros são objetos pequenos, mas cheios de mundo”, afirmou o escritor e teólogo, Romano Guardini. Porque, apesar do domínio da cultura da imagem, o livro é o melhor protagonista da aprendizagem do pensar e uma das ferramentas essenciais de execução da inteligência e da ginástica mental, o Público associa-se à Ambar para assinalar o Dia Mundial da Criança, celebrando igualmente o prazer da descoberta da leitura.

Maisy e Penélope são as personagens que vão andar à solta pelo país, numa seleção de 12 títulos animados e interativos, simples e curtos, com pouco texto e repletos de cor, ideais para as crianças dos 2 aos 5 anos desenvolverem a sua inteligência emocional, habilidade manual e as primeiras palavras e conceitos, como as cores e os números.

Aprender a contar com o livro desdobrável 1, 2, 3, Maisy. Descobrir como funciona um relógio rodando a cada página os ponteiros para ajudar o rato Maisy a desvendar que horas são. Passar horas a desvendar como usar os puxadores mágicos para que a Penélope possa executar todas as tarefas antes de dormir ou simplesmente ler as aventuras de Maisy e dos seus companheiros no acampamento. Estas são algumas das experiências proporcionadas pelas histórias das coleções Maisy e Penélope com que poderá brindar as suas crianças no dia que nasceu a pensar nelas e, assim, estimular-lhes o apetite para a leitura.

A popularidade das histórias da autora e ilustradora Lucy Cousins transformaram Maisy num dos quatro ratos mais conhecidos e acarinhados das crianças, atrás do Mickey, do Stuart Little e, mais recentemente, do Ratatui. A simplicidade dos desenhos, as cores exuberantes e a autenticidade das histórias de um rato com mãos e pés de criança, orelhas e bigodes de rato, e que vive as mesmas aventuras e pequenos dramas das crianças ajudam a explicar o êxito da coleção. Nascida em Inglaterra em 1990, vendeu mais de 24 milhões, foi traduzida em 28 línguas – conhecendo nomes como Mimi, Mausi ou Pina – e deu origem a um DVD e a uma série de desenhos animados, já transmitida em Portugal.

Criada por um casal que inventou a personagem para as histórias que contava aos seus filhos recém-nascidos, a coleção Penélope surgiu em França há quatro anos. Tornou-se rapidamente um best-seller e conquistou vários elogios pela qualidade do seu carácter interativo, graças à formação específica em animação do ilustrador Georg Hallensben (a outra autora é Anne Gutman). A série de desenhos animados ainda não chegou a Portugal, mas é um verdadeiro fenómeno no Japão, a ponto de em 2007 ter sido o país anfitrião de uma exposição mundial com todos os produtos de merchandising da simpática Penélope.

Viver a infância em Lisboa

Público | 2008-05-30

A falta de imaginação já não é mais desculpa. Todas as dicas para que possa proporcionar à s suas crianças dias únicos nos cantos da Grande Lisboa.

Há muito que uma ida ao cinema para ver o último filme de animação e comprar pipocas ou uma paragem no parque infantil em frente ao prédio deixaram de ser as únicas opções para convencer as crianças a deixarem por momentos a preguiça do sofá, a televisão, o computador e as consolas. Hoje, existem mil e uma experiências, dentro e fora de quatro paredes, para todos os gostos e para crianças de todas as idades, desde as que promovem um dia a dia em contacto com a natureza ou a aprendizagem de uma arte ou de um desporto à s que simplesmente prometem um dia de aniversário mais especial.

Massagens para bebés, cabeleireiros especificamente pensados para as crianças, passeios de burro ou de pónei (podendo escolher-se se é a criança que vai até ao pónei ou o pónei até à criança), uma subida ao Cristo Rei, festas medievais no Castelo de S. Jorge, caça ao tesouro no Estádio da Luz, noites no Museu Nacional de História Natural ou, ainda, no Oceanário, tendo os tubarões como vigilantes, são algumas das sugestões originais que se podem encontrar no primeiro guia temático Lisboa para Crianças.

O livro foi pensado por autoras que, como mães e profissionais com pouco tempo livre, sentiam necessidade de encontrar num só volume informações sobre onde ir e como fazer para entreter as crianças nos seus tempos de lazer conjuntos ou nos tempos livres que não coincidiam com o dos familiares. Lisboa para Crianças reúne assim um sem número de contactos e opções de locais e experiências para facilitar a vida dos pais, irmãos, avós, educadores, professores e todos aqueles que convivam diariamente com crianças até aos 12 anos, na região da Grande Lisboa.

Organizado em 12 capítulos temáticos, com textos introdutórios assinados por figuras de relevo de cada área em questão, este guia anual sugere roteiros para um dia completo e original em família ou um vasto leque de programas que podem ser ajustados à s disponibilidades dos adultos e à s exigências dos mais novos.

Dicas não faltam: desportos, cursos de línguas ou de culinária, workshops de artes, campos de férias, livrarias e bibliotecas, viagens pela história em visitas a monumentos, viagens divertidas à ciência em alguns museus, restaurantes com espaços ideais para crianças, lista de locais onde encontrar material para festas e de onde comprar roupas, instrumentos ou até motivos religiosos para batizados.

Programas para crianças com necessidades especiais também não foram esquecidos, tal como contactos de associações e linhas telefónicas de apoio, ou urgências de última hora como a necessidade de contratar uma baby-sitter ou uma carrinha especial para ir buscar as crianças à escola.

Se a criança insistir em ligar-se ao computador, o guia também o ajuda a tirar proveito dos espaços multimédia, sugerindo uma série de sites divertidos e com um fim educativo. Ficam também as sugestões para quem deita os mais pequenos: se já contou todos os clássicos e lhe falta imaginação para inventar histórias, basta um clique num site e todos os dias tem uma novinha em folha.

Num guia que, como sugerem as autoras no editorial, é para ser vivido, e que prova que as grandes cidades também podem ser um enorme parque de diversões, não faltam ideias divertidas e originais para oferecer à s suas crianças um dia a dia mais colorido, de preferência fora de casa. São quase infinitas as propostas de passeio ou atividade pela cidade.

No primeiro capítulo (“Onde vamos hoje”) há ideias especiais para entreter as crianças e não dar pelo passar das horas, de uma viagem no elétrico 28 a passeios de charrete na vila de Sintra. No segundo (“Brincar na natureza”), o tema é o dos jardins e parques da Grande Lisboa, passeios de barco no Tejo, observação de golfinhos no Sado… Na terceira parte (“Saber mais”), existem opções variadas a pensar nos adultos de amanhã: cursos de línguas, música, artes plásticas ou expressão dramática.

A “hora do desporto” é o tema do quarto capítulo: das artes marciais à s danças, tudo sobre a forma ideal de promover o combate à obesidade infantil e a importância do crescimento saudável. O quinto capítulo é para os “Pequenos intelectuais”, ou seja, os espaços com História, onde também se aprende o silêncio e se treina o olhar.

A sexta parte é dedicada à s “Férias, uma aventura”, com alternativas para manter as crianças ocupadas e, ao mesmo tempo, proporcionar-lhes umas férias divertidas. No sétimo capítulo há “Festas à medida”. Está ali tudo para poder organizar a festa de aniversário perfeita dentro ou fora de casa; perto dos animais no Jardim Zoológico ou no Oceanário, numa caça ao tesouro no Estádio da Luz ou num programa radical no Estádio de Alvalade entre outras opções.

O capítulo oito é para saber “Onde comprar”, apresentando uma lista de lojas, dividida por categorias, de brinquedos a roupas e a instrumentos musicais. Os apreciadores da mesa estarão à vontade no capítulo seguinte (“Pequenos gourmets”) – de esplanadas a restaurantes temáticos, os locais descontraídos para refeições onde as crianças também contam.

Como não podia deixar de ser, há um capítulo de “Dicas e ideias”, com contactos de fotógrafos, babysitters, cabeleireiros para crianças, etc.

Outro capítulo destina-se à s “Ajudas especiais”, contendo sugestões de programas para também fazer sorrir as crianças com necessidades específicas.

Finalmente, as “Informações úteis” têm uma lista com contactos e todo o tipo de informações práticas no dia a dia para ter sempre à mão.

Dicionário do IDT já não define betinho e careta

Público | 2008-05-20

Expressões como “betinho” e “careta” já não fazem parte do dicionário de calão para jovens a partir dos 11 anos presente na Internet no sítio Tu Alinhas (www.tu-alinhas.pt/InfantoJuvenil/homepage.do2), criado pelo Instituto da Droga e Toxicodependência (IDT).

Depois de terem criado polémica as definições para estas palavras (apresentados como “aquele que não consome drogas e, por isso, é considerado conservador, desprezível e desinteressante”), assim como a explicações de atos relacionados com o consumo de drogas, o dicionário é agora apresentado como estando em revisão. “Dicionário de calão em revisão”, lê-se no sítio da Internet.

“Estamos a repensar a utilização das definições dadas no dicionário, pondo-se a hipóteses de algumas serem retiradas ou reformuladas”, disse ao Público João Goulão. Para o presidente do IDT, a reação dos críticos foi “despropositada”, defendendo que existiu “um empolamento duma questão menor”. Goulão revelou ainda uma potencial falta de atenção face ao trabalho do IDT: “O site está no ar desde fevereiro do ano passado mas ninguém nos fez qualquer sugestão ou deu uma opinião negativa sobre o dicionário nem sobre os seus conteúdos”, referiu.

“Não somos autistas em relação a isto. O site estava em construção e aberto a sugestões, a outros olhares. Aceito as críticas e admito que algumas definições não sejam as mais felizes ou corretas”, revelou. João Goulão não deixou também de criticar a “atitude destrutiva e arrasadora dos críticos”, tendo esperado uma atitude “mais construtiva”.

Entre as entidades mais críticas da atuação do presidente do IDT destaca-se o CDS-PP, que pediu a audição de Goulão na comissão parlamentar de Saúde, pedido a ser votado hoje e para o qual o responsável já se mostrou disponível para estar presente.

Para a deputada Teresa Caeiro, Goulão “tem que apresentar resultados destas medidas para justificar a sua aplicação”. “Desde que tomou posse, há uma sucessão de medidas experimentalistas e irresponsáveis que nos dão a ideia que o dr. João Goulão não tem condições para continuar neste lugar”, disse a deputada do CDS-PP, criticando o site e a linguagem apresentada neste: “A droga não é uma coisa gira. é uma coisa muito grave e esta abordagem não é a mais correta.”

