António Arroio à espera que as obras não morram na praia
A escola está sem uma biblioteca, um bar ou um refeitório há quase oito anos. Enquanto as obras não avançam, os alunos comem no chão por falta de espaço ou a comida fria porque as filas para os microondas são demasiado longas. Está aberto um concurso para a conclusão das obras. Resta saber se há interessados.
PÚBLICO | 17.12.2018
O dia soalheiro ajuda a que à entrada da Escola Artística António Arroio se juntem uns quantos alunos, ora a conversar, ora com um bloco de papel cavalinho no colo a desenhar. Mal se entra nas instalações da escola, há uma venda de Natal com peças em cerâmica feitas pelos alunos. Esta é hoje uma das maiores escolas secundárias do país, com cerca de 1270 alunos, 220 professores, e das únicas com um currículo voltado às artes. Mas não é preciso percorrer muitos metros da escola para perceber que nem tudo está bem para aqueles alunos que respiram arte: não têm um bar nem um refeitório onde possam almoçar ou lanchar, por isso, de tupperware na mão acabam por fazê-lo nos bancos exteriores ou nas mesas que estão — improvisadamente — colocadas no interior, mas que se esgotam rapidamente.
Sorte de Iara Carlos, Cláudia Venceslau e Joana Marques — são elas quem o dizem — que arranjaram mesa. “Hoje conseguimos arranjar mesa porque saímos às 13h30. Mas às vezes temos de almoçar no chão e não aqueço o meu almoço porque são filas imensas e não estou para estar à espera. Nós comemos no chão muitas vezes e isso é uma enorme falta de higiene”, diz Joana.
Esta escola de Lisboa foi uma das intervencionadas no programa Parque Escolar, responsável pela reabilitação de escolas secundárias públicas. A empreitada começou em Junho de 2009, com um projeto de modernização orçado em 20 milhões de euros. Mas nem tudo ficou pronto.
“Acaba por ser chato não termos refeitório e as obras estarem inacabadas porque não podemos usufruir dos espaços. Há pessoas que andaram aqui e que nunca viram a escola acabar. Há pessoas que virão e não vão ver a escola acabada nem usufruir do refeitório que é uma coisa essencial numa escola”, lamenta Iara, que, tal como as colegas, é aluna do 11º ano do curso de Ourivesaria.
A biblioteca também é muito pequena. “Para nós fazermos alguns trabalhos precisamos do computador e depois os computadores não dão para todas as pessoas. Os livros que estão disponíveis são muito poucos. Alguns, diz Joana, ainda estão encaixotados por não haver espaço onde os meter.
Falta pouco, muito pouco para que as obras, paradas há seis anos, terminem. “É como morrer na praia”, diz o diretor da escola, Rui Madeira. O edifício concluído em 2011 está totalmente dedicado à função lectiva. É onde ficam as salas, as oficinas onde decorrem as aulas. Só que ainda faltam equipamentos e materiais. E a climatização não funciona, o que agora, em pleno Inverno, faz com que as salas pareçam frigoríficos.
Neste complexo, que depois de pronto terá cerca de 23 mil metros quadrados com projeto do arquiteto Aires Mateus — que ali foi aluno — há ainda outro edifício. Que hoje é apenas um esqueleto rodeado de entulho que o empreiteiro deixou para trás quando parou a obra, há seis anos. E que precisa agora de quase quatro milhões para a sua conclusão. Esse edifício será, de resto, a maior marca de Aires Mateus naquela escola, diz Rui Madeira, enquanto faz uma visita guiada por este estaleiro onde sobram vidros, ferros, calhas eléctricas, lajes de ardósia partida, sacos de cimento e estuque e onde alerta para o risco de se espetar algum prego no pé.
É ali que deverá nascer a biblioteca da escola que hoje ocupa uma sala de geometria onde cabem não mais de 20 alunos. O bar e o refeitório também ficarão ali, assim como o auditório e galerias de arte, museu e zonas de lazer.
