A cadela Mel vai à escola ajudar crianças com autismo

Projecto de terapia com cães em contexto escolar está em fase-piloto em Coimbra. Sessões ajudam a desenvolver a comunicação, a concentração e as competências sociais das crianças.

PÚBLICO | 19.05.17

Paulo tem um autocolante vermelho na mão direita e outro azul na esquerda. Ana Barbosa Ribeiro, a técnica de terapia assistida, aponta para Mel – que tem também autocolantes coloridos iguais nas patas – e vai perguntando a Paulo, com seis e a frequentar o 1.º ano, (a pedido da escola não o identificamos pelo seu verdadeiro nome) qual corresponde a qual. A Mel é uma cadela golden retriever de 18 meses especialmente treinada para ajudar crianças com dificuldades.

Estas sessões de cinoterapia fazem parte de um projeto implementado na Escola Básica do Tovim, em Coimbra, pelo Centro de Apoio Social de Pais e Amigos da Escola (CASPAE), uma Instituição Particulares de Solidariedade Social, e envolve atualmente quatro crianças com autismo. O projeto funciona em contexto escolar. Além da cadela Mel e da técnica de terapia assistida Ana Ribeiro, fazem parte do projeto uma psicóloga e especialistas do estabelecimento do Agrupamento de Escolas Eugénio de Castro, que tem uma unidade de ensino estruturado para autistas.

A psicóloga Cátia Rodrigues, coordenadora do projeto de cinoterapia, explica que, depois de feito o diagnóstico das crianças, o plano de intervenção é desenhado de acordo com a necessidade de cada uma. Mel ajuda as crianças a treinar a capacidade de concentração, as competências sociais e de comunicação. Um dos objectivos é que “aprendam a ter comportamentos nos momentos adequados, como um bom dia, uma boa tarde, [a fazer] contacto visual com o outro ou a ter uma postura corporal adequada ao que está a sentir na altura”. Outro dos aspectos trabalhados é a psicomotricidade, como a diferença entre esquerda e direita, em exercícios como os que Paulo faz com os autocolantes.

O cão também tem horário

 “As crianças com autismo têm hipersensibilidade a estímulos”, afirma Cátia Rodrigues, pelo que o simples toque no pêlo do cão já “é extraordinário para eles”. Olhar para a Mel é também terapia. “Por norma, uma criança com autismo não olha nos olhos de um adulto.” Mas se lhe pedem para descrever o focinho da cadela, a criança “vai indicar-nos os olhos e mantém-se ali a olhar”.

As sessões acontecem duas vezes por semana, podem ser em grupo ou individuais, e os exercícios dependem do plano de intervenção de cada criança. Para além das horas com a cadela, as crianças estão integradas em turmas com os restantes alunos. A terapia “influencia a interação com os próprios colegas”, garante Carmen Cruz, coordenadora da Escola Básica do Tovim.

No sentido contrário, o facto de estes alunos frequentarem este espaço também tem efeito nas outras crianças da escola do Tovim. A responsável explica que ter contacto desde tão cedo com condições diferentes faz com que as restantes crianças lidem com a diferença e apreendam valores como “o altruísmo e a empatia”. Que “se coloquem no lugar do outro”, sintetiza.

O projeto está na fase-piloto e arrancou no final do ano lectivo passado. A presidente do CASPAE, Emília Bigotte, explica que há a possibilidade de alargá-lo a mais crianças, mas teria que envolver mais equipas e mais animais, o que está dependente de financiamento. “O cão também tem o seu horário de trabalho”, lembra a responsável, acrescentando que Mel e Ana Barbosa Ribeiro trabalham em regime de voluntariado.

Os festivais literários são mesmo úteis para as escolas?

É cada vez mais comum os escritores deslocarem-se às salas de aula para falar de livros, escrita e leitura. Quisemos saber se essa prática serve às escolas ou só às editoras e livrarias. Pretexto: Livros a Oeste, a decorrer na Lourinhã.

PÚBLICO | 11.05.17

As escolas habituaram-se a abrir as portas a escritores (e ilustradores) ao longo do ano, mas, sempre que há um festival literário por perto, a afluência e frequência aumentam. Serve a quem?

“É muito útil para os alunos”, diz Ana Rute Bento, coordenadora interconcelhia das bibliotecas escolares da Lourinhã, e descreve: “Os encontros fazem-se em ambiente acolhedor e conhecido (porque é na escola) e também de festa (porque há muitas atividades culturais por perto).” Garante que alguns alunos mostram “mais vontade de ler” e, durante o ano, querem saber quem são os próximos escritores a visitá-los.

Já Luísa Cerveira, professora bibliotecária em Miragaia, valoriza o efeito dos encontros nos professores: “Ficam na expectativa de saber qual o programa” de cada festival que se aproxima. Isto porque “os temas são sempre interessantes e vão ao encontro das necessidades curriculares das escolas”. E felicita o esforço da Câmara da Lourinhã e dos Livros a Oeste nesse sentido, o de “apoiar o cumprimento das metas curriculares”.

