Mulheres usam Net menos do que os homens e mais para trabalho
Lusa | 14.09.11
As mulheres utilizam menos a Internet do que os homens e fazem-no sobretudo para trabalho e conexão social, ao passo que os homens diversificam e passam mais tempo ao computador sobretudo para entretenimento e consumo de informação.
Estas conclusões constam de um estudo sobre “Questões de género na participação digital” da autoria do investigador José Azevedo, da Universidade do Porto, realizado no âmbito do Projecto Inclusão e Participação Digital e será apresentado hoje na Conferência “Diversidade Digital”, que decorre hoje na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
O inquérito foi administrado de forma directa por investigadores do projecto a indivíduos com mais de 15 anos que se encontravam em espaços da rede de Espaços Internet e em Centros de Emprego e Formação Profissional das áreas metropolitanas de Lisboa, Coimbra e Porto.
Foram realizados 893 inquéritos, dos quais 452 são indivíduos do sexo masculino e 441 do sexo feminino, com idades compreendidas entre os 15 e os 87 anos.
A investigação conclui que apesar da diminuição da desigualdade entre géneros na sociedade portuguesa, esta ainda persiste no acesso à Internet e outras tecnologias de informação e comunicação (TIC), sendo esta assimetria designada como “fosso digital”.
O estudo conclui que o que continua a impedir que as mulheres participem mais intensamente, quer enquanto produtoras como utilizadoras de conteúdos, é o facto de o ambiente tecnológico ter ainda uma conotação masculinizada, por um lado, e o de a mulher ter menos tempo disponível para essa actividade, fruto da sua “dupla jornada” de trabalho (emprego/casa), por outro.
No entanto, no que se refere ao nível mais elementar de acesso, verifica-se uma ligeira vantagem feminina na posse de equipamentos e serviços de Internet: 77,3% das mulheres declararam possuir computador portátil (contra 70,4% dos homens) e 99,5% afirmaram ter telemóvel (contra 97,1% dos homens).
Uso eficaz das TIC acelera criação de emprego e crescimento económico
Lusa | 13.10.11
Os governos devem apoiar a utilização generalizada das tecnologias de informação e comunicação (TIC) pelas pequenas e médias empresas (PME), para acelerar a criação de emprego e o crescimento económico, sustenta um documento hoje divulgado pelas Nações Unidas.
O relatório anual da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, na sigla em Inglês) sobre a economia da informação justifica a proposta por a dimensão das TIC estar “frequentemente ausente” das estratégias de desenvolvimento do setor privado.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, considera que “enquanto alguns países estão já a beneficiar das ligações estreitas entre as TIC e o desenvolvimento do setor privado, muito mais pode ser feito para transformar as TIC numa força poderosa para melhorar a competitividade do setor privado”.
Jovens dão mais valor ao ato de ler e o Plano Nacional de Leitura deu uma ajuda
Lusa | 14.09.11
Em cinco anos o Plano Nacional de Leitura (PNL) “ajudou a reforçar as competências de leitura” das crianças e jovens, que dão hoje mais importância ao ato de ler, de acordo com um estudo hoje divulgado.
O estudo, feito pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, é o resultado de uma avaliação aos cinco anos de atividade do PNL, desde que foi criado em 2006, na promoção de hábitos de leitura entre os mais novos e, em particular, em ambiente escolar.
O investigador António Firmino da Costa, que dirigiu o estudo, divulgou hoje os resultados em Lisboa na conferência internacional do PNL, referindo que são “encorajadores” para o futuro do projeto.
Internet móvel ainda não satisfaz consumidores
Lusa | 12.09.11
Os consumidores estão desiludidos com a Internet móvel, já que 77 por cento dos ‘sites’ das maiores empresas ainda demoram mais de cinco segundos a carregar e a maioria dos utilizadores dos ‘smartphones’ está disposta a esperar três segundos, revela um estudo.
O estudo da Compuware Portugal, especialista no desempenho de sistemas de informação, revela que as expectativas dos utilizadores de Internet em dispositivos móveis “não estão a ser atingidas”, sobretudo devido ao fraco desempenho das aplicações, e que as empresas “não estão prontas” para esta realidade. Apesar disso, o número de consumidores está a aumentar a grande velocidade.
A maioria dos utilizadores de ‘smartphones’ (60 por cento) só está disposta a esperar um máximo de três segundos por uma página web.
A investigação indica que muitos dos problemas ainda não foram resolvidos, com 57 por cento dos utilizadores a reconhecer que já tiveram problemas no acesso a ‘sites’ a partir dos seus terminais móveis.
Por outro lado, 71 por cento dos inquiridos esperam que os ‘websites’ sejam carregados tão rapidamente nos seus ‘smartphones’ como nos computadores e 43 por cento dificilmente voltarão a um ‘site’ com baixa velocidade de carregamento.
Os inquiridos revelam esperar um serviço rápido e transações sem falhas a qualquer hora do dia, mas ainda não é esse o cenário com que se deparam.
“Podemos dizer sem grande margem para dúvidas que estes resultados refletem aquilo que se passa atualmente no mercado nacional. De uma forma geral, nem as maiores empresas sabem neste momento como podem resolver os problemas de ‘performance’ das suas aplicações Web e, como tal, estão simplesmente a desperdiçar o enorme potencial dos serviços móveis”, afirma em comunicado o diretor de logística da Compuware Portugal, José Matias.
O estudo “O que querem os utilizadores dos Serviços Móveis” foi realizado junto de mais de quatro mil utilizadores na China, índia, Estados Unidos da América, França, Reino Unido, Austrália e Alemanha.
Jovens portugueses são líderes das novas tecnologias
Diário de Notícias | 10.08.11
Se há coisa da qual os jovens portugueses percebem, é de computadores e Internet. Têm quase todos acesso e sabem como se proteger.
A Lei de Moore diz-nos, isto de forma simplificada, que num curto espaço de tempo a tecnologia evolui para o dobro das capacidades, diminuindo o seu custo. Os jovens portugueses não deixam os créditos em mãos alheias e, segundo uma junção de três estudos europeus, aparecem na linha da frente dos que melhor dominam as tecnologias de informação e comunicação (TIC).
Por exemplo, de 2005 a 2009, houve um aumento de 24% nos utilizadores de computadores e Internet na faixa etária dos dez aos 15 anos.
Motores de busca reduzem a nossa memória
Diário de Notícias | 18.07.11
Pessoas desvalorizam memorização de informações quando sabem que as podem vir a encontrar na Internet.
Podem ser um excelente recurso num momento de dúvida, mas os motores de busca podem estar a prejudicar a memória dos seres humanos. Um estudo desenvolvido por uma equipa de investigadores norte-americanos defende que o constante recurso a estas pesquisas está a degenerar a forma como o homem armazena as informações na sua memória.
O trabalho foi divulgado pela revista Science e explica que “quando os participantes no estudo sabiam que a informação dada estaria disponível na internet ou num computador preocupavam-se menos em memorizá-la”. E que antes de pensarem na resposta muitos participantes pensavam onde podiam encontrá-la.
Jogos são as aplicações móveis mais populares
Público | 07.07.11
Os jogos são as aplicações para telemóveis mais descarregadas nos EUA, mostra um relatório da Nielsen.
Segundo os dados da analista – que dizem respeito ao uso de aplicações no mercado americano ao longo do segundo semestre deste ano -, os jogos foram a aplicação mais usada entre os inquiridos: 64 por cento disseram ter usado uma aplicação deste género nos 30 dias que antecederam a pergunta.
Em segundo lugar na lista das categorias mais populares estão as aplicações de meteorologia (usadas por 60 por cento dos inquiridos) e as de socialização (56 por cento).
São também os jogos o tipo de conteúdo por que os utilizadores estão mais dispostos a pagar (93 por cento), seguindo-se as aplicações de entretenimento (87 por cento) e as de produtividade (como editores de texto ou de folhas de cálculo, com 84 por cento). As aplicações de notícias estão em sexto lugar, com 76 por cento das pessoas a afirmar que pagariam por este género de aplicação.
