Escolas poderão conhecer resultados dos seus alunos no PISA

Público | 18.12.10

O Ministério da Educação, através do Gabinete de Avaliação Educacional (GAVE), terá admitido vir a revelar à direção de cada uma das escolas os resultados que obteve no PISA, desde que aquelas assumam o compromisso de que a informação não será divulgada.

A lista das escolas que participaram no PISA continua a não ser conhecida. O Ministério da Educação tem justificado com a existência de um “contrato de confidencialidade” com a OCDE. Esta organização explicou que a decisão de divulgação compete às autoridades nacionais. Este anonimato, alegadamente, é também defendido pela OCDE. Uma das razões: não quererá transformar aquele estudo em mais um ranking de escolas o que, a acontecer, se poderia traduzir na recusa de muitos estabelecimentos em participar.

Das 212 escolas que participaram, 13 por cento têm apenas ensino secundário e 38 por cento estão situadas em pequenas localidades. Já os alunos nunca conhecerão os seus resultados e isso “é um fator de grande frustração”, desabafa a professora que coordenou estas provas na EB 2,3 de Pombal.

Os jovens que realizam estes testes têm de ter entre 15 anos e três meses e 16 anos e dois meses na data em que são avaliados, o que ocorreu entre abril e maio de 2009. Em Portugal, 16,3 por cento já tinham completado 16 anos quando foram avaliados. Mais de metade, 66,4 por cento, afirmaram não recorrer a explicações.

Para além do seu percurso escolar, a OCDE questionou os 6298 alunos que foram avaliados sobre o seu meio familiar. Quarenta e um por cento revelaram que tinham dois carros em casa – 18 por cento têm três ou mais – ; 97 por cento dispõem de computador e 91,4 por cento de ligação à Internet; 34 por cento dizem ter em casa entre 26 e 100 livros e 20,3 por cento não vão além dos 25.

Das respostas sobre a profissão das mães resulta que o grupo principal é constituído por domésticas. Quanto aos pais, dominam os trabalhadores da construção civil. Em segundo lugar, tanto num caso, como noutro, figura o grupo dos empregados de comércio.

Maioria dos estudantes avaliados pelo PISA espera vir a concluir um mestrado

Público | 18.12.10

PISA aumentou a autoestima dos alunos, afirmam professores. Quinze por cento dos alunos avaliados eram de cursos profissionais.

Expectativas para o futuro dos alunos portugueses que realizaram os testes PISA: 51,6 por cento esperam concluir um mestrado ou doutoramento. Entre os 6292 alunos que foram avaliados em 2009, 15 por cento tinham ficado retidos uma vez no 3.º ciclo do ensino básico, que engloba o 7.º, 8.º e 9.º ano. Uma percentagem idêntica ficou para trás logo no 1.º ou no 2.º ciclo. Estes dados foram recolhidos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) com base nos inquéritos realizados aos alunos que participaram no estudo PISA.

O PúBLICO foi analisar a extensa base de dados do PISA e encontrou respostas para algumas das questões a que o Ministério da Educação não tem respondido. Outras foram ontem esclarecidas através de uma nota técnica que o ME disponibilizou. O PISA é um programa que avalia as capacidades dos estudantes de 15 anos em aplicar os seus conhecimentos na vida quotidiana. Desde 2000 é realizado de três em três anos. O último foi em 2009. Os resultados foram divulgados no passado dia 7: Portugal, que estava no último pelotão, aproximou-se pela primeira vez da média da OCDE.

Mais de metade, 60,4 por cento, estavam no 10.º ano. Em 2006 eram 50,7 por cento. Em todos os estudos já realizados desde 2000, os resultados dos alunos neste ano de escolaridade têm sido significativamente superiores aos dos que frequentam o 3.º ciclo. “Todos disseram que era muito fácil”, conta Maria do Rosário Lima, que foi coordenadora do PISA, em 2009, na EB 2,3 de Pombal, sobre os seus ex-alunos do 10.º ano que participaram nos testes. O aumento da sua representação tem sido atribuído à diminuição do número de chumbos. Há quatro anos ficaram retidos 19,1 por cento dos alunos matriculados no 3.º ciclo. Em 2009 esta percentagem baixou para 13,8. Entre as escolas que participaram no último PISA, a percentagem dos jovens que no ano anterior ficou retidos naquele ciclo estava nos 10 por cento.