Depois dos anos em que os alunos tiveram aulas em contentores, esta escola ainda parece andar a duas velocidades. As salas de aulas repletas de Macintosh — há cerca de 600, diz o diretor — contrastam com o abandono e a degradação do lado de fora.
Enquanto se esperam pelas obras, o bar e o refeitório estão num pequeno contentor, instalado naquele que seria um pátio da escola, onde se servem quase 1300 alunos. Quando o PÚBLICO lá esteve, parte do monobloco estava vedado porque chove lá dentro.
“Incomoda-nos imenso porque ano após ano, após ano, os alunos aquecem a comida no microondas e muitas vezes estão a comer lá fora”, reconhece Rui Madeira, que dirige a escola desde Junho de 2013.
Comida fria
Na hora de almoço, pouco depois do meio-dia, formam-se longas filas para os microondas. Há sete para mais de um milhar de alunos, se bem que nem todos saem para almoçar ao mesmo tempo. “Já pensamos em pôr mais microondas mas rebenta com a luz”, diz o diretor.
No provisório — quase já definitivo — bar instalado num contentor, as refeições chegam de outras escolas e são servidas em cuvetes. As exposições improvisam-se no foyer da escola.
“Nós vamos utilizando o edifício, pese embora alguns equipamentos não tenham chegado e sido instalados, como o sistema de detecção de incêndio e também está comprometida alguma parte de segurança”, nota Rui Madeira, que também foi ali estudante de Cerâmica na década de 80. As oficinas de carpintaria, por exemplo, onde se faz o corte e preparação de madeiras precisa de um sistema de aspiração que remova as poeiras. E isso ainda não está a funcionar, alerta.
João Ribeiro que ali dá aulas há 25 anos, já depois de ter sido aluno, diz que além das obras, falta ainda muito do equipamento que foi pedido. “Tudo isto foi reciclado da escola antiga. Não temos os kits de iluminação nova”, diz o professor de cinema num dos três estúdios que a escola tem.
Aos poucos, diz o diretor, a escola foi assumindo alguns encargos com materiais e equipamentos que originalmente estavam no caderno de encargos da empreitada. “Eu acho que o Estado, num determinado momento, abandonou por completo a ideia de concluir a escola. E acham que aquele edifício já é muito bom”, diz.
Na parte que está concluída, há zonas a precisarem novamente de obras como o ginásio onde são visíveis infiltrações, além de que o espaço não tem condições para acolher quem tem mobilidade reduzida. Assim como é difícil o acesso de uma ambulância ao espaço.
Xavier Lousada, presidente da Associação de Estudantes, diz que essa parte da escola foi acabada “à pressa”. O tecto desse ginásio é o chão do parque de estacionamento da escola. Há dois anos, quando estava no primeiro ano do curso de Design de Comunicação, as infiltrações no tecto fizeram com que deixassem de ter aulas de Educação Física durante três meses, contou.
A par dos constrangimentos em termos de materiais e do estaleiro de obras no recreio, esta é uma escola onde se sente também muito a falta de assistentes operacionais. “As escolas estão moribundas de pessoal. Eu tenho 23 assistentes operacionais, muitas já a atingir a idade da reforma. Quando isto estiver concluído, dá 1000 metros quadrados por cada uma para limpar, para vigiar”, afirma o diretor.
Segundo Rui Madeira, há uma equipa de engenharia e arquitetura que costuma andar por ali a fazer levantamentos do estado da obra. O PÚBLICO pediu esclarecimentos ao Ministério da Educação, mas a tutela apenas disse que estava, neste momento, a decorrer o prazo para apresentação de propostas para a empreitada da António Arroio. E remeteu mais explicações para uma portaria publicada em Diário da República a 21 de Novembro.
A construtora que ganhou o último concurso desistiu e foi recentemente lançado um novo para a intervenção. As obras para terminar escola deverão custar cerca de 3,8 milhões de euros (1,7 milhões em 2019 e 2,1 milhões em 2020). Estes valores podem não ser atrativos para o mercado atual e receia-se que o concurso fique deserto ou o novo empreiteiro volte a desistir. É como um “ciclo vicioso”, diz Xavier, que se prolonga há seis anos.