Novo dicionário para acordo ortográfico

Público | 2008-05-09

Um dicionário duplo, com as palavras escritas com a grafia atual e segundo o novo Acordo Ortográfico – foi esta a solução encontrada pela Porto Editora para o seu Dicionário Editora da Língua Portuguesa 2009 – Acordo Ortográfico, que deverá chegar à s livrarias nos próximos dias.

“é uma opção editorial coerente com o que tem sido a nossa posição” em relação ao Acordo Ortográfico, explica Paulo Gonçalves, porta-voz da editora. No debate sobre o acordo, a Porto Editora tem manifestado uma posição crítica, considerando que este representa uma má estratégia para a língua portuguesa.

Mas, sublinha Paulo Gonçalves, “já tínhamos este material mais do que pronto, e estávamos a ser contactados pelos nossos utilizadores” que queriam saber se iria sair um dicionário com a nova grafia. Como a editora já tinha previsto o lançamento de um novo dicionário este ano – até porque “há um sem-número de palavras novas”, de audiolivro a carjacking – era preciso tomar uma decisão. Este é um dicionário que “vai manter-se atualizado, seja qual for a decisão que vier a ser tomada sobre o Acordo Ortográfico”, explica. Poderá também ser exportado para os mercados africanos.

Assim, quem procurar, por exemplo, a palavra Egito, vai encontrá-la escrita desta forma, numa entrada que remete também para a forma prevista pelo Acordo Ortográfico, ou seja, Egito. Ao mesmo tempo, a Porto Editora lança o Guia Prático do Acordo Ortográfico (vendido separadamente) para esclarecer as mudanças ligadas à nova grafia – à semelhança, aliás, do que já tinha sido feito pela Texto Editores, que lançou recentemente o seu novo dicionário conforme ao Acordo Ortográfico (em duas versões, uma maior outra menor), acompanhado por um guia prático.

Entretanto, o poeta, tradutor e eurodeputado Vasco Graça Moura, um dos mais ativos opositores desta reforma da grafia, lança o livro Acordo Ortográfico – A Perspetiva do Desastre, que reúne as suas principais intervenções sobre o tema. O Acordo será discutido e votado pelo Parlamento no dia 15.

Como os livros pagam para serem vistos

Público | 2008-05-05

Nas grandes cadeias de livrarias, a visibilidade tem um preço e ajuda a chegar ao top: montras, mesas, topos, expositores, destaques.

é uma exceção: um pequeno livro, nem thriller nem autoajuda, publicado por uma pequena editora, chega aos tops sem ter pago montras, destaques ou o topo das estantes. Aconteceu recentemente com Lavagante, texto inédito de José Cardoso Pires, dez anos depois da sua morte.

“Não paguei nenhum espaço e tive-o em muitas montras, em “topos” e nos tops”, diz o editor Nelson de Matos, que há décadas trabalha com livros e em 2008 criou uma chancela com o seu próprio nome. “Gostei de verificar que quando um livro tem destaque na comunicação social, e é procurado, o livreiro ainda o põe na montra, na mesa, no “topo” – que são os leitores que vão empurrar a vida desse livro.”

Como não aparece todos os dias um livro novo de um grande escritor já desaparecido, qualquer bom livreiro terá visto que valia a pena dar visibilidade a Lavagante. Era uma raridade – e por isso foi uma exceção.

Mas, tal como nos hipermercados, a regra das grandes cadeias de livrarias, hoje, é que os livros pagam para serem vistos, e os livros que estão nos tops tendem a ser livros que tiveram visibilidade. Ou seja, a visibilidade nas livrarias vale dinheiro.

E é assim que, atualmente – copiando estratégias das grandes superfícies e da publicidade de rua -, estas cadeias de livrarias têm para vender aos editores montras inteiras e meias-montras, a cobertura dos alarmes na entrada, as mesas onde se expõem livros, os topos das estantes que mostram as capas, colocação de expositores, destaques, campanhas de Natal, de verão, do Dia dos Namorados, da Criança, do Pai ou da Mãe.

Quem passasse, por exemplo, há duas semanas pela Rua Garrett, em Lisboa, ia ver o gerente de loja Pedro Almeida ajoelhado dentro da montra da Bertrand, num cenário de papel florido, a montar a campanha Mãe… há presentes que marcam!, que teve descontos de 20 por cento em cerca de 60 títulos.

Que livros são estes? Desde Em Busca do Verdadeiro Amor (“uma exploração intelectualmente estimulante sobre a natureza do amor”, lê-se no folheto que a Bertrand preparou) a O último Ano em Luanda (novo romance do autor de best-sellers Tiago Rebelo, 10.º lugar no top Bertrand de há 15 dias); ou de Siddharta a Tony Carreira, com abundância de dietas e receitas, malas e bonsais.

Quem os publicou? A Porto Editora e a Civilização, a Ulisseia e a Presença, a Oficina do Livro e a Difel, a Bertrand e a Alêtheia, a Saída de Emergência e a Planeta, a Esfera dos Livros e a Casa das Letras, a D. Quixote e a Quetzal, a ésquilo e a Quidnovi, a Texto e a Pergaminho, a Estrela Polar e a Livros d”Hoje, a Impala e a Asa, a Chá das Cinco e a Temas & Debates – e mais.

Ou seja, se os leitores vão poder comprar livros com 20 por cento de desconto é porque todas estas editoras os negociaram com a Bertrand, a cadeia que vende mais em Portugal depois da Fnac.

“Os livreiros fazem propostas e nós também”, explica Teresa Figueiredo, diretora de marketing da Bertrand. “Dizemos, por exemplo: “Gostávamos de ter alguns livros a 20 por cento. Quais são os que você acha que pode suportar?”” E o editor propõe títulos cujas vendas possam compensar o desconto. Portanto, os livros que puderam ser vistos até ontem, Dia da Mãe, em todas as montras Bertrand (53 lojas) pagam para estar ali.

Negociação global
“Os hipermercados foram disruptivos, criando uma lógica que depois foi sendo copiada”, diz Teresa Figueiredo, ela própria vinda do “grande comércio, dos detergentes”.

Nas Bertrand, “as montras são todas pagas, com preços diferentes consoante as alturas do ano, e também se vendem meias montras”, explica. “Inspiramo-nos em quem vende publicidade exterior, nos mupis. Um editor diz-nos: “De dia 7 a dia 15 quero ter uma rede de montras.” E em todas as Bertrand com montra vão aparecer os livros dele.”

Isto pode entrar na negociação global, por exemplo, através de uma maior margem de lucro para o livreiro – o editor “vende” parte do valor do livro, para que ele seja bem exposto, para que venda mais e compense esse valor inicial.

Tudo isto, recorda Nelson de Matos, terá começado a mudar no fim dos anos 80, quando os hipermercados passaram a vender livros. “Negociavam com as editoras o espaço de exposição, e depois foram fazendo iniciativas especiais que eram pagas, temas, feiras. E essas encomendas tinham condições especiais.” A ponto de um dia lhe terem proposto um tema relacionado com o aniversário do responsável pela área dos livros no hipermercado. “Isso aconteceu! Depois, quando chegou a Fnac, trazia a técnica do exterior: pagar destaques, topos, bancas…”

Todos negam que os tops sejam comprados
Em janeiro, numa entrevista ao Jornal de Notícias, António Lobo Antunes dizia que, nas livrarias, hoje, até os tops são pagos. Os editores e livreiros com quem o Público falou negam, mesmo nos casos em que criticam um ou outro top

José Prata, Lua de Papel
“Acredito nos tops”, diz José Prata, editor da Lua de Papel – ligada à Asa, e portanto à Leya, o maior grupo editorial do país -, que tinha há dias O Segredo em 2.º lugar tanto no top da Fnac como da Bertrand. “Acredito que os tops não são comprados, mas uso como referência sobretudo os tops da Fnac e da Bertrand, embora pense que livrarias como a Bertrand ou a Bulhosa vão promover melhor os livros das editoras a que estão ligadas. Mas isso não quer dizer que os tops estejam viciados, apenas que há uma saudável sinergia entre empresas do mesmo grupo. Os livros vão realmente ao top porque vendem mais, mas podem vender mais pelo facto de estarem melhor expostos.”

Contudo, a visibilidade não é o único fator, ressalva José Prata. “Há livros meus que são muito bem expostos, bem promovidos e nunca chegam ao top, como A Verdade Sobre os Grandes Casamentos. E outros com igual destaque chegam imediatamente, como You – A sua Dieta”.

O que aconteceu com O Segredo, que já vendeu 325 mil exemplares em Portugal? “Foi muito bem exposto e entrou imediatamente para o top.”

O que é estar muito bem exposto? “Ocupar espaço na montra, o topo das estantes, espaços nobres.” Isso paga-se diretamente? “Depende. Em geral, o pagamento mais comum é feito por descontos. Em vez de dar 40 por cento de margem ao livreiro, dá-se 50. Ele vai ganhar mais por cada livro que vender.”

Se “a montra é comprada, os melhores espaços são comprados”, também é verdade que se pode ter visibilidade sem pagar. “Quando O Segredo começou a vender e foi para o 1.º lugar nos tops da Fnac e da Bertrand, qualquer outro livreiro atento começou a dar mais espaço ao livro.” é também assim que um best-seller gera mais best-seller.

António Lobato Faria, Oficina do Livro
“Tenho garantias de que os tops das principais livrarias, a Fnac, a Bertrand, a Bulhosa, o Corte Inglês, o Continente, não são comprados”, diz António Lobato Faria, editor da Oficina do Livro, que tem best-sellers como Margarida Rebelo Pinto e Miguel Sousa Tavares. “O que é comprado são zonas de exposição, montras, topos, espaço para expositores.” O que naturalmente influencia as vendas: “A probabilidade de ir para o top é maior se a montra for comprada.”

Este editor faz questão de sublinhar que “a compra de um espaço numa livraria não se faz incondicionalmente, o livreiro não se deixa comprar”. “Ele tem noção de que ganha dinheiro a vender livros e não espaços. Se deixar que a montra seja comprada para expor um livro que não tem aceitação, acaba por perder dinheiro.” O livro que interessa ao livreiro é aquele que se continua a vender depois de sair da montra. “O livreiro tem mais interesse em aceitar livros com capacidade de long-seller.”