A maioria dos jovens que realizou os testes frequentava o ensino regular. Quinze por cento estavam em cursos de vocação profissional. Esta é uma variável que esteve ausente na amostra de 2006. “Levaram muito a peito a ideia de que tinham de dar o melhor e empenharam-se ao máximo na realização da prova”, diz Rosário Lima, professora de Língua Portuguesa, sobre os seus alunos dos Cursos de Educação e Formação, uma oferta existente no 3.º ciclo que é destinada a alunos com 15 anos e mais, que tenham um historial de retenções. Sete por cento dos alunos avaliados pelo PISA eram destes cursos. Também de cursos profissionais do secundário vieram mais oito por cento.

“Estes jovens, que há alguns anos acabariam por abandonar a escola depois de ficarem sucessivamente retidos, mudam de atitude, tornam-se mais confiantes e motivados quando trabalham com programas adaptados às suas capacidades”, afirma Rosário Lima. Neste contexto têm também mais probabilidades de desenvolver o tipo de competências que o PISA avalia.”Não sabem analisar um texto literário, mas conseguem ler uma receita de culinária ou um folheto com instruções”.

Já Ivone Palminha, que coordenou os testes PISA na EB 2,3 de Portimão, não alimenta expectativas em relação aos resultados destes alunos – “apesar de terem programas adaptados, esforçam-se muito pouco” -, mas confirma que a prova contribuiu para o aumento da autoestima dos estudantes, que “ficaram impressionados por estarem a representar o país”. “E pedem-nos a nós para fazer isso?”, espantou-se um. “é o próprio GAVE nos sugere que lhes façamos sentir a responsabilidade e o orgulho de estarem numa competição internacional, em representação de Portugal”, explica Isabel Diogo, da Escola Secundária de Miraflores.

Cursos profissionais representam 15 por cento da amostra do PISA

Público | 17.12.10

Quinze por cento dos 6298 alunos que, no ano passado, realizaram os testes do PISA, estavam em cursos de vocação profissional, segundo informação divulgada esta tarde pelo Ministério da Educação. Os resultados dos testes do ano passado aproximaram Portugal da média da OCDE.

O Ministério disponibilizou, no seu site, vários elementos sobre os alunos que participaram no estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) que visa avaliar as capacidades dos alunos de 15 anos. A nota responde a algumas das informações que têm vindo a ser solicitadas ao Ministério da Educação desde a divulgação dos resultados do PISA, no passado dia 7.

Do total de alunos que participaram no estudo, 425 estavam em Cursos de Educação e Formação, destinados aos alunos com 15 anos ou mais que ainda não tenham concluído o 2º ou 3º ciclo do ensino básico; 417 frequentavam cursos profissionais do ensino secundário e 109 estavam, neste nível, em cursos tecnológicos. Metade dos estudantes que fizeram os testes PISA estavam no ensino secundário e outros 2211 frequentavam o 3º ciclo do ensino básico.

Os resultados dos testes do ano passado aproximaram Portugal da média da OCDE. Nas anteriores edições deste estudo, que se estreou em 2000, estava no último pelotão.

No ano letivo passado a percentagem de alunos nos cursos profissionais representava 36,6 por cento do total dos estudantes inscritos no secundário. E o número de inscritos nos cursos de educação e formação era cerca de 10 por cento dos matriculados no 3.º ciclo.

Segundo as normas definidas pela OCDE, os alunos que realizam os testes PISA devem ter idades compreendidas entre os 15 anos e 3 meses e os 16 anos e dois meses e têm de frequentar o 7ºo ano de escolaridade ou seguinte. A idade média de 15 anos foi escolhida porque nesta idade os alunos, na maioria dos países da OCDE, encontra-se perto do final da escolaridade obrigatória, explica a organização. Em Portugal, 60,4 por cento (3619) dos alunos que realizaram os testes em 2009 já a tinham terminado, uma vez que se encontravam no 10º ano. 1560 eram do 9º ano, 517 do 8º, 134 do 7º e 25 do 11º ano.