Uma escola “ocupa”
Neste momento, a escola é “terra de ninguém”, atira Rui Madeira. Não paga qualquer renda à Parque Escolar porque o edifício não foi formalmente entregue. “É quase como se fossemos uns ‘ocupas’”, brinca Rui Madeira.
Apesar da degradação de parte do complexo escolar, o diretor diz que os alunos não correm perigo. “Eu acho que há aqui um bocado de celeuma sem necessidade. O perigo está na necessidade de fazermos uma evacuação rápida do edifício e nunca termos tentado”, diz. Falta fazer um simulacro que, depois das obras, nunca se fez. “Também é perigoso se for preciso evacuar o edifício. As portas dão para um estaleiro de obra”.
Os vizinhos também se queixam. De cada vez que há mexidas no entulho, há bichos que vão para os quintais ao lado. Como uma parte do recinto ainda está vedada com tapumes, há pessoas que costumam saltá-los e entrar no espaço da obra.
Apesar dos pesares, esta é uma escola, sublinha o seu diretor, reconhecida pelo ensino de qualidade nas artes, algo que rareia no país. E que, por isso, atrai muitos alunos de fora da cidade. Exemplo disso é Cláudia, que sai todos os dias do Seixal e demora todos os dias 1h30 — “na melhor das hipóteses” — no trajeto diário.
Muitos dos alunos, quando saem da escola, acabam por ir estudar para o estrangeiro. “No ano passado e neste, acho que nunca assinei tantas cartas de recomendação para eles se candidatarem”, nota Rui Madeira. E diz também que nunca teve um processo disciplinar.
Ali, apesar de muitos alunos prosseguirem os estudos, há uma componente prática que também lhes permite estarem aptos para entrarem no mercado de trabalho, dizem os professores. A fábrica de Cerâmica da Viúva Lamego, por exemplo, tem quase uma dezena de alunos da António Arroio a trabalhar lá.
Esta escola assume ainda grande importância na comunidade. São parceiros da câmara de Lisboa no BIP/ZIP, do Centro Cultural de Belém, da Companhia Nacional de Bailado.
Por tudo isto, o facto de as obras nunca mais serem concluídas impede que a escola ofereça mais à comunidade. Não consegue, por exemplo, ter aulas noturnas ou desenvolver Cursos Técnicos Superiores Profissionais. “A escola, depois de concluída, vai ter um potencial imenso”, aponta Rui Madeira.
A 30 de Novembro, mais de 300 alunos e professores da António Arroio manifestaram-se em frente à Assembleia da República em protesto contra a degradação da escola e a paragem das obras. À semelhança do que por vezes fazem na escola, os alunos almoçaram sentados no chão, em frente à escadaria principal do Parlamento. E Xavier Lousada vai avisando que as reivindicações não vão parar por aqui: “Não vamos adormecer à sombra da bananeira”.
Iémen. Professor transforma a sua casa numa escola
Escola acolhe mais de 700 alunos, num país que vive no meio da guerra
Jornal i | 03.11.2018
Adel al-Shorbaggy decidiu transformar a sua casa numa escola, sendo que atualmente recebe mais de 700 alunos.
O professor decidiu transformar a sua casa numa escola pouco tempo depois de a guerra no Iémen ter começado. Qual a justificação? Não tinha escolas para onde conseguisse enviar as suas filhas.
“Todas as escolas fecharam e tínhamos um problema, as crianças estavam na rua. Abrimos este edifício como uma iniciativa da comunidade. É o meu dever nacional e humanitário perante a minha comunidade”, explicou Adel al-Shorbaggy em declarações à Reuters.
Os alunos têm entre seis e 15 anos e cada turma tem uma espécie de sala própria – nas mesma divisão da casa, o professor colocou cortinas para criar salas diferentes para cada turma. E, segundo Adel, as turmas continuam a crescer, apesar as condições não serem arrojadas.
