Câmaras nos tetos, aulas nos e-mails, animações nos quadros interativos
Público | 2008-12-26
A escola secundária Serafim Leite de São João da Madeira, escola-piloto do Plano Tecnológico da Educação, adapta-se às mudanças com agrado. 450 computadores em rede foram colocados na Escola Serafim Leite, para serem utilizados por um total de 950 estudantes.
à entrada, um aparelho exige que o cartão eletrónico do aluno seja utilizado. Na fachada do edifício, há câmaras de vigilância que se espalham pelos corredores e outros espaços. No teto, milhares de fios colocados numa esteira de rede. Nas salas, quadros interativos substituem os riscos de giz.
No início do ano letivo, os alunos da escola secundária Serafim Leite de São João da Madeira (distrito de Aveiro) regressaram à escola com a primeira medida do Plano Tecnológico da Educação (PTE) em pleno. Ou não fosse a escola-piloto do projeto, juntamente com a secundária André Gouveia de évora.
“As aprendizagens melhoraram, as aulas são interativas e não monótonas.” Joana Leite, 15 anos, está satisfeita com as novidades: “Podemos enviar, na hora, uma aula por e-mail para um colega que esteja doente, já que os apontamentos que o professor faz no quadro ficam gravados.”
“E podemos ir buscar apontamentos feitos anteriormente para recomeçar a aula naquele assunto”, acrescenta Bruno Sousa, de 15 anos. O estudante está contente por ter mais opções nas tarefas a fazer em casa: “Podemos fazer trabalhos em suporte digital e não corremos o risco de não haver computadores.” As câmaras intimidam? “é uma questão de segurança”, responde Joana.
Eduardo Ribas, 13 anos, faz o seu balanço. “A escola ficou mais organizada e segura, há mais condições de estudo. O quadro interativo dá muito jeito para ter aulas diferentes e com o cartão eletrónico, o dinheiro fica mais seguro”, diz, numa pausa do estudo para o teste de Francês. Cátia Tavares, 16 anos, remata: “A tecnologia está agora mais à mão.”
Os números revelam a mudança: 450 computadores em rede numa escola com 950 alunos, 20 quadros interativos, 44 videoprojetores, cartão eletrónico do aluno em funcionamento, 16 câmaras de vigilância, alarme contra intrusão nas 44 salas, wireless em todo o recinto escolar, uma rede informática reestruturada. Em três semanas, os sistemas foram montados, o interior da escola foi pintado, sem que as aulas fossem interrompidas.
Ferramenta poderosa
Na aula de Português, escreve-se no quadro interativo o que são textos literários e não literários. A professora escreve a azul, sublinha a amarelo. Não foi preciso, mas podia colocar imagens, transcrever textos.
O professor de História da Cultura e das Artes, Luís Mateus, tenta usar as potencialidades do quadro interativo: mostrar imagens, projetar informação recolhida na Internet e animações. “é uma ferramenta muito poderosa, muito motivadora e exige muito mais.” Mais tempo e imaginação na preparação das aulas: “é uma sobrecarga para o professor, mas todo o trabalho fica para o futuro, uma vez que pode ser gravado. é um investimento a prazo.”
“Fica uma escola mais brilhante e esperemos que os resultados dos alunos também o sejam”, afirma Raquel Vasconcelos, professora de Informática. As mudanças foram sentidas de imediato, os alunos não tiram os olhos do quadro interativo. “Parecia que estavam sedentos de aulas diferentes, queriam ser os promotores da utilização das novas tecnologias.” Mais motivação, mais trabalho em casa para os docentes. “Temos de adaptar o nosso know-how às novas tecnologias porque são o motor de motivação para grande parte dos alunos”.
O presidente do conselho executivo da secundária são-joanense, Pedro Gual, garante que o processo foi pacífico. Até ao momento, ninguém bateu à porta do seu gabinete com queixas.
“Dias alucinantes”
“Os professores começam a ter ao seu dispor um conjunto de equipamentos que não tinham antes, mesmo em termos de acesso de informação. São condições mais facilitadoras”, diz Gual. Para isso, a escola viveu duas semanas, em maio, em que quase não respirou.
“Foram 15 dias alucinantes… chegámos a um ponto em que tínhamos tudo desmontado, pó em todos os sítios, cabos por todo o lado, tudo virado de pernas para o ar e as aulas nunca pararam”, lembra.
Curiosamente, Gual desconhece por que foi a sua escola a escolhida para estrear o PTE – programa de modernização tecnológica do Ministério da Educação que pretende equipar as escolas do país com 310 mil computadores, nove mil quadros interativos e 25 mil videoprojetores, até 2010, num investimento de 400 milhões de euros.
Um ano cheio de novidades
A escola são-joanense que é “cobaia” do PTE.
Três notícias em simultâneo: em maio, a secundária Serafim Leite começou a colocar em marcha o Plano Tecnológico da Educação, na altura em que celebrava 50 anos de vida e no momento em que o seu Centro Multidisciplinar e Interativo era inaugurado pela ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues.
Um aniversário com vários pretextos. Estrear um projeto da tutela, celebrar meio século de atividade e abrir um novo espaço à comunidade escolar. Um centro constituído por um auditório com 105 lugares, biblioteca, área polivalente, cafetaria e sala de reuniões. Uma área que pode ser usada pela cidade para conferências e encontros.
Agência para a Qualificação quer acelerar certificados das Novas Oportunidades
Lusa | 2008-12-02
Desde novembro de 2006 até novembro de 2008 tem havido uma média de 4000 adultos certificados por mês.
O presidente da Agência Nacional para a Qualificação (ANQ), Luís Capucha, reconheceu hoje que é preciso “acelerar” o ritmo da certificação de adultos para alcançar o objetivo de um milhão de certificados em 2010, no âmbito do Programa Novas Oportunidades.
Desde novembro de 2006 até novembro de 2008 tem havido uma média de 4000 adultos certificados por mês. “A este ritmo chegaremos a 2010 com 248.398 certificados”, disse Luís Capuchas, no II Encontro Nacional de Centros Novas Oportunidades, considerando “impensável ficar com esta dinâmica”. Luís Capuchas defendeu a necessidade de “crescer” para uma média de 29.900 adultos certificados por mês, o que significa que tem de se “multiplicar por sete” o número de certificados atribuídos para se atingirem as metas traçadas pelo Programa Novas Oportunidades.
O objetivo é conseguir que em 2010 metade dos alunos matriculados no ensino secundário, ou seja, mais de 650 mil, estejam a frequentar vias profissionais e que todas as escolas secundárias públicas integrem cursos profissionais. Segundo o responsável, de 2006 para 2007 houve um crescimento de 93 por cento dos certificados. Se este ano o crescimento acontecer ao mesmo ritmo, o número de certificados em 2010 será de 428 mil. “O ritmo tem de ser bastante maior para cerca de 200 por cento ao ano e aí atingiremos os objetivos”, frisou.
O presidente da ANQ considerou que “não apenas é possível” atingir os objetivos do programa, como “é indispensável para o futuro do país e para as pessoas que se estão a inscrever nos Centros Novas Oportunidades”. “O número tem vindo a crescer e nós temos já neste momento cerca de 144 mil pessoas certificadas e esperamos atingir bastante mais de 200 mil no final de 2008”, assegurou.
Luís Capucha justificou que, se for tido em conta o número de pessoas que estão inscritas e que estão em processo de formação ou encaminhadas para outras ações, “o número está perfeitamente ao alcance”. “O ritmo de crescimento dos inscritos leva-nos a supor que em 2009 teremos mais de 1,2 milhões de inscritos e desses sairão com certeza um milhão de certificados”, assegurou.
Presente na abertura do II Encontro Novas Oportunidades, o primeiro-ministro, José Sócrates, salientou a importância deste programa para melhorar “o nível de igualdade social no país” e para o crescimento económico. “é um programa absolutamente decisivo para a economia e igualdade social e que já criou um grande movimento ao qual temos de responder”, sublinhou. O “movimento social no país” traduz-se em mais de 600 mil portugueses inscritos nos Centros Novas Oportunidades, justificou.
Para José Sócrates, “o défice das qualificações é o défice mais sério que o país tem de enfrentar e resolver”, uma vez que há indicadores que referem que apenas cerca de 25 por cento da população adulta em Portugal completou o ensino secundário. O primeiro-ministro enalteceu ainda o “ato de coragem” de todos os portugueses que se inscrevem nas Novas Oportunidades ao reconhecerem que “não sabem o suficiente e que têm de voltar à escola para melhor servir a família, a empresa e o país”.
Luís Capucha salientou, por seu turno, que existem já 450 Centros Novas Oportunidades, com um crescimento acentuado no último ano (190) e que o objetivo é chegar ao meio milhar. A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, e o ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, Vieira da Silva, também estiveram presentes no encontro, mas nenhum dos responsáveis quis comentar o problema levantado pela ANQ.
Iniciativa Novas Oportunidades certificou com novas habilitações cem mil portugueses
Lusa | 2008-12-01
O objetivo da iniciativa é conseguir que, em 2010, metade dos alunos matriculados no ensino secundário, ou seja, mais de 650 mil, estejam a frequentar vias profissionais.
A iniciativa Novas Oportunidades certificou com novas habilitações mais de 100 mil adultos, entre janeiro de 2007 e o final de setembro de 2008, segundo dados fornecidos pela Agência Nacional para a Qualificação (ANQ).
A iniciativa, apresentada na Assembleia da República em setembro de 2005, procura dar resposta aos baixos índices de escolarização dos portugueses através da aposta na qualificação, tornando o nível secundário como objetivo mínimo de referência.
Os 100 753 adultos que nesses 21 meses obtiveram um diploma equivalente ao 9.º ou ao 12.º ano tendo por base as experiências acumuladas ao longo da vida, especialmente em contexto profissional, recorreram maioritariamente aos Centros Novas Oportunidades e, em menor escala, aos cursos de Educação e Formação de Adultos (EFA).
Portugal tem atualmente um dos défices de escolarização mais elevados entre os países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económicos), que atinge os segmentos das gerações mais velhas mas também os jovens.
Cerca de 3,5 milhões dos atuais ativos têm um nível de escolaridade inferior ao ensino secundário, dos quais 2,6 milhões inferior ao 9.º ano. Cerca de 485 000 jovens entre os 18 e os 24 anos estão hoje a trabalhar sem terem concluído os 12 anos de escolaridade, 266 mil dos quais não chegaram a concluir o 9.º ano.
Assim, e além da validação de competências e certificação de adultos, que permite concluir percursos incompletos de educação, a estratégia da iniciativa Novas Oportunidades passa também por tornar o ensino profissionalizante como uma verdadeira opção para os jovens com menos de 18 anos.
No ano letivo 2008/2009, quando vão sair os primeiros diplomados, estão cerca de 140 mil jovens a frequentar “modalidades profissionalizantes”, segundo os mesmos dados. O objetivo da iniciativa é conseguir que, em 2010, metade dos alunos matriculados no ensino secundário, ou seja, mais de 650 mil, estejam a frequentar vias profissionais e que todas as escolas secundárias públicas integrem cursos profissionais.
Neste ano letivo estão disponíveis 300 cursos, um acréscimo de 50 por cento em relação ao ano passado e que deverão ser 450 em 2010. De artes do espetáculo a ciências informáticas, de metalurgia e metalomecânica à hotelaria e restauração, a oferta de áreas é muito variada e disponível na maior parte dos distritos portugueses.
Destinados a alunos que tenham completado o 9.º ano ou tenham frequentado o ensino secundário sem aproveitamento, os cursos profissionais têm uma duração de três anos e permitem o desenvolvimento de competências específicas para o exercício de uma profissão, mas também o acesso ao ensino superior.
A iniciativa envolve mais de seis mil profissionais distribuídos pelos 456 centros Novas Oportunidades em funcionamento em Portugal continental e região autónoma da Madeira: 3855 formadores e 2332 profissionais de reconhecimento, validação e certificação de competências e técnicos de diagnóstico.
Plano Tecnológico no início de 2009
Público | 2008-11-28
Formação para professores prestes a arrancar.
A formação e a certificação de professores em competências de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) vai arrancar no primeiro trimestre de 2009, disse à Lusa João Trocado da Mata, coordenador do Plano Tecnológico da Educação (PTE).
“Estamos na fase de iniciar as ações de formação de formadores assegurada pelas instituições de ensino superior. A nossa expectativa é que no primeiro trimestre de 2009 comece a formação e a certificação dos professores para que seja cumprida a meta prevista”, disse Trocado da Mata. O objetivo é que mais de 90 por cento dos docentes consigam até 2010 aproveitar ao máximo as TIC disponíveis nas salas de aulas.
Segundo o documento Competências TIC: Estudo de implementação, pedido pelo Ministério da Educação e a que a Lusa teve acesso, o plano vai ser desenvolvido em três níveis de formação e avaliação de competências dos docentes, que dão origem a três tipos de certificados.
O primeiro nível de formação dos docentes destina-se à aquisição de competências digitais, que “respeita, no essencial, à utilização instrumental das TIC e domínio de ferramentas de escrita e cálculo em formato digital”. No segundo nível estará a aquisição de competências pedagógicas das TIC, que devem integrar os processos de aprendizagem. O terceiro nível, de competências avançadas, pretende que sejam os próprios professores a criar soluções de utilização de TIC de forma inovadora nas aulas.
A leitura está a ganhar cada vez mais espaço nas escolas
Público | 2008-10-23
As crianças estão a ler mais e isso contribui para a melhoria dos seus resultados escolares, dizem as escolas em inquérito de avaliação do Plano Nacional de Leitura. 54,7 por cento dos alunos do pré-escolar e dos jardins de infância leem diariamente nas salas de aula, diz o inquérito.
A turma do 5.º I não teve aula de Educação Musical porque o professor faltou. Por isso, os alunos dirigem-se para a biblioteca da Escola Básica de 2.º e 3.º ciclo Francisco de Arruda, em Lisboa. é ali que vão permanecer nos 45 minutos seguintes. Se muitos preferem ir para a ludoteca jogar Monopólio, João e Gabriel optam por ler. De dedo em riste, percorrem os títulos de duas prateleiras e decidem-se por histórias de aventuras. João lê com atenção e à primeira palavra que não percebe, levanta-se, procura o dicionário, abre no “a” de “antropólogo”. O Plano Nacional de Leitura arrancou há dois anos e, num inquérito feito às escolas, estas dizem que os alunos estão a ler mais e isso contribui para a melhoria das suas competências de literacia e também para os seus resultados escolares.
Hoje e amanhã, decorre na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, a II Conferência Internacional PNL, onde vai ser divulgado o estudo de avaliação externa do plano, feito pela equipa de António Firmino da Costa, do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia, do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa. Vão ser também conhecidos os projetos da Alemanha e do Reino Unido, além de algumas iniciativas que se fazem em Portugal no âmbito da promoção da leitura e da literacia em adultos e crianças.
Um pouco antes do intervalo, os alunos do 5.º I arrumam os jogos e os livros e preparam-se para sair. Gabriel requisita o livro que começou a ler e João está feliz porque “adiantou um capítulo” àquele título que também tem em casa. “Costumo ler todas as noites, antes de me deitar!”, orgulha-se. Na escola Francisco de Arruda, o PNL aplica-se a partir da biblioteca escolar e em articulação com as outras disciplinas, informa Lurdes Caria, coordenadora daquele espaço. Se é preciso fazer uma aula de substituição, é para lá que os alunos vão. Algumas aulas de Formação Cívica também podem ser ali, onde aprendem a fazer fichas de leitura ou ouvem histórias da boca de José Manuel Carvalho, um voluntário que propõs ler para os alunos para “lhes transmitir o gosto pela literatura”. Ontem, o contador de histórias escolheu histórias dos Irmãos Grimm e de Charles Perrault para ler aos alunos do 6.º B.
Há ainda iniciativas feitas em conjunto com outras disciplinas, como Educação Visual e Tecnológica. O ano passado, cada turma de 5.º ano leu uma obra e depois transpõ-la para as paredes da sua sala de aula. O 6.º G pintou O Principezinho para pintar na parede do fundo da sala e cada aluno decorou o seu cacifo com temas dessa obra. Ana Batista leu o livro e depois foi ver a peça de teatro, de que gostou.
Os estudantes, desde os três anos ao 9.º ano, estão a ler mais, dizem 828 de 1104 agrupamentos de escolas e estabelecimentos não-agrupados, do pré-escolar ao 3.º ciclo, no inquérito de avaliação externa do PNL. As crianças e adolescentes leem mais na escola, mas começam a intensificar as práticas de leitura fora dela, onde leem livros relacionados com os estudos, mas também fazem outras leituras. Estas estão a influenciar positivamente os seus resultados escolares, dizem as escolas.
“As crianças estão a ler muito, há uma grande dinâmica”, declara Isabel Alçada, comissária do PNL. “A apreciação que os professores fazem é que os alunos estão a ler mais e melhor. Na escola há uma atividade sistemática, existem ainda atividades lúdicas em torno da leitura e um clima que a valoriza. Por isso, ler está a tornar–se um valor positivo”, analisa António Firmino da Costa, do grupo responsável pela avaliação externa do PNL.