O maior grupo de jovens estava em escolas da região Norte. Representaram 30,5 por cento da amostra. Em segundo lugar, com 26,7 por cento, esteve a região Centro. Os alunos de Lisboa e Vale do Tejo contabilizaram 18,4 por cento, os do Algarve 12,5 e do Alento 8,7. A Madeira contribuiu com 1,6 por cento dos alunos e os Açores com 1,4.

Na nota divulgada hoje, o Ministério da Educação lembra a metodologia utilizada para a constituição da amostra, que se encontra descrita no relatório técnico do PISA de 2006. O do ano passado só deverá ficar disponível em meados do próximo ano.

Escolhas e exclusões
Numa primeira fase, Portugal envia à OCDE a listas de todas as escolas. Com indicação da sua localização, tipologia e natureza institucional. Envia também o número total de alunos e o número de estudantes com 15 anos, por ano de escolaridade. “Com base nesta lista oficial, enviada pelo ME, a OCDE seleciona aleatoriamente as escolas que participarão no estudo”, acrescenta-se. Em 2009 foram selecionadas 212 escolas portuguesas, das quais 28 do ensino particular.

Depois de concluída esta etapa, as escolas selecionadas são convidadas a participar. Quando aceitam têm de enviar uma lista de todos os alunos entre os 15 e os 16 anos, que frequentam o 7º ano ou mais: “Estas listas são inseridas num programa informático fornecido pela OCDE, através do qual é feita a seleção dos alunos”. Esta amostra, bem como a das escolas, deve replicar as características dos universos representados.

O número máximo de alunos por escola é 40. Mas entre as escolas selecionadas nem todas chegam a este limiar. Uma das normas da OCDE para a realização do PISA é a de que os alunos que são selecionados não podem ser substituídos. Como alguns faltam ou não apresentam autorização dos pais para realizar o teste (é obrigatória), os números de participantes pode ficar mais reduzido. O mesmo acontece para estabelecimentos que tenham menos de 40 alunos com 15 anos.

Na nota do ME recorda-se que da lista de estudantes inicialmente selecionados foram excluídos 111 a pedido da escolas: dois devido a “deficiência motora”, 100 por “deficiência intelectual” e 13 devido ao “domínio limitado da língua portuguesa”. A taxa de exclusão foi, assim, de 1,57 por cento, inferior aos 3,2 por cento que é a média dos países da OCDE neste item.A lista das escolas que participaram no PISA continua a não ser conhecida. O Ministério da Educação tem justificado com a existência de um “contrato de confidencialidade” com a OCDE. Esta organização explicou que a decisão de divulgação ou não compete às autoridades nacionais. A ministra Isabel Alçada comunicou ao parlamento que o Ministério não tinha a listagem de estabelecimentos que participaram nos testes. O nome das escolas que participam no estudo da OCDE não costumam ser conhecidos. Este anonimato, alegadamente, é também defendido pela OCDE. Uma das razões: não quererá transformar o PISA em mais um ranking de escolas o que, a acontecer, se poderia traduzir na recusa de muitos estabelecimentos em participar.

Ministra ouvida na comissão parlamentar de Educação e Ciência – Ministério da Educação não sabe quais as escolas que fizeram os testes PISA

Público | 15.12.10

A ministra da Educação, Isabel Alçada, disse hoje, no Parlamento, que o seu ministério não tem a listagem das escolas que participaram nos testes do programa PISA. Em resposta a questões do PúBLICO, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), responsável por aquele programa, indicou que também não sabe quais as escolas que participaram. Isabel Alçada não avançou quais as escolas e as características dos alunos que participaram na avaliação da OCDE.

Respondendo a dúvidas dos deputados sobre as características da amostra de alunos de 15 anos que realizaram os testes em 2009, Alçada indicou que os critérios para a seleção são estabelecidos pela OCDE e que o Ministério da Educação apenas apresenta uma listagem que inclui todas as escolas do país.

é com base nesta lista que a OCDE seleciona as escolas. No ano passado foram escolhidas 212. A ministra indicou que as escolas selecionadas são depois convidadas a apresentar as listas de todos os alunos com 15 anos, os que fazem os testes PISA, e que os estudantes são escolhidos automaticamente a partir de um programa utilizado para o efeito. “Os estudos da OCDE não costumam ser questionados quanto à sua idoniedade”, frisou.

Ficou assim sem resposta o pedido apresentado pelo Bloco de Esquerda e PCP para que o ministério divulgue a lista de escolas que foram escolhidas para participar no PISA em 2009.