Este ano, há formação certificada para os docentes, sob o tema (Re) Criar Narrativas. “A certificação mobiliza mais professores, que estão sempre assoberbados de trabalho, mas assim têm algum retorno do esforço”, diz Luísa Cerveira, que recorda o benefício para as escolas no ano passado, quando se exploraram temas à volta da educação literária. “Os festivais são uma ajuda, não são um peso.”

Para o programador do Livros a Oeste (que decorre até sábado, 13), João Morales, a aposta nas escolas é óbvia: “Não há adultos que nasçam leitores. Nós queremos formar leitores e ajudar a consolidar hábitos de leitura.”

O tema geral desta edição do festival traduz-se por Ler É Viver (Outras Vidas). O jornalista descodifica: “A leitura é uma possibilidade de viver várias vidas, de sermos outras pessoas e de vermos com outros olhos. Queremos que os miúdos pensem nisto e percebam que a leitura é agradável e faz parte da vida. Vai ajudá-los a ter um olhar crítico sobre o mundo.”

As editoras e livrarias também ganham com isso, não? “Claro!”, exclama Morales, “se cada um fizer bem o seu papel, temos todos a ganhar, se as editoras e livrarias venderem livros, óptimo”. E compara, divertido: “Se eu quiser promover uma alimentação saudável, não estou necessariamente a publicitar uma marca de sumos ou de saladas…”

Ajuda prática para os professores

A formação dos professores que se iniciou nesta edição resultou de um equilíbrio entre “necessidades” e “novidades”, explica Morales, orgulhoso com o painel de formadores e com a adesão dos docentes da região, que deseja que se alargue a outros territórios nos próximos anos. “É uma formação prática e pragmática, para se poder usar, de verdade, em sala de aula.”

O resultado é um programa “intensivo” de várias horas, repartido em três dias, mas distribuído “suavemente” por oradores com valências “diferentes e originais” (uma hora para cada): Maria do Rosário Monteiro revela como “cada mito é uma parte do homem”; Maria Antónia Oliveira fala de diário e biografia, “a vida escrita na primeira e na terceira pessoa”; Mafalda Milhões, em “companheiros de aventura”, mostra como as livrarias podem trabalhar em parceria com as bibliotecas escolares; Rui Ramos, mestre da oralidade, ajudará os professores a ler em voz alta, na sua “narrativa a céu aberto”; Rui Zink, pioneiro na escrita participada online, partilhará o que sabe sobre “leitura criativa”; André Gago, ator e declamador, desvendará técnicas eficazes para que os professores consigam conquistar e manter a atenção dos alunos, no módulo “ler e contar é viver e inventar”.

A coordenadora das bibliotecas da Lourinhã falou com o PÚBLICO depois de ter participado numa reunião em que esteve presente uma das professoras-formandas inscritas no (Re) Criar Narrativas: “O seu entusiasmo pelas primeiras sessões foi tal que os colegas que não se inscreveram lamentaram bastante não o ter feito.” A sua expectativa é de que para a próxima edição a adesão seja ainda maior.

Luísa Cerveira, por sua vez, lembra que o facto de haver por estes dias oferta cultural gratuita no concelho, “que necessita que os cidadãos desfrutem de algo diferente”, é não só “interessante”, como incute “mudança nos hábitos das pessoas”.

Oliveira Martins desafia professores a declararem “guerra aos resumos”

Ex-ministro da Educação defende que só lendo os livros é que se melhora domínio da língua portuguesa.

LUSA | 09.05.17

O ex-ministro das Finanças e da Educação Guilherme d’Oliveira Martins desafiou nesta terça-feira os professores a combaterem os “resumos” de obras literárias e a porem as crianças a ler escritores de língua portuguesa para melhorar o domínio do idioma.

“Guerra aos resumos”, defendeu Guilherme d’Oliveira Martins, numa conferência na cidade do Porto, considerando que os resumos das obras literárias são “uma praga” e que terão de ser os professores a ter a “preocupação muito grande” de pôr os “alunos a ler os textos originais”.

Guilherme d’Oliveira Martins deu mesmo como exemplo a leitura de “Os Lusíadas” pelos mais jovens, evocando Vasco Graça Moura, autor da obra-prima pedagógica sobre Camões, escrita em oitava rima, mas “acessível a um jovem de 15 anos do nosso tempo”.

O antigo ministro, que coordenou o estudo recentemente entregue ao Ministério da Educação sobre o Perfil do aluno do Século XXI, que define as competências que os estudantes devem ter à saída do ensino obrigatório de 12 anos, referiu que os alunos, para terem um bom “domínio da língua”, devem ler escritores de língua portuguesa, que podem ser portugueses, angolanos, brasileiros ou moçambicanos.