à compra de uma montra Lobato Faria prefere chamar negociação e diz que há situações em que se pode comprar através de descontos, de valores à cabeça ou de uma combinação das duas.
Também defende que todos os livros, mesmo os que já estão vendidos à partida, merecem investimentos na visibilidade. “Não há um momento em que um autor já não precisa. Com uma exposição mais evidente conseguimos potenciar as vendas. Um Saramago ou um Lobo Antunes arriscam-se a não ter tantos compradores sem uma campanha associada porque o mercado é voraz, já não há a lógica do público fiel. Nenhum livro se mantém com boa exposição mais de 15 dias.”

Para este editor, Fnac e Bertrand “têm os tops mais importantes”, e o facto de a Bertrand e a Bulhosa estarem associadas a editoras não o preocupa. “Não tenho razões de queixa. Nunca me senti discriminado.”

Nelson de Matos, Edições Nelson de Matos
“Nunca tive conhecimento de que os tops se pagassem”, diz Nelson de Matos. Conta-se que há editores que compram muitos exemplares numa determinada livraria para influenciar o top e este editor já ouviu esse boato, mas não lhe dá valor. “Não vejo um editor a fazer compras numa só livraria para que o livro dele salte para o top”, contesta.

Houve tempos, recorda, em que os tops não eram credíveis. “Não tinham rigor. Eu próprio, na D. Quixote, tive um livro do Mário Cláudio nos tops que ainda não tinha saído! Mas hoje os tops da Bertrand, das Fnac e hipermercados são conduzidos informaticamente e tanto quanto sei são rigorosos. E há mecanismos como o ISBN [número de identificação que todos os livros têm] e os códigos de barras.”

Manuel Rosa, Assírio & Alvim
Há duas semanas, na Fnac do Chiado, um dos destaques de “topo”, na estante da poesia portuguesa, era a antologia de Teixeira de Pascoaes editada na Assírio & Alvim. Este destaque é pago? “Não, nem sabia que estava num topo”, diz o editor Manuel Rosa. “Uma editora como a nossa paga meia dúzia de ações por ano, em torno de Pessoa ou de livros de poesia.” E não tem meios para mais.

“Temos livros de públicos difíceis, que por vezes podem ser long-sellers, e precisamos de encontrar as livrarias que queiram ter os nossos livros, como a Almedina, que tem todos os nossos livros, porque quer ter uma oferta diversificada. A Fnac é uma cadeia que felizmente privilegia a diversidade. Enquanto a Bertrand pode não ter livros nossos, porque privilegia os maiores fornecedores.”

E é neste ponto que Manuel Rosa critica o top da Bertrand. “Como é que se pode considerar o top da Bertrand, que não vende livros de todas as editoras? Se não vende livros da Cotovia, nunca poderá ter a Odisseia no top, portanto não tem credibilidade.”

Teresa Figueiredo, diretora de marketing da Bertrand, desvaloriza a questão. “O top não é manipulado. São as vendas reais. E, por definição, o top de um agente de retalho é o top das suas vendas, do que ele lá tem.”

André Jorge, Cotovia
Se a Assírio só tem meios para meia dúzia de ações, a Cotovia – muito orientada para poesia, teatro, ensaio, clássicos – “não paga nada”, resume o editor André Jorge. “Não posso. Sempre que me propõem campanhas digo que não. Ou somos nós que temos iniciativas ou então não.” E quando há destaques da Cotovia? “é uma opção do livreiro – o livreiro é bom!”

De resto, André Jorge tem uma fé contida nas possibilidades do marketing. “Não vou pensar que com operações de marketing vou ver as pessoas a saírem com o Pires Cabral ou o Aguiar e Silva ao lado do Palmolive.”

As 14 bibliotecas de Tondela já podem trocar livros com o novo catálogo online

Público | 2008-04-23

Políticos, professores de Matemática, de Filosofia, informáticos, crianças, jovens, atores: em Tondela, a festa é para todos. Há três novas bibliotecas, um novo catálogo on-line e ainda teatro.

Em plena serra do Caramulo, bem longe do mundo urbano, há uma nova biblioteca, na escola de São João do Monte. Muito distante da confusão dos grandes centros, esta instituição foi apenas um dos sítios por onde a Festa do Livro e da Leitura passou. Tondela tem desde segunda-feira mais livros e mais bibliotecas. E motivos para celebrar durante 15 dias.

é que foram ainda inauguradas as bibliotecas da Escola Básica de Campo de Besteiros e da Secundária de Molelos. Nesta escola grande e amarela, que ainda cheira a novo, Teresa Calçada gesticula, diz que a biblioteca devia ter mais computadores. Vira-se para um lado, para outro, fala com todos: políticos, funcionários da câmara, das escolas, professores. Em Tondela, juntou-se uma amálgama de gente que tem um objetivo comum: promover a leitura.

Teresa Calçada é coordenadora do gabinete da Rede de Bibliotecas Escolares do Ministério da Educação e vice-comissária do Plano Nacional de Leitura. Foi, por isso, uma convidada de honra: assistiu ao lançamento de um catálogo online, que reúne o acervo de 14 bibliotecas de Tondela, visitou escolas, inaugurou bibliotecas, conversou com graúdos e miúdos e aproveitou, claro, para trabalhar, tentando “melhorar” o que for possível. No fim, admitiu: “Tondela é um bom exemplo.”

Mas afinal o que é que aconteceu? Primeiro, não aconteceu, porque ainda está a acontecer. Hoje, no Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor, ainda a procissão vai no adro. A Festa do Livro e da Leitura, organizada pelo pelouro da Cultura e da Educação da Câmara de Tondela, em colaboração com a Biblioteca Municipal Tomaz Ribeiro, começou na segunda de manhã, com a inauguração da VII Feira do Livro, e vai até 4 de maio.

Um dos momentos altos foi o lançamento de um “importante” instrumento pedagógico de promoção da leitura: o Catálogo Coletivo da Rede de Bibliotecas do Concelho de Tondela, que colocou em rede várias bibliotecas, escolares e municipais, e já está disponível no sítio da autarquia.

A cor da língua
Na segunda-feira, visitaram-se escolas, frequentadas por crianças e adolescentes, e, à noite, acabou toda a gente no teatro, a assistir ao espetáculo A Cor da Língua, concebido pelo Trigo Limpo Teatro Acert. Ao momento teatral e musical, criado a partir das palavras de vários escritores portugueses, assistiram pais, adolescentes e até crianças que, mesmo não sabendo ainda ler, se deixaram contagiar pela poesia.

Sentada no chão diante do palco, a Beatriz, ainda sem dentes à frente, e com apenas cinco anos, era uma entre muitas crianças que se riam com os poemas que estavam a ser declamados. Tanto como os adultos.

E isto foi só na segunda. Teatro, sessões com escritores, conversas, debates, contos, workshops, jogos, exposições: em Tondela a festa dura duas semanas e é para todas as idades.

Mas vamos por partes. Primeiro, o catálogo online. “é mais do que isso. é uma rede, de pessoas e de instituições. Um espaço interativo, onde cada um pode comentar, acrescentar algo. Os livros podem ser lidos online…”, explica o informático da câmara, Júlio Pacheco. Nesta “janela de informação”, cada responsável das bibliotecas pode inserir notícias ou documentos e atualizar o catálogo quando tal se justificar.

No fundo, trata-se de uma plataforma online que reúne, para já, o acervo de 14 bibliotecas de Tondela. Juntam-se assim os fundos documentais de bibliotecas escolares – de jardins de infância a secundárias – aos da biblioteca municipal Tomaz Ribeiro, e aos da biblioteca da Escola Profissional de Tondela.

Agora, qualquer aluno ou professor, em qualquer escola de Tondela, pode saber se a escola vizinha ou a de São João do Monte, no meio da serra do Caramulo, tem determinada obra.

De rede em rede
Mas tem mais potencialidades: permite fazer requisições on-line e empréstimos entre bibliotecas. Disponibiliza ainda uma série de informações paralelas a cada livro, como links úteis, dados sobre os autores, tópicos de leitura para revistas, e mesmo para outros livros.

Tondela é o primeiro concelho da Região Centro a ter uma plataforma digital de apoio à rede de bibliotecas e o segundo a nível nacional, depois de Lousada, na Região Norte. Teresa Calçada diz que a ideia é, “de rede concelhia em rede concelhia, chegar à rede nacional”.

Estamos em 2008. “é preciso mostrar que não tem que haver “inimizade” entre o livro e computador. O meu produto é a leitura. Ler bem, ler melhor, ler mais. Não se nasce leitor, fazemo-nos leitores. E o nosso objetivo é fazer leitores em todos os suportes”, diz Teresa Calçada, que sempre foi defensora de “redes de parcerias” entre bibliotecas públicas e escolares.

O vice-presidente da câmara e vereador com o pelouro da Cultura e da Educação, José António de Jesus, anda num rodopio, a mostrar isto e aquilo, a perguntar se está tudo bem, a organizar as hostes para o jantar, a tentar falar com toda a gente. Ele fez questão de não deixar ninguém de fora do festim. “Numa conceção de mundo moderno, tem que haver esta conjugação, esta cultura de partilha em relação à educação. Se não fizermos isto não estamos a preparar os jovens para o futuro”, diz.

Bibliotecas de Tondela já têm catálogo on-line

Público | 2008-04-22

As 13 bibliotecas escolares do concelho de Tondela têm desde ontem na Internet um catálogo que disponibiliza o seu acervo documental, o que deverá acontecer em relação à maioria daquelas estruturas educativas no país até 2010. Tondela é o primeiro concelho da Região Centro a ter uma plataforma digital de apoio à sua rede de bibliotecas e o segundo a nível nacional, depois de Lousada, na Região Norte.

A coordenadora do Programa Rede de Bibliotecas Escolares do Ministério da Educação, Teresa Calçada, disse que a ideia é, “de rede concelhia em rede concelhia, chegar à rede nacional”. “Em cada concelho, a biblioteca pública e as bibliotecas escolares vão-se constituindo de maneira a poderem fazer o catálogo dos documentos que existem e assim constituir uma rede concelhia”, explicou.