Numa audição que está a decorrer na comissão parlamentar de Educação e Ciência, Ana Drago, do BE, apelou, “a bem da transparência e credibilidade do Ministério da Educação”, para que Isabel Alçada revele quais as escolas e as caracteristicas dos alunos que participaram na avaliação internacional promovida de três em três anos pela OCDE.

Ana Drago lembrou, a propósito, as dúvidas que têm sido tornadas públicas sobre a participação nestes testes de estudantes que frequentam cursos de vocação profisisonal e que habitualmente têm piores resultados. Alçada saudou a equipa que lhe precedeu na Ministério da Educação – Maria de Lurdes Rodrigues e os secretários de Estado Jorge Pedreira e Valter Lemos – pelas medidas adotadas, e que se traduziram nos melhores resultados obtidos no PISA 2099, sublinhou. Mas nada disse a propósito da amostra portuguesa.

Isabel Alçada confirmou, por outro lado, que a partir do próximo ano letivo a disciplina de Estudo Acompanhado, que estava a ser utilizada para reforçar apendizagens de Matemática e Língua Portuguesa, será só para alunos com dificuldades.

Segundo Alçada, esta mudança deriva da constatação de que o trabalho como uma turma inteira, como tem sucedido, “não permite uma relação direta entre professor e aluno”. “Precisamos de horas para que os alunos possam trabalhar autonomamente e beneficiar dos equipamentos que as escolas atualmente têm”, defendeu também.

O reforço do ensino de Matemática e Língua Portuguesa tem sido apontado como uma das medidas que contribuiu para a melhoria resultados dos alunos portugueses no PISA. Para a deputada Ana Drago, trata-se de um contrassenso: “Festejámos os resultados do PISA, analisámos as políticas que poderão ter tido impacto neles e, em simultâneo, o que temos no horizonte, é o seu fim”, frisou.

Quanto à revisão dos contratos de associação em vigor com 94 estabelecimentos do ensino particular e cooperativo, Isabel Alçada, respondendo a questões do CDS, frisou que se trata de salvaguardar “o interesse público”.

A ministra reafirmou que o financiamento do Estado às escolas particulares só terminará nos casos em que, na mesma zona, haja duplicação da oferta ou seja, quando estão em funcionamento escolas públicas. “Está a ser feita uma avaliação pormenorizada das necessidade de oferta do ensino privado atendendo à existente das escolas públicas. E também no número de turmas que será necessário assegurar no particular quando essa oferta não for suficiente nas escolas públicas”, garantiu.

Os cortes nos contratos de associação começarão a ser sentidos a partir do próximo ano. O CDS lembrou que nas escolas com contratos de associação, e que são financiadas na totalidade pelo Estado, estudam 70 mil alunos e trabalham oito mil professores e funcionários. “Se há duplicação da oferta, a culpa é do Estado que construiu escolas onde já estava assegurada uma oferta de educação”, acusou o deputado José Manuel Rodrigues.

Alçada lembrou que o alargamento da rede pública responde a um princípio consagrado na Constituição. “Não se pode pôr, neste momernto, a questão de encerrar escolas públicas”, constatou.

Polémica continua por causa da fiabilidade da amostra – OCDE não tem dúvidas sobre a amostra portuguesa no estudo PISA

Público | 15.12.10

Desde o dia em que se soube que Portugal se aproximou das médias da OCDE nas literacias de leitura, matemática e científica que há professores, investigadores e opinion makers que colocam dúvidas quanto aos resultados obtidos. As escolas e os alunos de 15 anos foram escolhidos para responder aos testes internacionais, dizem. As escolas foram indicadas pelo Governo, escreve o jurista Pedro Lomba, no artigo de opinião, na edição de ontem do PúBLICO. A OCDE responde que não, a amostra é aleatória, diz.

“Portugal obedeceu a todos os critérios estabelecidos pela OCDE para a constituição da amostra, por isso, não houve qualquer investigação”, responde Juliet Evans, da EDU/IA, o gabinete de auditoria interna, responsável pela Educação, da OCDE.