Há três anos e meio que o Iémen está em guerra civil. Segundo a ONU, 8,4 milhões de pessoas precisam de ajuda alimentar por causa da guerra.
Colégios não tiveram lugar para todos os alunos de Fátima
Junta de Freguesia estima que uma centena de crianças tenha ido estudar para outras escolas da região. Ministério garante que turmas com contrato de associação são “suficientes”.
PÚBLICO | 04.09.18
Nem todos os estudantes de Fátima tiveram lugar nos três colégios da cidade com os quais o Estado mantém contratos de associação. A denúncia é feita pela junta de freguesia, que estima que sejam cerca de 100 as crianças nesta situação, e confirmada pelo PÚBLICO junto de outras escolas da região para onde foram estudar estes alunos. O Ministério da Educação (ME) diz que as turmas contratadas são “suficientes”.
A cidade de Fátima não tem escolas públicas. Em 2016, no âmbito da revisão dos contratos de associação, o ME decidiu reduzir para metade o número de turmas apoiadas nos colégios ali sediados. São agora dez as turmas de início de ciclo contratadas.
“Não há turmas que cheguem”, queixa-se o presidente da junta de freguesia de Fátima, Alberto Figueira da Silva, que estima que sejam cerca de 100 os alunos da localidade que acabaram por não ter lugar nos colégios com contratos de associação. O autarca entende que a tutela subestimou o número de famílias de fora de Fátima que ali têm os filhos a estudar.
A cidade tem 15 mil moradores, mas a sua população quase duplica durante a semana. A economia à volta do santuário católico traz, todos os dias, cerca de 10 mil pessoas de fora para ali trabalhar. Por isso, moradores de Ourém, Batalha ou Lourinhã que trabalhem em Fátima têm direito a inscrever os seus filhos nos colégios da cidade. Caso os alunos tenham ação social escolar ou necessidades educativas especiais, por exemplo, podem passar à frente dos habitantes locais, de acordo com as prioridades definidas pelo Governo para a constituição de turmas.
“Há crianças que vivem a 300 ou 400 metros do colégio de S. Miguel e têm que ir para Santa Catarina da Serra” [que fica a cerca de 9 quilómetros]”, garante o autarca ao PÚBLICO.
Aumento de alunos vindos de Fátima
O ME garante que “o número de turmas abertas foi considerado o suficiente, tendo por base o número de alunos daquela área geográfica e a capacidade de resposta das escolas de proximidade”.
As escolas da região confirmam que houve um aumento de alunos vindos de Fátima nos últimos dois anos. Na escola de Santa Catarina da Serra, que pertence ao agrupamento de Caranguejeira, o número de estudantes vindos daquela cidade permitiu aumentar uma turma – são agora seis – em cada um dos cinco anos de escolaridade do 2.º e 3.º ciclos. Também no Agrupamento de Escolas da Batalha, os 27 alunos de Fátima inscritos no ano passado levaram ao aumento de uma turma no ensino básico.
Os efeitos da redução dos contratos de associação com os colégios de Fátima fizeram-se igualmente sentir no agrupamento de escolas de Ourém, onde o número de turmas no 5.º ano aumentou de quatro para cinco.
O aumento acontece não só por conta dos alunos de Fátima que não tiveram lugar nos colégios da cidade – apenas dez alunos de Fátima estão inscritos naquele agrupamento este ano –, mas sobretudo dos alunos de Ourém que, enquanto os colégios de Fátima tiveram contrato de associação, iam estudar para aquela localidade. No outro agrupamento do concelho, o Conde de Ourém, o número de alunos vindos de Fátima nos últimos dois anos é “residual”, segundo a direção.
Corte nos apoios aos privados foi “salvação” para algumas escolas públicas
Só uma escola pública próxima de colégios privados afectados pela decisão do Governo de há dois anos esgotou todas as vagas para o novo ano lectivo. Mas noutras subiu número de turmas. O PÚBLICO retrata a situação de quatro concelhos problemáticos.