A ideia de fazer um catálogo coletivo do acervo das bibliotecas escolares surgiu há dois anos, estimando Teresa Calçada que, no final de 2008, “cerca de 50 por cento do país esteja em bom caminho para este catálogo”, uma vez que já estão em preparação em “algumas dezenas” de concelhos. Em Tondela, a rede de bibliotecas surge de um protocolo ontem celebrado entre a autarquia, os agrupamentos de escolas do concelho. Através da página da autarquia na Internet, acede-se à Rede de Bibliotecas de Tondela, que disponibiliza uma pequena identificação dos cooperantes e permite fazer uma pesquisa por obra ou autor em todas as bibliotecas, identificando onde se encontra. Cada responsável das bibliotecas pode inserir notícias ou documentos e também atualizar o catálogo quando tal se justificar.

Quadros interativos em todas as salas do primeiro ciclo

Público | 2008-04-10

Até ao final do ano, a Câmara de Gaia espera ter todas as salas de aulas do primeiro ciclo dotadas com quadros interativos, permitindo generalizar um instrumento de ensino que, pela utilização de novas tecnologias, parece capaz de aprofundar o nível pedagógico e valorizar as capacidades dos alunos. O processo já está completo em 36 escolas, num total de 215 salas de aula, ascendendo a um investimento de 870 mil euros, faltando instalar os quadros interativos em mais 13 escolas.

Segundo esta semana reconheceu o vice-presidente da câmara, Marco António Costa, a autarquia começa agora a ter que enfrentar um novo problema decorrente desta inovação tecnológica: os alunos habituam-se a uma nova forma de ensino, mais atrativa, mas, ao entrarem no quinto ano de escolaridade, voltam a ter que conviver com os quadros de lousa e com o giz, havendo casos de regressão educativa. “Recuam para outra época”, sintetiza o vereador Firmino Pereira.

Em face desta nova realidade, a autarquia pretende que as escolas do segundo e terceiro ciclos sejam dotadas de meios tecnológicos semelhantes aos que existem no primeiro ciclo, pelo que o assunto acabará por ser indiretamente abordado no âmbito da comissão mista com a DREN que está atualmente em formação para definir a futura rede escolar do concelho. “Para a câmara, o uso das novas tecnologias no ensino é algo absolutamente determinante, pelo que só aceitaremos assumir a gestão das escolas do segundo e terceiro ciclos, se as salas estiverem devidamente equipadas com os quadros interativos ou se recebermos os meios financeiros adequados ao seu correto equipamento”, declarou Firmino Pereira ao Público.

Mudam-se os tempos, não mudam as histórias

Público | 2008-04-02

Se é dos que acham que a literatura para crianças teve mudanças radicais, desengane-se. Apesar de Harry Potter, uma boa história é sempre uma boa história e muitas crianças ainda leem o mesmo que liam os seus pais. A grande revolução, dizem os especialistas, não foi nos enredos, mas na ilustração e no boom de oferta. Hoje é o Dia Internacional do Livro Infantil.

Computadores, videojogos, Internet, telemóveis, alterações na escola, violência, telenovelas. Quando pensamos na evolução do comportamento infantil, muitas destas coisas vêm à cabeça. E no que toca aos livros, será que as crianças ainda leem o mesmo que liam há 20 anos?

Em muitos casos, a resposta é sim. Os contos tradicionais, como o Capuchinho Vermelho, são sucesso garantido e os clássicos da literatura infantil continuam na lista de compras dos pais, em parte devido ao Plano Nacional de Leitura.

Isto não quer dizer que não haja novidades: depois do sucesso de Harry Potter os livros fantásticos multiplicaram-se e são visíveis as mudanças no campo da ilustração, com o surgimento dos álbuns, que permitiram a muitos artistas plásticos entrar no território dos livros infantis.

Alice Vieira, uma veterana da literatura infanto-juvenil portuguesa, já conta 29 anos de livros para miúdos. Isso não impede que Rosa, Minha Irmã Rosa, escrito em 1979, faça sucesso. “Vou a escolas em que os miúdos leem livros que escrevi há vinte e tal anos e sou eu que tenho que lhes dizer “Já viste quando isso foi escrito?”, porque eles não reparam”, conta. Os seus livros, que se debruçam sobre as relações humanas, refletem a sociedade, explica a escritora. “Não posso escrever da mesma maneira que há 29 anos, porque tudo mudou, a começar pelos objetos.” No entanto, salienta, “o exterior muda, mas as preocupações interiores não.”

“O que mudou é que agora posso escrever sobre uma personagem que vai ao casamento da sua mãe – antes não estávamos cá quando a mãe casava”, conta. Mas para Alice Vieira, há temas que são intemporais e são esses que sempre tocarão as crianças: “As invejas, as angústias, as famílias, o querer que gostem de nós. E a solidão, que talvez se sinta mais agora.”

Também para António Torrado, autor de livros infantis desde 1969, “a apetência das crianças para ouvir e ler histórias, tanto de fadas como de astronautas mantém-se”. São os adultos, diz, que mais mudaram, o que trará “consequências a médio prazo”, já que são eles os “compradores e veiculadores dos livros infantis”.

Ana Maria Magalhães, uma das autoras da famosa coleção Uma Aventura, acredita que “o tema aventura terá sempre sucesso entre os jovens”. Os heróis destes livros completaram recentemente a sua 50ª aventura sem que o seu universo sofresse grandes alterações. Ana Maria Magalhães explica que optaram por não usar calão juvenil exatamente para que os livros não percam atualidade, já que o calão está sempre a mudar. Aquilo que se alterou ao longo dos anos resumiu-se apenas a palavras que “passaram de moda”, como “ponto de Matemática” ou aulas de “Trabalhos Manuais”. O conteúdo mantém-se fiel ao modelo original; no entanto, há pequenas mudanças: “Não podemos ignorar as coisas novas, e é por isso que os personagens agora têm Internet e telemóveis.”

Os clássicos
é consensual que hoje a oferta é muito maior do que no passado. As editoras aumentam o número de livros das suas secções infanto-juvenis e as livrarias alargam o espaço dedicado aos mais novos. “O livro infanto-juvenil tem vindo a aumentar em vendas. Há cada vez mais editoras a apostar nesta área”, diz Carla Pinheiro, editora desta secção na Dom Quixote. E este é apenas um exemplo.

“Que se está a vender e, provavelmente, a ler mais não tenho dúvida. Agora há que passar à etapa seguinte, a de ler melhor.” A opinião é de António Torrado (autor de A Chave do Castelo Azul e O Adorável Homem das Neves, entre muitos), mas é partilhada por outros especialistas. “Não podemos ceder ao facilitismo”, alerta Alice Vieira, para quem o aumento da leitura entre os mais pequenos não significa uma leitura mais rica, com mais qualidade. “Acho que as escolas caíram no enorme pecado do facilitismo. Deixámos que tudo fosse fácil. Dizemos aos miúdos que ler não custa nada, o que não é verdade. Precisamos é de lhes explicar que esse esforço dá prazer”, diz a escritora, acrescentado que o Plano Nacional de Leitura pôs mais crianças a ler, mas promoveu o facilitismo e tem muitos livros desadequados à s idades para que são aconselhados.

Os clássicos têm sido desvalorizados e é urgente trazê-los de volta, dizem os escritores. A Ilha do TesouroO Romance da RaposaA Fada OrianaA Menina do MarO Cavaleiro da Dinamarca são algumas das histórias que “fazem falta” e “forram o coração” dos mais novos, diz Alice Vieira.

Da mesma opinião é José António Gomes, professor da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto, onde leciona Literatura para a Infância: “Há uma certa desvalorização dos nossos clássicos.” Para este especialista, as crianças são hoje menos capazes de ler textos mais complexos. “Os jovens leitores não têm muitas vezes as competências literárias para ler Aquilino Ribeiro, que escreveu as suas obras, de facto, para crianças, como foi o caso do Livro da Marianinha, que fez para a neta.” Ana Maria Magalhães discorda, defendendo que a capacidade literária dos mais pequenos aumentou: “Quando começámos [1982], havia uma quantidade infinita de crianças que nunca tinham lido um livro até ao 5º ano.” Agora, devido ao Plano Nacional de Leitura, à s escolas, à s bibliotecas e aos pais, os autores já podem criar enredos mais complexos, com “histórias cruzadas, com dois mistérios”, exemplifica.

Moralismo fora de moda
Apesar de os conteúdos não estarem a sofrer revoluções, há um aspeto que parece ter mudado: livros como os da Condessa de Ségur já não fazem grande sucesso. Histórias marcadas pelo moralismo, com classes sociais bem marcadas e meninas de vestido branco parecem estar out. “Eu adorava os livros dela e hoje os miúdos já não lhes ligam nenhuma”, conta Ana Maria Magalhães.

Para Alice Vieira, os livros devem retratar o seu tempo, e nessa medida os livros da Condessa de Ségur são bons. “Ela faz um desenho, um retrato do tempo em que viveu e é isso que a torna boa. Todos devemos ter essa preocupação.”

Apesar de o moralismo estar “fora de moda”, António Torrado considera que ainda há motivos para preocupação: “Temo que a boa vontade de escritores – escuteiros, muito ocupados com o politicamente correto – esteja a retirar ao género a dose de irreverência, de humor e de fantasia, essenciais para a boa circulação do vaivém especial do relacionamento adulto-criança.”

Apesar de tudo, será que há livros eternos? “Nenhum livro agrada a todas as crianças do mundo, de todos os tempos. Para umas crianças é a história mais linda do mundo, para outras é um aborrecimento”, diz Ana Maria Magalhães.

A explicação parece óbvia, mas a verdade é que há livros que fazem sempre sucesso. A Branca de NeveO Gato das BotasO Capuchinho Vermelho Os Três Porquinhos continuam a atravessar gerações. “São livros que vendem sempre, são intemporais. é uma coleção que dá sempre dinheiro”, explica a editora da Dom Quixote.

Harry Potter e o fantástico
Na era pós Harry Potter todas as editoras e livrarias querem oferecer livros de género fantástico. Para Carla Pinheiro, da Dom Quixote, “os livros infantis são uma questão de moda” – já foram os dinossauros e os vampiros e agora é o fantástico, diz.

Entre os autores portugueses, o jovem feiticeiro parece agradar, mas com algumas ressalvas.

“Gosto muito dos livros, acho que são estimulantes e de leitura difícil. São de uma grande criatividade e levaram a um aumento do interesse pela literatura que se faz para os mais novos. Temos que agradecer à J. K. Rowling por isso”, confessa Alice Vieira. Também José Oliveira, editor da secção infanto-juvenil da Caminho, acredita na “inegável qualidade intrínseca” das obras da autora inglesa, que provocaram “um novo olhar sobre os livros infantis, que ainda são encarados como o parente menor da literatura”.