No início da semana, uma professora da Escola Secundária de Casquilhos, no Barreiro, revelou ao PúBLICO que, no princípio de maio passado, enviou uma denúncia à OCDE porque ficou “surpreendida” com a lista de estudantes escolhidos para realizar os testes do PISA, na sua escola. Sendo professora de três das seis turmas de 10.º ano, e conhecendo os alunos, verificou que os escolhidos eram estudantes com resultados académicos bons e medianos. “Isso fez-me questionar se as autoridades portuguesas estariam ou não a cumprir as instruções e procedimentos previstos na seleção dos alunos”, escreveu à OCDE.

“O que constatei é que, em cada uma das turmas que tinha, os cinco alunos selecionados para fazerem os testes eram os três melhores e dois médios, nenhum era fraco. Isto contribui para uma amostra francamente acima da média, pois numa turma de 25/30 alunos só dois ou três são de facto bastante bons, e cerca de metade são fracos”, diz ao PúBLICO. A professora esperou por resposta e no final de maio voltou a insistir, só tendo obtido resposta ontem.

Juliet Evans confirma que Portugal obedeceu a todos os critérios previstos para a constituição da amostra. Os estudantes são selecionados pelo consórcio pago pela OCDE para aplicar o estudo. “As escolas não podem escolher os alunos”, sustenta a responsável.

Também o diretor da escola do Barreiro, através do gabinete de comunicação do Ministério da Educação, diz “repudiar as graves acusações direcionadas à escola” que dirige e “a todas as pessoas envolvidas no processo de seleção dos alunos para o PISA 2009. Os alunos selecionados frequentavam turmas desde o 7.º ao 10.º anos incluindo cursos de educação formação e profissionais”. Dos 121 estudantes da lista “foram selecionados, aleatoriamente, 40 alunos pelo programa informático da OCDE”, acrescenta.

O PúBLICO tem insistido junto do Ministério da Educação para que faculte a lista das 212 escolas selecionadas pela OCDE. A resposta é que há um contrato de confidencialidade. Por seu lado, a OCDE diz que não sabe quais são os estabelecimentos de ensino, porque “o anonimato das escolas e dos estudantes é respeitado”. A tutela não responde sobre as características da amostra, por exemplo, a percentagem de alunos dos CEF e profissionais. A amostra é aleatória, tendo em conta critérios como a região, a tipologia da escola, o número total de alunos e destes os que têm 15 anos, por ano de escolaridade. Dos 6298 jovens que participaram, 60,4 por cento estavam no 10.º ano.

Três perguntas a Margarida G. de Matos – Falar de sexo é com colegas e não com pais

Público | 14.12.10

Apesar de os resultados do inquérito aos adolescentes indicar que estes se sentem mais à vontade para falar sobre sexo com os colegas, a coordenadora do estudo português para a Organização Mundial de Saúde defende mais educação sexual.

Os alunos portugueses podem ter mentido nos inquéritos?
A amostra é representativa dos 6.º, 8.º e 10.º anos. Não há nada [nenhum indicador] que nos diga que não é assim. Os alunos podem mentir à vontade, mas são amostras de cinco mil e não posso acreditar que me andam a pregar partidas desde 1998! Além disso, era difícil que todos mentissem para o mesmo lado. Há problemas que fazem muito barulho [ex: bullying], mas que não são universais.

Os alunos iniciam a vida sexual mais tarde. Isso contraria a ideia de que ter educação sexual na escola pode levá-los a começar mais cedo?
Estou preocupada porque eles atrasam o início da vida sexual mas não têm mais informação [do que antes]. Os jovens não privilegiam os pais nem os professores para falar de sexualidade ou de infeções sexualmente transmissíveis. A vontade de falar de sexualidade é com os colegas. A maioria diz que aprende via Internet ou televisão, o que é um risco. é muito difícil para um adolescente aos 11 anos ver o professor como seu interlocutor, mas se for assim desde os cinco anos, pode ser uma maneira de crescer na conversa natural e afetiva sobre sexualidade.

Como olha para os cortes anunciados para a educação sexual nas escolas?
Os problemas na saúde e na educação não são económicos, mas de desperdício, porque não aproveitamos o que já existe. Gostava de ver a classe docente a tomar poder sobre as suas competências e a resolver isto.