Os números mostram ainda que os utilizadores de iPhone passam mais tempo a jogar no telemóvel do que quaisquer outros: em média, 14,7 horas por mês, contra 9,3 no caso dos utilizadores de Android, 4,7 horas nos de Windows Phone 7 e 4,5 horas entre os utilizadores de BlackBerry.
Os smartphones modernos (com ecrãs maiores do que os telemóveis anteriores, processadores mais potentes e possibilidade de jogar com recurso a movimentos) têm emergido como uma plataforma de jogos importante. Os jogos para estes aparelhos são também, quase sempre, muito mais baratos do que os títulos para consolas ou computadores.
Relatório da OCDE: Acesso de alunos a internet em casa quase quadruplicou em nove anos
Público | 28.06.11
Em 2000 apenas 24 por cento dos estudantes portugueses afirmavam ter acesso a internet em casa. Em 2009 esse número subiu para 91,1 por cento. Portugal acompanha uma tendência geral mas o seu “salto” neste campo destaca-se. Se em 2000 se encontrava bastante abaixo da média dos países da OCDE em 2009 ultrapassa esse valor médio. O acesso a internet em casa é apenas um dos muitos dados apresentados no retrato sobre as novas tecnologias e o desempenho dos alunos chamado “Estudantes On-Line”, no âmbito do mais recente relatório PISA ((Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes) apresentado nesta terça-feira em Paris.
Apenas 0,4 por cento dos cerca de 6.200 estudantes portugueses inquiridos para este estudo indicaram que nunca usaram um computador.
São quase 400 páginas de números, estatísticas e comparações. O mais recente relatório PISA inclui os resultados de um questionário geral sobre o uso de computadores na escola e em casa a países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económicos (OCDE) e alguns países convidados e ainda as conclusões de um projeto mais restrito levado a cabo em 2009, no qual Portugal não participou, e que quis testar a capacidade dos alunos em usar a informação on-line.
O documento da OCDE mostra, de facto, que os alunos portugueses estão hoje acima da média no acesso a computador e a Internet em casa, ao contrário do que se passava há nove anos. Porém, os nossos alunos continuam abaixo da média da OCDE no que se refere ao acesso a computadores na escola. Em 2009, 91,7 por cento dos estudantes portugueses tinham acesso a computadores na escola quando a média em 29 países da OCDE era de 93,1 por cento. No acesso à internet na escola, Portugal já consegue ultrapassar a média de 92,6 por cento com o registo de 96,5 por cento. Por outro lado, o rácio de computadores por número de estudantes na escola aumentou de 0,07 para 0,10 entre 2000 e 2009 mas também continua abaixo da média de 25 países da OCDE (0,13 em 2009).
Onde é que Portugal se destaca? Portugal surge em primeiro lugar no quadro que exibe a percentagem de alunos que afirmam poder realizar uma apresentação multimédia, “com som, fotografias e vídeo” sem recorrer a qualquer tipo de ajuda. De 36 por cento em 2003 os alunos portugueses passam neste capítulo para 72 por cento, quando a média de 29 países da OCDE está nos 53,6 por cento. E neste tipo de tarefa quem mais parece ter evoluído são as raparigas. Em 2003 apenas 24,3 por cento das estudantes afirmavam ser capazes de fazer uma apresentação multimédia sem ajuda e em 2009 esse grupo já atingia os 71 por cento. Os alunos portugueses também superam os valores obtidos por 28 países da OCDE (que conseguem uma média de 82,8 por cento) quando vemos que 95,9 por cento consideram que “é muito importante trabalhar com um computador”.
Mas o relatório constata grandes disparidades entre países, do acesso quase universal à Internet em casa em países como a Noruega e a Finlândia, a menos de metade no México e a apenas 10 por cento na Indonésia. São também grandes as diferenças entre alunos socialmente favorecidos e alunos provenientes de meios sociais com dificuldades, realça o relatório PISA. No entanto, em países como Portugal, “o uso da Internet na escola compensa a falta de disponibilidade de computador em casa” e são os alunos mais desfavorecidos “que têm maior inclinação para usar o computador na escola”. Apenas 0,4 por cento dos cerca de 6.200 estudantes portugueses inquiridos para este estudo indicaram que nunca usaram um computador, uma das percentagens mais baixas neste indicador entre os membros da OCDE.
O PISA avalia as competências e conhecimentos dos alunos no nível de ensino correspondente aos 15 anos de idade. O programa completou a quarta série de estudos, analisando sucessivamente cada uma das áreas de interesse em 2000, 2003, 2006 e 2009. Com Lusa.
Portugueses usam mais Internet em casa do que na escola
Lusa | 28.06.11
Os alunos portugueses estão acima da média no uso da Internet em casa mas abaixo da média no seu uso na escola, segundo um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económicos (OCDE) apresentado hoje em Paris.
O documento indica, no entanto, que Portugal, entre 70 países, tem uma das percentagens mais elevadas de alunos com acesso à Internet na escola.
Os dados fazem parte das conclusões do novo relatório PISA (Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes) sobre as novas tecnologias e o desempenho dos alunos, que atualiza o estudo de 2009 realizado pela OCDE.
Portugal ocupa o primeiro lugar em percentagem de alunos que afirmam poder realizar uma apresentação multimédia, “com som, fotografias e vídeo”, tendo registado uma duplicação deste indicador em relação a 2003, para uma percentagem (acima de 70) que mais do que triplica o valor médio dos países que participam no PISA.
O relatório constata grandes disparidades entre países, do acesso quase universal à Internet em casa em países como a Noruega e a Finlândia, a menos de metade no México e a apenas 10 por cento na Indonésia.
São também grandes as diferenças entre alunos socialmente favorecidos e alunos provenientes de meios sociais com dificuldades, realça o relatório PISA.
No entanto, em países como Portugal, “o uso da Internet na escola compensa a falta de disponibilidade de computador em casa” e são os alunos mais desfavorecidos “que têm maior inclinação para usar o computador na escola”.
Apenas 0,4 por cento dos cerca de 6.200 estudantes portugueses inquiridos para este estudo indicaram que nunca usaram um computador, uma das percentagens mais baixas neste indicador entre os membros da OCDE.
Entre os alunos portugueses inquiridos para o PISA 2009, 98 por cento responderam dispor de computador em casa. O número de estudantes nestas condições aumentou 41 por cento em Portugal de 2000 para 2009.
Tecnologia perturba o sono, indica estudo
Público | 07.03.11
Um estudo americano aponta que o uso de tecnologia à noite está a custar horas de sono a praticamente todas as faixas etárias. O brilho dos ecrãs pode perturbar o sono
Segundo um inquérito conduzido pelo Associação Nacional para o Sono dos EUA, praticamente 95 por cento dos inquiridos admitiu usar algum tipo de dispositivo eletrónico na hora imediatamente antes de ir para a cama (o que inclui a televisão, computadores, telemóveis e consolas). Cerca de dois terços admitiu que não dorme tanto quanto devia – e os responsáveis dizem haver uma ligação entre a falta de sono e o uso de eletrónica.
Por um lado, a luz dos ecrãs fomenta um estado de alerta, ao inibir a produção de melatonina, uma hormona que ajuda a regular os ciclos biológicos e que induz sono. A melatonina é produzida em condições de pouca luminosidade.
Por outro lado, os aparelhos simplesmente ocupam horas em que as pessoas poderiam estar a dormir – é o caso dos muitos adolescentes que admitiram enviar mensagens de texto noite dentro, já quando estão na cama, mesmo que isso signifique dormir menos horas do que o necessário (e há até quem seja acordado a meio da noite pelo aviso de que chegou um novo e-mail ou SMS).
Mais de um terço dos adolescentes entre os 13 e os 18 anos, e 28 por cento dos adultos entre os 18 e os 29, afirmou jogar videojogos antes de se deitar. Sessenta e um por cento de todos os inquiridos disseram usar o computador pelo menos algumas noites por semana. Já ver televisão antes de ir para a cama era prática mais frequente na faixa etária dos 46 aos 64 anos.
Uso excessivo da tecnologia perturba o sono
Lusa | 07.03.11
Os norte-americanos estão a perder o sono por passarem o tempo a escrutinarem os ecrãs dos seus aparelhos eletrónicos, apurou um estudo divulgado hoje.