Mas não são só elogios. “O Harry Potter introduziu um tema mais velho que o mundo, que é o da feitiçaria”, diz Ana Maria Magalhães, para quem estes livros não trazem nada de novo. Também José António Gomes tem críticas a fazer: “O Harry Potter alterou o panorama na literatura juvenil e provocou uma situação de recuo na aventura de estilo policial.” Embora admita qualidades na autora, que “é capaz de se reinventar”, não tem dúvidas de que o fenómeno é acima de tudo um produto de marketing. “Se alguns editores portugueses tivessem o dinheiro, conseguiam o mesmo”, afirma. E rejeita a valorização dos tops: “Aquilo que estava no top há 30 anos era lixo e o que estará hoje será lixo, são subprodutos.”

A revolução do álbum
Se há coisa em que escritores, estudiosos e editoras concordam é no exponencial aumento da qualidade das ilustrações. A emergência do álbum – livro infantil com uma narrativa breve e uma ilustração sofisticada ou inovadora – é apontada como um enorme salto qualitativo nos livros para crianças.

O género, explica José António Gomes, ocupa um lugar importante na literatura infantil europeia desde os anos 50. No entanto, só há quatro ou cinco anos é que ganhou expressão em Portugal. “Houve um tempo em que os nomes dos ilustradores nem figuravam na ficha técnica ou na capa. Hoje em dia a ilustração já tem um papel de coautoria e um público não só infantil mas também de artistas.”

O mais recente exemplo de sucesso deste género de livro é a obra de Luís Silva, O Livro da Avó, recentemente distinguido com o Prémio Bissaya Barreto de Literatura para a Infância. O livro aborda um tema delicado: a relação próxima de um menino com a sua avó, que depois morre. Pela forma um tanto metafórica como o tema é tratado (uma imagem de uma janela vazia dizendo que a avó já não está lá), não é totalmente percetível para crianças muito pequenas e Luís Silva aconselha que seja dado a ler a partir dos seis ou sete anos. O tema não o incomoda: “Acho que tudo o que fale de forma verdadeira do que é importante – as relações entre as pessoas – faz falta.”

Manuela Bacelar é outra ilustradora que recentemente lançou um álbum, apesar de já o vir a fazer desde os anos 80. Aliás, José António Gomes considera os seus livros como sendo “pioneiros”: “Ela já sabia da importância dos álbuns antes dos ilustradores.” O Livro do Pedro, para lá das ilustrações a que a autora já habituou o público, conta uma história profundamente contemporânea, pois aborda abertamente o tema da homossexualidade (a personagem principal é uma menina com dois pais).

Uma prova da emergência do álbum como algo novo foi a criação da editora Planeta Tangerina, que se dedica exclusivamente aos mais pequenos. Fabrica material escolar pedagógico e, há cerca de três anos, começou a editar álbuns ilustrados que consideram “bons para ler entre pais e filhos”, explica Isabel Martins, uma das fundadoras da editora e autora dos textos de todos os livros. Um deles, Pê de Pai, já foi distinguido pela Book Art Foundation, na categoria The Best Book Design from All Over the World.

O Top 10 da Fnac não apresenta grandes novidades: O PrincipezinhoA Menina do MarUma Aventura. No meio de títulos já conhecidos, surge uma das maiores revelações da literatura infantil dos últimos tempos – Geronimo Stilton. Publicado desde 2005 pela Presença, conta as aventuras de um rato que dirige o jornal Diário dos Roedores há 20 anos. Geronimo Stilton é o nome da personagem principal desta coleção, mas é também o “nome artístico” do escritor, que não revela nada sobre si, confundindo-se com a própria personagem dos seus livros. Inês Mourão, da Editora Presença, explica que um dos maiores fatores de sucesso está relacionado com a mancha gráfica “bastante atrativa”: as letras mudam de forma, tamanho e cor consoante as emoções que refletem.

Biblioteca digital do Alentejo acolheu 31 mil visitantes em três meses

Público | 2008-03-26

A Biblioteca Digital do Alentejo (www.bdalentejo.net/), lançada a 12 de dezembro pela Fundação Alentejo Terra-Mãe, recebeu cerca de 31 mil visitas até meados de março, tendo os visitantes acedido a cerca de 300 mil páginas.

O portal, que conta ter on-line 500 livros no final de março, mais 150 do que na altura da inauguração, disponibiliza diversos fundos documentais referentes ao Alentejo, em especial obras que sejam raras ou de difícil acesso. De acordo com a newsletter da BDA (Biblioteca Digital do Alentejo), o objetivo passa por contribuir para a democratização e promoção da igualdade no acesso ao conhecimento da História e Cultura alentejanas. Trata-se de um projeto que constitui o único e maior fundo documental virtual do Alentejo, sendo a primeira biblioteca digital de expressão regional.

Nestes primeiros três meses, a taxa de reincidência foi de 36 por cento, sendo os visitantes oriundos maioritariamente de Portugal (54%), seguindo-se a Alemanha (23%), os Estados Unidos (13%), o Brasil (4%) e a Suíça (2%). Os restantes quatro por cento de visitantes distribuem-se por áustria, Suécia, Espanha, França, Reino Unido, Canadá, Itália e Holanda.

Outro indicador que, segundo a BDA, revela o interesse nos conteúdos disponíveis é que a duração média das visitas é de 20 minutos.

A criação da BDA implicou a celebração de acordos de parceria entre a Fundação e várias instituições, nomeadamente a Biblioteca Pública de évora e a Biblioteca do Instituto Superior de Agronomia, bem como diversas bibliotecas municipais de todo o Alentejo.

“Porton di garage” ou “zaidzd”?

Educare.pt | 2008-03-26

Dois professores da Escola Secundária do Padrão da Légua, em Matosinhos, estão a elaborar um dicionário multilingue, capaz de vencer as dificuldades dos alunos imigrantes que frequentam o estabelecimento de ensino.

Na Escola Secundária do Padrão da Légua, em Matosinhos, as palavras são o caminho que vão dar a Cabo Verde, à Ucrânia, à Polónia e até à China. Porque aqui, o portão da garagem pode ser o porton di garage, mas também zaid, ou mesmo zaizd. Está tudo no Dicionário Interativo Multilingue Ilustrado – o DIMI -, projeto de dois professores que decidiram responder desta forma ao crescente número de turmas multiculturais, resultado das vagas de imigrantes.

A ideia surgiu dos rostos perdidos de Ruslana, de Indira, de todos os filhos de imigrantes que, misturando-se involuntariamente num cocktail cultural estonteante, caíram “de chofre”, especifica o professor Jorge Coimbra, na Escola de Padrão da Légua. De repente, todas as rotinas podem inverter-se, levar a lado nenhum. “Onde é a casa-de-banho, onde se tira a senha para o almoço?”, continua este professor de Educação Visual.

No ano passado, Jorge Coimbra e a professora de Português Luzia Reis, criaram a ideia do DIMI. Primeiro foram só palavras, listas a que houve necessidade de dar ordem. “Começámos por ligar um significante a um significado por uma ilustração”, explicou ao EDUCARE.PT Luzia Reis. Do imenso universo de palavras, estabeleceram-se hierarquias: o que é essencial na escola, o que é mais importante na vida fora das aulas. E isto traduzido do português para 13 alunos de seis nacionalidades diferentes: Rússia, Ucrânia, Polónia, Brasil, Cabo Verde e França. O aluno francês já concluiu o secundário e os professores aguardam agora a chegada de um jovem chinês.

A lista exaustiva de palavras logo deu origem a uma manta desalinhada de termos, que foram disciplinados e ordenados. “Estamos a receber o apoio fundamental da docente da Faculdade de Letras de Lisboa Isabel Leiria”, adianta Luzia Reis. Foi quando as cores, as profissões, o corpo humano, o vestuário começaram a ter um espaço próprio e coerente dentro de um todo com sentido. Depois, vieram os adjetivos e os verbos e, com eles, os atos de fala.

Todos, professores e alunos, somaram ao tempo das aulas o tempo do DIMI. O projeto foi apresentado oficialmente em maio do ano passado. Não são só palavras traduzidas. “é uma forma de integração e de reconhecimento de que estes alunos são uma minoria, mas que a escola tem um olhar sobre eles”, argumenta a professora de Português. Por isso, trocam-se significados, gastronomia, música e cultura. Para que se saiba que mesmo nos países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, como Cabo Verde e Brasil, há cambiantes culturais que, por vezes, fazem da comunicação um beco sem saída.

Estruturado o DIMI, falta, como refere Jorge Coimbra, “passar o dicionário para linguagem máquina”. O DIMI foi criado com o propósito de se constituir como uma plataforma tecnológica, em que se associam sons, palavras a imagens. As perguntas, agora, são outras: “Como fazer a transcrição fonética das palavras, como informatizar os dados já criados?”. A próxima etapa será, por isso, fazer do dicionário uma ferramenta tecnológica capaz de ser usada por diversos falantes multilingues.

Livros: Henry Kamen, “Filipe I – o ReI que uniu Portugal e Espanha”

Público | 2008-03-14

Quem tiver ideias grandiosas sobre a História de Portugal, ou quem estiver a atravessar uma crise de autoestima relacionada com o país, deve preparar-se para um choque se, por acaso, tiver a oportunidade de conversar com o historiador britânico Henry Kamen.

O autor de “Filipe I – O Rei que Uniu Portugal e Espanha”, obra de 1997, cuja edição portuguesa acaba de ser lançada pela Esfera dos Livros, não nos poupa na sua interpretação do que foi o domínio de Portugal pelo primeiro dos “Filipes”.

A conversa com o ípsilon, durante uma passagem de Kamen por Lisboa para apresentar o seu livro, começou com o que parecia uma pergunta relativamente simples: se, depois da morte de D. Sebastião em Alcácer-Quibir, Filipe II de Espanha decidiu imediatamente que queria o trono de Portugal. Kamen sorriu, e disparou, sem contemplações: “Não, porque Filipe não queria Portugal, obviamente. Portugal era um problema, era outro território, que lhe daria mais trabalho. Mas a intervenção tornou-se inevitável, dadas as circunstâncias. E estas eram o facto de que, com a morte de Sebastião e a ausência de um herdeiro, Portugal enfrentaria grande instabilidade. E a França e a Inglaterra já tinham manifestado o seu interesse em Portugal”.