à espera do PISA
A biblioteca da Francisco de Arruda preparou baús com livros, que circulam pelas cinco escolas de 1.º ciclo e salas de jardim de infância do agrupamento, explica Lurdes Caria. Os títulos foram financiados pelo PNL.
Segundo o inquérito da avaliação externa, é no pré-escolar e no 1.º ciclo que os alunos mais leem em sala de aula – nos jardins de infância 54,7 por cento respondem que o faz diariamente; no 1.º ciclo 42,9 por cento optam por fazê-lo semanalmente. Oito em cada dez alunos do 3.º ciclo também leem em sala de aula, a maioria semanalmente, mas são menos os que pegam em títulos que não estejam relacionados com a escola.
As suas leituras têm algum impacto no desenvolvimento ou melhoria de competências e resultados dos alunos? Sim, responde a grande maioria das escolas. A resposta a esta pergunta aumentou de um ano para o outro, com 87,5 por cento dos estabelecimentos de pré-escolar, 2.º e 2.º ciclos a dizer que melhoraram as competências de leitura e de literacia, contra 81 por cento no ano anterior. Sete em cada dez escolas dizem que a leitura também influenciou de modo positivo os resultados escolares; no anterior apenas 57 por cento respondeu nesse sentido.
Firmino da Costa olha para estes valores com algum cuidado: “Há pequenas percentagens de acréscimo de interesse. Faltam medições periódicas internacionais, como o PISA [que avalia a literacia dos alunos de 15 anos, dos países da OCDE] para vermos de modo objetivo se as competências dos alunos subiram. Esta é uma apreciação dos professores.”
No entanto, as escolas também se queixam: mais de metade diz que falta tempo para concretizar as atividades do PNL. São sobretudo as do 2.º ciclo que mais sentem esta dificuldade (71,7 por cento). As escolas também dizem ter falta de recursos e as de 2.º e 3.º ciclos apontam dificuldades em articular o plano com os currículos.
Na Francisco de Arruda, os professores combinam leituras relacionadas com a matéria que estão a lecionar, por exemplo, sobre o terramoto ou sobre a descoberta do Brasil. Para que se leia mais, Lurdes Caria criou o Passaporte da Leitura, um caderno onde os estudantes têm de fazer fichas de leitura e carimbar de cada vez que concluem a leitura de um livro requisitado. No final do ano, o aluno com o passaporte mais carimbado ganha um prémio. Catarina, do 6.º B, é uma séria candidata, já que, o ano passado, ganhou um prémio nacional por ser uma grande leitora.
O PNL no futuro
Público | 2008-10-23
Voluntários para ler, procuram-se.
No início do próximo ano o Plano Nacional de Leitura (PNL) vai lançar um projeto de voluntariado, para que pessoas ou organizações possam oferecer algum do seu tempo para ler nas escolas, bibliotecas ou outros espaços públicos, ou seja, “para ler a quem precisa”, anuncia Isabel Alçada, comissária do PNL. No âmbito das escolas, foram escolhidas 33 para iniciar um novo projeto, chamado A Ler+, que consiste em transformar as escolas em centros de leitura, com o objetivo de envolver toda a comunidade escolar. Por exemplo, os alunos mais velhos podem ler aos mais novos ou os pais podem ir à escola ler, explica. Em dois anos, o Plano Nacional de Leitura tem apostado na consolidação, alargamento e inovação, caracteriza António Firmino da Costa, coordenador do estudo de avaliação externa. E explica: o apoio que inicialmente foi feito à rede de bibliotecas escolares e também às públicas tem vindo a ser consolidado com mais escolas e autarquias a aderir ao PNL. O alargamento fez-se com a introdução de atividades de leitura orientada para o 3.º ciclo. A inovação deu-se com a oferta de um livro a cada aluno que entrou pela primeira vez na escolaridade obrigatória ou com projetos como o Ler+ em vários sotaques”, em parceria com o Alto Comissariado para a Imigração e o Diálogo Intercultural, ou o Ler+ dá saúde, uma parceria com a Associação Portuguesa de Médicos de Clínica Geral, com a introdução de caixas com livros em centros de saúde ou hospitais.
Livrarias dizem que vendem mais livros, mas não atribuem essa subida ao PNL
Público | 2008-10-23
Há livros que vendem bem e não estão no plano e outros que já vendiam bem antes do plano. Nas lojas, não é atribuído ao PNL o facto de se venderem mais livros. 20% foi o acréscimo de vendas, na cadeia de lojas da Fnac, de livros antes esquecidos que foram incluídos na lista do PNL.
Os pais chegam à Livraria Bulhosa, em Entrecampos, em Lisboa, com listas de livros dadas pelos professores e perguntam: “Tem estes títulos?” E há quem ofereça apenas títulos que estão entre as obras recomendadas pelo Plano Nacional de Leitura (PNL). A procura de livros infantis aumentou, confirmam os livreiros, mas não afirmam que essa subida esteja diretamente ligada ao plano.
“Não há uma relação assim tão direta. Muitos livros não são do PNL e têm boas vendas, outros já tinham antes de pertencerem ao PNL. Muitos outros começaram a ter depois do PNL”, declara Lúcia Felizardo, gestora de produto livro infantil da Fnac. “As vendas têm aumentado, mas não sei se está diretamente ligada ao PNL”, confirma Marta Serra, gestora de marketing da Bertrand.
O que é certo, diz Leonor Lima, chefe de loja na Bulhosa de Entrecampos, é que os pais entram com as listas e dão primazia aos títulos recomendados e só depois “compram por impulso” outros livros. Antero Braga, proprietário da Livraria Lello, no Porto, acrescenta: “Os livros do PNL vendem mais porque são recomendados pelos professores, mas os pais também se interessam por outros títulos, se forem bem aconselhados pelos livreiros.”
Muitos livros estão esgotados e têm muita procura, lamenta Leonor Lima. A gestora da Fnac Lúcia Felizardo refere que alguns estavam esquecidos e outros esgotados, mas que a sua inclusão na lista provocou um aumento da procura. Em média, estes tiveram um acréscimo de vendas na ordem dos 20 por cento.
Se na Bulhosa os livros com o selo do PNL estão lado a lado com as novidades editoriais, nas lojas da Fnac existe um espaço próprio com a sinalética do plano. A Bertrand, face à dimensão da lista de livros recomendados, decidiu fazer a sua seleção, num catálogo próprio. Na Lello, os clientes ainda perguntam o que devem oferecer a uma criança com determinadas características. “Nós vamos encaminhando as pessoas para serem grandes leitores, porque quem beneficia não são só elas, mas o país”, declara Antero Braga, para quem as vendas não aumentaram por causa do plano, mas sim porque os pais estão mais “conscientes” das necessidades dos filhos.
Quais são os critérios para que um livro entre na lista
Público | 2008-10-23
O Plano Nacional de Leitura tem na sua página da Internet 107 páginas com títulos de livros, onde se misturam nomes como os de Sophia de Mello Breyner Andresen, Luísa Ducla Soares, João Aguiar, Somerset Maugham ou Victor Hugo com títulos sem autores como O gatinho Ronron aprende os opostos ou Animais bebés.
Como são feitas as listas? Primeiro, é pedido às escolas e bibliotecas escolares que apresentem títulos que têm utilizado nas aulas ou em projetos pedagógicos. Depois, há uma equipa de especialistas que, face às indicações, efetua a seleção. Os critérios de escolha são: grande diversidade de estilos, de ilustrações e de coleções, “para suscitar adesão do maior número possível de leitores”; obras em prosa, poemas, peças de teatro e também de carácter informativo, “para cativar leitores menos motivados pela ficção e para apoiar trabalhos de pesquisa e projetos transdisciplinares”; obras clássicas da literatura infanto-juvenil e histórias tradicionais recontadas numa linguagem contemporânea; autores e ilustradores portugueses e estrangeiros, consagrados, recentes ou estreantes, diz o site do Plano Nacional de Leitura (PNL).
Para Dora Batalim, coordenadora pedagógica da pós-graduação em Literatura Infantil, na Universidade Católica Portuguesa, os critérios não permitem perceber “se [o livro] é bom” porque falta uma ficha de leitura com imagem da capa incluída. Isabel Alçada, comissária do PNL, reconhece que esse é um trabalho que tem de ser feito, mas acrescenta que essa informação não pode dispensar aos professores a consulta dos livros.
As listas, divididas por ciclos e anos de escolaridade, dão sugestões de leitura em voz alta, para trabalhar na sala de aula e para leitura autónoma, em casa. Há ainda livros recomendados sobre temas como o Natal, corpo humano, defesa do ambiente, ciência, artes, História de Portugal e universal. Existem ainda obras recomendadas para crianças com Necessidades Educativas Especiais. Segundo o inquérito feito às escolas pela equipa de Firmino da Costa, 68 por cento consideram as listas adequadas, menos de um por cento diz não serem adequadas.
Para mim, o Plano Nacional de Leitura é…
Público | 2008-10-23
Oportuno e insuficiente
José António Calixto, diretor da Biblioteca Pública de évora
“O PNL é necessário porque os hábitos de leitura e os níveis de literacia em Portugal devem deixar-nos a todos muito preocupados e deixar alguns um tanto envergonhados. E também porque a tecnologia não é tudo e sem literacia pode ser nada. é oportuno porque cada vez mais a elevação dos níveis de literacia é individualmente essencial para lidar com a complexidade da vida em sociedade, para a participação cívica e o aprofundamento da democracia. é insuficiente porque nunca investiremos suficientemente na promoção do livro, da leitura e das bibliotecas. E também porque a concorrência da anticultura (como o telelixo e o netlixo) é muito desleal.”
Janelas e portas abertas
António Mota, escritor
Com 36 livros escolhidos pelo Plano Nacional de Leitura, António Mota diz ter vendido mais obras nestes dois anos: “Mas não fiquei rico, até voltei ao ensino. O PNL é uma casa com as janelas e as portas abertas. Deve continuar a apostar na diversidade, e depois as pessoas que escolham. Talvez faltem livros de teatro, para serem dramatizados pelos miúdos. Também é bom que todos os anos se renovem as listas e se escolham reedições de textos com novas ilustrações.” Professor do 1.º ciclo, diz que só com o PNL se tornou possível trabalhar as obras com bastantes exemplares na sala de aula. “Agora consigo que haja pelo menos um livro para cada dois meninos. Também temos uma caixa cheia de livros à disposição das crianças, que os requisitam a toda a hora. Os meus alunos leem muito.”
Bom para a saúde
Rizério Salgado, médico
Ler + Dá Saúde é o resultado de uma proposta de Rizério Salgado, médico de família, ao Plano Nacional de Leitura. Os centros de saúde passaram a “receitar” livros para as crianças. “A partir dos seis meses de idade, apontar para uma imagem e associá-la a um som são fatores de desenvolvimento. Os livros e a leitura estimulam todas as capacidades – motoras e cognitivas. Logo, dão saúde.” Já prescreveu muitos livros nas suas consultas, no Centro de Saúde de Oeiras, Unidade de São Julião. “Depois da surpresa inicial, os pais aceitam com facilidade porque veem justificada a escolha. Não lhes dizemos apenas ‘Leiam’, dizemos ‘Leiam este tipo de livros, desta forma, para que o vosso filho desenvolva esta ou aquela capacidade’.” O PNL “oficializou a certeza de que a leitura é transversal e conseguiu unir os ministérios da Cultura, Educação e Saúde”. Conclusão: “Ler dá saúde e faz crescer.”
“Não dei por nada”
Stephanie Pardete, mãe de um aluno do 3.º e de uma aluna do 10.º
“Numa casa de leitores, o ‘bichinho’ pega-se”, diz Stephanie Pardete, para quem o PNL “é uma forma de sensibilizar e motivar para a leitura quem não vive num ambiente de livros”. Acredita no entanto que esta prática pode acontecer “sem grandes custos”. O plano não alterou o quotidiano da família, embora note que na escola do filho João, a frequentar o 3.º ano do ensino básico, as idas à biblioteca se tornaram mais frequentes. “Traz livros para ler em casa. Mas gosta tanto de um sobre automóveis que já o trouxe várias vezes. No caso da minha filha, Catarina, que anda no 10.º ano, não dei por nada relacionado com o plano, nem no ano passado nem neste.”
Motivar para a leitura
Ana Josefa Cardoso, professora de Português do 2.º ciclo
“De certa forma, o Plano Nacional de Leitura resulta. Embora na nossa escola [EB, 2,3 de Vale da Amoreira] a biblioteca não esteja ainda lá muito apetrechada. Há muitas prateleiras vazias. Os livros do plano vão chegando, mas não são suficientes”, diz Ana Josefa Cardoso, da Associação de Professores de Português. “O PNL é para motivar para a leitura. Os alunos requisitam mais livros, mas o resultado continua a depender muito do trabalho dos professores.”
Quatro mil adultos já conseguiram o 12.º ano
Público |2008-09-10
Em menos de um ano, mais de quatro mil adultos que não tinham o ensino secundário completo conseguiram obter um diploma de equivalência ao 12.º ano, ao abrigo do programa Novas Oportunidades. E há cerca de 230 mil à espera de iniciar ou concluir o seu processo de reconhecimento, validação e certificação de competências ou ações de formação que lhe permitam adquirir esta habilitação.
Os números mais recentes da Agência Nacional para a Qualificação (ANQ) revelam ainda que, desde 2006 até agosto deste ano, um total de 516 mil adultos inscreveram-se no programa para obter um diploma de equivalência ao ensino básico ou secundário. E que mais de 161 mil já o conseguiram.
O grande salto no número de inscritos aconteceu a partir de 2007 e, em particular, com o anúncio do alargamento de reconhecimento de competências ao 12.º ano – um processo através do qual se avalia o percurso profissional e pessoal dos candidatos para se perceber se conseguiram obter ao longo da sua vida as competências que não adquiriram na escola.
Assim, aos 214 mil adultos sem o ensino básico completo que, desde 2007, se inscreveram num centro Novas Oportunidades para obter um diploma de 4.º, 6.º ou 9.º ano, juntaram 234-se mil que pretendiam um certificado equivalente ao 12.º ano.
Os dados da ANQ indicam ainda que a maioria dos inscritos no nível básico tem entre 35 e 44 anos. Já os que se candidatam a uma certificação de nível secundário são, na sua maioria, mais novos, tratando-se de jovens que abandonaram precocemente os estudos mas que decidiram “voltar à escola”: 36 por cento tem entre 35 e 44 anos.
O programa Novas Oportunidades foi lançado em 2006 pelo Governo (a partir dos centros de reconhecimentos de competências já existentes) com o objetivo de conseguir a qualificação de um milhão de ativos, ate 2010. I.L.
Revolução tecnológica chega às escolas
Correio da Manhã |2008-09-09
Governo investe 400 milhões em novas tecnologias.
O novo ano letivo marca o arranque de uma autêntica revolução nas escolas portuguesas. No âmbito do Plano Tecnológico da Educação, o Governo vai investir um total de 400 milhões de euros com o objetivo de colocar Portugal entre os cinco países europeus mais avançados em matéria de modernização tecnológica. Até 2010 as escolas do 2.º e 3.º ciclos do Ensino Básico e as do Ensino Secundário terão ligação à Internet em banda larga e estarão apetrechadas com 310 mil computadores, nove mil quadros interativos e 25 mil videoprojetores.
“é a maior mudança de sempre na forma de ensinar”, diz Albino Almeida, presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), sublinhando que “o computador ensina mas não educa”, pelo que o papel do professor “é ainda mais valioso”.
Atualmente há em Portugal um computador para cada 13 alunos, contra um para seis de média europeia. O objetivo a atingir em 2010 é de um computador para dois alunos, mas no final deste ano letivo haverá já um para cada cinco. João Grancho, da Associação Nacional de Professores, considera o plano “uma medida positiva, que ajuda à infoinclusão, à inovação e ao desenvolvimento científico”.
Mário Nogueira, secretário-geral da Federação Nacional de Professores (Fenprof), defende que o papel dos professores tem vindo a ser desvalorizado: “O discurso do Governo tem apostado no desenvolvimento tecnológico, mas esquece-se do fator humano e os computadores sozinhos não funcionam. Com novas tecnologias e quadros interativos mas com profissionais insatisfeitos e com carreiras desfeitas uma escola não pode funcionar “.
Refira-se ainda que o PTE tem uma vertente virada para a segurança que prevê a instalação de câmaras de vigilâncias nas escolas. O cartão eletrónico do aluno também evitará que estes levem dinheiro para a escola, contribuindo assim para que haja menos assaltos.
Novo cartão para 800 mil
O Governo pretende que o cartão eletrónico do aluno chegue já este ano letivo a 800 mil estudantes. O novo cartão permite controlar entradas e saídas na escola, bem como consultar o processo administrativo do aluno e o seu percurso académico. Outras das vantagens do cartão é que permite fazer pagamentos na escola, pelo que os alunos deixam de precisar de levar dinheiro – um aspeto relevante em termos de segurança.
Gémeos na escola são despesa a dobrar
Se o início das aulas é um problema de matemática para muitas famílias, para quem tem gémeos a fatura é sempre a duplicar. Livros, material e atividades extracurriculares que não são oferecidas pela escola representam o dobro das despesas.