Entre as pessoas interrogadas pela Fundação Nacional do Sono (National Sleep Foundation), num universo de 1.508, com idades entre os 13 e os 64 anos, 95 por cento jogam jogos vídeo, veem televisão ou utilizam o smartphone ou o computador portátil na hora que antecede o deitar. “Este estudo revela que os ecrãs de fraca intensidade luminosa são muito utilizados na hora crucial que antecede a ida para a cama”, sublinha Charles Czeisler, da Faculdade de Medicina da Universidade de Harvard, citado pela agência AP.
“A invasão dos quartos de dormir por estas tecnologias, que mantêm as pessoas acordadas, pode explicar a forte proporção de pessoas interrogadas que dizem dormir menos do que precisariam”, adianta. A sondagem revela que 43 por cento das pessoas consideram que raramente, ou nunca, têm um sono satisfatório durante a semana. Os mais idosos têm tendência a ver televisão, enquanto que os mais novos preferem os computadores, os smartphones ou as consolas dos jogos vídeo.
Ora, a utilização destes aparelhos “pode ter consequências graves para a saúde física, o desenvolvimento cognitivo e outros indicadores do bem-estar” dos jovens, alerta Lauren Hale, do Centro Médico da Universidade de Stony Brook, no Estado de Nova Iorque. Os investigadores suspeitam que os computadores, os smartphones e outros jogos vídeo são mais estimulantes do que a televisão, que induz um visionamento passivo, e que podem perturbar mais o sono.
As pessoas com défice de repouso por causa dos seus aparelhos têm tendência a recorrer ao café e à sesta para lutar contra a fadiga, segundo a sondagem, com uma margem de erro de mais ou menos 2,5 pontos.
Pais devem poder escolher a escola dos filhos
Jornal de Notícias | 10.05.11
Os pais devem poder escolher a escola que consideram mais adequada para os seus filhos para além do sistema público, defende um estudo europeu apresentado, esta terça-feira, que aponta igualmente a “efectiva gratuitidade” do ensino obrigatório.
O projecto Indicadores de Participação dos Pais na Escola (IPPE), desenvolvido em vários países europeus, reflecte uma imagem que “não é negativa” para Portugal, já que os resultados colocam o país na média europeia.
O objectivo do projecto era avaliar a participação dos pais na vida escolar e Portugal obteve 71 pontos (num total de 100) quando a média europeia é de 72 pontos.
O projecto está a ser apresentado e debatido num seminário organizado em Lisboa pelo Conselho Nacional de Educação que desenvolveu o trabalho em Portugal em parceria com a Fundação Pró-Dignitate.
A presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), Ana Maria Bettencourt, disse à agência Lusa, à margem do seminário, que este trabalho “abre caminho para algumas reflexões pertinentes” relacionadas com a gestão das escolas e a participação dos pais na vida escolar dos seus filhos.
Aponta ainda áreas em que é necessário melhorar, como a forma de informar os pais, que muitas vezes não é a mais adequada. No indicador global, Portugal obteve a mesma pontuação que Espanha, muito perto da média europeia, tendo sido ultrapassado pela Bélgica, Inglaterra e País de Gales.
O país ficou acima da média europeia no indicador relativo ao direito de participação, tendo-se situado abaixo da média europeia nas restantes questões, relativas ao direito de escolha do estabelecimento de ensino e ao direito à informação. Portugal obteve uma boa pontuação no que respeita ao direito de recurso dos pais face a decisões dos estabelecimentos de ensino.
Na apresentação do estudo, Conceição Reis e Carmo Gregório, do CNE, referiram que as conclusões do estudo apontam para a necessidade de serem definidas medidas financeiras que permitam aos pais a escolha da escola para os seus filhos.
“Propomos que se dê aos pais a possibilidade de escolha, tornando efectiva a gratuitidade do sistema escolar obrigatório, através da implementação de medidas fiscais e/ou financeiras ajudando as escolas ‘outras que não as dos poderes públicos'”, ou seja estabelecimentos de ensino privado, pode ler-se no documento síntese do estudo.
Com o objectivo de favorecer o direito à escolha, “os poderes públicos deveriam promover a diversidade no sistema educativo público e no ‘outro’, nomeadamente através da autonomia dos estabelecimentos e de encorajamentos a projectos pilotos”, acrescenta.
Esta questão integra o programa eleitoral do PSD, apresentado no domingo, tendo os sociais-democratas defendido “iniciativas de liberdade de escolha às famílias em relação à oferta disponível, independentemente da natureza pública ou privada do estabelecimento de ensino”.
PÚBLICO questionou personalidades sobre estado da Educação
Público | 21.04.11
O PúBLICO lançou o desafiou a algumas personalidades para responderem a questões sobre o estado da Educação. No caso da Educação o que mudou e o que podia ter mudado e não mudou? Quais as medidas/casos que considera terem sido emblemáticos deste ano e meio? E quais os mais “bicudos”? E o futuro passará por onde? Que prioridades para a Educação? Seguem-se as respostas.
Pedro Duarte, PSD
1. O que mudou?
A grande mudança foi cosmética. A atitude beligerante da anterior titular da pasta foi substituída pelo “low profile” da actual Ministra. Esta mudança é positiva, mas é curta!
No essencial, manteve-se uma política orientada para resultados de curto prazo, que permitissem alimentar a propaganda governamental. As inaugurações de escolas são o melhor exemplo de toda uma política focada no “show off” em prejuízo da qualidade das aprendizagens.
Não se mexeu em nada de estrutural, com alterações avulsas motivadas unicamente por imposições do Ministério das Finanças.
2. O que podia ter mudado e não mudou?
Poder-se-ia ter dado passos no sentido do alargamento e aprofundamento da autonomia das escolas.
Aqui rigorosamente nada se avançou. Não se celebraram mais contratos de autonomia, não se responsabilizou as direcções escolares e não se promoveu a diversidade e flexibilidade dos projectos educativos. Pelo contrário, acentuou-se dramaticamente o controlo político (via direcções regionais e afins) da vida das escolas.
3. Medidas emblemáticas e “bicudas”?
Destaco duas que preenchem os dois requisitos.
1) O ataque ao ensino particular e cooperativo com contratos de associação. Foi grave e errado. O Governo moveu-se por puro oportunismo e tacticismo.
Oportunismo que se prova olhando para todas as medidas anteriores dos diferentes governos socialistas. Até mesmo em 2009, há um despacho de Valter Lemos, onde se assume a vontade de aumentar o número de contratos de associação. De repente, por conveniência partidária, invocam-se razões ideológicas e “de princípio”, de suposta “defesa da escola pública” para atacar estes contratos.
E tacticismo porque a lógica é sempre de dividir para reinar. No anterior mandato, o Governo tentou colocar professores (os titulares) contra professores (os não titulares). Neste mandato, tentou colocar o ensino estatal contra o particular e cooperativo. Falhou, felizmente, em ambos os casos.
2) o modelo de ADD. Como foi possível não se ter aprendido com os erros do modelo de Maria Lurdes Rodrigues? Como foi possível criar um modelo que, do ponto de vista da burocracia e da conflitualidade que gera entre professores, é pior do que o anterior?
4. E o futuro? Prioridades?
O caminho tem de ser:
1) crescente autonomia e responsabilização das escolas, promovendo a diversidade e criatividade.
2) valorização do papel do professor, reforçando a sua autoridade e a sua auto-estima. A título de exemplo, o novo modelo de avaliação – que deverá sempre existir – deve acabar com a burocracia estéril e com a classificação inter-pares dentro da escola.
3) alteração do paradigma de Ministério de Educação. Em lugar de um ministério que se quer sobrepor e substituir às escolas, deveremos ter um ministério avaliador, fiscalizador e disponível para apoiar as iniciativas e dificuldades das escolas.
Michael Seufert, CDS-PP
A legislatura que termina teve a particularidade de não haver uma maioria absoluta a sustentar o governo e como tal foi possível mudar e aprovar legislação que doutra forma seria boqueada por uma maioria afecta ao governo. Logo no início da legislatura foi possível, através do mecanismo da apreciação parlamentar, fazer alterações nos estatutos da carreira docente do ensino superior, o que no caso particular do Ensino Politécnico permitiu que os docentes que se encontram nas instituições há anos sem qualquer vínculo entrassem na carreira.