Ler os grandes poetas como Cesário Verde, Fernando Pessoa, Camilo Pessanha, Teixeira de Pascoais, mas também autores brasileiros como Manuel Bandeira, João Guimarães Rosa, autores moçambicanos como José Craveirinha ou Mia Couto ou o angolano Pepetela é determinante para conhecer a língua portuguesa, para fazer da língua portuguesa “uma realidade viva” e para os lusófonos se “entenderem melhor”, defendeu o também administrador da Fundação Calouste Gulbenkian.

Expansão do português

“Ponhamos as nossas crianças a decorar poesia portuguesa”, defendeu, reiterando que “se tem de pôr as crianças em contacto com a boa literatura que atingiu a sua maturidade poética no século XV com Camões, ou a maturidade da prosa com [Padre António] Vieira, prosador do século XVII”, disse, considerando que é preciso ter um bom domínio da língua e comunicar bem a língua portuguesa, porque ao se comunicar bem, haverá “melhores cidadãos” com “ideias claras” para melhorar o mundo, explicou.

A língua portuguesa será falada no final do século XXI por cerca de “450 milhões de pessoas”, antecipou o ex-governante. “Só cinco línguas vão crescer significativamente no próximo século no mundo — mandarim, hindi, inglês, espanhol e português. O espanhol e português, as línguas ibéricas, vão desenvolver-se como línguas nativas, enquanto o inglês se vai desenvolver em parte como língua estrangeira”, explicou o antigo ministro.

“É uma grande responsabilidade de Portugal”, considerou, acrescentando: “Somos europeus, mas temos uma projeção global e universal. Somos um país médio, mas com responsabilidades de grande potência em virtude da afirmação da língua portuguesa”.

Oliveira Martins recordou ainda os tempos em que foi ministro da Educação e em que se deparou com “imensas dificuldades” para garantir professores de português em Timor-Leste.

“Não é fácil, muitas vezes temos de combater determinadas inércias, porque havia pessoas que diziam que ia deixar de haver procura do português”, recordou, acrescentando que Xanana Gusmão um dia disse-lhe que quando morrer a língua portuguesa em Timor, morre também o tétum (crioulo asiático de base portuguesa) em Timor-Leste.

Eles têm aulas sobre emoções e passaram a zangar-se menos

Identificar as emoções e aprender a geri-las desde pequenos é também uma forma de prevenir problemas na infância e adolescência, diz diretora de escola de Leiria. Num congresso no ISCTE vai-se debater a empatia.

PÚBLICO | 05.05.17

Valentim, 7 anos, diz que está ali “para aprender a ficar mais alegre”. A alegria foi um dos sentimentos que estavam a trabalhar na aula a partir de um pequeno vídeo de animação. Da alegria foram até ao orgulho. “Sinto orgulho quando sinto que vou conseguir”, define Valentim, que dirá depois ao PÚBLICO que a “atitude” de que “gosta mais” é a paciência. “Às vezes fico impaciente porque o meu mano mais novo está sempre a interromper-me e não quero ficar assim.”

Ao fim de quase dois anos de escola das emoções, há crianças no jardim-escola João de Deus, em Leiria, que “começaram a questionar-se mais sobre como o outro se sente, a antever a sua reação e a adoptar comportamentos” em função dessa percepção, relata Vera Sebastião, diretora daquele estabelecimento de ensino.

O projeto tem sido desenvolvido em parceria com a Associação Escola das Emoções, criada em 2014, com o objectivo de levar aos mais novos “ferramentas para poderem conhecer-se melhor”, diz Marco Coelho, presidente da organização, acrescentando que o que está em causa “não é controlar as emoções, mas sim saber identificá-las e geri-las”.

Entre sexta-feira e sábado, a escola de Leiria e a associação promovem no ISCTE, em Lisboa, o seu segundo congresso sobre educação emocional, sob o tema De dentro para fora – como nasce a empatia. E mesmo que ainda possam não saber exatamente o que quer dizer a palavra empatia, este é o sentimento vivenciado por muitos dos alunos que frequentas as aulas das emoções, que no jardim-escola João de Deus faz parte do currículo das crianças de 4 e 5 anos de idade e é também oferecido como atividade de enriquecimento curricular para alunos até aos 9 anos, assegura Sílvia Branco, uma das psicólogas da associação.

“Conseguem olhar para o outro e perceber o que se está a passar”, especifica. “É um projeto ajustado à ideia da vivência em conjunto. E isto é importante porque quanto melhor soubermos relacionar-nos com os outros, mas felizes seremos”, afirma Vera Sebastião, para acrescentar que “é também um projeto preventivo já que pode ajudar desde cedo a resolver problemas muito comuns na infância e na adolescência”. Tudo isto, frisa, é tanto mais importante quanto hoje em dia as crianças “vivem cada vez mais individualmente têm cada vez mais dificuldades em saber lidar com as frustrações”.

