Centros de explicações perdem alunos com fim de exames
Tiago Brandão Rodrigues esteve ontem no Parlamento pela segunda vez no espaço de duas semanas. Prometeu centrar esforços nas escolas
Diário de Notícias | 27.01.16
Os exames do 4.º e do 6.º ano foram uma oportunidade de negócio para os centros de explicações, que viram o número de clientes aumentar nestes anos de ensino. Agora que o governo substitui estes exames por provas de aferição, os centros estão já a sentir a redução de interessados em explicações nesses anos. Alguns tinham mesmo programas específicos de preparação para as provas de Português e Matemática – que eram frequentadas em média por grupos de 15, 20 ou 30 alunos – e que neste ano já não se vão realizar.
Mas se deixou de haver procura por causa do fim dos exames, os centros registam um aumento de alunos “desde que este governo entrou em funções e começou a falar no fim da austeridade e na retoma”, aponta o responsável de comunicação do grupo Nota Êxito, Pedro Ramos. “Os pais que inscreveram os filhos no início do ano, mesmo dos 4.º e 6.º anos, mantêm as explicações, porque são crianças que precisam de acompanhamento ao longo do ano”, acrescenta Inês Santos, do Centro Sei Que Sei, em Lisboa. Porém, este centro nota, no entanto, “uma redução no número de horas contratualizadas, uma vez que já não é preciso estudar para exames”.
Quem também registou uma quebra entre o grupo de alunos dos 4.º e 6.º anos foi o Ginásio Da Vinci Boavista, no Porto. “Fazíamos preparação a partir das férias da Páscoa e neste ano já não vamos ter, apenas temos o grupo de alunos que já começou o ano connosco. No ano passado, tivemos bastante procura a partir de março e tínhamos um grupo de 15 alunos a preparar-se para estes exames. Neste ano já não vai acontecer”, lamenta Sandra Martins, diretora do centro.
Também o grupo de cerca de 20 a 30 alunos que costumavam fazer a preparação para exames no centro de estudos NADESP, no Porto, neste ano não se vai repetir, aponta a diretora Ana Maria Pires. E mesmo entre os alunos que começaram no início do ano a ter explicações “nota-se que tanto eles como os pais estão mais descontraídos e que houve um desinvestimento no estudo”, reconhece a responsável.
Na Megamind, em Lisboa, a redução da procura já se começa a notar também, embora a maioria dos alunos preocupados com os exames chegasse apenas “a meio do segundo período ou no início do terceiro”. Catarina Silva antecipa assim que “deve haver uma quebra na procura” nessa altura.
Aferição não dá negócio
A quebra com o fim dos exames é inegável. E não vão ser as anunciadas provas de aferição para os 2.º, 5.º e 8.º anos que vão fazer o negócio crescer. “As provas não contam para a nota e por isso não há procura”, refere Maria José, do centro Rumo Certo, na Amadora. A ideia é partilhada pelos outros centros de estudos contactados pelo DN.
No centro Na Ponta da Língua nota-se, no entanto, “alguma preocupação por parte dos alunos do 8.º ano que já estão cá desde o início do ano com a prova de aferição”. Mas essa preocupação tem mais que ver “com o facto de ainda ninguém saber como vai ser a prova” do que com o seu grau de dificuldade, refere Sandra Magalhães.
Sabendo que “as provas de aferição não preocupam”, Ana Maria Pires, do centro NADESP, não espera que ninguém se inscreva em explicações com o objetivo de se preparar para estes testes de diagnóstico. Admitindo que “efetivamente o exame tem alguma função porque obriga os alunos a preocuparem-se e a estudar, e o que vemos agora é um relaxamento dos alunos e também dos pais”.
Sem os exames para captar alunos ao longo do ano, os centros apostam nos estudantes do secundário ou no apoio continuado para os estudantes que têm dificuldades, deixando de lado as preparações para exames que já eram uma tradição e ocupavam muitas vezes as férias de Carnaval e da Páscoa.
O DN questionou o Ministério da Educação sobre as datas em que as provas vão ser feitas e a matriz para o conteúdo das mesmas, mas não obteve resposta.
Livros de preparação no armazém
O setor editorial, que produzia vários conteúdos relacionados com as provas, como livros preparatórios, também sai naturalmente penalizado.
Numa resposta enviada ao DN, a direção de comunicação da LeYa admitiu que a medida terá impacto, sem avançar estimativas das perdas financeiras: “O fim das provas finais de 4.º ano e de 6.º ano implica, de facto, a perda de vendas dos livros auxiliares destinados à preparação dessas provas”, admitiu, acrescentando que “este tipo de livros regista algumas vendas a partir do início do ano letivo e atinge o pico de vendas dois a três meses antes da data das respetivas provas”.
Ou seja: em circunstâncias normais, estes livros começariam a sair das estantes em força já no mês de fevereiro, uma vez que as provas se realizavam no mês de maio. Agora, o destino mais provável será o armazém: “Os livros existentes em stock, que serviriam para apoiar a preparação das provas de 2016, não serão evidentemente comprados/vendidos.” A Porto Editora não quis, para já, avançar com estimativas do impacto da medida nas suas vendas.