é o que acontece em casa de Gabriela Lusio: os gémeos André e Gonçalo, de nove anos, vão ingressar no 4.º ano na Escola Básica da Glória, em Aveiro. Os dois irmãos já têm as mochilas prontas, com todos os livros escolares e material necessário para o regresso à escola.
De acordo com a mãe, que é professora de Educação Visual, “só se gasta dinheiro nesta altura com os livros e cadernos, porque de resto eles continuam a usar a mesma mochila do 1.º ano, uma vez que está em muito bom estado”. O mesmo não acontece com outros materiais. “Os lápis de cor desaparecem rapidamente e têm de ser repostos várias vezes ao longo do ano”, explica Gabriela Lusio.
Quando vai às compras, por exemplo para comprar vestuário, Gabriela já vê as etiquetas dos preços a dobrar e sabe que deve optar apenas pelo essencial, porque qualquer extravagância “tem de ser igual para os dois”. O mesmo acaba por acontecer quando chega a época de regressar à escola.
O agregado só não faz poupanças no que diz respeito às atividades extracurriculares dos gémeos: “Têm os dois aulas de guitarra, fazem natação e vão este ano para um instituto aperfeiçoar o Inglês. Tudo isto representa cerca de 280 euros mensais, mas entendemos que são áreas em que vale a pena o sacrifício”, refere Gabriela.
Metas
310 mil computadores com ligação à Internet, o que dá dois computadores por aluno (2.º e 3.º ciclos e Secundário).
9 mil quadros interativos (um por cada três salas de aula).
25 mil videoprojetores.
800 mil cartões eletrónicos do aluno.
500 mil computadores portáteis Magalhães (1.º Ciclo).
400 milhões de euros de investimento total.
Videovigilância e alarmes
Com o investimento em novas tecnologias as escolas passam a ser lugares apetecíveis para os assaltantes, pelo que o Governo vai investir em alarmes eletrónicos e sistemas de videovigilância, com dez câmaras por cada escola, de modo a garantir a segurança das instalações.
Quadros interativos substituem velhinhos quadros de ardósia
Os velhos quadros de ardósia onde se escreve com giz vão gradualmente ser substituídos pelos modernos quadros interativos.
Inicialmente estava previsto que só em 2010 os nove mil quadros interativos estivessem disponíveis nas escolas.
Contudo, o Governo terá conseguido antecipar alguns dos objetivos traçados e no final deste ano letivo estarão já instalados nas salas de aula dos 2.º e 3.º ciclos do Ensino Básico e nas do Secundário nove mil quadros interativos e 25 mil videoprojetores, numa relação de um quadro por cada três salas.
“Venha a formação de professores”: João Grancho, Presidente Assoc. Nacional Professores
Correio da Manhã: Como avalia o Plano Tecnológico da Educação?
João Grancho: Parece bem concebido mas é preciso não esquecer a componente humana. Será feito por pessoas e essas pessoas devem ter estabilidade emocional, a sua missão deve ser reconhecida.
CM: Os professores estão preparados?
JG: Nem todos. Que venha a formação para se poder explorar todas as potencialidades.
CM: Qual o principal benefício do Plano Tecnológico?
JG: Vai no sentido da infoinclusão. Mas é preciso referir que isso tem de caminhar a par da melhoria das condições materiais das escolas, o que até tem vindo a ser feito. Não faz sentido investir em novas tecnologias em escolas degradadas.
DICAS
Consumo moderado
Os computadores e a Internet ajudam ao estudo, mas o seu consumo deve ser moderado e controlado, nomeadamente no acesso a certos sites.
Carregar os cartões
Com a generalização dos cartões eletrónicos, o dinheiro vivo deixa de circular na escola. No entanto, carregue o cartão do seu filho com baixos valores de cada vez, para que ele aprenda a gerir o orçamento.
NOTAS
Telemóveis – pioneiros
Foi através dos telemóveis que as novas tecnologias de informação e comunicação primeiro chegaram às escolas, mas cada vez os equipamentos são mais sofisticados.
1.º ciclo – 500 mil Magalhães
Os alunos do 1.º Ciclo terão ao dispor 500 mil computadores Magalhães, um portátil feito para crianças que custa 50 euros mas será gratuito para o 1.º escalão da ação social escolar.
30 milhões – centro de apoio
Para ajudar as escolas a gerir os novos equipamentos informáticos, o Ministério da Educação vai investir 30 milhões de euros em quatro anos para criar o Centro de Apoio Tecnológico.
Meio milhão nas Novas Oportunidades
Público |2008-09-06
O primeiro-ministro revelou ontem, na Póvoa de Varzim, que mais de 500 mil portugueses se inscreveram no programa Novas Oportunidades para melhorar as suas qualificações escolares, através do reconhecimento de competências. Ou seja, “15 por cento da população ativa, que não tem o secundário”, está inscrito nessa via alternativa de ensino. “Ao longo do último ano formámos 67 mil pessoas nas Novas Oportunidades e a estimativa para este ano é chegar aos 100 mil”, afirmou Sócrates na inauguração de um centro em Beiriz.
Sócrates considera que aquele programa está a ajudar a diminuir “o défice de qualificação” que “não pode ficar à espera das futuras gerações” para ser combatido. “O último número de que dispomos e que ainda não foi atualizado dizia-nos que somente 30 por cento da nossa população ativa tinha mais do que o secundário. Quer dizer que temos de melhorar muito”, afirmou.
Novas Oportunidades: 15 por cento da população ativa que não concluiu secundário já se inscreveu no programa
Lusa |2008-09-05
Sócrates enalteceu a coragem de quem se prestou a melhorar as suas qualificações.
O primeiro-ministro anunciou hoje em Beiriz, Póvoa de Varzim, que cerca de 15 por cento da população ativa portuguesa que não concluiu o Ensino Secundário já está inscrito no Programa Novas Oportunidades.
“Essas pessoas devem ser elogiadas pela coragem que tiveram de assumir que não sabem o suficiente e precisam melhorar as suas competência”, disse José Sócrates na inauguração do Centro Novas Oportunidades da Escola EB 2,3 de Beiriz, concelho da Póvoa de Varzim.
O Programa Novas Oportunidades é “dos programas mais importantes lançados nos últimos anos em Portugal e é decisivo para que o país vença a batalha da qualificação”, considerou o primeiro-ministro.
“O último número sobre qualificação da população ativa portuguesa refere que apenas 30 por cento tem mais do que o Secundário”, sublinhou, lamentando que, neste parâmetro, Portugal ainda seja “dos piores” colocados na OCDE.
Comparando com a realidade portuguesa com a de alguns países do Leste e da Europa, o primeiro-ministro defendeu que é “esta diferença que é preciso esbater”.
“Para isso não basta esperar pela próxima geração, temos de gerar programas que respondam a essa necessidade e este, das Novas Oportunidades, foi pensado com esse objetivo, ou seja, dar uma nova oportunidade aos que saíram cedo da escola e se arrependeram”, frisou.
José Sócrates salientou ainda que em termos de abandono escolar precoce, os índices também melhoraram, situando-se atualmente nos “36 por cento”.
“Passamos, nos últimos anos, dos 39 para os 36 por cento e a tendência é para continuar a melhorar”, disse.
Referiu que “entre 1995 e 2005, o país gastou o dobro do dinheiro do que nos 10 anos antes, teve mais professores, menos alunos e os mesmos resultados em termos de abandono escolar”.
“Atualmente, temos o mesmo dinheiro, menos professores, mais alunos e melhores resultados, o que significa que não devemos desistir, mas sim insistir nesta estratégia de investimento na educação”, acrescentou.
De acordo com os dados da Agência Nacional para a Qualificação, desde 2007 e até 31 de agosto de 2008, inscreveram-se nos Centros de Novas Oportunidades 447 774 adultos, dos quais 92 351 obtiveram certificados.
Dos adultos que já obtiveram certificação, 4 021 foram de nível secundário.
Em declarações aos jornalistas sobre a empregabilidade das pessoas que obtiveram certificação, a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, disse que ainda não há dados, referindo que está em curso um programa de avaliação que visará, entre outras componentes, avaliar o impacto no mercado de trabalho e no percurso profissional das pessoas.
“Não há dados, mas sabemos é que a grande maioria dos certificados do programa Novas Oportunidades são pessoas que estão a trabalhar”, acrescentou.
90 mil adultos obtiveram certificação no programa Novas Oportunidades
Lusa | 2008-09-05
Quase meio milhão inscritos desde 2007. Muitos inscritos já conseguiram o certificado.
Mais de 90 mil portugueses dos quase 450 mil que se inscreveram no programa Novas Oportunidades obtiveram certificação ao nível do ensino básico e secundário. Desde o início de 2007 até 31 de agosto já se inscreveram 447 774 adultos nos centros de Novas Oportunidades, 92 351 já obtiveram certificados e destes, mais de quatro mil foram de nível secundário.
Segundo o ministro do Trabalho e da Solidariedade Social o programa já envolveu 10 por cento da população ativa, um número que demonstra que o programa está a ter uma boa adesão.
Os dados a que a Agência Lusa teve acesso revelam que, desde o início do Novas Oportunidades, em 2006, inscreveram-se no programa 516 mil adultos, dos quais obtiveram certificação 161 683 mil.
Dos 447 774 adultos que se inscreveram, 213 890 tinham como objetivo a equiparação ao ensino básico, enquanto 233.884 pretendiam o nível secundário.
A maioria dos inscritos para obter o nível básico tinha entre 35 e 44 anos, mas os inscritos para obter o nível secundário têm na maioria dos casos entre 25 e 34 anos. A região Norte foi a que registou a maior incidência de inscrições para obtenção do nível básico e do nível secundário.
O programa de requalificação Novas Oportunidades, apresentado em setembro de 2005 pelo primeiro-ministro, é tutelado pelo Ministério do Trabalho e pelo Ministério da Educação. O objetivo do programa é qualificar um milhão de ativos até 2010, assim como envolver mais de 650 mil jovens em cursos técnicos e profissionalizantes.
Segundo dados do Ministério da Educação, só 20 por cento da população adulta portuguesa completou o ensino secundário. Nos países da OCDE esta percentagem ronda os 70 por cento.
Dos cerca de cinco milhões de portugueses que integram a população ativa, metade tem menos que a escolaridade obrigatória. Portugal tem mais de 485 mil jovens a trabalhar sem o ensino secundário completo e mais de 266 mil não concluíram a escolaridade obrigatória.
Novas Oportunidades
Público | 2008-08-24
Pode ser “um trampolim”, pode funcionar como incentivo. O programa Novas Oportunidades dá uma segunda possibilidade a quem, pelas mais diversas razões, deixou de estudar demasiado cedo. Três adultos contam como resolveram aproveitá-la. “Nunca se sabe tudo”, lembra uma recém-diplomada.
Num país onde só um quinto da população adulta completou o ensino secundário e dois milhões e meio de trabalhadores nem sequer têm o 9.º ano de escolaridade, a adesão em massa ao programa Novas Oportunidades não surpreende. Só em 2007, ano em que foi alargado ao secundário o sistema de reconhecimento e validação de competências, 143 mil pessoas inscreveram-se para obter uma certificação equivalente ao 12.º ano. Os primeiros diplomados “saíram” este ano. Todos eles provaram, através da redação de um portfólio e perante um júri, que aprenderam ao longo da vida pessoal e profissional o que não aprenderam nos bancos da escola. Tendo como base um conjunto de competências-chave pré-definidas. O Governo espera atribuir 650 mil diplomas equivalentes ao ensino básico e secundário até 2010.
Não quero acabar como um velho insignificante
António Silva
40 anos
Aos 13 anos, António Silva estava decidido a deixar de estudar. “Aborrecido” com a escola, queria “ganhar dinheiro”. E até tinha o apoio do pai, que o incentivou a “entrar no mercado de trabalho.” “A indústria automóvel era o que rendia mais na altura”, recorda este operário fabril de Albergaria-a-Velha.
Os professores de Matemática e Português ainda tentaram dissuadi-lo, disseram-lhe que era uma “pena” abandonar os estudos, já que capacidades não lhe faltavam. Se o apelo não foi seguido, as palavras dos dois professores nunca saíram da cabeça de António Silva. Hoje, aos 40 anos, dá-lhes razão e diz que deixar de estudar foi uma decisão “erradíssima”.
Aos 17, viu-se desempregado e “muito desalentado” com a vida. Tirou um curso profissional de prensador, regressou a Albergaria, depois de mais um trabalho mal remunerado no Porto, e entrou para a empresa de laticínios Lactogal, primeiro no armazém a gerir stocks, depois a operar máquinas de embalamento.
Os três turnos que tinha de fazer – um dos quais entre as nove da noite e as cinco da manhã -, dificultavam o regresso sempre adiado aos estudos. Até que surgiu a oportunidade. “Queria evoluir e aproveitei a altura em que só havia dois turnos na fábrica. Estava a sentir que havia espaço para melhorar a minha vida profissional.”
Vinte e cinco anos após ter deixado a escola com o 6.º ano, António Silva inscreveu-se no Centro Novas Oportunidades (CNO) de Antuã, decidido a retomar a sua formação e a não desistir. Meia dúzia de meses depois concluiu o processo de reconhecimento de competências adquiridas ao longo da vida e recebeu o diploma de equivalência ao 9.º ano.
“Vinha ao centro quase todos os dias. Ao fim de semana passava os trabalhos todos para o computador. Estava muito empenhado em ter o 9.º ano e por isso completei o processo tão rapidamente.”
Um dos dias mais felizes
E se em 2006 já se falava na possibilidade de alargar o processo de reconhecimento, validação e certificação de competências de adultos ao nível secundário, António Silva só teve de esperar mais um ano. Continuava a sonhar com outro tipo de trabalho, queria “evoluir” e passar para a área de “controlo” que é o que mais gosta de fazer.
O processo voltou a correr tão bem que António foi mesmo o primeiro do CNO de Antuã a conseguir o diploma do 12.º ano por esta via, com direito a cerimónia pública e à presença do presidente da câmara. “Foi um dos dias mais felizes que tive. Com muito trabalho, esforço e empenho consegui ter um bom processo, um bom aproveitamento. E fiquei felicíssimo por ser o número 1.”
O reconhecimento de tudo o que aprendeu ao longo de quase 30 anos de experiência profissional e ainda os trabalhos que foi desenvolvendo ao longo do processo – “fiz uma investigação sobre o Protocolo de Quioto, calculei as minhas emissões de CO2 e o que podia fazer para diminuir”, exemplifica – fizeram com que conseguisse o ambicionado diploma em oito meses.
Com o 12.º ano concluído, são várias as portas que se abrem a António. Graças às suas novas habilitações, põde concorrer a uma nova função na fábrica de queijos que a empresa onde trabalha vai abrir em Oliveira de Azeméis. “O 12.º ano é apenas uma ferramenta para a minha evolução profissional. Mas é também um trampolim para que possa ter formações de outro nível, em que se exigem outras habilitações. Gosto de não estar a fazer sempre a mesma coisa, de põr à prova a minha criatividade.”
Além disso, António sempre pensou que não queria “acabar como um velho insignificante, com um ordenado insignificante” e a queixar-se da vida. E a história pode não ficar por aqui. “O ensino superior não está posto de parte. Por agora não é compatível com os horários da empresa, que voltou a trabalhar em três turnos. Mas é só uma questão de tempo e oportunidade.”
Só no CNO de Antuã estão atualmente em processo de reconhecimento para o ensino secundário mais de 600 adultos e quase duas centenas estão inscritos ou em fase de diagnóstico.
Aproveitei a oportunidade que não tive antes
Cremilde Cerqueiro
54 anos
Com o diploma na mão e o portfólio de quase 400 páginas pousado sobre a mesa e que vai folheando orgulhosamente, Cremilde Cerqueiro começa por confessar o quanto esta sala da Escola Secundária Gil Vicente (Lisboa) lhe diz. “Foi aqui que comecei o meu processo [de reconhecimento, validação e certificação de competências], com as aulas de computador.”
Na verdade, Cremilde, nascida em Gomes Aires, concelho de Almodõvar, sempre se sentiu bem na escola. Gostava de ler e de saber os rios, os afluentes e as serras. Se os estudos foram interrompidos ao fim de apenas quatro anos não foi por vontade própria. “O meu pai disse-me que eu não podia continuar a estudar, por dificuldades económicas. Hoje, à distância, acho que foi uma mera desculpa. Ele não queria que uma menina de 11 anos fosse para a escola em Beja”, recorda.
Tal como muitas outras raparigas da sua idade que viviam no campo, também Cremilde estava destinada a ajudar na agricultura, a tratar de galinhas, porcos e ovelhas e a criar os irmãos. “Ceifei, mondei, apanhei azeitonas e bolotas. No campo, o trabalho nunca para. Não se pode dizer aos animais: ‘Toma lá 500 escudos e vai ao restaurante almoçar’.”
Aprender coisas novas
Apesar da “mágoa” de não ter podido continuar a estudar, confessa que eram tempos “engraçados, muito saudáveis”, rodeados de “natureza e ar puro”.
Durante anos continuou a trabalhar no campo, mas, aos 18, Cremilde conseguiu continuar a estudar um bocadinho mais. Dessa vez acabou o ciclo preparatório. “Aprendia-se em casa e, em março, propúnhamo-nos a exame. Como as explicações eram muito caras – custavam 300 escudos – eu pagava com limpezas ao fim de semana em casa de um dos explicadores, que era primo do meu pai.”