E frustração é precisamente o sentimento que Jaime, de 8 anos, aponta quando questionado sobre qual sentimento escolheria. “É quando estamos tão ansiosos por irmos ganhar e depois não conseguimos. Se soubermos o que isto é ficamos melhor”, diz. Jaime é um dos seis alunos que participaram na aula das emoções a que o PÚBLICO assistiu. Diz que “tem aprendido os sentimentos e a reagir com os outros”. Resultado? “Zango-me menos, mesmo quando os meus irmãos se põem a refilar.”

“Menos medos, menos birras”

No início do ano lectivo e no final a equipa da Associação Escola das Emoções faz um teste aos alunos de modo a aferir a sua evolução. Os resultados do ano passado mostraram que no final “havia mais medos resolvidos, menos birras, maior controlo da agressividade”, diz Sílvia Branco.

Vera Sebastião confirma que estas mudanças também se fazem sentir nas outras aulas. Aliás, no jardim-escola João de Deus não são só as crianças que passam pelas aulas das emoções. Também as educadoras e professores foram assistindo de modo a ganhar formação na área. Vera Sebastião defende que a educação emocional devia fazer parte da formação inicial dos docentes.

Seria um primeiro passo para outro ainda maior que a associação defende – a inclusão desta componente no currículo nacional. Recordam a propósito que no relatório da OCDESkills Strategy Diagnostic report Portugal 2015 se recomenda que “o ensino em Portugal deve dar maior ênfase ao desenvolvimento de competências emocionais (….), consideradas vitais na redução do abandono escolar e melhoria da qualidade e equidade na escola”.

Na aula das emoções, em Leiria, Tomé, de oito anos, recusa-se a responder às perguntas do PÚBLICO. A todas menos a uma. Que sentimento escolheria para aquele momento? “Aflição.” Também recusou dizer porquê.

Há seis escolas que podem mudar quase tudo para combater o insucesso

Projeto iniciou-se no início deste ano e prolonga-se por mais dois.

PÚBLICO | 03.05.17

Organizar as turmas de forma diferente, mudar o calendário escolar, substituindo os três períodos por dois semestres, reformulando os modelos de avaliação, alterar a duração das aulas. Estas são algumas das possibilidades que um pequeno grupo de escolas tem agora para eliminar o abandono e o insucesso escolar.

A experiência decorre em seis agrupamentos, que integram os projetos-piloto de Inovação Pedagógica (PPIP), que não têm ainda a ver com o programa de flexibilização curricular que o Ministério da Educação pretende lançar no próximo ano.

Os PPIP foram autorizados por um despacho do secretário de Estado da Educação, João Costa, publicado nesta quarta-feira em Diário da República, mas já começaram a ser implementados este ano lectivo nos seis agrupamentos escolhidos para o efeito: Freixo (Ponte de Lima), Cristelo (Paredes), Marinha Grande Poente (Leiria), Fernando Casimiro Pereira da Silva (Rio Maior), Vila Nova da Barquinha (Santarém) e Boa Água (Sesimbra).

Estes projetos têm uma duração de três anos, no final dos quais, e depois de avaliação, se decidirá sobre a sua extensão a outras escolas. Segundo o ministério, os PPIP “visam atuar de um modo preventivo no percurso escolar dos alunos”, razão pela qual diferem do programa de tutorias, também adoptado pelo Ministério da Educação, e que abrange alunos que já têm duas ou mais retenções no seu percurso escolar.

“A assunção de que o abandono escolar é também consequência do insucesso nas aprendizagens e na retenção escolar, com assinalável impacto financeiro no sistema educativo, justifica e exige, entre outras necessidades de intervenção, um trabalho exaustivo que conduza a ações inovadoras nos domínios pedagógico, curricular organizacional, assente numa lógica interna colaborativa e de articulação com a comunidade”, refere-se no despacho assinado por João Costa.

Em Portugal, 31% dos alunos de 15 anos já chumbaram pelo menos uma vez. A média na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) é de 13%.

 

Aqui, as salas de aula são na mata. Faça chuva ou faça sol

Projeto de educação ao ar livre Limites Invisíveis leva crianças do ensino pré-escolar a passar os dias na Mata do Choupal. E não há mau tempo que assuste, aliás, com chuva até é mais divertido.

PÚBLICO | 13.02.2017

Na Mata do Choupal, o rumor da cidade ouve-se de forma ténue. A ferrovia passa sobre o Mondego ali ao lado, de resto pouco se faz notar a proximidade ao centro de Coimbra. É ali, nas imediações de uma antiga casa florestal, que um grupo de crianças entre os 3 e os 4 anos passa os dias a brincar e a aprender.

A indumentária não é a mais usual no dia-a-dia de um jardim de infância comum. As crianças têm como material obrigatório galochas e impermeáveis e a descrição das atividades pode ajudar a explicar a sua necessidade: “É fundamental que as crianças estejam confortáveis para que possam usufruir do programa. Os fatos permitem esse bem-estar, para que possam saltar nas poças de lama, correr à chuva, apanhar chuva com a língua e desenvolver a sua atividade”. As palavras são de Isabel Duque, uma das educadoras de infância do programa Limites Invisíveis.