O que pensam e que o fazem os rapazes e raparigas com idades até aos 15 anos – Jovens portugueses estão a sair menos à noite e já trocaram a TV pelo computador

Público | 14.12.10

Começam a vida sexual mais tarde, não fumam e gostam de ir à escola. Um retrato sobre estilos de vida feito para a OMS mostra uma geração com um comportamento quase exemplar. Em casa, os jovens estão à frente da televisão ou do computador

Não saem à noite, não fumam, não bebem e começam a vida sexual mais tarde. De manhã, tomam o pequeno-almoço. Na escola não se envolvem em lutas e gostam dos seus professores. Em casa, estão à frente da televisão ou do computador e, talvez por isso, praticam menos exercício físico. Há mais um senão: o consumo de drogas aumentou ligeiramente entre os adolescentes e jovens portugueses dos 6.º, 8.º e 10.º anos.

Estes são os resultados preliminares do estudo coordenado por Margarida Gaspar de Matos para o Health Behaviour in School-aged Children, que é apresentado hoje, em Lisboa. Os resultados finais serão conhecidos em abril. Trata-se de um estudo colaborativo da Organização Mundial de Saúde (OMS), feito de quatro em quatro anos, com o objetivo de estudar os estilos de vida e os comportamentos adolescentes. Os dados portugueses foram recolhidos para o relatório de 2012, onde se reúne a informação de outros 43 países.

“Há questões que fazem muito barulho [como o bullying] mas que não são universais. Há realidades que são só da nossa rua”, justifica Margarida Gaspar de Matos. Por isso, apesar da crise económica, “cada vez há menos miséria cultural e económica em Portugal”. “Há nichos preocupantes mas residuais, pelo menos no modo como os alunos percebem e nos relatam os factos”, aponta a professora da Faculdade de Motricidade Humana, da Universidade Técnica de Lisboa.

Maioria não tem relações
Segundo o inquérito feito a cinco mil jovens de 136 escolas públicas (as mesmas desde 1998), os pais também melhoraram a sua escolaridade. Aí pode estar um fator para a melhoria da situação, continua. Mais: a maioria dos adolescentes que constituem a amostra é de nacionalidade portuguesa. Há quatro anos, a maioria dos pais tinha o 1.º ciclo; atualmente, têm o 2.º ou o 3.º e têm também profissões mais qualificadas. Esta alteração pode dever-se à iniciativa Novas Oportunidades. “é uma mudança fantástica porque a escolaridade da mãe é o melhor preditor de saúde pública. Uma mãe escolarizada mexe-se melhor no sistema de saúde e no da educação”, revela.

Um quinto dos rapazes afirma já ter tido relações sexuais. No conjunto das raparigas e dos rapazes, a maioria (83,1 por cento) diz nunca ter tido relações sexuais. Em inquérito feito apenas aos alunos do 10.º ano que referiram já ter iniciado a sua vida sexual, oito em cada dez respondem que iniciaram aos 14 anos ou mais. Nove por cento dos rapazes respondem que iniciaram aos 11 anos ou menos, contra dois por cento das raparigas.

Quem já começou a sua vida sexual não teve relações associadas ao consumo de álcool ou de drogas (87,3 por cento). As raparigas usam mais frequentemente o preservativo (96,2, mais quatro por cento do que os rapazes) e a pílula é usada por 37,5 por cento das inquiridas. A maioria não usou espermicidas ou o coito interrompido na primeira relação. Na verdade, 85,1 por cento nem sabem que método usaram. Sobre quem decide, metade dos inquiridos dos 8.º e 10.º anos responde que é o casal.

Porque é que iniciaram a sua vida sexual? Metade responde que queria experimentar, 47 por cento estava “muito apaixonado/a”, 28 “já namoram há muito tempo”, 18 por cento confessam que “aconteceu por acaso” e 13 por cento respondem que não queriam que o “parceiro ficasse zangado”.

Seis em cada dez não saem à noite com os amigos. O consumo de tabaco e de álcool diminuiu em quatro anos – um quinto dos jovens responde que já se embriagou uma ou três vezes -, mas a experimentação de drogas aumentou umas décimas. Gaspar de Matos não sabe o que é que estes dados significam.

Em casa, os adolescentes veem muita televisão, embora menos do que em 2006 – na altura, 35,8 por cento viam mais de quatro horas diárias, durante a semana, contra 25,2 este ano. Mas passam mais horas ao computador – há quatro anos, 29,5 respondiam que nunca o usavam durante a semana; agora são apenas 12 por cento.