Pouco tempo depois, Cremilde vem para Lisboa. Teve vários empregos, que foi sempre conciliando com mais cursos: estudou francês, dactilografia, contabilidade, estenografia. Em 1983 entrou como rececionista para a Maconde (empresa de confeções), onde ficou “23 anos e 10 meses”. Até ao dia em que a empresa foi comprada e não quis “pessoas com mais de 40 anos”, diz. Cremilde tinha então 52.
Passou por “dois meses complicados”, depois “arregaçou as mangas”. “Quero aprender coisas novas e, sobretudo, quero continuar a trabalhar. Considero-me muito nova para não fazer nada. é assim que me sinto. Mas no mercado de trabalho sou uma velha. A experiência não conta para nada.” Até agora, só conseguiu uma requisição, já terminada, para a Junta de Freguesia de Santa Engrácia, onde trabalhou nas áreas de reabilitação urbana e apoio social a crianças e idosos.
No programa Novas Oportunidades, que viu anunciado na televisão, inscreveu-se pelo “gosto” que sempre teve em estudar e aprender, mais do que por acreditar que vai conseguir um emprego. Afinal, a única “discriminação” que sentiu nas respostas a anúncios de trabalho foi por causa da idade e nunca pelas habilitações.
“Profissionalmente não creio que me vá ajudar. Com 54 anos, não é por ter agora o 12.º que vai mudar. Simplesmente aproveitei a oportunidade que me deram agora e que não tive antes.”
Fez o processo equivalente ao 9.º no ano passado e, por ter “um percurso de vida e capacidades que o permitiam”, explica Maria Callapez, técnica profissional no centro Novas Oportunidades da Escola Gil Vicente, seguiu para o reconhecimento de nível secundário. Cmeçou em abril deste ano, concluiu em julho. “Considero uma vitória e uma grande alegria”, diz Cremilde, rejeitando as críticas sobre um alegado “facilitismo” do processo.
“Muitas pessoas dizem: ‘Sabes trabalhar com um trator? Vais lá [ao CNO] e dão-te o certificado’. Não é assim. é um processo muito trabalhoso, para o formando e para o formador. Sei que nalguns sítios não são exigentes. Aqui são”, garante quem nunca tinha feito “tantas diretas” na vida como durante este processo. “Não vimos só validar competências, também aprendemos”, reforça.
Escreveu muito (“hoje em dia já não se escreve uma carta, telefona-se”), aprendeu noções básicas de inglês a passou a dominar a informática. Hoje, é com toda a facilidade que prepara uma apresentação em powerpoint. E como “nunca se sabe tudo”, os projetos futuros passam por entrar num curso superior de Psicologia ou Direito.
O que estudei dava para ter feito dois cursos superiores
António Vassalo Abreu
58 anos
António Vassalo Abreu, presidente da Câmara Municipal de Ponte de Barca, garante que nunca teve qualquer espécie de complexo por, até há uns meses, não ter mais do que o 9.º ano como habilitação e ser o único não licenciado do executivo autárquico.
Num país que tanta importância dá aos “títulos”, assegura que é o primeiro a dizer que não é “doutor nem engenheiro” a quem o trata assim. “Então estás a expor-te a uma coisa destas?”, chegaram a perguntar-lhe quando anunciou que ia regressar à escola.
Com uma carreira completa na Direção-Geral dos Impostos, Vassalo Abreu explica que não tem nada a provar. “Digo isto sem falsas modéstias. Sei que não sou doutor nem engenheiro, mas tenho um percurso de vida cheio. Fui chefe de finanças em Braga, participei no grupo de trabalho que reformou o imposto sobre o rendimento, tenho o curso de formação de formadores e fui eleito presidente da câmara porque o povo votou em mim e entendeu que eu tinha competência.”
Por isso, afirma que não foi em seu proveito que se inscreveu num Centro Novas Oportunidades em Caminha, mas antes para dar o exemplo. “Foi um bocado por incentivo aos próprios trabalhadores da câmara. Andei por lá quase um ano. Ia todas as semanas. às vezes, em casa, quando dava por mim eram três da manhã e ainda estava agarrado ao computador”, recorda o autarca.
Em março recebeu o diploma de 12.º ano das mãos da ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues e a sua história foi contada nas páginas dos jornais. Não imaginava que o seu caso se tornasse tão “mediático”, mas acabou por cumprir o objetivo principal. Hoje, são mais de 20 os funcionários da autarquia inscritos no programa Novas Oportunidades, revela.
“São cerca de 10 por cento dos trabalhadores. Isto é excelente, porque vai melhorar as capacidades deles e a prestação de serviços da câmara.” A verdade, continua, é que “existem técnicos altamente qualificados, nas mais variadas profissões, e que são preteridos no acesso às carreiras por não terem o diploma. Isto são mesmo novas oportunidades”, sustenta o autarca socialista.
Ir para a universidade
No seu caso, os estudos foram interrompidos depois de concluir o curso geral de comércio (equivalente ao 9.º ano). “Eu era o mais velho de cinco irmãos. E quando a minha irmã teve de ir para o colégio eu tive de deixar de estudar. O dinheiro não chegava para todos. Naquela altura, o curso geral de comércio era uma porta aberta para tudo.”
Concorreu à Direção-Geral dos Impostos, entrou para os quadros e não foi a falta de habilitações que o impediu de progredir sem parar, até chegar a perito tributário de 1.ª classe. Garante que o que estudou para subir na carreira “dava para ter feito dois cursos superiores”. Quando tinha alguma dúvida e falava com o irmão, professor de Direito na Universidade de Coimbra, era de igual para igual que trocavam ideias sobre direito das obrigações ou justiça fiscal.
Quanto ao futuro, Vassalo Abreu pode não saber se quantos anos mais vai durar a sua “comissão de serviço” na política. Mas tem a certeza que, mais cedo ou mais tarde, vai estudar para a universidade.
Cartão Eletrónico em todas as escolas vai custar ao Estado 48 milhões de euros
Público | 2008-08-22
A generalização do Cartão Eletrónico e o Centro de Apoio Tecnológico às Escolas vão custar ao Estado cerca de 48 milhões de euros, de acordo com duas resoluções publicadas ontem no Diário da República.
Um dos documentos prevê a aquisição dos serviços e bens necessários à infra-estrututração do sistema do Cartão Eletrónico da escola para os estabelecimentos de ensino com 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e com ensino secundário, por um período de quatro anos, até ao valor máximo de 18 milhões de euros.
O Cartão Eletrónico, que entrará em funcionamento nas escolas públicas a partir do próximo ano letivo, permite controlar as entradas e saídas dos alunos, suprimir a circulação de dinheiro no recinto escolar, consultar o processo administrativo do aluno, o percurso académico, entre outros.
No âmbito do Plano Tecnológico da Educação, o Ministério da Educação está a apetrechar os estabelecimentos de ensino com um conjunto de equipamentos informáticos, com o intuito de melhorar as aprendizagens e a eficiência da gestão escolar. Para dar apoio técnico especializado na gestão dos equipamentos será criado o Centro de Apoio Tecnológico às Escolas.
Segundo a resolução, a aquisição dos serviços necessários ao desenvolvimento e operação deste centro, pelo período de quatro anos, será no máximo de 30 milhões de euros.
As duas resoluções preveem a realização de concurso público internacional.
O Plano Tecnológico da Educação pretende colocar Portugal entre os cinco países europeus mais avançados ao nível de modernização tecnológica de ensino.
Organizações não governamentais querem escola e livros grátis para todas as crianças
Público | 2008-08-22
Em setembro, o novo Plano Nacional de Ação para a Inclusão será entregue pelo Governo português à Comissão Europeia
A escolaridade obrigatória deve ser realmente gratuita, o que implica que os materiais necessários para a frequentar também devem ser grátis. O combate ao racismo e à discriminação que atingem os imigrantes, os deficientes, os sem-abrigo e os doentes mentais tem que ser uma prioridade. Os ciganos não podem voltar a ser esquecidos.
Estas recomendações são do Fórum Não Governamental para a Inclusão Social. E têm na mira o novo Plano Nacional de Ação para a Inclusão (PNAI), no qual o Governo tem trabalhado nos últimos meses.
O PNAI é o documento estratégico onde cada estado-membro da União define as prioridades e as metas do país relativas à inclusão social. A avaliação do Governo sobre a execução do plano que esteve em vigor entre 2006 e 2008 ainda não foi divulgada. Mas os estados-membros têm até setembro para entregar à Comissão Europeia a sua nova estratégia para 2008-2010.
Para já, a avaliação do Fórum de organizações não governamentais (ONG), que acompanha a aplicação desde plano, não é positiva, segundo um documento divulgado pela estrutura, que reúne meia centena de ONG. O PNAI 2006-2008, dizem, é um instrumento “absolutamente desconhecido da maioria da população”.
“Particularmente preocupante” é “a escassez de meios, financeiros e humanos, da coordenação nacional do PNAI”, continua o Fórum. Que lembra que este plano “revelou-se despido de um efetivo quadro financeiro estratégico” – na prática, o documento é um apanhado de medidas, de diferentes ministérios, nem sempre acompanhadas de informação sobre os recursos financeiros que lhes estão afetados.
Sobre as medidas concretas e a sua aplicação, as ONG consideram “preocupante” que não se tenha dado prioridade às minorias étnicas. E dizem que o combate à pobreza entre os idosos (definida como uma das prioridades tanto no PNAI em vigor como no que vai ser ainda aprovado) tem de ir além do “carácter assistencialista” que marcou os últimos anos – pelo que devem ser tomadas medidas que de facto melhorem a qualidade de vida dos mais velhos e que tenham em conta que o perfil desta população está a mudar. Propõe-se, por exemplo, a promoção do turismo sénior e acesso a formas de trabalho a tempo parcial.
A luta contra a pobreza infantil (outra prioridade do Governo) tem de ser combatida de forma mais eficaz, afirmam ainda as ONG. O que passa por promover o acesso dos pais ao mercado de trabalho e garantir o acesso dos mais novos “a uma educação efetivamente gratuita”, por exemplo.
Ainda de olhos postos no novo documento (nenhuma proposta de novo PNAI apresentada pelo Governo foi até agora discutida com o Fórum), as ONG lembram que não está previsto que a “melhoria da qualidade do emprego” seja uma prioridade, mas sugerem que seja. E notam que a taxa de pobreza entre os adultos empregados em Portugal era em 2006 de 11 por cento, contra uma média na União de oito por cento.
Finalmente, sublinham que há uma série de grupos de população que necessitam de “capacidade de põr em marcha medidas e mecanismos de emergência que garantam condições primárias e mínimas de intervenção”.
Educação terá investimento de 400 milhões de euros nos próximos sete meses
Público | 2008-07-30
“São 400 milhões de euros que vamos investir nas escola portuguesa”, afirmou José Sócrates, durante a cerimónia de apresentação do “Computador Magalhães”, o primeiro computador portátil com acesso à Internet que será fabricado em Portugal.
Um dos projetos, adiantou, visa a instalação de Internet em todas as salas de aula. Além disso, irá ser aumentada a velocidade da banda larga nas escolas para um mínimo de 48 megabites por segundo.
O Governo pretende também, segundo o primeiro-ministro, instalar uma rede de vídeo-vigilância nas escolas para aumentar a segurança e pretende criar um novo cartão estudante, “para acabar com o dinheiro nas escolas”. “O maior investimento nos próximos sete meses será na Educação”, salientou.
Crianças que entram para a escola vão receber um livro
Público | 2008-08-03
O Ministério da Educação vai oferecer um livro a cada criança que entrar para o primeiro ano de escolaridade, no início do próximo ano letivo, de modo a incentivar e criar hábitos de leitura desde o início.
A iniciativa, que surge no quadro do Plano Nacional de Leitura (PNL), irá oferecer um total de 115 mil livros por 7100 escolas até ao dia 28 de agosto. Só as crianças que entrarem este ano letivo para o 1.º ano do ensino básico terão direito à oferta.
Segundo disse à agência Lusa a escritora Isabel Alçada, coordenadora do PNL, este projeto “existe em vários países há muitos anos com resultado positivo”, estando já comprovado o sucesso para o desenvolvimento das crianças que convivem com a leitura “desde os seis meses até aos sete, oito anos”.
Com o livro será ainda oferecido um autocolante para que as crianças possam marcar o momento, preenchendo a data em que receberam o livro, quem os ajudou a ler pela primeira vez e quando conseguiram ler sozinhos. “Para além do simbolismo, pretendemos marcar o início de uma nova etapa para as crianças, que é o início da escola, de modo a que deem valor ao livro e à leitura”, explicou a escritora.
Leitura em Portugal em números
Público | 2008-07-24
Se as pessoas tiverem a prática da leitura, não a vão largar, defende Isabel Alçada, comissária do Plano Nacional de Leitura.
Porque é que, na sua opinião, a leitura é importante?
Isabel Alçada: A leitura é essencial no desenvolvimento cognitivo e afetivo, no conhecimento que as pessoas têm acerca do mundo. Durante algum tempo, pensou-se que bastava ensinar a ler e, depois, as pessoas liam por si, mas hoje vemos que não. é preciso um esforço continuado de acompanhamento das crianças ao longo de muitos anos. E os adultos têm uma participação muito importante no desenvolvimento dessa atividade, que tem de ser feita com gosto, prazer. Não pode desenvolvida com base numa imposição.
Qual é, na sua perspetiva, a relação dos portugueses com a leitura?
Hoje, os portugueses valorizam a competência da leitura. Segundo os resultados do Barómetro de Opinião Pública, há uma percentagem enorme de portugueses que dizem que a leitura é muito importante na vida das pessoas. O que acontece é que isto não corresponde a uma prática efetiva. Como, na verdade, a leitura é uma atividade simples para quem a domina, mas para quem não a domina e não a pratica no dia a dia não é tão simples, temos de unir esforços para ir mais longe e colocarmo-nos ao nível dos nossos parceiros europeus.
Face à importância crescente das novas tecnologias, considera que o livro vai ocupar um lugar no quotidiano futuro dos portugueses?
Não tenho dúvida nenhuma. Na nossa civilização, a evolução das sociedades tem demonstrado que o livro é um fenómeno extraordinário. As novas tecnologias têm sido outro fenómeno muito importante e que não me parece que seja concorrencial. Se as pessoas tiverem a prática da leitura, se conseguirem descobrir cedo na vida o prazer de ler, não o vão largar, porque tem uma utilidade inestimável.
Cada cabeça, sua leitura. Há quem suspire durante dias por uma intensa história de amor, mas também quem, numa só noite, se dedique à investigação de um crime elaborado. Nas páginas de um livro é possível encontrar um bilhete de avião que leva o leitor para outros destinos ou até mesmo uma máquina do tempo que lhe dá a conhecer quer o passado, quer o futuro. Este é, afinal, o prazer de ler que, em Portugal, apenas foi descoberto por alguns.
Segundo dados do Barómetro de Opinião Pública, um retrato das opiniões e atitudes dos portugueses em relação ao Plano Nacional de Leitura (PNL) e à leitura em geral, divulgado em abril de 2008, 58 por cento dos inquiridos afirmam gostar de ler. Esse número cresce de forma acentuada com o aumento da escolaridade e também são muitos mais (78 por cento) os que reconhecem que a leitura é importante para a sua vida.
Na opinião de Isabel Alçada, escritora e comissária do PNL, a leitura não é apenas importante, mas essencial. “Sem este domínio da competência, as pessoas não exercem plenamente a sua cidadania, porque não são capazes de pensar com base numa informação ampla ou aprofundada, de escolher e procurar aquilo que precisam para se esclarecerem.”
Lançado em setembro de 2006, o PNL tem como objetivo central elevar os níveis de literacia dos portugueses e colocar o país a par da Europa. Tendo como área de intervenção prioritária o ensino pré-escolar e básico, abrangeu no primeiro ano um milhão de crianças e jovens, em nove mil escolas e jardins de infância. “Houve uma muito rápida adesão e criou-se logo uma dinâmica a partir da ideia de ler todos os dias na sala de aula livros variados”, diz Isabel Alçada.
No entanto, o PNL também pretende chegar à casa das famílias portuguesas. Uma das estratégias passa pelo projeto Ler+ Dá Saúde, através do qual médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde recomendam a leitura de livros, revistas e jornais às pessoas que acompanham crianças em consultas nos centros de saúde. “O objetivo é que a família tenha em atenção esta dimensão do desenvolvimento e que estimule a criação de bons hábitos de leitura, ou os reforce”, explica.
Para Isabel Alçada, “o livro foi uma descoberta tão fantástica como a roda” e, embora o ideal seja estimular a leitura nas crianças desde os seis meses, a qualquer momento é possível cruzar-se com o prazer de ler. Mas é igualmente necessário um comportamento autónomo. O interesse por livros e publicações periódicas tem de ser desenvolvido individualmente e não por obrigação imposta pelos outros.
“Um verdadeiro leitor é a pessoa que descobriu a leitura, é capaz de ler um livro de fio a pavio e, quando chega ao fim, tem pena”, afirma a comissária. Dito isto, qualquer um de nós pode ser ou tornar-se num “verdadeiro leitor”, independentemente do sexo, da idade, da profissão ou da classe social. Basta abrir um livro e apaixonar-se por ele.