PÚBLICO | 04.09.18
Apenas uma escola pública situada nas áreas envolventes dos colégios que deixaram de ter contratos de associação ocupou todos os lugares disponíveis para os alunos no novo ano lectivo. Foi em Pedome, Famalicão, um dos quatro concelhos avaliados pelo PÚBLICO quanto às consequências da decisão tomada há dois anos. Na maioria dos casos, o fim do apoio aos privados significou um aumento do número de turmas que, ainda assim, ficou aquém da capacidade das escolas. E há quem fale em “salvação” contra a crise da natalidade e a desertificação do Interior.
Foram analisados os casos de Famalicão – no qual acabaram todos os contratos de associação dos dois colégios de Riba d’Ave – ; Fátima, onde os três colégios existentes viram o número de turmas ser reduzido para metade; Régua, concelho onde o colégio dos Salesianos de Poiares fechou portas, depois de terem sido terminados todos os contratos de associação. O mesmo aconteceu com o Colégio do Soito, no Sabugal.
Estas foram as situações consideradas mais problemáticas ao longo dos últimos dois anos por autarcas e pelos responsáveis dos colégios privados, incluindo a Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo.
Aumentar
Apenas em Famalicão a escola pública mais próxima dos colégios que deixaram de ser apoiados pelo Estado ocupou todas as vagas existentes. Foi o agrupamento de Pedome, a três quilómetros de Riba d’Ave. Segundo a autarquia, terão sido cerca de 30 as crianças que tinham como primeira opção aquela escola. Mas por falta de vagas, acabaram por ter que ir para Joane, outra vila do concelho de Famalicão, que dista 5 quilómetros.
O Ministério da Educação recusa a ideia de que haja “sobrelotação da rede” no concelho de Famalicão, apesar dos protestos públicos que os responsáveis daquela câmara têm feito nas últimas semanas. “Há resposta para os alunos nas escolas públicas”, prossegue a mesma fonte do gabinete do Tiago Brandão Rodrigues, salientando que para a decisão é levada em conta a articulação dos vários agrupamentos de escola que constituem a rede escolar integral de cada região.
O diretor da escola de Pedome não quis comentar a situação, limitando-se a garantir que a escola está “preparada para começar o ano lectivo com o número de turmas que foram autorizadas”. A escola terá 31 turmas, o máximo que a escola suporta, e durante o Verão foi autorizada uma redistribuição de alguns alunos pelas turmas já constituídas para minimizar os impactos juntos das famílias.
Por seu turno, a escola de Joane terá, este ano, mais uma turma do 5.º ano para acolher os alunos de Riba d’Ave, mas também de Castelões e Ruivães, outras duas freguesias que estavam a ser servidas pelos dois colégios que tinham contrato de associação.
“Perdemos uma turma”
A escola até teria capacidade para acolher mais alunos, avança o diretor do agrupamento de Joane, José Alfredo Mendes: “Este ano até estamos com menos alunos do que no ano anterior e perdemos uma turma do ensino secundário.”
A Câmara de Famalicão tem também criticado o fim dos contratos de associação com os colégios de Riba d’ Ave – Didáxis e Externato Delfim Ferreira – porque muitos alunos acabaram por indicar escolas fora do concelho como 1.ª opção. “Nos últimos três anos, cerca de 400 pessoas tiveram que sair do concelho para continuar a estudar”, avança o vereador da Educação, Leonel Rocha.
As escolas dos concelhos de Santo Tirso e Guimarães contactadas pelo PÚBLICO não confirmam números com esta dimensão, apesar de algumas, como a de Vila das Aves, terem notado um aumento de estudantes vindos de Famalicão.
Em Moreira de Cónegos, Guimarães, por exemplo, a diretora Maria de Jesus Carvalho garante que não se inscreveu nenhum aluno de Riba d’Ave. A escola aumentou, porém, uma turma no 5.º ano, por via dos estudantes da freguesia vizinha de Guardizela que, enquanto houve contratos de associação, iam estudar para os colégios de Riba d’Ave. “A escola está preparada para este aumento, já que existem salas disponíveis”, diz a diretora.