Uma alteração que acabou com os erros feitos na anterior legislatura, foi aquela que, por iniciativa do CDS, introduzimos no estatuto do aluno. Pudemos assim voltar a devolver alguma disciplina à sala de aulas e ajudar a que os alunos tenham de frequentar de facto a sala de aulas para terem aprovação.
Refira-se ainda, já no fim, a suspensão da avaliação dos professores e a suspensão da “reforma curricular”.Uma grande vitória do CDS foi ainda a reversão das novas regras para as bolsas de estudo do ensino superior que as tratavam em pé de igualdade com o Rendimento Mínimo Garantido passando a deixar muitos estudantes de fora. O que não conseguimos fazer? Não conseguimos aprovar a tempo, ficou no grupo de trabalho, a lei dos empréstimos dos manuais escolares.
Igualmente não houve consenso para mudar a legislação referente aos contratos de associação, apesar do empenho que o CDS teve até ao fim para que se encontrasse uma solução.
Mas claro que muito fica ainda por fazer nesta área. No superior não se deu um único passo nesta legislatura para a reorganização da rede.
Nas escolas continuamos a ter pouca autonomia e pouca liberdade de escolha das famílias. Continua a haver uma obsessão pelos números de licenciados e diplomados no ensino secundário, sem que haja uma preocupação na exigência e nas qualificações, nomeadamente nas matérias essenciais como o português e a matemática. Estas matérias são fundamentais para que os sistemas de ensino dar a volta.
Bravo Nico, PS
As mudanças mais significativas e emblemáticas:
A assunção da Educação como a prioridade política, em todas as suas dimensões: pré-escolar, ensinos básicos e secundário, qualificação dos adultos;
A aposta no ensino profissional, ao nível do ensino secundário, aproximando Portugal dos índices da OCDE;
O alargamento da escolaridade obrigatória para os 12 anos e a universalização do pré-escolar para as crianças de 5 anos;
A aposta na qualificação dos adultos, através da consolidação da Iniciativa Novas Oportunidades, processo que recolocou, até ao momento, cerca de 1,5 milhões de portugueses em percursos formais de qualificação académica e profissional. Não há, na história da educação portuguesa, um movimento de magnitude equivalente;
Inversão da tendência dos resultados do desempenho dos estudantes portugueses, facto evidenciado pelo último Relatório PISA, da OCDE. Portugal sobe, de forma significativa, relativamente ao seu histórico e aproxima-se de países com sistemas educativos mais performances.
O que fica por resolver/o que ainda não mudou convenientemente:
O currículo, no que respeita aos conteúdos das aprendizagens, à natureza dos conhecimentos e das competências relevantes para uma cidadania informada, activa e crítica e para uma inserção no mundo do trabalho em condições adequadas;
O diálogo social na Educação, o que tem impedido um ambiente de maior paz e consenso entre os diferentes protagonistas educativos, nomeadamente no que se refere às relações entre os diferentes partidos políticos e entre o Ministério da Educação e os Sindicatos de Professores. A constante agitação e o ambiente conflituoso impedem o desenho e concretização de políticas educativas mais consensuais e mais estáveis;
Desafios para o futuro (incluo aqui os problemas mais “bicudos”):
Diálogo e procura de consensos alargados, absolutamente fundamentais para a estabilização do sistema educativo e para o adequado aproveitamento de todas as alterações, entretanto introduzidas. O sistema educativo necessita de uma sólida paz em dimensões como a política, a sindical e a legislativa (onde se verifica, por vezes, uma sobrecarga legislativa e administrativa, consequência de uma hiperprecisão de normas e orientações);
Aumentar a autonomia das escolas e consequente cultura de prestação de contas. é hoje uma evidência que escolas com maior autonomia e com lideranças mais fortes conseguem melhores desempenhos, em circunstâncias equivalentes;
Maior articulação e complementaridade entre as políticas de Educação (tuteladas maioritariamente pelo Ministério da Educação) e de Formação (tuteladas maioritariamente pelo Ministério do Trabalho e da Solidariedade). Esta dimensão poderá aumentar a eficiência do sistema de qualificação português e uma mais adequada gestão dos recursos financeiros;
Prioridades:
Garantir, na prática, a todos os jovens, a possibilidade de frequentar os 12 anos de escolaridade, o que implica uma reorganização da capacidade instalada nas escolas secundárias e da necessária adaptação da dimensão curricular (tendo em vista garantir adequados acesso e frequência a todos os jovens, particularmente para aqueles que tiveram percursos escolares mais diferenciados);
Aumentar o desempenho escolar dos alunos, em todos os níveis de escolaridade, e validar esses resultados através de avaliações internacionais (PISA, etc.).
Miguel Tiago, PCP
Esta curta legislatura foi novamente marcada por uma intensa campanha contra a Escola Pública e a Educação em geral, por parte do Governo. Não houve, como é sabido, intervenções profundas no quadro da Lei de Bases do Sistema Educativo, tal como no Ensino Superior não foram tocados os pilares da política de direita, nomeadamente o RJIES e a Lei de Financiamento. Todavia, a política de direita aprofundou-se, particularmente no que toca à aplicação de políticas que já vinham sendo executadas desde a anterior legislatura. Isso não impediu o PCP de apresentar as suas propostas para uma Escola diferente, orientada para o desenvolvimento e progresso nacional, social e económico, no plano do Ensino não superior e também superior, sendo inclusivamente o único Partido na História da Democracia portuguesa a apresentar um Projecto de Lei de Financiamento do Ensino Superior sem estar no poder. A conversão das escolas em institutos de formação profissional continuou a ser uma aposta forte deste governo com o apoio do PSD e do CDS. Da mesma forma, a avaliação de professores, o financiamento ao ensino privado com contrato de associação, a realização de concursos de ingresso e mobilidade, foram algumas outras questões levantadas no decorrer da legislatura. Todas essas questões poderiam ter sido ultrapassadas, como é sabido, se as propostas do PCP tivessem sido aprovadas na Assembleia. No entanto, ora PSD ora CDS se iam prestando a apoiar o Governo para que nada mudasse. Em 2010, o PCP propõe a suspensão da avaliação de professores e o PSD dá a mão ao Governo. Em Janeiro de 2011, novamente se verifica o mesmo cenário. Só em período pré-eleitoral o PSD muda a sua posição de forma oportunista, sacrificando os direitos dos professores à sua agenda de propaganda e correndo o sério risco de ter inviabilizado a utilidade do diploma aprovado pela assembleia. O PCP propôs também a realização de concursos de ingresso e mobilidade, e foram rejeitados pelo CDS e PSD. Da mesma forma, o PCP propôs uma fórmula clara, objectiva, mensurável e transparente para o financiamento a privados com contrato de associação e PSD e CDS optaram por se colocar ao lado do governo, deixando ficar a lei como estava antes da Apreciação Parlamentar.
Claro que muito mais poderia ter mudado. Principalmente o rumo liquidatário que está a ser imposto à Escola Pública. é urgente mudar a política de desmantelamento, de sub-financiamento, de ataque à dignidade do corpo docente, de empobrecimento das escolas e de precariedade entre os trabalhadores da Escola. Mas também é urgente a colocação de muitos mais auxiliares, tendo em conta que hoje todas as escolas funcionam praticamente sem funcionários. Igualmente é urgente alterar a concepção de base que está a ser aplicada à escola pública: a escola deve ser um espaço de atenuação das assimetrias e de distribuição do conhecimento e das competências de forma justa e em pé de igualdade. O que verificamos é cada vez mais uma escola para os filhos dos ricos e uma escola para os filhos dos pobres, sendo a primeira orientada para o prosseguimento de estudos e a segunda para a formação profissional.
Ana Drago, BE
Esta legislatura iniciou-se com alguma esperança de que seria possível corrigir erros cometidos na anterior legislatura, pacificar as escolas depois de uma luta tão intensa, e avançar em alguns domínios que não tinham sido atendidos durante o mandato de Maria de Lurdes Rodrigues. A maioria relativa do PS na AR criava a possibilidade das oposições concertarem posições nesse sentido. Contudo, logo na primeira votação ainda em Novembro de 2009, sobre a suspensão modelo de avaliação, o PSD impediu essa articulação. Apesar disso, a nova Ministra abriu um processo negocial sobre o Estatuto da Carreira Docente, comprometeu-se com uma reforma curricular e com a integração dos milhares de docentes contratados.