Sete em cada dez não se envolveram em lutas no último ano e gostam da escola, 80 por cento gostam de estar com os colegas e 85 por cento consideram que os professores têm uma boa perceção das suas capacidades académicas. Em média, os inquiridos que participaram no estudo têm 14 anos, pesam 53,4 quilos e medem 1,61 metros. A maioria – sobretudo os rapazes – está satisfeita com o seu corpo.

Inquéritos foram alargados a alunos do superior
Os rapazes aventuram-se mais do que as raparigas, que são mais cuidadosas sobre a sua vida sexual. Eles começam a ter relações sexuais mais cedo e assumem mais comportamentos de risco; elas são mais preocupadas. Pela primeira vez, a equipa de Margarida Gaspar de Matos alargou o estudo ao ensino superior. São as raparigas que têm mais conhecimentos relativamente aos riscos do VIH/sida. Os rapazes respondem com mais frequência “não sabe”.

Elas têm uma atitude mais positiva do que eles. Por exemplo, se a esmagadora maioria das raparigas responde que “a contraceção faz parte de uma sexualidade responsável”, a maioria dos rapazes considera que “o sexo é uma parte muito importante da vida”. à afirmação “sinto-me melhor comigo próprio quando uso métodos contracetivos”, 78 por cento das raparigas dizem que sim – mais 14 por cento que os rapazes.

Oito em cada dez iniciaram a vida sexual a partir dos 16 anos, eles mais cedo do que elas. Quatro em cada dez dizem ter uma relação amorosa há mais de dois anos e 84 por cento têm relações sexuais. Responderam 3278 alunos, com uma média de idades de 21 anos. O estudo foi financiado pelo Alto-Comissariado da Saúde.

O sucesso está na continuidade, dizem ex-governantes

Público | 11.12.10

Nem David Justino, nem Lurdes Rodrigues querem os louros dos resultados do PISA. O segredo está na responsabilização das escolas. Exames obrigaram escolas a trabalhar de maneira mais “intensiva” 

Os alunos portugueses ficaram melhores, de repente? Não, respondem ex-ministros e ex-secretários de Estado. O segredo está nas políticas de continuidade, desvendam David Justino, ministro da Educação de Durão Barroso, que introduziu os exames nacionais no 9.º ano, e Maria de Lurdes Rodrigues, a governante que mais tempo esteve à frente da 5 de outubro, e que manteve algumas das políticas herdadas de PSD, como os exames e as provas de aferição.

O que explica que os alunos de 15 anos portugueses questionados pelo PISA (Programme for International Student Assessment) se tenham aproximado das médias da OCDE nas literacias de leitura, matemática e científica? O que explica que tenham feito a maior progressão entre os paí-ses avaliados desde 2000, nos três domínios? Para começar: o ensino pré-escolar, enuncia David Justino. Esta é uma geração que seguramente já frequentou o jardim de infância. A grande aposta no pré-escolar foi feita durante o mandato de Marçal Grilo, durante o Governo de Guterres, lembra Justino. No entanto, todos os outros ministros continuaram a apostar no alargamento da rede e na generalização do pré-escolar.

A introdução dos exames no 9.º ano e das provas de aferição no 4.º e 6.º anos são duas medidas que permitiram a estes estudantes estarem mais familiarizados com o serem submetidos a testes, concordam Justino, Maria de Lurdes Rodrigues, Joaquim Azevedo, ex-secretário de Estado e conselheiro no Conselho Nacional de Educação, José Manuel Canavarro e Diogo Feio, ambos ex-secretários de Estado do Governo de Santana Lopes. Para Diogo Feio, do CDS, as provas de aferição deveriam ser substituídas por exames nacionais no final de cada ciclo.

José Manuel Canavarro não tem dúvidas de que os exames obrigaram as escolas a trabalhar de uma maneira mais “intensiva”. “Quando há focalização e treino, há melhoria”, defende.

Maria de Lurdes Rodrigues concorda: “Houve mais trabalho orientado para os resultados”. Na mesma linha, Justino diz que se constatou “uma alteração da cultura de avaliação em que se dá mais importância aos resultados”.