Para a invasão, Filipe “teve que chamar todo o seu exército do resto da Europa, trouxe tropas dos Países Baixos, de Itália, trouxe a marinha do Mediterrâneo”. Foi um esforço considerável, diz, “um investimento terrível para um país que já tinha problemas, e tudo para intervir num país como Portugal, em que não estava muito interessado”.

Mais: D. Sebastião era um “delinquente juvenil”, o cardeal D. Henrique, que sucedeu durante dois anos ao rei desaparecido em batalha no Norte de áfrica, estava “velho, senil e praticamente morto”, o Exército espanhol invadiu Portugal depois da morte do cardeal para “resolver uma grave crise criada por D. Sebastião” e “não há um lado negativo da presença espanhola em Portugal”.

Primeiro polo do Parque de Ciência e Tecnologia Feirapark deverá estar pronto no verão de 2009

Público | 2008-02-26

O parque de ciência e tecnologia FeiraPark vai ser construído nos terrenos do Europarque, em Santa Maria da Feira, onde ainda está de pé o “esqueleto” do matadouro Mapinorte, que nunca chegou a entrar em funcionamento. No próximo mês, a PortusPark – Rede de Parques de Ciência e Tecnologia e Incubadoras da Região Norte abre concurso para a construção da sede deste centro de investigação e desenvolvimento empresarial. Emídio Gomes, da PortusPark, adianta que o primeiro polo do edifício estará pronto a ser inaugurado em junho ou julho de 2009.

“Este espaço estará muito focalizado para o que for o desenvolvimento empresarial da região envolvente”, revela o responsável, que espera que no próximo verão haja empresas interessadas em se alojar no espaço. A infraestrutura central ocupará dois mil metros quadrados dos 14 hectares do espaço que entretanto foi vendido pela PortusPark à Associação Empresarial de Portugal (AEP), que desta forma integra o FeiraPark no projeto de expansão do Europarque.

“Este parque não pode ser uma peça isolada, integra-se num projeto que a AEP tem para 600 hectares”. “A Câmara da Feira nunca desistiu, e bem, de ter um parque de ciência e tecnologia, de ter essa componente, num projeto abrangente”, acrescenta Emídio Gomes. Foi a autarquia, que mantinha o direito de reversão do terreno, que autorizou a PortusPark a avançar com a construção da unidade dedicada à investigação empresarial. A estrutura surge assim de uma parceria entre a PortusPark, a AEP e a Câmara da Feira, com a colaboração académica das universidades de Aveiro e do Porto. Entretanto, foi já criada uma sociedade gestora do FeiraPark, em que a AEP, através da Parque-Invest, detém 75 por cento do capital, a Câmara da Feira 15 por cento e a Portuspark 10 por cento dos 500 mil euros totais. A autarquia feirense, por seu turno, mantém o direito de reversão sobre o terreno.

Viagem às livrarias da Baixa no elétrico 22

Público | 2008-02-17

Fomos visitar as casas de livros do centro do Porto. E descobrimos coisas inesperadas: que há quase quatro dezenas de lojas abertas e novas apostas no setor. Quem é que falou em crise? 

Umas fecham, algumas reinventam-se e reabrem, outras nascem. é a vida natural das lojas, e é isso que está também a acontecer com as livrarias na Baixa do Porto, um alfobre histórico que já viveu melhores dias, mas que parece teimar em cumprir o seu papel no tão desejado renascimento do centro da cidade.

O tempo é de animação e de algumas novidades nesta área. Em outubro, a histórica Leitura reabriu como Books & Living, depois de adquirida pelo grupo Bulhosa/Civilização, que pouco tempo depois aumentaria a sua expressão na cidade com a inauguração de uma nova e ambiciosa loja no Shopping Cidade do Porto.

O grupo anuncia para setembro a instalação de outra Leitura/Books & Living na Baixa, no edifício que foi o Banco Pinto de Magalhães, no gaveto das ruas Sá da Bandeira e Sampaio Bruno. Mas, antes dessa data, a Leitura vai também regressar ao espaço que ocupou, até 2001, em Serralves.

Há pouco mais de uma semana, a apresentação do projeto de recuperação da degradada Praça de Lisboa incluiu o anúncio da instalação no Porto da Byblos, naquela que poderá vir a ser “a maior livraria do país”. A concretização do projeto está dependente da assinatura com a câmara do programa concebido pelo consórcio Bragaparques/John Neild & Associados.

Também a Bertrand vai regressar à rua, depois de um período marcado pela aposta nos centros comerciais. As duas lojas nos shoppings Brasília e Cidade do Porto vão fechar para darem lugar a uma nova na Rua de Júlio Dinis, ali perto da Rotunda da Boavista.

E, de regresso à Baixa, José da Cruz Santos anuncia também, para a primavera, a reabertura da Modo de Ler, agora na Rua da Conceição. Terá a dupla valência editora-livraria, e, para além das edições próprias, privilegiará o livro antigo. “Eu gostaria de ter uma livraria só dedicada à poesia”, confessa o editor, que, no entanto, vai utilizar a nova loja para voltar a ter “o prazer daquele encontro com as pessoas que só o livro permite”.

Esta movimentação parece contrariar a ideia de crise que ultimamente se diz estar a afetar irremediavelmente o setor. Mas as opiniões dividem-se quanto aos efeitos que poderão ter na Baixa as apostas de megaprojectos como a Byblos ou a multiplicação da Leitura.

A reação mais ouvida é a que professa a crença liberal “quanto mais melhor” e a ideia de que tudo o que venha ajudar a animar a Baixa é bem-vindo. Também há quem manifeste preocupação – “os grandes tendem sempre a comer os pequenos” -, e quem, otimista, lembre: “Uma pulga move-se melhor do que um elefante”.

Vamos de elétrico
Propomos uma viagem guiada à Baixa das livrarias, seguindo o raio de ação do simpático e ronceiro elétrico “22”, no seu circuito com partida e chegada à praça entre o Café “Piolho” e a Reitoria da Universidade.

Chegados ao fim, constataremos, com alguma surpresa, que há 36 livrarias no ativo (ver mapa). E também que este número se subdivide quase equitativamente entre livrarias generalistas (13), alfarrabistas (13) e especializadas (10).

Antes de entrarmos no “22”, vale a pena dar uma saltada à Rua das Carmelitas, que não seria a mesma, se não tivesse a Lello & Irmão, um “templo” de arquitetura neogótica já centenário (abriu em 1906), e que ainda há pouco tempo foi considerada pelo jornal britânico The Guardian a terceira mais bela livraria do mundo.

Orgulhoso com a referência, Antero Braga, um dos sócios da empresa Prólogo Livreiros, realça que a Lello é, das três citadas, a única que foi construída de raiz para ser uma livraria.

Antero Braga diz que a Lello continua bem e se recomenda, e reivindica que ela “traz mais gente ao Porto do que a política que a câmara municipal tem para o turismo”. Não teme a concorrência da hipótese Byblos, ali mesmo em frente, mas é muito crítico quanto ao projeto que está anunciado para a revitalização da Praça de Lisboa. “é um erro pensar que uma livraria possa ser âncora de qualquer espaço comercial”, diz o livreiro, acrescentando que a solução para o local seria instalar um mercado que fosse “uma montra daquilo que o Porto e o Norte têm de genuíno e representativo da sua cultura”: artesanato, pintura, gastronomia, vinhos… “Isso é que faria as pessoas virem à Baixa”, acredita Antero Braga.

Descendo os Clérigos, temos a jovem e personalizada Caixotim, editora e alfarrabista, e, a seguir, a velha e gasta Livraria Moreira, fundada em 1898 e a mais antiga em atividade na cidade, mas que atualmente vale apenas como referência histórica.

Ao cimo da Rua de 31 de janeiro, fica outra das três “L” – a Latina, outra casa histórica (fundada em 1942).

Passado “o calvário das obras de reinstalação do elétrico”, Henrique Perdigão, o atual proprietário e neto do fundador, diz que a Latina registou em dezembro os melhores resultados de vendas dos últimos sete anos. Livraria generalista e na melhor tradição de casa de livros e de livreiros, a Latina reabriu renovada em 2005 e, curiosamente, tem aproveitado a proximidade da FNAC. “Ela chamou mais pessoas para a animação da Rua de Santa Catarina do que tem feito a Sociedade de Reabilitação Urbana”, nota Perdigão. Sobre a Byblos, diz ter “alguma dificuldade em perceber este investimento na Baixa”, lembrando que se trata do mesmo mercado que, nos últimos anos, fez fechar editoras ou delegações como a Assírio & Alvim, Relógio d’água, Gradiva, Caminho ou Sodilivros. E livrarias como a Figueirinhas, Tavares Martins, Aviz ou Casa do Livro.

Curvando junto à FNAC, o “22” atravessa a Avenida dos Aliados para nos fazer entrar na zona de maior densidade livreira – o triângulo Rua da Fãbrica-Praça de Carlos Alberto- Rua dos Mártires da Liberdade. A Leitura/Books & Living esforça-se por recuperar a importância que já teve nas décadas de 1960/80.

Pedro Gil da Mata, neto do cofundador José Carvalho Branco (em 1958, com Fernando Fernandes), acredita que a Leitura vai aumentar os seus clientes fiéis quando, em breve, reabrir também a porta da Rua de Ceuta. E acrescenta que esta loja manterá o seu perfil histórico de fundos editoriais, enquanto as novas Books & Living estão mais vocacionadas para conquistar o público mais jovem.

O livreiro José Alves, antigo funcionário da ASA, tem também uma livraria generalista, e protesta contra “o esquecimento” a que são votadas as que não começam por ‘L’. “Nós também temos clientes fidedignos, e igualmente uma especialização em Engenharia”.

O pior, para ele e alguns vizinhos, foram as obras e, no final delas, os preços a que ficaram os parques de estacionamento. “A câmara deveria ter negociado com os concessionários preços mais económicos”, diz.

Outra histórica (nasceu em 1963) e generalista (tem 150 mil títulos) é a Unicepe, em Carlos Alberto, uma livraria-cooperativa que teima em associaios livros à s artes plásticas e promove tertúlias culturais regulares.

à saída da Unicepe, estamos de novo na paragem do “22”. Vai mais uma viagem?