Acontece que tudo isto acabou por ser uma enorme ilusão. A partir de meados de 2010, todas as medidas implementadas pelo ME foram apenas e só no sentido de fazer cortes orçamentais no sistema público educativo, sem cuidar dos prejuízos em termos de qualidade da prestação do sistema educativo. Num sistema que ainda tem tantos défices, e não é ainda capaz de eliminar o abandono e insucesso escolar, esta estratégia é irresponsável e perigosa para o futuro do país.
Assim foi com a criação dos chamados mega-agrupamentos, que vão trazer problemas graves na qualidade da gestão das escolas, e com o fecho cego de centenas de escolas de 1º ciclo; a acção social escolar foi reduzida a partir do início de 2011; a reforma curricular aprovada pretendia apenas despedir professores, ou seja, reduzir recursos disponíveis nas escolas; a vinculação dos professores contratados foi abandonada, mantém-se a instabilidade e precariedade; e o modelo de avaliação de desempenho provou ser um embuste burocrático que continua a servir apenas para dificultar a progressão na carreira, e não para melhorar o desempenho das escolas. Foram conseguidas algumas vitórias. Em particular a eliminação da divisão da carreira, a revogação da reforma curricular e o consenso conseguido na AR para a suspensão do modelo de avaliação actual. Houve também uma aprovação de projectos que visam a criação de bolsas de manuais escolares e sua distribuição a todos os alunos, que deverá ser retomada na próxima legislatura. Mas quase tudo o que era necessário fica por fazer…
Neste contexto, apontaria um programa mínimo de urgência, no contexto em que estamos:
Não permitir a redução de professores nas escolas públicas, como o ME prepara já para Setembro. Não temos professores “a mais”. Pelo contrário. Estes professores são fundamentais para o trabalho de integração e de promoção do sucesso escolar que o país necessita, sendo particularmente importante no contexto de crise social e económica. é, pois, preciso parar esta dinâmica política – integrar os professores contratados nos quadros, manter unidades de trabalho que apostem na gestão de proximidade, porque é assim que se previnem e corrigem problemas.
Criar equipas multidisciplinares nas escolas. é hoje consensual no campo da política educativa que combater os maiores problemas da escola pública – abandono e insucesso escolar – requer novas competências e novos profissionais na escola pública. Nesse sentido, precisamos de equipas constituídas por professores, psicólogos, mediadores socioculturais e técnicos de serviço social, que assegurem o acompanhamento individual dos alunos sinalizados pelos conselhos de turma como estando em risco.
Reforma curricular. é manifesto que a escolaridade básica assenta numa matriz curricular excessivamente extensa e espartilhada por diferentes áreas curriculares e disciplinares, que resulta na fragmentação do conhecimento e numa carga horária desproporcionada no quotidiano escolar dos alunos. Precisamos de uma reforma curricular “séria” (e não apenas para fazer cortes orçamentais) – que deve ter como linhas orientadoras a criação de áreas curriculares que agreguem grandes ramos de conhecimento, combatendo a fragmentação das aprendizagens, favorecendo uma abordagem multidisciplinar, e permitindo a redução da actual carga horária dos alunos.
Regular os horários dos professores. A multiplicação de solicitações burocráticas (vide o modelo de avaliação de desempenho) têm vindo a retirar tempo essencial ao trabalho dos professores. O tempo é fundamental para a estruturação do trabalho colectivo entre professores, e para a preparação do seu trabalho com os alunos. Acabar com a máquina infernal em que se transformou o quotidiano de muitas escolas, para que as escolas e os seus profissionais se concentrem no fundamental – e possam fazer das escolas, colectivamente, unidades “aprendentes”. Isto é, que possam experimentar estratégias de redução do abandono e insucesso, testá-las, monitorizá-las e corrigir erros. Para isso é preciso tempo, motivação dos profissionais, proximidade e democraticidade no modelo de gestão escolar e de coordenação pedagógica.
Reduzir o número de alunos por turma, e definir máximo de alunos por professor. A heterogeneidade social das escolas públicas e a necessidade de apostar em metodologias pedagógicas diferenciadas e individualizadas, exigem condições de trabalho dos professores. Para isso precisamos de reduzir o número de alunos por turma, e definir o número de alunos máximo que um professor pode verdadeiramente acompanhar e guiar no percurso educativo.
Manuel Pereira, presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares
No caso da Educação o que mudou e o que podia ter mudado e não mudou? Mudou o Estatuo do Aluno para melhor. Mudou significativamente a atitude da equipa ministerial. Convivemos durante os quatro anos de maioria absoluta do governo com uma equipa ministerial arrogante e autista e, de facto, a equipa ainda em funções no Ministério da Educação teve sempre uma postura mais dialogante, mais disponível e mais flexível. Ouviu sempre, raramente escutou, contudo. Foi importante o acordo alcançado com as organizações de professores que permitiu chegar ao fim da divisão da carreira em duas categorias e que logrou também chegar a soluções mais consensuais sobre o estatuto da carreira docente. O que não mudou, infelizmente, foram as políticas para o sector da educação. A medida com maior impacto negativo na educação foi, sem dúvida, a agregação de escolas e agrupamentos, sobretudo porque começou a ser encarada pelo Ministério como uma regra, quando, claramente, deveria ser encarada como uma medida excepcional. Se há situações – concelhos – onde este processo pode ser aceitável e pacífico, a sua generalização a todo o país, sem cuidar de ter em conta a sua diversidade (até geográfica), pode por em causa a qualidade do serviço público de educação, a gestão de proximidade e as relações estreitas que, na generalidade das escolas, existe entre órgãos de gestão, professores e pais. A criação destas unidades organizacionais não é, definitivamente, uma boa solução para a escola pública e não tem paralelo em países que frequentemente servem para estabelecer comparações – Finlândia, EUA, Espanha… Por outro lado, continuou a insistir-se num modelo de avaliação de desempenho docente com as questões essenciais muito mal resolvidas (vertente formativa, periodicidade e avaliadores); As escolas precisam de um modelo de avaliação do trabalho docente que esteja distante de burocracias estéreis, que tenha um carácter formativo e liberte os professores para o que é central na sua actividade – as aprendizagens das crianças e jovens. Na prática o modelo é pior do que o anterior. Continuaram as alterações sistémicas em catadupa, com todos os prejuízos que isso acarreta em termos de estabilidade das escolas, como são exemplos as alterações ao estatuto da carreira docente e a obrigatoriedade de aplicação do novo código de contratos públicos. A criação da central de compras [vulgo CAPI] é aparentemente uma medida simpática e dotada de racionalidade. Apenas aparentemente uma vez que não há notícia de grandes reduções de custos nas aquisições das escolas [nalguns casos, como a limpeza, os custos até subiram], a burocratização do processo não ajuda na gestão quotidiana das escolas e a pequena economia local de muitos concelhos sai também afectada. Tudo isto poderia e deveria ter mudado e não mudou. Simultaneamente, os projectos do ME e do Governo para a organização do próximo ano lectivo (Despacho nº5328/2011 de 28 de Março, OAL) apontam no sentido de reduzir as possibilidades de trabalho qualificado das escolas – veja-se por exemplo a redução do crédito global de horas que amputará muitas possibilidade de trabalho das escolas com os alunos, famílias e comunidade. Veja-se, também, a perda grave que constituirá, para o bom funcionamento da escola, a impossibilidade prática de constituição de assessorias técnicas dada a não existência, nesse despacho, de crédito específico. Não se tem vislumbrado racionalidade pedagógica nas medidas anunciadas pelo Governo, apenas se percebe claramente a intenção de reduzir custos. Mas, em educação poupar não significa necessariamente ganhar. Apesar de o Governo continuar a falar de autonomia para as escolas, a verdade é que, no que é nuclear na gestão das escolas, as decisões são todas tomadas pelo ME e as suas estruturas desconcentradas – há despachos e circulares para tudo. No que é central para a vida e a qualidade das escolas – horários, constituição de turmas, organização das actividades, apoios educativos … – o espaço de decisão das escolas e dos seus órgãos, na prática, não existe.