Entre os inquiridos do estudo A Literacia em Portugal, de 1996, 10 por cento encontravam-se no nível zero de literacia (total incapacidade para resolver tarefas de leitura, escrita e cálculo).
Nos Censos 2001, a taxa de analfabetismo situou-se nos 9 por cento.
No estudo A Leitura em Portugal (2007), elaborado pelo Observatório das Atividades Culturais, 44 por cento dos entrevistados consideraram que agora se lê mais do que há dez anos, mas 41 por cento afirmaram o inverso.
O estudo A Economia da Cultura e Atividades Culturais na União Europeia a 27, do Eurostat, divulgou, em outubro de 2007, que apenas metade dos portugueses leu um livro no último ano.
Em abril de 2008, o Barómetro de Opinião Pública (realizado pelo CIES – Centro de Investigação e Estudos de Sociologia) revelou que 78 por cento dos inquiridos reconhece a importância da leitura na sua vida.
Aga Khan dá 300 bibliotecas a escolas
Lusa | 2008-07-15
Ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos Silva, salientou o “simbolismo” desta parceria.
A Rede Aga Khan para o Desenvolvimento assinou ontem com o Governo português um protocolo de apoio ao Plano Nacional de Leitura (PNL), com a duração de três anos.
A rede apoiará 300 escolas do ensino infantil e pré-escolar através da compra, para as respetivas bibliotecas, de livros no valor de 150 mil euros. O protocolo é válido, nos mesmos termos, para 2009 e 2010 e visa apoiar a primeira infância, uma das preocupações de Aga Khan, líder espiritual dos ismailitas, que está a terminar a celebração do seu jubileu de ouro no cargo.
Na cerimónia, o ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos Silva, salientou o “simbolismo” desta parceria com a Fundação Aga Khan e afirmou que “um milhão de crianças beneficia da intensificação de atividades ligadas ao PNL”. Nazim Ahmad, em representação da Fundação Aga Khan, com a qual foi firmado o protocolo, sublinhou que “a primeira palavra de Deus ao profeta Maomé foi ‘lê’ e que a promoção da literacia é central no islão.
Ministério da Educação celebra com empresas protocolo para criação de academias de tecnologias da informação
Público | 2008-06-30
As Academias TIC nas escolas são uma iniciativa do PTE.
A cerimónia, que decorre no Auditório VIII do Centro de Congressos de Lisboa, conta com as presenças da ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, e do coordenador do Plano Tecnológico da Educação (PTE), João Trocado da Mata.
Apple, Cisco, Linux, Microsoft, Oracle e Sun serão as primeiras academias a criar no âmbito do protocolo de colaboração, segundo o Ministério da Educação.
As Academias TIC oferecem formação extracurricular nas áreas de especialidade das empresas parceiras. Em setembro próximo, os professores das escolas abrangidas na primeira fase iniciam a formação para obter a certificação necessária para lecionar nas academias.
“O programa proporcionará aos alunos, aos docentes e aos não docentes o reforço e a certificação das suas competências, assim como um contacto privilegiado com algumas das maiores empresas tecnológicas do mundo”, realça o ministério.
As Academias TIC nas escolas são uma iniciativa do PTE, inserida no eixo da formação. “Uma das metas fundamentais deste plano é a de colocar Portugal entre os cinco países europeus mais avançados no âmbito da modernização tecnológica do ensino”, adianta o ministério.
Com um investimento de 400 milhões de euros, o PTE pretende equipar, até 2010, as escolas com 310 mil computadores, nove mil quadros interativos e mais de 25 mil videoprojetores.
E-escolas vai chegar a 380 mil alunos
Correio da Manhã | 2008-06-23
Programa de acesso à Internet e banda larga será alargado a todos os alunos entre o 7.º e 9.º ano de escolaridade.
O primeiro-ministro, José Sócrates, anunciou ontem que no próximo ano letivo o programa de entrega de computadores portáteis e acesso à banda larga será alargado a todos os alunos entre o 7.º e 9.º ano de escolaridade, o que irá abranger 380 mil alunos dos ensinos público e privado.
José Sócrates falava na cerimónia de entrega do computador 200 mil, no âmbito do programa E-escola, na Escola Profissional Gustave Eiffel (Amadora), na qual também estiveram presentes os ministros da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, e o das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, Mário Lino. “Muitas destas pessoas só poderiam ter computador daqui a uns anos e o Governo antecipou-lhes essa entrega”, apontou o chefe do Governo.
“A Ler Mais” com 32 escolas inscritas em 2008/2009
Público | 2008-06-22
Baseado no programa Reading Connects, do National Reading Trust, do Reino Unido, o projeto português será posto em prática em escolas dos ensinos pré-escolar, 1.º, 2.º e 3.º ciclos.
Alunos de 32 escolas, professores e famílias vão começar no próximo ano letivo “A Ler Mais”, uma proposta do Plano Nacional de Leitura (PNL), da Rede de Bibliotecas Escolares e da Direção-Geral do Livro e das Bibliotecas. Baseado no programa Reading Connects, do National Reading Trust, do Reino Unido, o projeto português será posto em prática em escolas dos ensinos pré-escolar, 1.º, 2.º e 3.º ciclos.
Alexandra Marques, coordenadora deste projeto, disse que o objetivo é “criar uma filosofia de trabalho para a promoção da leitura e do prazer de ler não confinada à biblioteca e da sala de aula”. Para a criação de uma cultura de leitura, diz Marques, é preciso alargar a leitura a outras disciplinas que não só a Língua Portuguesa, e para além das obras dos grandes autores da Literatura: “é também o acesso à leitura através dos jornais, das revistas e dos sites para chegar aos mais novos”.
Ao cargo do PNL fica a disponibilização de livros, em suporte digital e papel. Nas escolas, serão criadas equipas locais, que vão coordenar as atividades e servirão de “interlocutores” do PNL.
Plano Tecnológico da Educação: Sócrates quer escolas “na linha da frente”
Correio da Manhã | 2008-06-16
Executivo proferiu estas declarações em évora.
O primeiro-ministro, José Sócrates, traçou esta segunda-feira o objetivo primordial de colocar os estabelecimentos de ensino públicos portugueses na “linha da frente” tecnológica, que revelará os primeiros resultados a partir do próximo ano, em virtude de um investimento global de 400 milhões de euros.
De acordo com José Sócrates, até agora, no que respeita ao desenvolvimento tecnológico de Portugal, as escolas públicas não têm acompanhado esse desenvolvimento, sendo o mesmo visível apenas mais tarde. Deste modo, o chefe de Governo estabelece como meta, no âmbito do Plano Tecnológico da Educação (PTE), “que a escola pública em Portugal esteja na linha da frente do desenvolvimento tecnológico”.
O executivo proferiu estas declarações em évora, na Escola Secundária André Gouveia, com mais de 600 alunos e é uma das escolas nacionais com projetos-piloto integrados no PTE.
Cultura de exigência é a única solução
Jornal de Notícias | 2008-06-19
Saias de estudo preparam alunos para nível de competência que ultrapassa os critérios de rigor que transparecem das provas de aferição feitas no Básico.
Marcela Seabra, professora de Matemática e orientadora num dos estabelecimentos Mathnasium – um franchising de “ginásios” da disciplina – do Porto, divide-se entre o elogio do sistema que promove e o ceticismo em relação à estratégia oficial, feita em nome das estatísticas: “Querem números e têm de facilitar”.
Falando em “ilusão” quando questionada sobre o real valor das provas de aferição, escuda-se na praxis quotidiana para justificar as reticências. “Vi o que os alunos me trouxeram e, comparando com o que fazem no dia a dia, vejo que não é nada de especial”, diz, acrescentando que também os exames do 9.º ano não deverão ser “nada de extraordinário”, atendendo ao anseio de apresentar indicadores de sucesso.
Muito procuradas, estas salas de estudo proporcionam (a quem pode) o complemento necessário às eventuais carências do sistema de ensino (mais facilitador no privado do que no público, segundo a docente). O próprio sistema ali utilizado existe, justamente, em função dessas limitações. Explica Marcela Seabra que, quando admitem um aluno, testam-no em função dos conhecimentos que teria de ter dois anos antes, encontrando sempre muitas falhas.
Carla Branco, mãe de uma aluna do 4.º ano que teve Bom na prova de aferição, diz que a frequência do Mathnasium deu à filha “muita mais confiança” na Matemática, “depois de um ano em que “teve algumas dificuldades”. Já o Vasco ficou pelo equivalente a “Satisfaz”, no teste do 6.º ano, que, tal como sucedeu na prova de Português, cumpriu sem sobressaltos: “Pensava que era mais difícil”. Vanda Serrano, a mãe, opta por salientar a circunstância de o Vasco ter adquirido, na sala de estudo, “outra perspetiva para ver a Matemática”.
Fica a imagem da baixa exigência, também noutros níveis de ensino. A Catarina, frequentadora do Mathnasium que ontem tinha feito o exame de Português do 9.s ano, estava surpreendida com a facilidade da prova: “Mostrei a um aluno do 7.9 ano, que fez tudo bem, exceto a parte d’Os Lusíadas”.
Medidas em curso
Plano de Ação para a Matemática semeia euros para colher notas
Nove milhões de euros surgem à cabeça, quando o Governo apresenta o Programa de Ação para a Matemática, lançado em dezembro de 2006 para melhorar o ensino e combater o insucesso. O orçamento geral, sonante, ainda não traduz investimento feito. Segundo o relatório de execução emitido em abril último, foram transferidos para as escolas perto de 2,6 milhões, aplicados, especialmente, em materiais tidos como “essenciais para promover o sucesso”, como software adequado à disciplina, materiais manipuláveis ou livros.
O plano divide-se em cinco ações, sendo a primeira, por implicar investimentos de peso e materiais tecnologicamente avançados, a que mais dá no olho. São os alunos envolvidos (395 mil), os professores de Matemática envolvidos (9036), outros professores envolvidos (68 548). No papel, assiste-se a um envolvimento que aparenta ser total, colorido com 1628 quadros interativos colocados em escolas, a par de 365 projetores de vídeo ou 428 computadores de secretária.
As outras ações são menos vistosas: promover a formação continua em Matemática para professores de todos os ciclos do Ensino Básico e do Ensino Secundário; novas condições de formação inicial dos professores e de acesso à docência; proceder ao reajustamento e às especificações programáticas para a Matemática em todo o Ensino Básico; proceder à avaliação dos manuais escolares de Matemática para o Ensino Básico. No fim, dizem os entendidos, provas de aferição fáceis mostram o êxito.
O seu filho vai comer sopa e fruta hoje ao almoço?
Público | 2008-05-20
Com os chocolates ou as batatas fritas a imporem-se na dieta alimentar dos mais novos, o Ministério da Educação assina protocolo para travar a obesidade entre as crianças.
Por muito boa que seja a sopa de legumes da escola, as crianças preferem os croissants, os chocolates, as batatas fritas que comem em casa ou no café. São alimentos que cativam os olhos e fazem as delícias das papilas gustativas, mas que podem estar a contribuir para o aumento do número de crianças com excesso de peso ou obesas. Há nutricionistas e dietistas a fazer ementas para que as crianças nas escolas tenham uma alimentação correta e saudável.
As refeições são boas, garante o Ministério da Educação, que ontem assinou um protocolo com a Nestlé, com o objetivo de promover hábitos alimentares saudáveis e a prática de exercício físico. Nos últimos anos, a tutela tem estabelecido protocolos com a indústria alimentar também com o objetivo de melhorar a oferta desses produtos nas escolas, revela Luís Capucha, diretor-geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular.
Certo é que os estudos que vão sendo feitos preocupam: Portugal ocupa um dos lugares cimeiros na taxa de prevalência da obesidade, entre países europeus e da América do Norte. Está em oitavo lugar, com 15 por cento das crianças entre os dez e os 16 anos com excesso de peso e obesos. O estudo sobre obesidade nas crianças, de 2004, aponta que há 20,3 por cento de crianças entre os sete e os dez anos com excesso de peso e 11,3 são obesas, um total de 31,5 por cento. Valores que podem crescer, alertam os especialistas. E você, sabe onde o seu filho vai almoçar hoje?
Provavelmente, os pais dos mais pequenos, os que frequentam o 1.º ciclo, sabem responder a esta pergunta. A maioria das escolas públicas oferece refeições quentes e completas, com direito a sopa e a sobremesa. é a partir do 5.º ano que os meninos se sentem crescidos o suficiente para decidir se comem na cantina, onde uma refeição completa pode não ultrapassar os dois euros; ou no bar da escola, onde há folhados, rissóis, chocolates, baguetes mistas ou de frango. à medida que vão crescendo, as ofertas começam a ser mais e o almoço pode ser feito em qualquer sítio, menos na cantina. Um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, de 2005, sobre um universo de 50 escolas de 2.º e 3.º ciclos do Porto, mostra que os alunos consomem um terço dos alimentos nas escolas.
Comem melhor na escola
A solução pode ser fechar o bar e manter só o refeitório a funcionar; impedir a saída da escola à hora do almoço; ou envolver os alunos na escolha da ementa, sugere Eduarda Alves, dietista do Hospital S. Francisco Xavier, em Lisboa. Pode passar também por ter uma oferta mais saudável nas máquinas refrigeradas que, normalmente, disponibilizam alimentos altamente calóricos, propõe José Camolas, nutricionista.
O Ministério da Educação iniciou, há alguns anos, um programa de generalização das refeições escolares no 1.º ciclo que chega a “praticamente todos” os concelhos, afiança Luís Capucha, do ministério. “Tenho defendido que, apesar de tudo, em média é nas escolas onde as crianças comem melhor”, declara. Para muitos, o almoço é a primeira refeição que comem no dia; para outros é a primeira refeição “saudável” que fazem, acrescenta. Segundo um estudo publicado há um ano, a maioria das crianças come bolachas e batatas fritas, e bebe leite com chocolate ao pequeno-almoço, revela o trabalho do Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz. Apenas 12,4 por cento de um total de 27.500 crianças, entre os seis e os dez anos, fazem um pequeno-almoço saudável, mas não inteiramente, porque ingerem açúcar.
“Em casa a alimentação não é saudável ou porque as famílias não têm tempo ou porque não sabem”, diz Luís Capucha. Há também um problema económico, ressalva Cristina Padez, professora de Antropologia da Universidade de Coimbra e autora do estudo nacional sobre obesidade infantil, de 2004. A especialista lembra que os preços dos alimentos são decisivos, as famílias optam por alimentos mais calóricos, porque são mais baratos.
Na escola, os alunos comem melhor porque os menus são idealizados por nutricionistas que procuram promover uma alimentação saudável, reforça o governante. Para as empresas de restauração que servem refeições, o caderno de encargos é gigantesco e pormenorizado sobre o que se deve ou não consumir. Quanto às escolas que fazem a gestão direta dos refeitórios, o ministério limita-se a emitir orientações. Nada é proibido, diz Capucha. “Não vale a pena diabolizar certos alimentos, a abordagem deve ser mais empática e pedagógica”, defende.
Os programas de educação alimentar podem fazer a diferença, acredita Ana Leonor Perdigão, nutricionista e responsável pelo programa Apetece-me da Nestlé (http://www.apetece-me.pt/), que faz chegar às escolas informação e materiais pedagógicos. O programa existe desde 1999, já abrangeu 500 mil alunos do 1.º e 2.º ciclos, vai agora chegar aos do 3.º.
Experiências
Países defendem-se da junk food.
– A qualidade da comida servida nas escolas inglesas entrou nos programas eleitorais dos candidatos a primeiro-ministro e levou, em 2005, à definição de requisitos nutricionais mínimos a cumprir nas ementas. Frutas e vegetais passaram a ser obrigatórios. Batatas fritas, refrigerantes com gás e chocolates ficaram na lista dos produtos proibidos.
– Na Finlândia é costume os jornais regionais publicarem a ementa que na semana seguinte vai ser servida nas escolas, para os pais estarem a par da sua composição.
– As máquinas de venda automática de comidas e bebidas foram banidas das escolas francesas. Muitos estabelecimentos de ensino têm um nutricionista, que trabalha em articulação com a associação de pais.
– Os alunos norugueses levam a comida de casa, geralmente sanduíches; a escola serve leite, iogurte e fruta. O intervalo para almoço dura meia-hora e os estudantes não saem da sala de aula.
EUA proibiram anúncios na televisão a doces, mas há leite açucarado nas escolas
A princípio, o problema foi o problema ter sido ignorado – durante quase duas décadas, os jovens nos Estados Unidos engordavam mais e mais e ninguém pareceu reparar. Mas desde que o alarme soou no fim da década de 1990, o problema tem sido outro, a reação do país: uma resposta descontinuada e pouco clara que, dizem os críticos, sofreu particularmente pela inadequada direção e uso dos dólares ao nível federal.
“O sentido desta prioridade nacional simplesmente não é abrangido”, disse Jeffrey P. Koplan da Universidade de Emory e diretor do Instituto Médico para o estudo da obesidade infantil, de 2004. A recomendação principal desse relatório determinante era que o Governo formasse uma equipa de alto nível e interdepartamental para conduzir a uma resposta coordenada – essa equipa não chegou a ser composta.