O programa resulta de um consórcio entre a Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC), o CASPAE e a Universidade de Aveiro e leva atualmente 18 crianças do jardim de infância dos Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra (SASUC) a passar 8 semanas na Mata Nacional do Choupal, de segunda a quinta-feira.

No Choupal, são os miúdos que decidem que caminhos trilhar, que atividades a desenvolver e por onde andar. Isabel Duque, tal como a colega Luana Pinho, passou um período na Dinamarca, onde esta prática é mais comum, a especializar-se em educação outdoor e explica que da entrada da mata até ao espaço onde passam parte do dia o trajeto é opcional.

Há o “caminho das poças”, “o caminho dos escorregas”, o caminho direto para a casa e outras opções. As possibilidades multiplicam-se. O rácio de crianças por adulto permite essa flexibilidade, diz a educadora.

Um restaurante é um castelo

Chegando à casa, já bem dentro da mata, encontram-se várias pequenas estruturas constituídas por canas e fios. O significado pode não ser imediato aos olhos de quem por ali passa, até porque são as crianças a atribuí-lo. “As construções que aqui se vê foram feitas com as crianças”, explica Isabel. Começou com duas canas espetadas no chão. Uma porta, portanto. Depois de várias etapas passou a ser um restaurante. “O grupo seguinte transformou aquilo num castelo e o seguinte transformou noutra coisa. São as crianças que vão atribuindo significado às coisas que vão construindo e encontrando”, diz a narra a educadora.

Não há um guião fixo e tudo pode ser alterado, oscilando ao ritmo da curiosidade dos mais pequenos. Todos os dias há uma planificação por parte das educadoras, com base no que se passou no dia anterior. Todos os dias essa planificação é ajustada ou complemente eliminada.

“O pilar básico das práticas que aqui se desenvolvem é a livre exploração, o brincar livre. O tempo que damos às crianças para brincar é indispensável todos os dias”. Para isso, não há barreiras físicas.

Na área onde decorre o Limites Invisíveis não se observam cercas nem muros, o que sugere uma explicação para o nome do projeto. Há apenas alguns arbustos a rodear uma zona onde estão as construções. “Durante os percursos de exploração os limites são o meu campo de visão e o campo de visão das crianças” diz Isabel, “e até onde alcança a voz”, completa o responsável dos SASUC.

A docente da Escola Superior de Educação de Coimbra especializada em educação pré-escolar, Ana Coelho, diz que objectivo era “desafiar algumas ideias feitas”, como a de que as crianças adoecem mais quando estão na rua ou que não se organizam por elas próprias. “isto não está vedado e nenhuma delas fugiu até hoje”, aponta.

O programa é sinónimo de uma autorregulação das crianças, seja em termos de espaço ou de tempo. “As crianças em geral hoje têm muito pouca qualidade de vida, uma estrutura muito rígida e muito dirigida pelo adulto” lamenta a docente, e o tempo passado na natureza ajuda contornar essas limitações. “O tempo é um factor essencial nesta abordagem” descreve Isabel Duque, que fala na natureza como sendo igualmente um “cenário ativo” que participa com as crianças.

É a partir da natureza que os grupos assimilam as informações e têm possibilidade de desenvolver os temas que vão explorando. Este grupo, descreve a educadora, já se interessou muito por buracos. “No primeiro dia encontraram logo túneis de toupeiras. E por isso é que este se chama o «grupo das toupeiras»”. Foram as crianças que identificaram a espécie e “tomaram o seu nome para si”. É a partir destas descobertas que vão aprendendo.

Início do projeto

Emília Bigotte, presidente do CASPAE, uma IPSS que trata da logística do Limites Invisíveis, assegura que o objectivo é que o programa seja “tendencialmente gratuito” para as crianças e que ninguém fique de fora por incapacidade financeira. Para já, o único encargo que os pais têm é com o transporte

Este não é o primeiro grupo a explorar a mata. O primeiro grupo, que arrancou com a fase piloto em Março de 2016, tinha 8 crianças. Depois foi crescendo até ficar com os atuais 18. Depois deste grupo outro o renderá, sendo que a capacidade máxima, diz a responsável, é de 24.

A apoiar a atividade do programa está uma antiga casa florestal, entretanto desativada e cedida ao Linhas Invisíveis pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Uma forma de ajudar dinamizar aquela parte do Choupal, entende António Borges, do ICNF.

Em 2015 e 2016 o espaço sofreu intervenções de estudantes do programa Erasmus, que ajudaram a melhorar o edifício. Agora as paredes gastas no exterior escondem a recuperação que já foi feita nas divisões do interior.

Apesar das obras, a casa é utilizada apenas “pontualmente” e serve mais como “apoio”, explica a educadora Luana Pinho. “Raras foram as crianças que preferiram ficar dentro” da casa”. A educadora conta que uma criança já lhe descreveu o tempo passado no programa dizendo que “todos os dias é um piquenique”.