Roberto Carneiro, ex-ministro da Educação, acrescenta que hoje “as escolas estão mais conscientes” e que ensinam competências (que é o que o PISA avalia) e não transmitem apenas conhecimentos.

Peso dos rankings
O trabalho dos professores é enaltecido por todos os ex-governantes. Aos docentes, Roberto Carneiro junta as famílias. Também elas estão mais preocupadas e com uma maior perceção da importância da educação dos filhos, acredita. “Os pais têm mais habilitações e o ambiente cultural em casa melhorou. Nas escolas, as associações de pais também estão mais organizadas”, avalia.

David Justino não tem dúvidas de que os professores trabalham mais. “A tensão sobre a avaliação [do desempenho] teve esse efeito. Os professores estão sujeitos a um contexto de responsabilidade que há dez anos não existia”, constata.

Os professores permanecerem na mesma escola vários anos, permitindo a continuidade pedagógica, e os planos de recuperação dos alunos com maiores dificuldades são duas medidas que Maria de Lurdes Rodrigues tomou e que destaca como “muito importantes”.

Joaquim Azevedo concorda: “O cuidado colocado no apoio aos percursos escolares de alunos com maiores dificuldades de aprendizagem, prevenindo o insucesso, é uma medida muito importante”. Por isso, o PISA revela que os alunos com piores resultados são menos do que no relatório anterior.

A ex-ministra do PS recorda que, quando começou a visitar as escolas, ninguém sabia que resultados os seus alunos tinham tido nos exames; no final da legislatura, os diretores sabiam-nos “na ponta da língua”. “Não podemos encarar com naturalidade os maus resultados” e as escolas compreenderam-no, diz.

A seriação das escolas pelos resultados nos exames do básico e do secundário também teve peso na perceção da importância da avaliação externa, acrescentam Justino e Canavarro. “Os rankings desencadearam um processo de responsabilização”, defende o ex-ministro.Ana Benavente, ex-secretária de Estado da Educação de Marçal Grilo, recusa-se a comentar os resultados: “De orientadores, para informação dos países, os indicadores da OCDE transformaram-se em definidores das políticas, estabelecendo comparações abusivas entre países e das quais, aliás, só se tira o reforço da escola tradicional, do passado”, lamenta.

Ensino online produz melhores resultados do que as aulas convencionais

CienciaPT | 2010-01-28

Os estudantes que recebem toda ou parte da sua formação através da internet obtêm, em geral, um melhor desempenho do que aqueles que simplesmente assistem às aulas presenciais. Esta é a conclusão de um grupo de investigadores norte-americanos do Departamento de Educação dos E.U.A., que analisou 99 estudos sobre esta temática entre os anos de 1996 e 2008.

A investigação tem por base uma amostra composta por alunos do ensino básico, secundário e estudantes universitários, com especial incidência para esta última categoria.

Os resultados deste estudo, realizado em colaboração com o instituto de investigação SRI International, revelam que 6 de cada 10 jovens que utilizam métodos de ensino online aprovam com boas notas as provas curriculares, face a 5 de cada 10 que que recorrem unicamente ao modelo tradicional de classes presenciais.

Apesar do método online registar uma taxa de sucesso mais elevada, os investigadores constataram que o êxito foi ainda mais notório quando se combinam os dois modelos -online e presencial -mediante o sistema de Blended-learning.

Diana Duarte, Diretora Docente da Master.D Portugal, refere a este respeito que “as novas tecnologias de informação e comunicação oferecem enormes potencialidades ao ser humano no decurso do seu processo de aprendizagem. Entre todas as vantagens que a educação online congrega, penso que a mais importante é a criação de experiências individuais de formação que despertam o interesse e curiosidade do indivíduo e que fomentam, simultaneamente, uma maior autonomia, espírito crítico e ânsia por novos conhecimentos.”

Por outro lado, os especialistas da empresa de formação à distância Master.D, afirmam que os jovens portugueses recorrem pouco às novas tecnologias de informação como ferramenta auxiliar de estudo. “As instituições de ensino desempenham um papel fundamental na educação e formação dos alunos e devem ajudá-los a explorar as potencialidades das TIC enquanto suporte pedagógico. As novas metodologias e sistemas de ensino são fundamentais para garantir um nível de formação mais elevado e o desenvolvimento das aptidões da nossa comunidade de estudantes.”