Isso contrastou com a ofensiva que foi montada nos países europeus: em França, alertas à saúde foram articulados nos anúncios televisivos de alimentos; os responsáveis espanhóis chegaram a acordo com os líderes da indústria alimentar para impor um mais apertado sistema de rotulamento dos produtos, juntamente com a redução de gorduras, sal e açúcar nos alimentos processados.
A Grã-Bretanha foi mais longe ainda – proibiu os anúncios de comida na televisão, principalmente dirigidos às crianças, e retirou doces e refrigerantes das escolas. 85 por cento dos alunos têm, pelo menos, duas horas de educação física por semana – o objetivo para 2011 são cinco horas. Os primeiros sinais do problema nos EUA apareceram no fim da década de 1970, quando os números da obesidade, que tinham estabilizado durante anos, começaram a aumentar. Em retrospetiva, refletiam mudanças sociais, tecnológicas e políticas que transformaram a geração mais nova na mais pesada de sempre.
Os responsáveis federais defendem a sua ação, afirmando que trabalharam “determinada e estavelmente” nos últimos oito anos para combater a obesidade. As iniciativas específicas de combate à obesidade incluem campanhas de educação pública na Internet, anúncios nos serviços públicos, novos planos de dietas e pela primeira vez – chegam no outono – novos programas para as atividades físicas.
Falta pressão
O Presidente George W. Bush agiu, muitas vezes, em direções contraditórias. Por um lado, lançou um projeto para tornar a população mais saudável, em 2002 – o HeathierUS -, por outro, já tentou acabar com os esforços apontados para as crianças e jovens obesos. Os críticos dizem que a Casa Branca não impulsionou a questão muito para além da responsabilidade pessoal e afirmam que a Administração e os legisladores não estão a pressionar agressivamente a indústria alimentar para alterar as suas políticas.
Só em dezembro de 2007 o Departamento da Agricultura (USDA, na sigla original) modificou o programa de nutrição para as mulheres, bebés e crianças para apoiar as famílias com baixos rendimentos a comprarem produtos frescos e outros produtos. O programa do USDA dos pequenos-almoços na escola continua a vender leite gordo e leite açucarado com sabores. “Está patente um conflito de interesses na USDA”, disse Kelly Brownell, da Universidade de Yale, que fundou o Centro Rudd para as políticas alimentares e de obesidade. “A sua principal função é promover a agricultura e os alimentos e só depois pensam em estabelecer políticas nutricionais.”
Foi proposto, no Congresso, que a Comissão Federal do Comércio (FTC) obrigasse as companhias alimentares e de bebidas a apresentarem um relatório com os detalhes das suas atividades e custos do marketing dos produtos direcionados aos jovens – um relatório deve ser emitido no outono. Qualquer que seja a recomendação da Comissão, não irá para além da autorregulação. Três décadas depois da proposta da FTC que proibiu os anúncios a doces na televisão – que poderiam causar problemas dentários -, estes continuam severamente restritos, mas noutros circuitos é permitido que se imponham.
McDonald’s, 1 – Cantina, 0
Para perceber o que almoçam os alunos da Escola Secundária de fontes Pereira de Melo, no Porto, o melhor é ir… ao McDonald”s mais próximo. Ou ao café. Ou ao supermercado das redondezas. Ou ainda ao próprio bar da escola, onde os funcionários servem cachorros, bolos, sanduíches americanas e mistas a uma velocidade relâmpago. Dos cerca de 700 alunos diurnos desta escola, não chegam a 100 os que optam por almoçar na cantina. “é difícil contrariar o McDonald”s”, diz Ana Alonso, vice-presidente do conselho executivo, garantindo que, claro, a escola procura sensibilizar os alunos e tudo o mais, mas que, infelizmente, “é difícil contrariar hábitos instalados”.
Na cantina, há mais lugares vazios do que ocupados. Nos tabuleiros, repetem-se o esparguete à bolonhesa do dia, sopa, salada de alface, cenoura e couve-rocha, uma laranja ou maçã para sobremesa. “A sopa, por acaso, é boa, mas na comida às vezes põem muito sal”, queixa-se João Ferreira, de 15 anos. “As maçãs estão quase sempre todas tocadas. é preciso andar a escolher as melhores”, diz Fábio André, da mesma idade. Porquê almoçar na cantina, então? é muito mais barato, dizem vários estudantes, e por vezes têm menos de uma hora para o almoço. E assim vão à cantina, apesar de a comida ser “repetitiva” e de a variedade, diz uma aluna do 10.º ano, ser servida em forma de “hambúrgueres cheios de óleo”.
Pior seria se o conselho executivo não vigiasse com zelo de inspetor as ementas propostas pela empresa fornecedora das refeições. “A empresa foi selecionada pela DREN [Direção Regional de Educação do Norte] e a ementa é feita por uma nutricionista, mas, muitas vezes, é a escola que chama a atenção para o facto de repetirem pratos ou servirem pouco peixe. às vezes, também abusam dos enlatados e dos congelados, como atum ou rissóis. Felizmente, a empresa costuma aceitar as nossas sugestões”, diz Alonso.
De volta à cantina, o presidente da associação de estudantes, Bruno Monteiro, faz uma visita guiada para mostrar os problemas. O forno está avariado desde o início do ano. “A escola já mandou vários ofícios à DREN, mas parece que não há dinheiro.” A máquina de descascar batatas está avariada; os carrinhos de guardar os tabuleiros têm os suportes estragados, fazendo com que a louça suja se estatele no chão e o teto pinga em dias de chuva intensa. “é pena a ASAE não vir a estes sítios”, desabafa.
Seguindo pelos corredores da escola, descobre-se uma máquina de café e outra de refrigerantes. Máquinas de vender comida, nenhuma. Mas isso não significa que não haja junk food dentro da escola. Ao contrário: no bufete, que está aberto à hora de almoço, há filas de alunos à espera de cachorros. E a algazarra que faltou na cantina ouve-se agora aqui, entre refrigerantes, bolos, sanduíches e gelados. “A escola começou o ano letivo a servir 150 refeições por dia e agora raramente chega às 100”, contabiliza Bruno, para concluir que “a culpa também é da DREN”.
Operação de charme chama e forma jovens para trabalharem na indústria
Público | 2008-05-19
O programa público-privado Pense Indústria movimenta 26 mil estudantes do ensino básico. Prémios para os melhores projetos desenvolvidos pelos alunos são hoje entregues.
Pense, logo escolha. O mote poderia ser esse. O objetivo, até é. A indústria portuguesa quer convencer os jovens a optar por formação profissional em áreas tecnológicas, contornando a ideia, existente entre adolescentes e, principalmente, entre pais, de que algumas destas profissões implicam trabalho pesado, pouco higiénico e mal pago.
Num país ainda a precisar de doutores, há também muito espaço para mão de obra qualificada noutras áreas, e foi para isso que nasceu o Pense Indústria (PI), um programa que é uma espécie de operação de charme e que este ano envolveu 26 mil alunos do ensino básico.
Diogo Leitão tem 14 anos, adora matemática e quer seguir engenharia. João Pacheco, 15 anos, gosta tecnologias de informação e comunicação (TIC) e para o próximo ano letivo pretende seguir um curso tecnológico de informática.
A turma dos dois alunos, do 9.º ano da Escola Secundária Boa Nova de Leça da Palmeira, vai de quinze em quinze dias ao Centro de Apoio Tecnológico à Indústria Metalomecânica (CATIM) do Porto para participar em ações de formação integradas no programa Pense Indústria, que hoje entrega em Lisboa, no CCB, os prémios para os melhores projetos desenvolvidos por estudantes.
As aulas são orientadas por diferentes formadores e os temas variados: vão desde à robótica e programação até às questões de higiene e segurança no trabalho. Na sessão que o Público acompanhou, falou-se sobre condutores de energia e executaram-se experiências práticas que cativaram a atenção dos alunos do 9.º B. “Esta é uma das ideias do projeto, põr os alunos a mexer nos materiais e a experimentar”, explicou Ana Azevedo, formadora do CATIM, que faz parte da Associação dos Centros Tecnológicos de Portugal, entidade que coordena há dez anos este projeto público-privado.
“Os centros tecnológicos são os grandes interessados em ver a indústria a trabalhar com pessoal qualificado”, diz o coordenador do projeto, Gonçalo Lobo Xavier. O objetivo é mostrar “a indústria do século XXI”. “Ainda há franjas da sociedade que têm uma ideia errada da indústria”, afirmou.
O PI tem entrado em contacto com escolas do Norte ao Sul do país, organizando visitas de estudo às empresas, levando os alunos até aos centros tecnológicos – como aconteceu com a turma do 9.º B – ou os formadores às escolas. “Temos desde os melhores alunos até aos mais fracos. Por vezes os menos aplicados na escola chegam aqui e transformam-se”, descreveu Ana Azevedo. Da mesma opinião é a professora de Geografia da ES da Boa Nova, Maria Orlanda David, que acompanha os adolescentes ao CATIM: “Os alunos que têm mais dificuldade de concentração e comportamento chegam aqui e ficam mais empenhados.” O Governo pretende que, no próximo ano letivo, metade dos estudantes do secundário frequente cursos profissionais. Não será o caso desta turma de Leça da Palmeira. De vinte alunos, são poucos os que vão seguir a via tecnológica para o ano. Ainda assim, a maioria gosta muito do projeto. “Aqui aprendemos a prática, não damos isto na escola”, realçou Marco Santos.
Para o coordenador do projeto, é entre os 12 e 16 anos a melhor altura para sensibilizar os jovens. “Ao chegar às escolas é possível atingir o meio envolvente”, nota, assinalando que nos últimos dois anos o número de escolas que procuram o Pense Indústria aumentou 30 a 40 por cento. Uma avaliação do programa realizada pelo Instituto de Estudos Sociais e Económicos revelou que mais de metade dos participantes nestas ações “estão/estavam matriculados em cursos tecnológicos ou profissionais”. “Não se pode estabelecer uma relação de causa-efeito, mas o projeto pode influenciar as escolhas profissionais dos jovens”, admite Gonçalo Lobo Xavier.
Recet entrega prémios para estimular criatividade
Em 2002, o Pense Indústria (PI) começou a promover o concurso Isto é Uma ideia, que pretende premiar, anualmente, a capacidade dos jovens no desenvolvimento de novos projetos. As quatro melhores ideias deste ano letivo, cada uma delas ligada a ações levadas a cabo num centro tecnológico, já foram selecionadas e vão receber os prémios hoje, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, numa cerimónia em que participa o ministro da Economia, Manuel Pinho, e Francisco van Zeller, presidente da CIP.
“Procuramos estimular a criatividade em novos produtos e novos conceitos”, explicou o coordenador do PI, Gonçalo Lobo Xavier. “Empreendedorismo e defesa da propriedade industrial” são outras competências fomentadas pelo concurso, acrescentou, lembrando que o projeto vencedor de 2006, um curioso espremedor de citrinos integrado num azulejo para aplicação sobre o balcão de cozinhas, teve direito a registo da marca e do modelo. Este ano, da escola Camilo Castelo Branco, de Famalicão, veio a ideia de uma capa de tecido para cadeiras, com sensores capazes de avisar quando o utilizador se encontra numa postura incorreta. Uma cruzeta extensível, adaptável a qualquer tamanho de roupa, é o produto concebido por alunos da Escola Básica Guilherme Stephens da Marinha Grande.
Já os alunos do 1.º ano da Escola Técnico Profissional de Cantanhede pensaram num compactador de lixo orgânico doméstico, enquanto os da Escola Básica Maria Manuela Sá, de São Mamede Infesta, criaram um sistema de aproveitar a água ainda fria que não utilizamos quando ligamos a torneira de água quente. Os quatro selecionados vão receber da Recet (Associação de Centros Tecnológicos de Portugal) vales de 400 euros em compras em lojas didáticas e o primeiro lugar recebe mais 500 euros.
Professores falam mais entre eles e dizem que isso está a ser bom para a Matemática
Público | 2008-05-08
Aulas de 90 minutos também estão a contribuir para uma melhor Matemática.
O ano passado, Catarina Ferreira, professora de Matemática, desde 1994, na escola secundária Braamcamp Freire, na Pontinha, arredores de Lisboa, falou com os professores da escola vizinha da sua e deslindou, assim, um “mistério”: descobriu a razão pela qual os alunos que chegavam ao 7.° ano mostravam habitualmente “grandes dificuldades em Geometria”. Na escola ao lado, um estabelecimento do segundo ciclo de onde vêm muitos dos seus alunos, os professores do 6.° ano muitas vezes não conseguiam chegar à parte da Geometria. Ou seja, os alunos chegavam ao 7.° ano quase a zero nesta matéria.
Ontem, sorridente, a docente contou a história no Centro Cultural de Belém, durante uma das sessões da Conferência Internacional sobre o ensino da Matemática, promovida pelo Ministério da Educação. Catarina Ferreira, que já colaborou em projetos do Gabinete de Avaliação Educacional (GAVE) e pertenceu à direção da Associação de Professores de Matemática, referiu que as conversas com os professores do segundo ciclo já lhe permitiram preparar o ano de estreia do terceiro ciclo de modo mais conforme às necessidades dos alunos. “Claro que já podia ter feito esse contacto, mas sabem como nós, os professores, somos tão distraídos”, comentou. Para ela, este contacto figura entre as mais-valias que já resultaram do Plano de Ação para a Matemática, lançado há dois anos pelo Ministério da Educação para melhorar o ensino da disciplina.
Principal conquista do PAM até ver, segundo ela e vários outros docentes: o trabalho em equipa entre professores. Desta colaboração recente resultaram muitos dos “exemplos de boas práticas” que mais de 140 escolas levaram ao CCB sob a forma de posters, onde dão conta do que estão a fazer, no âmbito daquele plano, para melhorar o ensino da Matemática. Sobressaem as parcerias entre docentes e disciplinas e as aproximações de carácter lúdico.
Uma pergunta que foi feita e ficou sem resposta: que implicações podem ter nos programas de Matemática os resultados da avaliação nesta disciplina? Com cerca de 650 participantes, na sua maioria professores, para a conferência que hoje termina foram convidados como conferencistas vários dos autores dos programas em vigor. Teresa Cassiotti, da direção da Sociedade Portuguesa de Matemática, que tem protagonizado as críticas aos atuais currículos, disse que a SPM não foi convidada. Joana Brocardo, coordenadora da conferência, garantiu o contrário.
Armando Machado, professor do Departamento de Matemática da Faculdade de Ciências de Lisboa, fortemente representada entre os conferencistas, apontou algumas opções do atual programa que, segundo ele, “parecem apontar para direções menos corretas”, que poderão estar a contribuir para “uma visão deformada, pouco organizada e empobrecida” da Matemática. Entre elas, figuram uma “perspetiva casuística dos conhecimentos matemáticos”, a “abordagem de assuntos de forma incompleta” e a “frequente desvalorização do cálculo”.
Para Henrique Guimarães, membro da equipa que elaborou o reajustamento do programa de Matemática para o ensino básico, que entrará em vigor em 2009, o novo currículo poderá vir marcar a diferença que falta.
Pela primeira vez, haverá em Portugal uma articulação com o primeiro ciclo, justificou.
Uma boa conquista para a Matemática, segundo Arsélio Martins, Prémio Nacional de Professores 2007: as aulas de 90 minutos.
Plano de ação para a Matemática: Formação chegou a 17 mil professores do 1.º Ciclo
Público | 2008-04-30
Dois anos após o lançamento do Plano de Ação para a Matemática (PAM), 12 mil professores do 1.º ciclo já frequentaram ações de formação nesta área, a que se juntam cinco mil que estão a fazê-lo este ano e ainda três mil dos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico. Foram distribuídos mais de mil quadros interativos e centenas de projetores de vídeo e computadores. E às escolas foi também autorizada a lecionação de mais dez mil horas dedicadas a esta disciplina, para além do currículo e dos apoios educativos previstos.
Ao todo, dos nove milhões de euros previstos para a execução do PAM ao longo de três anos, o Ministério da Educação investiu até agora 2,6 milhões de euros, num programa destinado a melhorar os resultados à disciplina e que envolve 395 mil alunos e mais de 77 mil professores.
Os números foram divulgados ontem pela ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, que, apesar do desaire nos exames nacionais do 9.º no último ano letivo (três em cada quatro alunos tiveram negativa na prova), se mostra confiante no impacto positivo do PAM. “Não há outra forma de ultrapassar as dificuldades de aprendizagem sem ser fazendo mais, estudando mais, trabalhando mais”, disse, sublinhando a importância da diversidade de recursos e estratégias, permitida pelo PAM, já que são as escolas que definem os planos de ação, estabelecem metas e pedem os recursos de que necessitam.
Quanto à entrada em vigor do novo programa de Matemática do ensino básico, já homologado, o secretário de Estado Valter Lemos adiantou que irá começar a ser testado no próximo ano letivo em algumas escolas.
O PAM deverá continuar para além da duração prevista e o modelo vai ser alargado já no próximo ano às disciplinas de Física e Química do secundário, anunciou a ministra.
Ensino da Matemática deve privilegiar questões básicas
Público | 2008-04-20
Decorar a tabuada faz desenvolver certas regiões do cérebro. E são fundamentais os automatismos, não apenas a compreensão.