Metade dos colégios com contrato de associação não vai abrir novas turmas
Em 2016, o Governo decidiu reduzir o número de contratos de associação nos locais onde entendia haver uma sobreposição entre a oferta pública e os apoios do Estado aos colégios privados. Desde então, o número de turmas financiadas baixou de 1680 para 650 com que arranca o novo ano lectivo – uma diminuição de mais de 60%. As mexidas foram feitas nos contratos de início de ciclo (5.º, 7.º e 10º. anos), enquanto os apoios que estavam em vigor se mantêm ativos até ao final do respectivo ciclo. Assim, em 2018/19 há 210 turmas de início de ciclo apoiadas. Antes da decisão eram 640.
Para algumas escolas públicas, o fim dos contratos de associação com colégios foi “uma salvação”. É o que lhe chama José Gonçalves, adjunto da direção do agrupamento de escolas do Sabugal, na Guarda. Os 25 alunos que a escola recebeu vindos do colégio do Soito, evitaram que fosse eliminada uma turma no 8.º e outra no 9.º ano. “Estamos numa zona do interior, onde há pouca população e se sentem ainda mais os efeitos da quebra da natalidade. Estamos sempre na iminência de perder turmas e, por isso, é importante receber mais alunos”, explica o responsável.
Nas escolas públicas de Ourém, Batalha e Santa Catarina da Serra (Leiria), por exemplo, aumentaram o número de turmas na sequência da redução, para metade, do número de turmas com contrato de associação em três colégios privados de Fátima (ver texto ao lado).
Na Régua, o fenómeno foi semelhante ao de Moreira de Cónegos: sem a presença de um colégio nas imediações, voltaram a inscrever-se na escola alunos que antes não o fariam. “Havia uns 20 alunos que saíam do agrupamento todos os anos no fim do 1.º ciclo para ir para Poiares. Agora deixaram de sair”, conta o diretor, Salvador Ferreira. O agrupamento na sede do concelho duriense recuperou alunos com o fim do colégio Salesiano de Poiares.
Ao todo, o agrupamento da Régua recebeu mais cerca de 70 alunos em cada ano, o que não é sequer suficiente para ocupar todos os lugares da escola: “Temos capacidade para mais 300 ou 400 alunos.”
Crianças, a aula vai começar: tirem os sapatos e vamos jogar
Abriu recentemente uma escola de ensino não-convencional para crianças do primeiro ciclo. O plano curricular é o mesmo do ensino público, mas o método e a filosofia são diferentes. O i foi à Ericeira conhecer a Skool
Jornal i | 03.07.18
Dizer sempre a verdade, tratar bem dos materiais, mexer nas janelas só com autorização, respeitar a vez para falar, falar com volume adequado – estas são algumas das 17 regras da Skool, uma escola de ensino não convencional na Ericeira vocacionada para o primeiro ciclo. Em nenhuma é usada a palavra não. “Quando elaborámos o documento com as regras da escola, a ideia era fazê-lo com uma ideia mais positiva. O não tem um efeito pesado e então foi um bom exercício para eles tentarem dizer as coisas de outra forma e vê-los desconstruir. Vivemos numa sociedade que negativiza muito as coisas”, defende ao i a coordenadora pedagógica e tutora – nome dado aqui a quem ensina – Cátia Zeferino, 33 anos. Tem a formação de qualquer outra professora de primeiro ciclo, mas percebeu que o método convencional não lhe enchia as medidas e começou a desenvolver outras metodologias.
A escola – Skool, como insistem que lhe chamemos – nasceu da mente de um grupo de 25 pais que estavam “fartos” do ensino convencional, explica ao i José Borralho, um dos pais, que é também o presidente. Tão fartos que decidiram não esperar mais e abrir ainda este ano letivo, a 14 de maio.