Ana Coelho diz que, à chegada à entrada da casa uma criança lhe agarrou pela mão e perguntou “onde é que tu vais? As coisas estão cá fora”. “Portanto eles não têm o menor interesse” em ir para dentro da casa, conclui.

Ainda não há resultados científicos, mas os pais estão satisfeitos

Não são só as crianças que aprendem com o Limites Invisíveis. O programa também tem uma componente científica que é acompanhado pelo Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Aveiro (UA), com enfoque nas áreas da educação, saúde e psicologia.

As investigadoras do Centro de Investigação em Didática e Tecnologia na Formação de Formadores, Aida Figueiredo e Marlene Migueis pretendem perceber os efeitos da estadia no Choupal. Para isso a metodologia passa por recolher dados, fazer gravações, analisar a intensidade do movimento das crianças antes, durante e depois do programa na mata e fazer entrevistas aos pais e às crianças.

A recolha de dados terminou em Janeiro deste ano, pelo que ainda não há resultados científicos da monitorização – devem começar a estar disponíveis no último trimestres do ano, estimam – mas Marlene Migueis conta que uma análise preliminar às entrevistas aos encarregados de educação mostra que “100% consideram esta experiência como positiva para as crianças”. Os pais dizem mesmo que sentem que as suas crianças “mais observadoras, mais atentas às questões da natureza e mais dinâmicas em termos de movimento”.

Também as próprias crianças gostam da iniciativa, menciona Aida Figueiredo, que diz que a maioria “refere a experiência como positiva”. A investigadora nota também uma apreensão de vocabulário por parte das crianças ao longo do processo.

Nuno Freitas é o coordenador pedagógico do jardim de infância dos SASUC e ele próprio tem uma criança a frequentar o programa. Diz que é uma oportunidade que seria impossível “dentro de quatro paredes”. Ao início pode ter havido “alguma resistência” de alguns pais. “Se estiver a chover não vão, pois não?”, perguntavam-lhe. “Vão”, respondia.

Menos doenças e mais máquinas de roupa

Paula Cravino diz não ter tido dúvidas nem grandes receios ao inscrever os seus filhos e fala de uma “oportunidade única”, uma vez que as crianças passam hoje “muito tempo fechadas”. Algo que, entende, acontece por algum protecionismo por parte dos pais, mas também devido aos horários de trabalho.

Com uma filha no infantário dos SASUC que já participou no programa e um filho no primeiro ciclo que também vai poder passar pela Casa da Mata, esta mãe já tinha alguns conhecimentos sobre o que significava educação outdoor, pelo que não teve receio, conta.

O caso da segunda das filhas de Inês Prazeres a frequentar o Limites Invisíveis é singular. A criança tem uma condição médica que inspira cuidados especiais e o facto de passar quatro dias por semana a brincar ao ar livre está, segundo a mãe, a ter “efeitos muito positivos”. “Muitas vezes os pais pensam que vão ficar com gripe e ficar doentes”, diz. Mas antes pelo contrário.

Ana Coelho, da ESEC, confirma essa ideia. “As crianças que tendem a adoecer menos, a usar menos as bombas nos casos das doenças respiratórias”, afirma. Os acidentes constituíram outra das questões levantadas quando o projeto foi lançado. O terreno acidentado da mata podia ser a causa, bem como os materiais disponíveis na natureza. Mas acabou por não se verificar, conta Ana Coelho que explica que o único incidente até agora “foi com uma criança a tentar descascar uma maçã”.

Tanto Paula como Inês moram nem zonas urbanas de Coimbra, pelo que os seus filhos não teriam hipótese de ter um contacto tão prolongado com a natureza, admitem. No meio dos pontos positivos encontram alguns negativos, como a quantidade extra de roupa com a lama e pó, mas acaba por compensar. “Alguns pais podem não estar muito felizes com isso, mas

Durante cinco anos, a arte foi a porta de entrada em 13 salas de aulas

O 10×10 foi, durante cinco anos, um projeto de investigação-ação que cruza as artes com a educação, para que esta se reinvente. Resultados? A apresentação pública acontece no sábado, a partir das 10h, na Fundação Calouste Gulbenkian.

PÚBLICO | 24.01.2017

“Para que é isto serve para a minha vida?”: não é raro ouvir frase como esta dita por alunos do 5.º ou 12.º ano sobre matérias que aprendem na sala de aula. Maria de Assis Swinnerton, diretora do programa educativo da Fundação Calouste Gulbenkian – Gulbenkian Descobrir, ouviu-a diversas vezes. Se todos os anos a queixa é a mesma, há forma de mudar? A equipa de Assis Swinnerton acredita que sim, razão pela qual criou, em 2012, o projeto 10×10 com a proposta de colocar professores e artistas a descobrir como se faz esta mudança.