Quais as medidas/casos que considera terem sido emblemáticos deste ano e meio? E quais os mais “bicudos”? Se entendermos por “medida emblemática” uma medida estrutural com fortes impactos positivos no nosso sistema de ensino, não encontramos nenhuma medida emblemática neste último ano e meio. As medidas mais emblemáticas deste curto mandato são as medidas que se constituem como o mais forte ataque à escola pública de qualidade e que se resumem a isto: Desinvestimento na educação e na escola pública. Constituição de mega Agrupamentos, à força, e a constituição de mega Escolas cuja poupança nos custos de gestão vão ser totalmente anuladas pelos problemas decorrentes de uma gestão mais afastada das pessoas e dos problemas. Cortes nas disciplinas áreas que constituem os currículos (medida que, no E. básico foi travada pela Assembleia da República). Cortes no número de elementos da gestão e nos seus abonos. Desvalorizando a gestão também se desvaloriza a escola. Cortes cegos nas assessorias, nos apoios, no desporto escolar e em tantas outras funções (OAL 2011/12) A organização dos exames: calendário e constituição de bolsa de correctores foi simplesmente incompetente. A gestão dos recursos humanos docentes foi calamitosa com escolas a precisarem de professores e a não os poder contratar. Não houve uma única medida de futuro, bem pensada e bem articulada. Tomaram-se medidas pontuais e apenas com o objectivo de responder aos cortês impostos pelo M. Finanças. Parece-nos que a agregação de escolas e agrupamentos, a avaliação de desempenho docente e a aplicação às escolas do novo código de contratos públicos terão sido as maiores dores de cabeça para a equipa ministerial e, muito especialmente, para as escolas.
E o futuro passará por onde? Que prioridades para a Educação? Há dois princípios que gostaríamos de ver, no futuro próximo, implementados para que as escolas e agrupamentos de escolas do país possam assegurar um serviço público cada vez com mais qualidade: autonomia alargada de gestão e estabilidade. Era importante avançar com a efectiva autonomia das escolas – autonomia não é independência; autonomia implica prestação de contas pelo trabalho realizado, mas implica, sobretudo, que as escolas possam tomar decisões nucleares à sua organização e ao seu trabalho [Cinfães não é Vila Real de Santo António – uma boa solução aqui, pode não o ser no Algarve]. à medida que se forem consolidando esses dois princípios há algumas questões que devem constituir uma agenda prioritária de actuação para a próxima equipa ministerial. é urgente desvincular as escolas do novo código de contratos públicos, pois não é possível criar nas escolas as condições mínimas para que se cumpra esse código integralmente. é urgente desenhar-se um modelo de avaliação de desempenho docente menos burocrático, mais formativo, com outra periodicidade e com outros avaliadores. é urgente definir a agregação de escolas e agrupamentos como excepção, a aplicar onde e quando se justificar. Esperamos que o futuro passe pela valorização da escola pública e pelo reconhecimento do importante papel que a educação e os seus profissionais podem desempenhar no desenvolvimento do país. “O investimento em educação é um investimento com retorno garantido” Importa repensar o papel do ensino secundário – sem preconceitos ou a priori o ensino secundário tem que ser repensado no sentido de melhorar as qualificações profissionais dos portugueses. Certamente também as qualificações académicas, mas com o alargamento da escolaridade para 12 anos a formação profissional será determinante. A acção social escolar deve ser dotada de mais meios financeiros, sobretudo num momento de grandes dificuldades para muitas famílias. As Actividades de Enriquecimento Curricular [AEC], no 1º Ciclo do Ensino Básico, devem ser repensadas, por forma a que, em muitos casos deixem constituir-se como factor de perturbação dos tempos curriculares [e, portanto, centrais nas aprendizagens das crianças].Talvez valesse a pena repensar alguns programas tornando-os menos extensos e com componentes mais práticas ou experimentais. Era importante que um novo tipo de relacionamento com os profissionais da educação fosse adoptado pelo Governo. Todas as medidas poderão ser implementadas com os profissionais da educação, nunca contra eles.
Em resumo: o Futuro deve passar por:
Diminuição do fervor legislativo
Pela pacificação das escolas
Pela revogação do modelo de ADD
Pelo reforço da Autonomia, de facto, das escolas
Pela maior estabilidade e fiabilidade do sistema
Pela exigência de qualidade nas escolas e no ensino
Ana Maria Bettencourt, presidente do Conselho Nacional de Educação
Mudanças
No período em análise há a registar, entre várias mudanças, uma melhoria significativa em matéria de qualidade e equidade dos resultados obtidos pelos alunos portugueses nos testes internacionais PISA e o reforço da escola a tempo inteiro no 1º ciclo, que constitui um importante apoio às famílias e promove o enriquecimento das aprendizagens.
No capítulo do ensino superior, a consolidação do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior e o alargamento da sua base social com a participação de elementos externos nos Conselhos Gerais das Universidades e Institutos Politécnicos.
O que podia ter mudado e ainda não mudou de modo significativo
Embora se registem melhorias significativas, continuamos a ter demasiados alunos com percursos escolares marcados por repetências/abandonos, o que condiciona a concretização da universalização da escolaridade obrigatória. As estratégias de apoio ao primeiro sinal de dificuldade são decisivas, mas ainda não praticadas de modo sistemático no nosso sistema.
Sobre a autonomia das escolas, apesar das experiências já encetadas, continua a haver muito caminho a fazer neste domínio.
No ensino superior é indispensável a racionalização da rede.
Medidas emblemáticas
As Metas de Aprendizagem, com potencialidades para introduzir mudanças na gestão dos programas e para melhorar as aprendizagens.
As metas 2015 poderão constituir um desafio para as escolas e um instrumento de regulação e melhoria dos seus resultados.
O acordo obtido com os professores através das suas estruturas de representação. No capítulo do ensino superior, o Contrato de Confiança entre o Governo e as instituições.
Casos mais complicados
As alterações de planeamento da rede de estabelecimentos dos ensinos básico e secundário.
O impasse actual na avaliação dos professores.
As alterações curriculares nos ensinos básicos e secundário, designadamente a redução do tempo global de ensino.
O impacto da alteração nas normas de atribuição de bolsas de estudo para os estudantes do ensino superior.
Prioridades para o futuro
Continuar a melhorar as aprendizagens e a qualificação dos portugueses. Prodir de modo significativo na concretização da escolaridade obrigatória de todos e na promoção da equidade.
Reforçar a participação das famílias, das autarquias e da sociedade na educação. Investir na qualidade dos processos de avaliação das inovações, das escolas, dos professores e dos alunos.
Continuar a atrair novos públicos para o ensino superior e garantir o cumprimento da meta europeia que estabelece que, em 2020, 40% das pessoas entre os 30 e os 34 anos tenham concluído um curso de ensino superior.
Prosseguir o investimento no ensino superior e na ciência para que as instituições e os cientistas portugueses possam intensificar os seus esforços de afirmação tanto no plano nacional como no internacional.
Repensar e valorizar boas práticas no campo da organização da rede de estabelecimentos e de cursos, de modo a reforçar a criação de massa crítica e a prosseguir o caminho da excelência no campo da ciência e da inovação.
Rodrigo Queiroz e Melo, Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo
No caso da Educação o que mudou e o que podia ter mudado e não mudou?
Mudou muito pouco. Se podia ter mudado algo não sei pois o problema é estrutural: o Ministério da Educação continua a agir como o Grande Educador do povo, fazendo micro gestão das escolas. Um exemplo paradigmático é o despacho 11120/2010 (anexo) que no seu artigo 6-A define como se organiza uma reunião na escola (!). Em cima deste problema de fundo, a equipa governativa deixou-se absorver pelos problemas financeiros do país tendo sido estes a ditar a política (era possível fazer diferente: definir um rumo claro ainda que limitado pelo orçamento).
Quais as medidas/casos que considera terem sido emblemáticos deste ano e meio?