“Eles são muito mais livres aqui e nós, enquanto pais, gostamos disso”, continua. Criaram uma associação sem fins lucrativos e lançaram a Skool, que definem como “um espaço de apoio ao ensino doméstico” e que é frequentada por 14 crianças. “O regime de ensino doméstico é um regime em que os pais, tendo um determinado tipo de grau de escolaridade, assumem a responsabilidade pelo ensino dos seus filhos. Os pais inscrevem as crianças na escola primária do agrupamento a que pertencem – aqui é em Mafra –, mas dizem que a criança não vai frequentar o ensino público e vai estar em regime de ensino doméstico. A Skool surge como um espaço de apoio ao ensino doméstico. As pessoas que optam pelo ensino doméstico põem aqui as crianças e elas estão cá como se fosse uma escola”, explica José. Em Portugal, segundo os dados mais recentes disponibilizados pelo Ministério da Educação, existem 661 crianças neste regime.
Aqui ensina-se o plano curricular do ensino público, mas a filosofia e o método são diferentes. Os sapatos e a rigidez ficam à porta.
Cada um (mesmo) ao seu ritmo
À chegada à sala principal da Skool, os sapatos das crianças estão à porta. “Eles andam descalços ou de pantufas na sala, por questões de limpeza e de cuidado com o espaço, até porque às vezes sentam-se no chão… e quando entra alguém até costumam dizer que tem de tirar os sapatos”, conta José, entre risos.
Mas as diferenças vão muito mais longe: ao contrário da escola comum, aqui não há primeira, segunda, terceira ou quarta classes, nem turmas. Existem dois grupos – o de iniciação, que corresponde à primeira e segunda classes, e o de desenvolvimento, equivalente à terceira e quarta classes. Mas como funciona, afinal, este método? “De manhã estamos em sala, cada um a trabalhar no seu plano, de forma autónoma. À tarde trabalhamos mais coletivamente, em oficinas de expressão dramática, musical, físico–motora ou outras”, explica a tutora Cátia.
Comum aos dois momentos é o facto de o exterior da Skool, além das salas no seu interior, ser também um espaço de aprendizagem. “Fazemos muito trabalho lá fora”, acrescenta José Borralho. “Por exemplo, quando aprendem o que é o metro quadrado, podem ir lá fora desenhar no chão e aprendem assim”, descreve. Por não se limitar às ferramentas tradicionais – aqui, os livros não são a única fonte de informação e as mesas não são individuais, por exemplo – é que, nesta Skool, o ano letivo dura mais tempo. “Este método exige mais tempo e, por isso, fechamos apenas em agosto”, justifica a coordenadora pedagógica. Por outro lado, os períodos convencionais de férias não existem. “Cada família leva a criança de férias quando lhe dá jeito e isso não a prejudica porque cada uma tem o seu ritmo e o seu plano individual”, explica Cátia.
Outra questão que assume especial importância neste método é o lado humano e social. “Queremos que as crianças aprendam a matéria de forma relevante e que saiam daqui seres humanos”, nota José Borralho. Uma das ferramentas utilizadas para desenvolverem esse lado é a ida semanal ao lar da terra. “É bom não só pelo encontro de gerações, mas também porque muitas destas crianças não estão habituadas a estar com pessoas mais velhas. Ficam tensas e envergonhadas, e aprendem a lidar com isso. É uma oportunidade de trabalhar essas questões sociais”, assume Cátia.
Na parte da manhã, os alunos aprendem, cada um ao seu ritmo, as suas competências. A matéria está organizada por disciplinas, em dossiês guardados nas estantes da sala, ao alcance de todos. Cada dossiê exibe o número um ou dois – correspondente ao grupo de iniciação ou ao de desenvolvimento. Lá dentro, os tópicos da matéria estão organizados e as crianças seguem as indicações. Para realizarem as tarefas tanto recorrem a livros como à escola virtual ou a jogos. “No roteiro 1 de Português, por exemplo, para eles conseguirem trabalhar de uma forma autónoma, existem símbolos de correspondência entre o que está no dossiê e as tarefas propriamente ditas. Para aprender o dê, sabem que começam com um jogo porque veem o símbolo. E o primeiro contacto com essa letra é a imagem que expressa uma palavra que a contenha, como dado, por exemplo. A segunda tarefa é aprender a desenhar a letra. E por aí fora. Claro que têm muito mais vontade assim do que se ficarem manhãs inteiras a repetir letras”, explica Cátia.