Porquê em parceria com artistas? Antes de arrancar com o projeto, a equipa de Assis Swinnerton debruçou-se com olhar crítico sobre as escolas portuguesas: era necessário valorizar ferramentas que saíssem da rotina do modo de ensinar, aprender e comunicar – das aulas meramente expositivas, pouco adaptadas às características dos alunos, repetidas ano após ano, muitas sem espaço para reflexão. “A arte foi então uma porta de entrada para os alunos compreenderem melhor a matéria e os professores compreenderem melhor os alunos”, concluiu Assis Swinnerton.

Mas conseguiriam professores e artistas encontrar estratégias que, na sala de aula, trouxessem ganhos para professores e alunos? Ao fim de cinco edições, 20 artistas, 36 professores e 600 alunos, Maria de Assis Swinnerton acredita que sim. O projeto termina este ano, dando como concluídos cinco anos de investigação e ação direta em 13 escolas de 2.º e 3.º ciclos do ensino básico de todo o país, privadas e públicas.

Os professores foram convidados a apresentar uma candidatura. Os que o fizeram partilharam, durante três meses, a sala de aula com um artista. Ambos entraram em terreno desconhecido com a proposta de resolverem problemas. O principal — fomentar a motivação e o interesse dos alunos pela matéria — foi atingido, segundo o inquérito aos alunos apresentado no relatório do projeto.

Nestas aulas, não se aprendeu dança, nem cinema, nem música ou teatro: a arte foi o veículo de criação de exercícios de concentração, para trabalhar a memória e o relaxamento, o interesse e a motivação. Reforçar o sentido de grupo e favorecer a relação professor/aluno foram caminhos trabalhos para “dar outro significado à aprendizagem”.

Por isso, o projeto quis as disciplinas “duras”, nas palavras de Maria Assis Swinnerton, “aquelas que normalmente fogem à arte”: a matemática, as línguas, a físico-química e a biologia.

Mudanças para durar?

Juntos, professores, artistas e alunos, criaram uma série de “micropedagogias” — exercícios, rituais e técnicas pedagógicas e de comunicação na sala de aula — que apresentam no próximo sábado, a partir das 10h, na Fundação Calouste Gulbenkian. No dia 11 de Fevereiro exibem o trabalho em Loulé, no Auditório do Instituto Superior Dom Afonso III, e no dia 25, no Mosteiro de S. Bento da Vitória, no Porto.

A intenção é que tudo isto entre no sistema de ensino, não se ficando na gaveta como “mais um projeto artístico”. Para esse efeito, a fundação apresenta no sábado um livro com as propostas e os resultados alcançados nos cinco anos do projeto. Começou também este ano lectivo a pós-graduação em Práticas Artísticas e Processos Pedagógicos, na Escola Superior de Educadores de Infância Maria Ulrich.

Esta era, logo à partida, uma ambição acrescida. Ainda que a maioria dos professores tivesse revelado “vontade de arriscar e experimentar a mudança” e tivesse verificado uma “mudança efetiva no comportamento dos alunos, no seu interesse e envolvimento na aprendizagem”, lê-se no relatório, em alguns casos, o projeto caiu no vazio. “Muitos voltaram ao território conhecido.” Outros encontraram uma série de pistas e fizeram mudanças, “mas não foi prego a fundo”. Houve ainda quem adoptasse uma nova forma de trabalhar “apoiada na discussão e solidificação de ideias. Nas palavras de Assis Swinnerton: “É preciso coragem e capacidade. Sem isso não há confiança e não é possível ser-se contracorrente.”

A diretora do Gulbenkian Descobrir espera que esta coragem contagie alguns colegas. Afinal o 10×10 quer ser exatamente isso: um projeto multiplicador, “que mesmo depois de terminado não acabe”.

Projeto pedagógico da Gulbenkian: “Dantes não éramos unidos. Agora somos uma turma”

Chama-se 10×10 e é um projeto da Gulbenkian que mudou a forma como se dão algumas disciplinas. E que junta professores, artistas e alunos. O PÚBLICO assistiu a uma destas aulas onde o ensino da História se junta à Educação Física.

PÚBLICO | 24.01.2017

Passam poucos minutos das 9h00 na Escola Secundária do Cerco, no Porto. Numa sala de aula, os alunos espreguiçam-se em simultâneo, de pé, em torno de um conjunto de mesas que formam uma única, ladeada pelas cadeiras onde estavam sentados segundos antes. Comportamento pouco próprio para uma aula de História?

A coordenadora do projeto no Porto, Luísa Corte-Real, também responsável pelo serviço educativo do Teatro Nacional São João (TNSJ), explica que é apenas mais um exercício das “micropedagogias” criadas pela tripla composta por duas professoras, de Educação Física e História, e uma encenadora e atriz convidada pelo TNSJ, no âmbito do projeto pedagógico 10×10, levado a cabo pela Fundação Calouste Gulbenkian. Objectivo: desenvolver novas estratégias educativas em contexto de sala de aula.