No final deste ano e meio o que mais se retém é a negociação da avaliação do desempenho com os sindicatos (a política educativa encontra-se refém dos trabalhadores em vez de os trabalhadores estarem ao serviço da política educativa) e a reorganização da rede (mega(?)-agrupamentos e contratos de associação com escolas privadas).
Trata-se de “casos” e não de “medidas”.
Foram esboçadas medidas (como as metas de aprendizagem) mas estas, certas ou erradas, foram abafadas pelos casos sendo duvidoso que produzam algum efeito.
E quais os mais “bicudos”?
Os casos referidos (avaliação docentes, agrupamentos e contratos de associação) foram todos bicudos. E nenhum deles está resolvido.
E o futuro passará por onde? Que prioridades para a Educação?
Em momento de mudança, há sempre muita expectativa quanto ao futuro: maior autonomia das escolas, maior liberdade de escolha da escola pelos pais, maior transparência do sistema com dados públicos quanto ao sucesso dos alunos e o custo em cada escola. Mas esta expectativa é sempre travada por uma incerteza: haverá coragem política para, de uma vez por todas, por no centro das políticas educativas as famílias e os alunos em vez dos professores e das escolas?
A grande prioridade na educação deveria ser:
Menos Estado e mais sociedade civil;
Menos leis e mais objectivos concretos;
Menos desculpas e mais análise de resultados com vista à melhoria.
Mário Nogueira, Fenprof
No caso da Educação o que mudou e o que podia ter mudado e não mudou? Quais as medidas/casos que considera terem sido emblemáticos deste ano e meio? E quais os mais “bicudos”?
MN: Na Educação pouco mudou nesta curta legislatura. Foi um tempo em que a política educativa esteve ausente e tudo foi dirigido pelo Ministério das Finanças. Mesmo o processo de revisão das carreiras docentes, de que resultou o fim da sua divisão em categorias, para ser plenamente concretizado teria de, ao longo de 4 anos, permitir que as pessoas mudassem de escalão, progredissem, mas isso acabou ao fim de 6 meses, devido ao congelamento das progressões. Quanto à equipa ministerial, a sua constituição reflectia bem o que iria e acabou por acontecer. Uma figura pública capaz de, pela simpatia, fazer esquecer a ausência de políticas e a matriz negativa das medidas tomadas, completada por dois técnicos nas áreas que o governo considerou prioritárias para o sector: a avaliação de professores, sobretudo por razões de teimosia pessoal de um Primeiro-Ministro que fez disso a sua bandeira, revelando uma fixação completa nessa questão; o designado reordenamento da rede escolar que passou por encerrar escolas (prosseguindo um trabalho já iniciado com Lurdes Rodrigues) e constituir mega-agrupamentos, uma receita que o FMI está agora a impor à Grécia, mas que o governo português decidiu antecipar com prejuízo claro para a organização pedagógica e o normal funcionamento das escolas. Aliás, é precisamente em sentido contrário que caminham países que são dados como exemplo nos resultados, mas cujas medidas de política educativa raramente são analisadas e tidas em conta. Acho, pois, que emblemático da acção deste governo especificamente na Educação, foram precisamente a avaliação de docentes e o que chamam de reordenamento da rede escolar, sendo exactamente esses os casos mais bicudos.
E o futuro passará por onde? Que prioridades para a Educação?
MN: O governo terá de decidir se quer ou não que a prioridade seja uma Educação. Se for não pode deixar de investir no sector. Melhorar as condições de trabalho nas escolas; melhorar as condições oferecidas às escolas para que se organizem e funcionem; estabilizar e valorizar o corpo docente das escolas; democratizar a gestão das escolas, criando condições para um maior e melhor envolvimento dos docentes nas decisões, devendo estas orientar-se por interesses de ordem pedagógica; dar mais apoio aos estudantes e às suas famílias, designadamente no plano social; levar por diante uma verdadeira reforma curricular, na medida em que o alargamento da escolaridade obrigatória não pode esgotar-se no número de ano de permanência na escola, mas na própria organização do sistema. Há quase tudo para fazer, porque quase nada de positivo tem sido feito.
Paulo Guinote, autor do blogue A Educação do Meu Umbigo
No caso da Educação o que mudou e o que podia ter mudado e não mudou?
O que mudou: o clima de conflitualidade entre sindicatos e ME desapareceu quase por completo e, no primeiro trimestre de 2010 foi conseguida uma acalmia nas escolas, graças à perspectiva de que algo mudaria para melhor a vários níveis (carreira, avaliação, horários, concursos).
A partir de meados de 2010 percebeu-se que, afinal, a haver mudanças dificilmente elas seriam num sentido positivo e foi isso que se verificou com uma série de medidas destinadas a conter custos por todas as formas possíveis, desde uma falhada reorganização curricular á continuação do processo de concentração da rede escolar, passando pelas regras para a organização do próximo ano lectivo.
O que podia ter mudado e não mudou: antes de mais, o currículo de parte do Ensino Básico que, entre as medidas aprovadas pelo Governo e a sua suspensão no parlamento, deixou tudo na mesma, mantendo equívocos e distorções na estrutura do currículo, em especial do 3º ciclo. Também o modelo de avaliação do desempenho docente deveria ter sido alterado, por forma a não continuar a aplicar algo que reconhecidamente é ineficaz para detectar o mérito.
Quais as medidas/casos que considera terem sido emblemáticos deste ano e meio?
Neste ano e meio o que foi apresentado como emblema foram as chamadas Metas de Aprendizagem, uma forma curiosa de designar essencialmente metas estatísticas de sucesso desejado e não propriamente um programa para a melhoria das aprendizagens dos alunos. Neste aspecto, é emblemático de uma forma de governação que cobre com designações pomposas e enganadoras o simples desejo de construir estatísticas.
Também o desvario de novo-riquismo da Parque Escolar na reconstrução de algumas escolas ficará como símbolo de recursos mal alocados.
E quais os mais “bicudos”?
Claramente a percepção de que o ME e o Governo pretendem um alargamento da escolaridade para 12 anos ao mesmo tempo de uma diminuição dos encargos com a Educação, o que não deixa de ser paradoxal. A implementação de uma escolaridade obrigatória mais alargada, cortando no investimento, tentando reduzir o pessoal docente e contraindo a rede escolar, é algo que dificilmente poderá funcionar e ter resultados satisfatórios.
Em seguida, o imbróglio da transferência de competência para as autarquias se encontra numa espécie de impasse, não se percebendo exactamente em que ponto se encontra este processo, visto que, afinal, a rede escolar, foi reconfigurada a partir de Lisboa, desrespeitando as Cartas Educativas e as competências dos Conselhos Municipais de Educação.
E o futuro passará por onde? Que prioridades para a Educação?
O futuro deverá passar necessariamente por consensualizar medidas educativas em vários planos, não hostilizando os agentes no terreno (professores) e evitando soluções pouco transparentes (ao nível da avaliação, da gestão e da relação entre os sectores público e privado da Educação).
Segmentando eu apresentaria esses planos da seguinte forma:
Para melhorar o desempenho dos alunos é necessário fomentar uma cultura de responsabilização e trabalho, não enveredando pelo facilitismo para obter estatísticas favoráveis rápidas. Para isso era muito importante uma reforma curricular feita de uma forma séria e articulada, não como meros remendos no que está, para poupar algum dinheiro, esquecendo os princípios pedagógicos.
Para quebrar a tensão existente na classe docente é indispensável restabelecer a confiança com a tutela, através de uma ligação directa com os professores, não mediada por organismos micro-corporativos (Conselho de Escolas, Conselho Nacional da Educação), cujos pareceres raramente correspondem ao que a maioria dos educadores e professores sentem. Para isso, o modelo de avaliação do desempenho deve ser substituído e eliminadas as suas consequências para efeitos de concursos. Deve ser revisto o Estatuto da Carreira Docente, contemplando princípios de rigor para a progressão, mas sem constrangimentos artificiais (quotas), mesmo se em troca de um período de não progressão imediata, a recuperar mais tarde (em conjunto com o anterior congelamento) de forma faseada.
No plano da gestão, flexibilizar o modelo existente, abandonando o modelo único do director e não avançar de forma cega na concentração da rede escolar que, a curto-médio prazo, se revelará prejudicial para o funcionamento das escolas e para a própria autonomia e diversidade dos projectos educativos disponíveis.