Adversário das ideias “românticas” em educação, o famoso “eduquês”, Nuno Crato defendeu por que é importante saber matemática, decorar fórmulas e tirar partido de uma disciplina que, mesmo quando não a utilizamos no dia a dia, ajuda a organizar o pensamento. Para ultrapassar a crise, recomenda que estudemos as experiências de países que também estão a questionar os seus métodos de ensino.
Para alguém que divulga ciência não é frustrante sermos um país com tão poucas vocações científicas e onde os cursos de matemática, física, química, biologia, ficam quase vazios?
Não sei explicar por que é que isso acontece. Existe na Europa, nos Estados Unidos, parece que as pessoas não percebem a importância destas ciências base. Quem estudar matemática, por exemplo, não tem de ser obrigatoriamente professor, investigador ou… desempregado. Podem trabalhar nos bancos, em redes de computadores, em problemas de modelos e, sobretudo, a Matemática é uma disciplina estruturante que permite que trabalhemos de outra forma, e melhor, em qualquer dos aspetos da vida em comunidade.
Mas quando temos tão poucas pessoas a escolher carreiras na área das matemáticas e dos cursos que as têm, isso sucede porque os portugueses não têm vocação para a matemática ou porque há um problema com o seu ensino?
Claramente o problema está no ensino. Os alunos refletem alguma frustração porque não conseguem enfrentar os problemas básicos da matemática.
O que é que está a falhar? Numa recente entrevista ao Público de um dos especialistas que estudaram o problema das dificuldades na matemática nos Estados Unidos, ele dizia que era muito preocupante encontrar no 7.º ano de escolaridade alunos que não sabiam multiplicar sete por cinco porque sempre tinham utilizado máquinas de calcular. Ele acrescenta que essa competência todos os alunos a deviam ter. Concorda?
Portugal pode aprender imenso com o relatório que resultou do trabalho de especialistas de altíssimo nível – matemáticos, psicólogos, professores, pedagogos. Do painel fazia parte o presidente da associação de professores de Matemática, a NCTM, que nos últimos anos tinha assumido posições românticas, ou construtivistas radicais, a favor das máquinas de calcular e contra os algoritmos, privilegiando a compreensão em detrimento da mecanização, mas que agora assinou um documento de síntese onde se reconhece que foi longe demais ao dar demasiada prioridade à compreensão e esquecer a necessidade dos automatismos.
Muitos de nós tendemos a pensar que o ensino deve ser antes de mais compreender, ou aprender a pensar, quando na vida se reage melhor quando possuímos automatismos básicos. Por exemplo: se for a conduzir um automóvel e o carro que vai à minha frente trava, se me puser a pensar no que devo fazer…
… Vai contra ele porque perdeu tempo de reação.
Ora esses automatismos, como saber a tabuada de cor, são hoje desvalorizados.
Infelizmente não temos nenhum estudo estatístico que nos permita saber o que se passa hoje nas escolas. Não sabemos em quantas se estuda ainda a tabuada e em quantas isso não acontece. O que sabemos é que as orientações do Ministério da Educação vão, em muitos desses domínios, no sentido completamente errado. O que temos de fazer para melhorar o ensino da matemática, e este documento fala muitas vezes nisso, é privilegiar as questões básicas em cada nível de escolaridade.
Partir do princípio de que, em matemática, se não se compreendem as bases, depois não se consegue evoluir.
Exatamente. O que é preciso estabelecer é que os alunos do 1.º ciclo têm de completá-lo sabendo somar e diminuir, multiplicar e dividir, sabendo trabalhar com frações. Depois têm de começar a trabalhar na álgebra. O que este documento recomenda é que em cada momento se encerrem etapas e se passe à etapa seguinte. Exatamente o contrário de uma teoria conhecida pelo “ensino em espiral”, em que os conhecimentos básicos eram sempre revisitados porque não estariam consolidados.
O professor Castro Caldas tem um estudo em que mostra que as crianças que decoram a tabuada e aprendem automatismos numa fase precoce desenvolvem fisicamente certas partes do cérebro.
Muitos pensam que têm de fazer musculação para desenvolver os músculos, mas não necessitam de fazer exercícios mentais para desenvolver o cérebro…
Uma das conclusões desse estudo é exatamente que as capacidades do cérebro podem ser desenvolvidas. Pode-se decorar uma coisa sem importância nenhuma – os cem primeiros algarismos do número pi, por exemplo – que isso é bom. A dicotomia que se criou há uns 30 anos que considera um horror decorar a tabuada, ou as estações de comboio, e que o importante é apenas perceber, é uma dicotomia que tem sido muito prejudicial. O que é bom é decorar e compreender, e ambas se reforçam. Mais: às vezes é útil decorar alguns automatismos sem os perceber, só os vindo a entender mais tarde. Não é preciso que a criança saiba o que é a corrente elétrica para nós lhe ensinarmos que não pode colocar os dedos na tomada. No ensino há muitas coisas assim.
Mas não haverá pessoas que têm menos aptidões genéticas para a matemática?
é possível, mas aquilo de que estamos a falar é do que se aprende até ao 9.º ou até ao 12.º ano, e isso é acessível a todos. Outra coisa são as matemáticas superiores. Eu, por exemplo, nunca serei capaz de fazer poesia, mas isso não implica que não seja capaz de ler Os Lusíadas.
Recentemente, numa homenagem ao grande matemático Mira Fernandes, Silva Lopes (ex-ministro, ex-governador do Banco de Portugal) disse como saber matemática o ajudou ao longo da vida…
O seu discurso foi breve mas muito interessante. O essencial foi que considerou que, se não tivesse estudado Matemática com o Mira Fernandes, tivesse só feito Economia, hoje estaria aí a fazer umas contas num sítio qualquer e não teria tido a carreira que teve. Disse-nos que a sua carreira foi muito influenciada por ter sido ensinado a ter um raciocínio rigoroso ao estudar Matemática com o Mira Fernandes. Não que precisasse da matemática que então aprendeu todos os dias.
Outros países já estão a reformar no bom sentido o ensino da matemática?
Começam a fazê-lo. Um desses países é Israel. Vamos cá ter, no próximo encontro da Sociedade Portuguesa de Matemática, um grande professor e divulgador israelita que escreveu um livro muito interessante sobre a sua experiência de sair da universidade e ir dar aulas no primeiro ciclo do básico. Confessa que todas as ideias preconcebidas que tinha não funcionaram e que uma das coisas que o surpreenderam foi que, mesmo no início dos estudos, os alunos necessitam de um ensino estruturado. Mais: que as definições são fundamentais no básico. E há outros países que seguem pelo mesmo caminho.
Ajudar a perceber
Professor no ISEG, em Lisboa, Nuno Crato tem vários livros editados sobre divulgação científica e mantém uma coluna no Expresso, atividade que lhe valeu, este ano, o European Science Awards na área da comunicação da ciência, um prémio atribuído pela Comissão Europeia. Contudo, considera que “há em Portugal pessoas capazes de ganhar este ou outro prémio similar. é bom que o saibamos e não tenhamos medo de concorrer a prémios internacionais. Temos outros nomes, como o Carlos Fiolhais ou o Jorge Buescu, que vêm na esteira de divulgadores como o Bento de Jesus Caraça ou o Rómulo de Carvalho”. Até porque o seu trabalho é apreciado: “Noto que as pessoas gostam do trabalho de divulgação que fazemos, que nos dizem que gostaram deste ou daquele artigo porque os ajudaram a perceber um tema que não entendiam.”
A autonomia das escola é mínima
Descentralizar pode diluir responsabilidades.
Se fosse ministro da Educação, o que fazia?
Não sei. Não é um ministro que resolve tudo, mesmo que possa ajudar. Uma vez já me fizeram essa pergunta e disse que talvez começasse por abrir as janelas do ministério para deixar sair as más influências.
Há quem diga que é preciso tirar o peso do ministério de cima das escolas…
Sem dúvida. Hoje fala-se muito de autonomia das escolas, mas que autonomia é que estas têm quando até estão totalmente condicionadas nos horários que fazem? Não podem decidir a duração das aulas em função dos alunos que têm. A autonomia das escolas é mínima.
Aproximar as escolas das comunidades locais seria melhor do que a concentração de tudo no ministério?
Claro que seria.
E a evolução dos últimos anos tem ido nesse sentido?
Não sei responder em detalhe, mas duvido que tenha sido no sentido de terem uma maior autonomia. às vezes fala-se de descentralização, mas esse é um conceito perigoso, pois pode tornar impossível apurar responsabilidades. O que precisamos é de autonomia com responsabilidade, e não estou a ver as coisas caminharem nesse sentido.
Avaliação externa dos alunos é obrigatória
“é o Ministério da Educação que realiza as estatísticas com base nas quais será avaliado. Isto não garante a independência”
Não há uma forma científica de avaliar. Mas sem poder comparar os resultados dos alunos de forma independente, nada será sério.
O que faz um bom professor?
Se eu soubesse… Não há um padrão único, há muitas variedades, mas algo que é essencial é que um professor domine bem a matéria, que a sua formação se centre naquilo que vão ensinar. Infelizmente em Portugal não se tem feito a melhor formação de professores, ao mesmo tempo que o processo de seleção não tem sido o melhor. Agora parece que se vai melhorar um pouco com os exames de entrada na profissão, vamos ver que exames são esses.
Mas depois da entrada do professor no sistema, coloca-se o problema da avaliação do seu desempenho. Na entrevista que já citámos, dizia-se que, apesar de todos os estudos feitos, não se encontrara um método certo para avaliar os professores.
é difícil encontrar um sistema ideal, mas há um consenso que ela tem de existir para que a progressão na carreira se faça por mérito. O atual sistema tem, contudo, problemas. O primeiro é a sua enorme complexidade e burocracia. O segundo, e mais importante, é que não existe avaliação dos professores sem uma avaliação externa dos alunos. Se dizemos aos professores que vamos avaliá-los pelos resultados, e se estes são as notas dadas pelos professores, estamos a aumentar a pressão para que as notas sejam inflacionadas. Isso só se evita com exames externos, que quase não existem.
Esses exames permitem fazer paralelos de ano para ano?
Não, e aí é que está o problema. O ano passado o tempo para realizar a prova de Matemática do 12.º ano passou de duas horas para duas horas e meia e os exames eram idênticos. Este ano vai passar-se para três horas. Como é possível comparar os resultados? Mas não é só esse o problema. Entre 2006 e 2007 as notas do 9.º ano a Português permitiram passar a percentagem de aprovações de 54 para 86 por cento. é um salto incompreensível, sobretudo se pensarmos que a Matemática houve mais reprovações e havia um plano especial para tentar recuperar os alunos com dificuldades. O que é que aconteceu a Português? Foi muito simples: tiraram a gramática, o exame tornou-se mais fácil, as estatísticas do ministério ficaram mais bonitas. Com flutuações destas não se pode perceber a evolução dos alunos. Isso não sucede com testes internacionais como os do PISA.
Aqui há um problema de base: é o Ministério da Educação que realiza as estatísticas com base nas quais será avaliado. Isto não garante a independência das estatísticas. O mesmo se passa com os exames: o ministério é parte interessada e juiz. Devia-se encontrar um mecanismo que assegurasse que os exames fossem comparáveis ano a ano e nos permitissem fazer uma avaliação externa da evolução do sistema.
Portugueses consideram que os hábitos de leitura estão a crescer nos últimos dez anos
Público | 2008-04-19
Plano Nacional de Leitura completa um ano este mês. Isabel Alçada diz que há uma tendência positiva. 68% dos portugueses consideram que no país se lê menos do que no conjunto da União Europeia.
A maioria dos portugueses considera que a leitura é útil, que tem vindo a crescer nos últimos dez anos e que é importante para as sociedades atuais. Estes e mais dados foram ontem apresentados no Relatório de Avaliação do Plano Nacional de Leitura (PNL), estudo liderado pelo sociólogo António Firmino da Costa, do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE). O PNL completa um ano este mês.
Numa das partes do relatório, intitulada “Barómetro de opinião pública – atitudes dos portugueses perante Leitura e o Plano Nacional de Leitura”, os portugueses foram inquiridos sobre a importância social da leitura e os seus hábitos pessoais. Apesar de concordar que os hábitos de leitura aumentaram, 68 por cento dos portugueses consideram que no país se lê menos do que no conjunto da União Europeia.
“Comparando com a Europa, os portugueses ainda leem pouco mas a tendência é positiva”, disse ao Público Isabel Alçada, comissária do PNL. A maior parte dos inquiridos, 79 por cento, reconhece a utilidade da leitura, enquanto menos da metade, 44 por cento, afirma ter hábitos de leitura. O gosto de ler está presente em 58 por cento da amostra e 61 por cento vê a leitura como um prazer. No que toca às capacidades de leitura, 63 por cento dos inquiridos avaliam-nas como sendo boas ou mesmo muito boas.
O aumento dos hábitos está relacionado com a leitura através das novas tecnologias: mensagens no telemóvel, computador e acesso à Internet. Embora menos acentuado, há também o consenso no crescimento da leitura em outros suportes, como livros, jornais e revistas. “O livro é o instrumento essencial para se ler melhor, mas temos de estar abertos a todas as formas de leitura”, referiu a comissária do Plano Nacional de Leitura.
A importância da leitura para enriquecimento pessoal decresce consoante o grau de escolaridade, uma vez que 98 por cento dos inquiridos com ensino superior consideram a leitura importante ou mesmo muito importante na sua vida. Em contraponto, esta opinião está presente em 50 por cento dos que não completaram qualquer grau de ensino.
O gosto pela leitura está presente em 98 por cento dos inquiridos com ensino superior e em 29 por cento daqueles que não têm nenhuma formação. Quanto ao conhecimento do Plano Nacional de Leitura, 31 por cento já ouviram falar dele, principalmente pela televisão.
à medida que aumenta o nível de escolaridade, cresce o número de pessoas que já conhecem o plano. O barómetro ouviu 1037 pessoas das principais regiões do país, dos 15 aos 65 anos, passando por todos os níveis de escolaridade.
O PNL tem posto o país a ler mais, com diversas iniciativas que vão desde a escola primária aos centros de saúde.
Um dos objetivos é tentar fazer com que a “próxima geração leia mais e melhor”, diz Isabel Alçada, que faz um “balanço muito positivo” do primeiro ano.
Concentrem todos os esforços em arranjar bons professores
Público | 2008-03-26
Nos EUA, os maus resultados a Matemática são um problema estratégico, diz Hung-Hsi Hu.
O professor da Universidade de Berkeley, Califórnia, Estados Unidos da América, integrou o National Mathematics Advisory Panel, grupo criado por George Bush para reformular o ensino da disciplina. A convite da Sociedade Portuguesa de Matemática, veio a Lisboa falar (deu ontem uma conferência e dá outra amanhã) de um problema que apresenta vários pontos em comum com a realidade nacional.
Há vários anos que os resultados dos alunos americanos a Matemática nos testes internacionais estão a piorar. O que é que originou esse declínio?
Ainda estamos a viver o rescaldo do que se chamou math wars. Nos anos 60, um grupo de matemáticos achou que o ensino nas escolas não era o adequado e propõs mudanças muito rápidas e extremas nos currículos. Defendiam que a educação matemática nas escolas não era mais do que Matemática pura e que os alunos deviam ser ensinados como nas universidades. Para esta corrente – New Math -, o importante não era entender, mas resolver os problemas.
No final dos anos 80 impõs-se uma outra corrente como solução, mas também ela extrema. O NCTM (National Council of Teachers of Mathematics) aprovou um conjunto de orientações, adotando um novo método de ensino, que privilegiava a participação e o envolvimento dos estudantes naquilo que devia ser aprendido. Mais do que os conteúdos, era a pedagogia que interessava, o que também não trouxe bons resultados.
A tal ponto que o Presidente dos Estados Unidos interveio…
O Presidente apercebeu-se de que o país estava em perigo, já que os estudantes americanos estavam a ser ultrapassados pelos do Japão, de Singapura e outros. E se o problema não é não estar no topo, o que estes estudos internacionais mostram (como o Pisa ou o TIMSS) é que os Estados Unidos ficam no meio ou na segunda metade da tabela, o que não é aceitável para um país que se quer basear na tecnologia.
O Presidente criou o National Mathematics Advisory Panel e pediu ao grupo que olhasse para toda a investigação sustentada existente e dissesse como se pode resolver o problema. Tudo o que dizemos no relatório são coisas que podemos provar.
Propõe uma intervenção é nos currículos. Em que sentido?
Toda a gente diz que é fundamental ter boas bases para se ir aprendendo a Matemática. Mas é preciso definir o que é que isso significa. Estabelecemos de forma muito precisa e objetiva os conhecimentos que é preciso ter no final de cada ano. No meu estado [Califórnia] há alunos do 7.º que não sabem responder de cor quanto é 7×5. Como podem aprender Matemática e álgebra, que é entendida como a porta de entrada para o conhecimento mais avançado, se não sabem isto? Nós defendemos que a partir do 3.º ano os alunos têm de saber multiplicar números inteiros. Que no 5.º têm de somar frações, coisa que não estava a ser aprendida…
O recurso às calculadoras e às novas tecnologias facilita ou não esse tipo de aprendizagens?