À escola do Porto, situada numa das zonas mais desfavorecidas da cidade, esta abordagem ao ensino, que está na sua quinta e última edição, chegou há três anos, numa parceria estabelecida com o serviço educativo do TNSJ. No início os alunos estranharam. Progressivamente foram-se habituando e adaptando a uma nova forma de aprender. O PÚBLICO assistiu a uma destas “aulas” numa turma de 26 alunos do 10.º ano, que neste ano lectivo foram escolhidos para fazer parte do projeto.

“Era constrangedor fazer algumas figuras frente aos colegas”, diz Ricardo Dias, de 16 anos, que no início do ano não conhecia quase nenhum dos colegas de turma. Essas “figuras” são exercícios de concentração, de leitura ou de energização, como é o caso do espreguiçar. Para trás estão nove anos de frequência na escola, onde se habituaram aos métodos de ensino convencionais.

Na edição deste ano, no Cerco, a matéria foi articulada entre duas disciplinas: História e Educação Física. A escola programou o horário da turma de forma a que as duas “cadeiras” fossem leccionadas uma a seguir à outra, formando uma espécie de aula conjunta de 180 minutos. De acordo com Dárida Castro, professora de Educação Física há 37 anos, e há quase 30 no Cerco, numa fase inicial isso causou alguma “confusão e estranheza” nos alunos. Como se cruzam os programas de disciplinas tão distintas quanto estas? A matéria centrada na Civilização Grega e Romana, teria que ser de alguma forma encaixada no atletismo ou na ginástica acrobática.

Nos últimos dias, os preparativos centram-se na Aula Pública que será apresentada no dia 28 de Janeiro na Gulbenkian, em Lisboa, a 11 de Fevereiro em Loulé e a 25 de Fevereiro no Mosteiro de São Bento da Vitória, no Porto

Foi a partir do momento em que se realizou umpeddy paper que misturou o exercício físico com a matéria de História que “os alunos entraram no espírito”, conta a professora de Educação Física. Como o ponto de partida são as duas civilizações, nas aulas fazem-se alguns exercícios de acrobacia “mais dramatizados”, na tentativa de recriar edifícios, como o coliseu romano ou esculturas e estátuas, e coreografias que simulam as deslocações em grupo e os ritmos da passada dos legionários do exército romano.

O projeto pedagógico 10×10 apresenta um modelo que recorre a métodos de ensino alternativos, no sentido de motivar os alunos e de os incluir no processo de aprendizagem. Essa participação é um dos aspectos que mais atrai os alunos. “Dantes não éramos unidos. Agora somos uma turma”, afirma Patrícia Silva, de 15 anos, que considera que esta abordagem criou uma maior união entre professores e alunos e com o resto dos colegas.

“Não há propriamente uma receita”

No dia em que o PÚBLICO visitou a escola do Cerco, na sala de aula discutia-se em conjunto. Na aula de História estavam presentes, além da professora da disciplina e dos alunos, a professora de Educação Física, Dárida Castro, e a atriz e encenadora Rosário Costa. E tem sido assim desde o início do ano lectivo.

Nos últimos dias, os preparativos centram-se na Aula Pública que será apresentada no dia 28 de Janeiro na Gulbenkian, em Lisboa, a 11 de Fevereiro em Loulé e a 25 de Fevereiro no Mosteiro de São Bento da Vitória, no Porto, as três áreas geográficas onde o projeto funciona. Estão envolvidos o Agrupamento Dr.ª Laura Ayres, em Loulé, o Agrupamento de Escolas Aquilino Ribeiro, em Oeiras, a Escola Seomara Costa Primo, na Amadora, e a Secundária do Cerco, no Porto.

A Aula Pública será o culminar do trabalho desenvolvido durante o primeiro trimestre do ano lectivo. É uma apresentação pública que resume as “micropedagogias” desenvolvidas pela artista convidada, Rosário Costa, à volta das matérias do plano curricular das duas disciplinas. A atriz garante que “não há propriamente uma receita” para a criação dessas “micropedagogias”. É “necessário ter em conta todos os factores envolvidos”, que passam pelo espaço, alunos e professores.

A metodologia desta abordagem difere da convencional, precisamente por existir uma parceria ativa entre os professores de diferentes disciplinas e o artista convidado, no sentido de proporcionar ao aluno “um ensino orientado, mas também autónomo”, muito diferente do que acontece no método convencional que é “meramente expositivo e de memorização”, explica Dárida Castro. Um método que, diz, está “desatualizado” e longe das necessidades dos alunos “que são muito diferentes dos de há alguns anos atrás”. A professora sublinha, que apesar de esta ser a última edição do projeto, o trabalho que foi desenvolvido não termina: “A ideia é que estes métodos continuem a ser utilizados e replicados por outros professores noutras turmas.”

De resto, garante, nesta escola alguns professores já mudaram as suas práticas por causa deste projeto. A começar por ela.