As livrarias temáticas e especializadas são, para além dos alfarrabistas, as que menos sofrem com a concorrência das grandes superfícies. E na Baixa há uma dezena delas. Para além do livro escolar, que se vê um pouco em todas as lojas, mas que continua a ter na Porto Editora a sua principal referência, há livrarias de gastronomia e viagens, como a Garfo e Letras, que, diz o seu proprietário, Mário Rodrigues, vai agora apostar em edições castelhanas e inglesas; e outras como a Fátima e Voz Portucalense, especializadas em religião cristã. Há também livrarias para Medicina (Científico-Médica), Economia (Convívio] ou Direito (Almedina).

Outras, ainda, privilegiam a poesia e o teatro (Poetria) ou apostam na bibliofilia da BD (Timtim por Timtim, que o colecionador Alberto Gonçalves abriu inicialmente na Rua do General Figueira e agora está na da Conceição).

Alfarrabistas Apostar nos livros raros e na exportação
O centro do Porto tem uma feira permanente e fascinante de livros antigos e raros, distribuída por dezena e meia de alfarrabistas – contabilizando aqui duas livrarias que ficam fora do nosso mapa, mas que são referências no setor: a Chaminé da Mota (Rua das Flores) e Manuel Ferreira com os seus filhos Herculano e Paulo (divididos entre a Rua do Dr. Alves da Veiga e o Largo de José Moreira da Silva).

Em volta do circuito do “22”, há três lojas de visita obrigatória: a Académica, de Nuno Canavez (fundada em 1912); a centenária Moreira da Costa, herdeira da loja instalada em 1902 na então Travessa de Aviz, e que já vai na quinta geração; e a Sousa & Almeida, que vem de 1952 e continua ainda hoje a ser gerida por um dos fundadores, Joaquim de Almeida. Esta é uma livraria que mantém uma atividade em que apostou logo de início: a importação e exportação de edições de e para vários países.

Atualmente, diz Joaquim de Almeida, os principais mercados são a Inglaterra, a América e também Espanha. é para esses países que envia os livros e revistas “de autores portugueses, lusófonos e galegos”, atividade que marca a diferença desta loja, onde se podem ainda encontrar livros sobre temas um pouco esotéricos, como a arqueologia e a heráldica.

“A dificuldade é, agora, fazer as pessoas virem aqui, numa rua [da Fábrica] de onde retiraram os lugares de estacionamento”, lamenta o velho livreiro, que não consegue esconder um protesto contra os arquitetos e urbanistas, “que fazem coisas bonitas, mas que retiram o movimento da Baixa”.

Ao virar da esquina, Miguel Carneiro, descendente da família Moreira da Costa, mostra-se otimista perante o futuro, porque acha que “em Portugal cada vez se lê mais”.

Mas, numa perspetiva curiosa e pouco ouvida, admite que o mercado dos livros antigos está um pouco parado, “porque as pessoas dão cada vez mais valor aos livros antigos e não se querem desfazer deles”.

Com o seu humor e truculência de sempre, Nuno Canavez protesta contra “a cidade-fantasma” em que o centro do Porto está transformado, e que a câmara “tem descurado na suas obrigações culturais”. Sobre as anunciadas novas livrarias para a zona, admite que “o sol, quando nasce, é para todos”, mas também lembra que “os grandes costumam comer os mais pequenos”. A defesa dos livreiros alfarrabistas, diz, está na especialização nos livros raros e também na edição de catálogos que são enviados para todo o mundo, à procura de clientes com maior poder de compra.

Lojas temáticas
As livrarias temáticas e especializadas são, para além dos alfarrabistas, as que menos sofrem com a concorrência das grandes superfícies. E na Baixa há uma dezena delas. Para além do livro escolar, que se vê um pouco em todas as lojas, mas que continua a ter na Porto Editora a sua principal referência, há livrarias de gastronomia e viagens, como a Garfo e Letras, que, diz o seu proprietário, Mário Rodrigues, vai agora apostar em edições castelhanas e inglesas; e outras como a Fátima e Voz Portucalense, especializadas em religião cristã. Há também livrarias para Medicina (Científico-Médica), Economia (Convívio) ou Direito (Almedina). Outras, ainda, privilegiam a poesia e o teatro (Poetria) ou apostam na bibliofilia da BD (Timtim por Timtim, que o colecionador Alberto Gonçalves abriu inicialmente na Rua do General Figueira e agora está na da Conceição).

Lançado o primeiro livro infantil português sobre a temática gay

Público | 2008-02-15

É um livro em tudo igual aos outros livros infantis. A única diferença é que os pais da personagem principal, Maria, são o Pedro e o Paulo… Manuela Bacelar diz que esta não é uma obra panfletária: ” Fiz este livro porque sim.” é um livro infantil “normal”.

O Livro do Pedro, a primeira publicação portuguesa infantil a introduzir personagens homossexuais, foi ontem apresentado na Fnac do Chiado, em Lisboa.

O livro, escrito e ilustrado por Manuela Bacelar, conta uma história dentro de outra história. Uma mãe, Maria, que mostra à filha o álbum da sua infância, tão comum a tantas outras, com piqueniques no parque, histórias ao deitar, avós que vivem no campo e cozinhados em família. A única diferença é que Maria, em vez de um pai e de uma mãe, tinha dois pais: Pedro e Paulo. E foi Pedro quem criou o álbum, quando esteve um ano desempregado.

Sobre o livro Manuela Bacelar pouco disse, mas fez questão de salientar que não é uma obra panfletária e que não teve nenhum propósito ao escrevê-la. “Fiz este livro porque sim.” Considera-o um livro “perfeitamente normal” e espera que o público o receba como tal.

O facto de o lançamento do livro coincidir com o Dia dos Namorados, foi “uma decisão da editora”, mas faz sentido, sendo este “um livro de afetos”. Um livro que trata “de uma família feliz”. Ilustradora há largos anos, a autora não quis deixar de salientar que o livro infantil “é a primeira galeria de arte de uma criança e por isso as ilustrações têm que ser feitas com cuidado e seriedade”. O que não significa que existam temas tabu: “à s crianças pode-se falar de tudo, tem é que se ter sensibilidade, amor e carinho. Mas pode-se falar de tudo: da morte, da vida, de tudo.”

A apresentação foi feita por Dora Batalim, professora de literatura infantil, que deu os parabéns à autora por ter conseguido criar um livro que, tocando numa temática sensível, não seja “um livro para”, com um objetivo. Porque isso seria como um “manual de instruções dos que vêm nas caixas”. A apresentação de O Livro do Pedro encheu o pequeno auditório da Fnac do Chiado. Na plateia saltava à vista um número significativo de pessoas de idade avançada, contrariando a ideia de que a população mais idosa recebe mal temas como a homossexualidade. “Eu cá acho que sei porque é que o Pedro esteve desempregado”, diz um homem, na plateia, à pessoa sentada ao lado. “Para mim, é o melhor livro da Manuela”, responde uma mulher. O final da apresentação deu lugar a uma longa fila, que esperou por um autógrafo, segurando nas mãos o livro de coração na capa.

Teachers TV/BBC

ORE| 2008-01-21

O ORE recomenda a consulta do sítio http://www.teachers.tv onde poderá aceder a um canal de televisão britânico que, emitindo em contínuo, é totalmente dedicado à s questões do ensino. Não deixe de consultar igualmente o sítio http://www.bbc.co.uk/schools/ que lhe proporciona também imensos recursos educativos.

O ORE recomenda a consulta do sítio www.teachers.tv onde poderá aceder a um canal de televisão britânico que, emitindo em contínuo, é totalmente dedicado à s questões do ensino. Aí encontrará, para além de notícias e debates sobre temas da atualidade pedagógica e educacional, vídeos, orientações metodológicas, explorações de tópicos curriculares, etc., de uma grande diversidade de disciplinas escolares.

Arquivos um novo guia didático para explicar a Torre do Tombo às crianças

Público | 2008-01-18

Mais de duas centenas de alunos dos 5.º ao 7.º anos invadiram, ontem, a Torre do Tombo, em Lisboa. O átrio, geralmente silencioso, encheu-se de risos e exclamações de espanto, para receber o guia didático Guardar Memórias, Abrir Caminhos…, um livro sobre a história e importância do Arquivo Nacional da Torre do Tombo pensado para os mais pequenos. Este guia resulta de uma parceria entre os ministérios da Educação e da Cultura, que se fizeram representar na sessão de lançamento pelas titulares das pastas, Maria de Lurdes Rodrigues e Isabel Pires de Lima, respetivamente. “é gratificante ver decisões políticas terem resultados que chegam a tantos meninos e meninas”, disse a ministra da Educação a uma plateia com muitos funcionários do arquivo, jornalistas, professores e, principalmente, alunos entre os dez e os 13 anos.

Guardar Memórias, Abrir Caminhos… foi escrito por quatro professoras inscritas no regime de mobilidade especial e que estão, agora, a trabalhar para o Ministério da Cultura. A consulta dos documentos do Arquivo Nacional só está disponível para maiores de 18 anos. No entanto, Silvestre Lacerda, diretor da Torre do Tombo, explica por que é tão importante cativar e trazer as crianças para este espaço: “Os arquivos não são só cultura, são espaços de cidadania, de memória. Devemos chamar os mais novos para que saibam que têm direitos. Os arquivos são uma prova desses direitos.”

é por esta razão que o Arquivo Nacional da Torre do Tombo está cada vez mais aberto a visitas de estudo e ateliers, contando com a colaboração de duas professoras que transitaram para a área da cultura e têm sido uma mais-valia no contacto com as crianças, reforçou Silvestre Lacerda.

O lançamento deste guia didático foi acompanhado por uma animada sessão de perguntas e respostas com o escritor João Aguiar, autor do livro O Mistério da Torre do Tombo. Os alunos das seis escolas presentes, todas da área Metropolitana de Lisboa, foram desafiados a ler o livro, para depois questionarem o autor. Choveram dezenas de perguntas sobre personagens, enredo e, sobretudo, inspiração. A nenhuma o autor deixou de responder.

Falhas no uso da língua portuguesa em livros infantis

Público | 2008-01-18

Estudo do Letrário avaliou 22 títulos infanto-juvenis de diferentes editoras e detetou vários problemas.