é um assunto muito controverso e que ocupou muitas horas de discussão. Há estudos com mais de 20 anos e feito com pequenos grupos de alunos, que concluíram que o uso da máquina de calcular e outras tecnologias não tem efeitos negativos, a curto prazo, na capacidade de pensar e de raciocinar.
Há uma outra investigação muito recente, que incidiu sobre mais de seis mil estudantes, que chegou à conclusão de que as novas tecnologias não ajudam os alunos. Mas também não provou que tinha consequências negativas.
Só que a nossa preocupação é sobre o longo prazo. é saber se a utilização das calculadoras nos primeiros anos de escola se vai refletir no ensino médio. Se eu peço a um estudante do 7.º ano para multiplicar 7×5 e ele não sabe, isso é preocupante. Mas é preciso mais investigação.
Mas as novas tecnologias não podem ajudar, pelos menos, os alunos com menos gosto pela disciplina a interessarem-se e ter melhores resultados?
Aí estamos a falar de outra coisa. O grupo foi criado porque estávamos a ficar para trás. A ideia é garantir que os alunos estejam preparados para enfrentar os novos desafios da era tecnológica. Se não sabem Matemática, como é que vão ser contratados por empresas como a Microsoft, Hewlett Packard, Texas Instruments? Essas empresas querem alguém não que saiba trabalhar com calculadoras, mas que consiga raciocinar e lidar com informação nova. O objetivo não é garantir que os jovens aprendam alguma coisa que é melhor do que nada.
No relatório, também se fala na importância dos professores.
é um problema tremendo nos Estados Unidos. Não estamos a atrair os melhores para a profissão porque os salários são baixos e porque as escolas não dão todo o apoio aos professores. Ao fim de cinco anos, as taxas de abandono da profissão chegam aos 50 por cento. E, geralmente, são os melhores que saem. é também uma questão política, já que devia haver mais financiamento para pagar bem aos melhores. O problema é definir o que é um bom professor.
Não há investigação nessa área?
Não. Neste momento sabemos que um bom professor é aquele que consegue que os seus alunos consigam bons resultados nos exames. Este é o único instrumento mensurável que temos. Mas não devia ser o único. é muito importante definir critérios objetivos para distinguir os bons e os maus professores e assim ser possível pagar mais aos primeiros e afastar os segundos, sem que os sindicatos o possam contestar.
Por que é uma disciplina tão complicada para tantos jovens?
Na Matemática não podemos fazer as experiências fantásticas da Física e da Química e que deixam os estudantes boquiabertos. A Matemática é, pela sua natureza, uma disciplina abstrata. é acerca de pensar sobre coisas que não conseguimos ver mas que, se raciocinarmos sobre elas, chegamos a conclusões. O que um bom professor consegue é fazer do abstrato um conteúdo razoável e que pode ser explicado e aceite pelos alunos.
Que recomendações daria aos Governos portugueses?
é preciso que os educadores trabalhem em conjunto com os matemáticos, desde que estes tenham a humildade de aceitar que o ensino nas escolas é complexo. As decisões não podem ser deixadas apenas a quem mal percebe de Matemática. Segundo: concentrem todos os esforços em arranjar bons professores.
Sugestão ORE a consultar: The Final Report of the National Mathematics Advisory Panel
Reciclagem alunos já recolheram 413 toneladas de pilhas desde 2004
Público | 2008-03-19
Cerca de dois milhões de alunos portugueses recolheram 413 toneladas de pilhas desde 2004, recebendo em troca milhares de livros para as suas escolas, no âmbito do programa Pilhas de Livros, criado pela cadeia de hipermercados Modelo.
Em declarações à Lusa, a escritora de livros juvenis Isabel Alçada, responsável do Plano Nacional de Leitura, considerou que este projeto “tem um valor especial porque atua em duas frentes”.
“Não é apenas uma recolha de pilhas. Os professores explicam aos miúdos a importância ambiental deste trabalho e as crianças acabam por ter uma influência positiva em casa. Estamos a dar formação às novas gerações para que defendam o Ambiente”, afirmou.
O programa, que visa a defesa de valores de respeito pelo ambiente e promoção de hábitos de leitura, iniciou-se em 2004 e em apenas quatro anos conseguiu recolher 412,5 toneladas de pilhas e oferecer mais de 78 mil livros. Este ano, o programa Pilhas de Livros é alargado a 120 lojas da cadeia de hipermercados, que vai oferecer livros às escolas que recolham mais pilhas usadas para reciclar.
As escolas que se inscreverem recebem pilhões para depósito das pilhas usadas. Os estabelecimentos de ensino que mais pilhões conseguirem juntar, proporcionalmente ao número de alunos, serão as escolas premiadas com um conjunto de livros recomendados pelo Plano Nacional de Leitura, no valor de mil euros.
No ano passado, participaram 1675 escolas e estiveram envolvidos 178.734 alunos, que conseguiram recolher 3,5 milhões de pilhas.
As inscrições para esta iniciativa, que, segundo os seus promotores, visa incentivar a reciclagem e a leitura, estão abertas até 30 de março. A entrega dos pilhões cheios nas lojas da Modelo decorre até 15 de maio.
Plano Nacional de Leitura chega a mais de 12 mil crianças do pré-escolar através de uma mochila
Público | 2008-01-29
10 500 livros vão ser oferecidos a 63 jardins de infância e escolas de 1.º e 2.º ciclos, por 21 lojas do Continente.
Foi lançado há uma semana e já conquistou mais de 12 200 crianças dos três aos cinco anos. O projeto chama-se Leitura em Vai e Vem e tem como logótipo uma mochila que lê um livro. é a primeira iniciativa pensada especificamente para as crianças do pré-escolar promovida pelo Plano Nacional de Leitura (PNL).
Esta semana, o PNL começa a fazer chegar às cerca de 600 salas de jardins de infância públicos e privados as primeiras mochilas, feitas com materiais reciclados – telas de promoção dos espetáculos de várias salas de Lisboa – e costuradas pela associação Ajuda de Mãe.
As malinhas vão vazias. Caberá às escolas enchê-las com um livro, informação para os pais e uma ficha de leitura para o pequeno leitor fazer a sua avaliação da obra que leu com os pais. A mochila vai para casa, com o livro, e regressa à escola, onde o texto pode ser trabalhado pela turma, por exemplo, o educador de infância pode anotar as novas palavras que a criança aprendeu.
Para já, foram preparadas 2300 mochilas e está estipulado uma para cada cinco meninos. No entanto, o programa pode chegar a mais quatro mil crianças.
O objetivo, explica Isabel Alçada, comissária do PNL, é promover a leitura em contexto familiar. Cabe aos jardins de infância fazer esse apelo aos pais para que percebam a importância de ler com as crianças. “Com a leitura, os pais estão a contribuir para o desenvolvimento dos filhos e é um benefício também para eles”, defende Isabel Alçada.
Este projeto vai estar articulado com o Ler dá mais saúde, que resulta de um protocolo com a Associação Portuguesa de Médicos de Clínica Geral. Também a Sociedade Portuguesa de Pediatria está interessada em aderir ao programa, informa a comissária. Em breve, vai ser assinado um acordo com a Direção-Geral de Saúde e o Alto Comissariado para a Saúde com o objetivo de levar a leitura às crianças que chegam às consultas, a partir dos seis meses de idade. “A ideia que queremos transmitir é que o livro é um bem estimável, que pode ser um brinquedo, que é bom e é lúdico, que faz parte do dia a dia e que abre imensas perspetivas”, explica Isabel Alçada.
O PNL tem também recebido apoio de empresas, entre elas o Continente, que, pelo segundo ano consecutivo lançou um concurso entre os clientes dos hipermercados. Foram os clientes, através do preenchimento de cupões, que escolheram as 63 escolas, onde serão distribuídos os livros, adequados à idade das crianças. No total, as lojas vão entregar 10 500 obras.
Isabel Alçada congratula-se com a participação dos empresários, mas apela a que mais se envolvam neste projeto que “favorece as escolas”.
273 mil adultos inscreveram-se em 2007 para obter diploma
Público | 2008-01-11
A adesão foi em massa e há mais de 120 mil pessoas à espera de iniciar o processo de reconhecimento e certificação de competências.
No ano em que o programa de certificação de competências de nível secundário foi lançado, dificilmente a resposta poderia ser mais positiva: em 2007, 143 mil adultos que tinham como habilitação máxima o ensino básico inscreveram-se num centro Novas Oportunidades (CNO) para ver reconhecidas a sua experiência profissional e formação extraescolar e assim obter um diploma de equivalência ao 12.º ano.
A estes, juntaram-se 130.500 que nem o 9.º ano tinham e que, através do processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC), também esperam melhorar a sua qualificação e ficar com o ensino básico. à totalidade dos 273.610 inscritos, em 2007, acrescem quase 50 mil que se matricularam em anos anteriores e que também regressaram aos estudos, ainda que através de um modelo que pouco tem a ver com o sistema de ensino regular.
Estes são os números mais recentes relativos à iniciativa Novas Oportunidades e que vão ser hoje apresentados no Parlamento por José Sócrates. E se são a prova da grande adesão ao programa, também revelam que as equipas dos 259 CNO espalhados pelo país não vão ter mãos a medir para dar resposta ao número de solicitações. é que quase 123 mil inscritos ainda não conseguiram iniciar o seu processo e passar à fase de diagnóstico.
é a partir desta etapa, que consiste num conjunto de entrevistas em que são apresentadas as experiências profissionais e pessoais, que é feita a triagem dos candidatos e o encaminhamento para as diferentes vias possíveis: ações de formação de curta duração nas áreas em que demonstrem maiores lacunas ou programas mais longos, num curso de educação e formação de adultos. Para quem apenas tem uma ou duas disciplinas em atraso, há também a possibilidade de serem feitos exames de equivalência nas escolas.
O processo, que pode demorar poucos meses ou anos, fica concluído com a apresentação e discussão de um portefólio, baseado nas experiências de cada candidato e onde têm de ficar evidenciadas competências em áreas-chave predefinidas. No caso do ensino secundário, são a cidadania e profissionalidade; sociedade, tecnologia e ciência; e cultura, língua e comunicação. Se o júri ficar convencido, valida essas competências e é emitido um certificado equivalente ao 9.º ou ao 12.º.
Questão de “justiça social”
Os dados apurados revelam ainda que são as mulheres que mais se inscrevem e que as faixas etárias mais representadas são as dos 25-34 anos (no caso da certificação de nível secundário) e dos 35-44 anos (no caso do básico). A grande maioria está empregada e, por regiões, é no Norte que a adesão tem sido maior.
Num país em que 3,5 dos cinco milhões de ativos não têm o secundário completo, a ministra da Educação considera que dar uma segunda oportunidade a todos os que não tiveram possibilidade de continuar a estudar é uma questão de “justiça social.” E recusa a ideia de que o Nova Oportunidades incentive os jovens a abandonar a escola para virem a beneficiar mais tarde de uma formação supostamente mais fácil. “Confortável é estar a estudar na idade própria com todas as condições”, lembra.
A iniciativa Novas Oportunidades oferece ainda uma segunda via de qualificação, através dos cursos de educação e formação de adultos e que contam com quase 30 mil inscritos. Através destes, e desde 2001, já foram certificados quase 22 mil ativos.
A ministra da Educação acredita que as pessoas sentiram que a adesão ao programa podia mudar a sua vida
Se não há quem questione o objetivo – aumentar as qualificações da população -, são várias as dúvidas que se têm levantado sobre o caminho escolhido pelo Governo. Criado em 2000, o sistema de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC) ganhou novo impulso com José Sócrates, que fixou como objetivo até 2010 a atribuição de 650 mil diplomas de ensino básico e secundário por esta via. Pretende-se ainda a qualificação de outros 350 mil adultos através dos cursos de educação e formação de adultos.
No Parlamento, a oposição acusou o executivo de querer melhorar de forma “facilitista” as estatísticas, ao criar um sistema que permite a obtenção de um diploma de ensino secundário em meses. “São comentários desajustados e que podem ter origem no desconhecimento da forma como o programa funciona ou na má-fé”, responde a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, garantindo que o sistema de RVCC salvaguarda os princípios da “exigência, do rigor e da transparência”.
O sistema de informação criado, que permite monitorizar informaticamente tudo o que se passa nos centros Novas Oportunidades – desde o perfil dos formandos, ações de formação ou o tempo de conclusão do processo -, garante um escrutínio maior do que o que existe, por exemplo, sobre o ensino universitário, sublinha. A este controlo, acresce a homologação pelas escolas públicas e centros de formação profissional do IEFP dos diplomas atribuídos por entidades privadas ou a intervenção de avaliadores externos.
Quanto à adesão ao programa, a ministra admite que os resultados chegam a ser “surpreendentes” e acredita que o “sucesso” se deve à forma como foi concebido. “Procurou-se uma resposta maciça e de proximidade com uma formação adequada às necessidades da população adulta.”
Voltar a estudar por causa do “ego” e para “melhorar a vida”
Ao Centro Novas Oportunidades (CNO) da Escola Secundária Gil Vicente, em Lisboa, não há dia em que não cheguem mais inscrições. Tem sido assim desde o final do ano passado e os números espelham a adesão que o programa, que ganhou visibilidade com o alargamento do processo de certificação de competências de nível secundário, está a ter.
“Até setembro, tínhamos cerca de 60 inscrições. De então para cá recebemos mais umas 400 e tal”, revela Dora Rita, coordenadora do centro aberto na Escola Gil Vicente no final de 2006″. A procura surpreendeu tudo e todos e a equipa de 16 técnicos é manifestamente insuficiente para dar vazão a todos os candidatos. Enquanto se aguardam reforços, Elvira Callapez tem sido a única técnica profissional, responsável pela realização das primeiras entrevistas individuais aos candidatos a um diploma de ensino secundário. E são quase 300 os inscritos no processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC) para este nível.”
A partir de finais de fevereiro, início de março, esperamos reduzir o tempo de espera para 15 dias, um mês”, confia Dora Rita. Mas são precisos mais técnicos – e também aqui a procura é muita, com a escola a receber dezenas de currículos de jovens interessados em trabalhar como formadores no CNO, mesmo que a “recibos verdes” e mal remunerados, lamenta Elvira Callapez -, computadores melhores e mais rápidos e mais salas. “Era muito importante que as bibliotecas estivessem a funcionar à noite, já que as formações são em horário pós-laboral”, aponta ainda.
Nélson Antunes, atual presidente da Junta de Freguesia de São Sebastião da Pedreira, em Lisboa, é um dos “alunos” mais avançados no processo de RVCC de nível secundário. Reformado e com 63 anos, confessa que o facto de ter deixado a escola depois de completar o “5.º ano do liceu” (atual 9.º) nunca foi um obstáculo à sua carreira profissional. Se na escola “era mau aluno”, a partir do momento em que começou a trabalhar num banco aproveitou todas as oportunidades de formação profissional dadas pela empresa. Ao fim de seis anos já era gerente bancário, recorda. E, atualmente, desdobra-se em funções autárquicas.
Porquê o regresso “à escola” aos 63 anos? “é para o ego”, responde, direto. “Quando uma pessoa se candidata a alguma coisa, tem de escrever as habilitações académicas. Eu dizia que tinha o [antigo] 5.º ano do curso de liceu. Depois da formação vou poder dizer que tenho o 12.º”, explica, negando ter vindo pelo “facilitismo”, mas porque o modelo se adequa muito mais ao seu perfil e a anos de experiências. “Não faz sentido para estas pessoas voltarem a ficar sentadas uma manhã inteira na sala de aula, aprender matérias que não lhes servem para nada e conviver com a indisciplina escolar do dia a dia”, reforça Elvira Callapez.
A valorização pessoal é mesmo um dos motivos frequentemente invocados pelos candidatos. E, para a coordenadora do centro, é um dos objetivos mais conseguidos. “No início tinha dúvidas quanto ao processo e acreditava que servia acima de tudo para as estatísticas. Depois comecei a perceber que ultrapassava essa dimensão. As pessoas ganham autoconfiança, elevam-se e o RVCC serve como ponto de partida para começarem a reconstruir-se”, diz Dora Rita.
Mas é a possibilidade de subir na carreira, concorrer a outros cargos que requerem o 12.º ano como habilitação mínima e “melhorar a vida”, como escrevia uma das candidatas que anteontem se dirigiu à Gil Vicente, que têm chamado mais pessoas ao programa. E aí encontram-se desde jovens que não terminaram o secundário porque ficaram com uma ou duas disciplinas para trás a adultos mais velhos que, por circunstâncias diversas, tiveram de deixar de estudar bem cedo.
Quanto à validade dos diplomas atribuídos, Elvira Callapez é perentória: “Noto que estes candidatos que já entrevistei têm conhecimentos e maturidade muito superiores a alguns licenciados. Ao longo do processo eles têm de revelar competências, não nas mesmas disciplinas que um aluno do ensino regular, mas noutras áreas”. Ou seja, reforça, “são pessoas que merecem ter um diploma” e que são avaliadas por uma equipa técnica e pedagógica competente.
Para o presidente da junta de São Sebastião da Pedreira, o regresso à “escola” aos 63 anos é uma questão de “ego”.