Quanto aos trabalhos de casa, são combinados entre a escola e a família. “Há famílias que não querem, outras que sim, outras que querem só de uma disciplina”, conta Cátia. “Enquanto tutoras, estamos atentas, e se acharmos que as crianças precisam de trabalhos de casa avisamos.” Além de Cátia, há outra tutora, Luísa Paços, 43 anos.
E também é assim com os testes? “Não”, responde a tutora. “Claro que há testes, até porque as crianças têm de estar preparadas para tudo, para não se sentirem desconfortáveis. ‘Vou treinar’ é a expressão que utilizamos. E esse treino tem um objetivo muito específico: ver o que eles precisam de treinar mais para saberem melhor, e não fazer a avaliação num sentido competitivo e para ver quem sabe mais.”
Quando chegam ao final do percurso – depois de completarem todos os objetivos dos grupos de iniciação e de desenvolvimento –, as crianças passam para o ensino público e são submetidas a um exame para testar conhecimentos antes de ingressarem no quinto ano.
Por mensalidade, a escola cobra 245 euros. As inscrições para o próximo ano letivo estão abertas até 31 de julho.
A sala mágica
Ao lado da sala principal existe outra sala conhecida como sala mágica. “É uma sala onde nos reunimos para conversar, por exemplo”, esclarece a tutora Cátia.
A sala é um elemento determinante no desenvolvimento humano das crianças. Quando existe um conflito entre elas, e se não têm coragem de confrontar o outro no momento, é aqui que expõem as suas mensagens, que podem ser preocupações ou pensamentos. Mas é aqui que partilham também as suas alegrias.
Para tudo isso existe um quadro de cortiça dividido entre uma carinha sorridente, um envelope – que significa que a mensagem é secreta e destinada apenas a uma pessoa – e uma carinha triste. Às crianças, basta-lhes que coloquem a sua mensagem no sítio certo. “Eu gostei muito de vir para esta Skool”, lê-se num dos bilhetes, assinado pela Alice.
Alunos de Ermesinde recebem ministro da Educação com protestos
O ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, foi recebido com protestos, na tarde desta terça-feira, na Escola Secundária de Ermesinde, em Valongo, que está a ser alvo de obras de requalificação.
Jornal de Notícias | 24.04.18
A pequena manifestação foi protagonizada por alunos, que empunhavam cartazes em que se liam frases como “Merecemos uma escola acabada” e “Cumpram o que prometeram”, numa alusão ao facto de as obras só abrangerem, para já, cerca de 75% do equipamento.
O ministro não reagiu e seguiu para a visita aos espaços em processo de construção.
A concluir até novembro, esta fase contempla, sobretudo, os blocos A, B e C, o bloco administrativo, o pavilhão desportivo (essencialmente os balneários) e a aplicação de painéis solares para aquecimento natural da água.
Também a biblioteca será abrangida, uma vez que, estando situada no primeiro andar e sendo o acesso feito por uma escada de caracol, é necessário fazer uma escada normal, de fácil acesso a todos. Os edifícios vão ter elevadores.
Também os espaços exteriores vão sofrer alterações, bem como os antigos laboratórios de físico-química.
Trata-se de uma obra esperada há mais de 15 anos pela população do concelho.
A primeira fase da empreitada arrancou em outubro. O investimento global ronda os três milhões de euros, comparticipados por fundos comunitários, sendo o restante financiado pelo Governo e pela Câmara de Valongo.
A associação de pais também marcou presença e criticou o facto de a Autarquia ter canalizado “cerca de 315 mil euros” desse montante “para a requalificação de um estabelecimento escolar da freguesia de Valongo”, lê-se num comunicado entregue ao ministro.