A Gralhas, uso irregular dos artigos definidos, pontuação insuficiente ou abuso dos pronomes possessivos foram alguns dos problemas encontrados junto dos 22 livros para a infância e juventude avaliados pelo Letrário, uma equipa de consultoria em língua portuguesa e estrangeira, formada em 1999.

“Uma maior exigência por parte dos adultos que compram livros para as crianças tenderá a levar as editoras a investir mais na qualidade da revisão dos livros a publicar, o que não deixará de resultar em textos mais cuidados, ou seja, em veículos mais seguros para a aprendizagem da língua portuguesa”, conclui o estudo que, nas palavras de Tânia Veríssimo, umas das autoras, apenas teve como objetivo “auscultar o que a comunidade lê”.

Sem intenção de extrapolar as conclusões a todo o mercado, a linguista disse ao Público que, tendo “o Letrário esta competência linguística, tinha também a obrigação de avaliar o que está atualmente à disposição dos pais e das crianças”.

A amostra foi de recolha aleatória, tendo como únicos critérios não repetir editoras e privilegiar as obras escritas originalmente em português. Ainda assim, constam da lista seis traduções/adaptações. As datas de edição vão de 2000 a 2007 e em cinco dos 22 títulos a ficha técnica conta explicitamente com revisão.

Alexandra Marques, do Plano Nacional de Leitura, não quis comentar o estudo por não ter tido acesso ao seu conteúdo. Refere no entanto alguns nomes de investigadores que têm estudado estes e outros aspetos do livro infantil, “com amostras credíveis e conclusões fiáveis”, casos de Lourdes Dionísio e Fernanda Leopoldina Viana, do Instituto de Estudos da Criança da Universidade do Minho, e Inês Sim-Sim, da Escola Superior de Educação de Lisboa.

Incoerências gráficas (itálicos, por exemplo), aberturas de parágrafos deficientes, irregularidade no uso de maiúsculas também foram objeto de análise pelo Letrário, que viria a agrupar as editoras em função do número de problemas presentes.

Assim, chegou-se a cinco grupos, por ordem crescente de incorreções: I – Campo das Letras, Oficina do Livro, Verbo, Gradiva Júnior; II – Impala, Kual, Dom Quixote, Assírio & Alvim; III – Girassol, Porto Editora, Minutos de Leitura; IV – Texto Editores, Nova Vega, Presença, Asa, Everest; V – Guimarães Editores, Bertrand, Terramar, Relógio D”água, Caminho e Ambar.

– […] como se tivesse diante duma tumba
– […] cairam da cama como pedras em poço
– Quem mais me preocupa é o meio-campo
– O Esperto é que […] reparava para o caminho […]
– […] teria de aguardar maior tempo

– […] como se estivesse diante duma tumba
– […] caíram da cama como pedras em poço
– O que mais me preocupa é o meio-campo
– O Esperto é que […] reparava no caminho […]
– […] teria de aguardar mais tempo

Crianças recebem livros para criar e encher bibliotecas

Jornal de Notícias | 2008-01-16

História da terra e da música, um dicionário ilustrado ou uma primeira enciclopédia do corpo humano. Todos eles chegam, esta semana, à s bibliotecas ou salas improvisadas para o efeito dos jardins de infância e escolas básicas do concelho de Gaia, após uma oferta de 122 mil euros em livros de uma editora à Autarquia. 

A oferta dos “kits” escolares, com livros e manuais pedagógicos, por parte da Porto Editora, mereceu ontem uma ação simbólica na Câmara e insere-se na criação de bibliotecas em todos os jardins de infância e escolas básicas do Primeiro Ciclo.

Além da oferta, que esta semana ainda chegará à mão dos alunos, há o compromisso da editora de atualizar todos os anos o material, acrescentando novos títulos e meios, como informáticos. Abrangidas foram 189 salas.

Na apresentação da iniciativa, Amadeu Campos, presidente da Federação das Associações de Pais de Gaia, aproveitou para defender um “horário normal em todas as escolas”, enquanto Vasco Teixeira, administrador da editora, elogiou a “aposta” do concelho em conteúdos multimédia, “antes do Governo lançar o plano tecnológico da educação”.

“A paixão do ministro”
Quanto à oferta, garantiu tratar-se “de uma seleção das melhores edições de carácter educativo e lúdico-educativo de apoio aos alunos e professores” também. De seguida, foi Marco António Costa, vice-presidente da Câmara, quem tomou a palavra para deixar alguns recados ao Governo, insistindo, mais uma vez, na ideia de que a Autarquia tem estado à frente do Governo no que toca à s políticas implementadas.

“Quando havia um primeiro-ministro que fazia da educação a sua paixão política, alguns faziam trabalho a sério”, criticou, exemplificando com o projeto de escola a tempo inteiro.

Quanto ao ensino da matemática, destacou o arranque de um novo programa, também com “função social”, no sentido de promover a igualdade no apoio pedagógico junto dos mais desfavorecidos. O lançamento dos quadros interativos no concelho de Vila Nova de Gaia foi outro mote que serviu a Marco António Costa para comparar a Autarquia ao Governo.

Crianças recebem livros para criar e encher bibliotecas

Jornal de Notícias | 2008-01-15

Crianças e professores vão receber novos livros de apoio pedagógico.
História da terra e da música, um dicionário ilustrado ou uma primeira enciclopédia do corpo humano. Todos eles chegam, esta semana, à s bibliotecas ou salas improvisadas para o efeito dos jardins de infância e escolas básicas do concelho de Gaia, após uma oferta de 122 mil euros em livros de uma editora à Autarquia.

A oferta dos “kits” escolares, com livros e manuais pedagógicos, por parte da Porto Editora, mereceu ontem uma ação simbólica na Câmara e insere-se na criação de bibliotecas em todos os jardins de infância e escolas básicas do Primeiro Ciclo.

Além da oferta, que esta semana ainda chegará à mão dos alunos, há o compromisso da editora de atualizar todos os anos o material, acrescentando novos títulos e meios, como informáticos. Abrangidas foram 189 salas.

Na apresentação da iniciativa, Amadeu Campos, presidente da Federação das Associações de Pais de Gaia, aproveitou para defender um “horário normal em todas as escolas”, enquanto Vasco Teixeira, administrador da editora, elogiou a “aposta” do concelho em conteúdos multimédia, “antes do Governo lançar o plano tecnológico da educação”.

“A paixão do ministro”
Quanto à oferta, garantiu tratar-se “de uma seleção das melhores edições de carácter educativo e lúdico-educativo de apoio aos alunos e professores” também. De seguida, foi Marco António Costa, vice-presidente da Câmara, quem tomou a palavra para deixar alguns recados ao Governo, insistindo, mais uma vez, na ideia de que a Autarquia tem estado à frente do Governo no que toca à s políticas implementadas.

“Quando havia um primeiro-ministro que fazia da educação a sua paixão política, alguns faziam trabalho a sério”, criticou, exemplificando com o projeto de escola a tempo inteiro.

Quanto ao ensino da matemática, destacou o arranque de um novo programa, também com “função social”, no sentido de promover a igualdade no apoio pedagógico junto dos mais desfavorecidos. O lançamento dos quadros interativos no concelho de Vila Nova de Gaia foi outro mote que serviu a Marco António Costa para comparar a Autarquia ao Governo.

Telemóveis, MP3 e MP4 na sala de aula? Sim!

Jornal de Notícias | 2008-01-07

Computadores, telemóveis e MP3 são todos muito bem-vindos à s aulas de Português da professora Adelina Moura.

“Ontem à noite, fartei-me de ouvir a ‘setôra’. Era eu a lavar a loiça e a ‘setôra’ a ler o Sermão do Padre António Vieira!”. O comentário é citado por Adelina Moura, professora de Português/Francês da “Secundária” Carlos Amarante, em Braga, como prova dos bons resultados que está a obter com a utilização das tecnologias móveis no ensino (vulgarmente conhecido por “m-learning”). Nas suas aulas – ao contrário do que acontece nas restantes -, telemóveis, MP3 e MP4 são muito bem-vindos. Ali, em casa ou na rua, os alunos podem ouvir as aulas da professora. O mais curioso é que os “podcasts” (gravações) de Adelina Moura, alojados na Net, já correm dezenas de salas de aulas do país, provando a utilidade das novas metodologias de ensino-aprendizagem.

“Se não os podes combater, junta-te a eles”. Este foi o mote encontrado por Adelina Moura para a mudança nos métodos de ensino. “Por mais que se proíba, é impossível impedir a entrada de telemóveis e MP3 nas salas de aula. Então, por que não tirar partido deles?”, questionou.

Tão depressa pôs a questão como depressa arranjou uma boa tese de doutoramento, que está a desenvolver no Instituto de Educação e Psicologia da Universidade do Minho. E para “cobaias” da sua experimentação não podia ter encontrado melhor do que os alunos do 11.º ano do Curso Profissional de Manutenção Industrial e Eletromecânica.

“é uma turma onde mais de 50% dos alunos têm duas e três repetências, pois têm dificuldades de aprendizagem. A motivação para eles é fundamental, há que arranjar formas de os prender e de não faltarem à s aulas”, explicou a professora.

Adelina Moura aproveitou a existência de 14 computadores portáteis na escola para utilizá-los na sala de aula. Em casa, a docente grava a leitura dos textos e todos os comentários e explicações sobre os temas em estudo. São os chamados “podcasts”, que mantém disponíveis a quem os quiser ouvir no sítio discursodirecto.podomatic.com.

Para os seus alunos, criou um espaço próprio na Net, intitulado “Geração Móvel” (geramovel.googlepages.com/podcast).

“Ali os alunos têm os textos e os comentários gravados, além de um conjunto de atividades que lhes são propostas. Eles ouvem e realizam os exercícios ao seu próprio ritmo de aprendizagem”, explicou.

Normalmente, os “podcasts” são descarregados apenas por um dos alunos que, depois, passa aos restantes utilizando o “bluetooth” do telemóvel.

“Em casa, podem ouvir tudo a partir da Net ou do telemóvel ou MP3. E podem ir passear e, pelo caminho, ouvir os textos e as explicações da professora. O objetivo é aprender numa sala sem muros e numa disciplina sem horários”, comentou Adelina Moura.

Embora a professora também utilize os métodos tradicionais, prefere, com aqueles alunos, recorrer mais à s tecnologias. “Com o método tradicional, eles parecem atentos, mas estão longe. Com estas novas tecnologias, são mesmo obrigados a mostrar trabalho”, concluiu.