Por fim, ou melhor, como princípio de tudo, deveria ser revista finalmente a Lei de Bases do sector que já está desadequada aos tempos que vivemos, existindo soluções que foram implementadas ao seu arrepio. Nessa revisão, deve ser redefinido o que se entende por serviço público de Educação, para evitar os actuais conflitos entre a oferta pública e privada, estabelecendo critérios claros para o dito serviço público e quais as suas regras de financiamento.
Autores do blogue AdDuo, especialista em legislação sobre educação
O que mudou e o que podia ter mudado e não mudou?
Em primeiro lugar, consideramos que qualquer avaliação deste último governo/ ministério da educação não é dissociável de práticas e políticas que iniciaram no anterior até porque o seu programa consubstanciava a consolidação de mudanças iniciadas nesse período.
Neste sentido, consideramos que as mudanças eram por si só muito poucas ou num outro sentido, bastantes porque concretizavam alterações substanciais. De facto, estas alterações continuam a ter uma amplitude considerável, não porque se tenham traduzido num bem necessário mas apenas porque continuam a gerar conflitos. As escolas continuam a ter um ambiente disfuncional, ou seja, num ambiente onde se espera que prevaleçam as boas práticas, parece que as coisas más têm cada vez mais um espaço privilegiado, tornando-as num espaço de desaprender. A escola não pode perder a sua identidade de aprendizagem, de cultura e de conhecimento.
Somos de opinião que se perdeu uma oportunidade de rectificar situações menos conseguidas. A valorização dos profissionais da educação, o Estatuto da Carreira Docente (ECD) e a Avaliação do Desempenho Docente (ADD) são marcas fortes neste período.
Quais as medidas/ casos que considera terem sido emblemáticos deste ano e meio? E quais os mais “bicudos”?
Neste período destacamos o ECD e a ADD. Com uma maratona negocial que resultou num acordo de princípios para um novo ECD e um novo modelo de ADD, esperava-se que o mesmo pudesse proporcionar as condições para um ambiente “respirável” nas escolas. Em larga medida isto não foi conseguido, não só porque assentou na insistência num modelo de ADD que descrimina negativamente mas também porque esse mesmo modelo não tem proporcionado as melhorias pedagógicas que preconiza. O processo de ADD não precisa de chegar ao fim para se poder fazer já uma avaliação. De qualquer maneira, das duas vezes que o ME tentou implementar o modelo, importa referir que o mesmo só foi aplicado no último ano do ciclo de avaliação. Este, só por si, já é um indicador claro de análise. Outro aspeto que gostaríamos de salientar na ADD é que para se fazer uma avaliação do processo ele não tem de chegar ao fim. Qualquer avaliador na Administração Pública desenvolve mecanismos de monitorização do processo de avaliação em que está envolvido, e se por alguma razão essa avaliação intermédia revelar indicadores não atingidos ou não conseguidos, far-se-á a necessária alteração. é isso que se pretende na ADD, ou seja, um modelo que descrimine positivamente e que permita que o trabalho colaborativo e de partilha se estabeleça não só como requisito para uma formação da geração futura mas também como uma prática eficaz e eficiente.
Relativamente ao ECD, se o mesmo estabeleceu uma carreira unicategorial, o processo de transição para a mesma não materializou o princípio da justiça e equidade, uma vez que estabelece resultados diferentes para situações idênticas. Esta questão resultou do ECD alterado em Janeiro de 2007. Quer isto dizer, não tendo sido esse diploma considerado inconstitucional, iremos ter no futuro (já temos) posições remuneratórias diferenciadas em condições idênticas tendo em conta o facto da entrada na carreira ter por base critérios descontinuados (tempo de serviço e índice remuneratório).
Haverá outros assuntos pertinentes. O novo modelo de organização e gestão das escolas e da formação contínua assumem um papel de relevo. No caso da formação contínua destaca-se que a oferta é ainda insuficiente. Acresce que muita da oferta que é proporcionada é gratuita, ou seja, não é financiada e resulta do empenho dos centros de formação e dos respectivos formadores.
Positivamente, destacamos a consolidação do ensino pré-escolar, o apetrechamento das escolas sobretudo ao nível tecnológico, o projecto dos testes intermédios, o plano de acção da matemática, o plano nacional de leitura e o projecto das bibliotecas escolares.
E o futuro passará por onde? Que prioridades para a Educação?
O País irá certamente passar por um período longo, talvez demasiado longo de austeridade e “incapacidade”. A Educação terá de ser um dos pilares da “reconstrução” do país na medida em que o conhecimento terá de funcionar como motor de estabilidade e projecção para o futuro. Daqui, não podem estar dissociados os valores.
Sucintamente, as prioridades terão de passar:
Pelo reconhecimento de que a avaliação e a supervisão aos docentes terá de ser realizada por especialistas externos às escolas;
Pelo reconhecimento de que as escolas necessitam de apoios diferenciados tendo em conta o contexto social e cultural onde estão inseridas;
Pelo reconhecimento efectivo do poder de autonomia por partes das escolas, balizado por princípios reguladores;
Pela certificação de competências associada ao reconhecimento profissional e assente em conceitos de empregabilidade;
Por um repensar das estruturas do ME, reduzindo-as e tornando-as mais eficazes e eficientes;
Por dotar as escolas de uma estrutura técnica adequada de apoio aos equipamentos tecnológicos;
Por privilegiar a responsabilização, esforço e mérito dos alunos.
José Morgado, docente universitário e formador de professores
De uma forma breve, creio que a legislatura que agora se interrompe continuou marcada por um clima de excessiva crispação, pouco saudável para a qualidade do trabalho de professores, alunos e pais. Esta crispação radica na profunda “partidarização” do universo educativo levando a que a definição e operacionalização das necessárias medidas de política educativa seja demasiado contaminada pelas agendas da política partidária. Um bom exemplo deste cenário, foi dado pela rejeição por toda a oposição do modelo de avaliação dos docentes apenas quando se definiu a realização de eleições e não na altura da apresentação. Deveria ter sido logo recusado porque se tratava, efectivamente, de um mau instrumento e poupava-se um tempo de ruído e práticas nas escolas com efeitos ainda por conhecer.
Por esta razão, creio que se perdeu a oportunidade de construir um necessário dispositivo de avaliação dos docentes que se constitui como ferramenta imprescindível à qualidade do sistema educativo, o grande desafio que enfrentamos.
Julgo também de sublinhar o facto de ainda não se ter procedido a uma verdadeira reforma curricular, designadamente, no ensino básico. Esta reforma, quer ao nível da matriz, quer ao nível dos conteúdos, parece-me urgente e deverá solicitar sempre o reforço do trabalho em língua portuguesa e educação matemática, as ferramentas de construção do conhecimento.
A prática do ME caracterizou-se neste domínio, como noutros, por uma atitude de natureza mais reactiva e avulsa, evidenciando uma certa deriva nas decisões sem que se conseguisse identificar um fio condutor para as mudanças no sistema.
Por razões que se prendem com as rápidas mudanças sociais, económicas e culturais os sistemas educativos estarão, por natureza, sob permanente pressão de ajustamento. No caso português acrescem as suas particularidades e constrangimentos quer de natureza estrutural, a sua organização por exemplo, quer conjuntural, a deriva e carácter avulso da decisões que o processo de encerramento de escolas e a definição de mega-agrupamentos pode ilustrar.
Neste quadro, os grandes desafios que se nos colocam em matéria de educação, salientaria alguns aspectos que me parecem mais relevantes, embora sem carácter exaustivo e não referidos por hierarquia de importância.
O nosso sistema ainda tem números de insucesso, retenção ou abandono, significativos pelo que a promoção da qualidade é uma urgência. Contrariamente ao que alguma vozes sempre clamam está provado que o “chumbo” não melhora o sucesso. Assim, à semelhança do que se passa nos países com melhores resultados educativos parece-me fundamental que se estruturem dispositivos de apoio a alunos e a professores que, logo no início de dificuldades percebidas, as identifiquem e possam ser desencadeadas intervenções que mais facilmente serão bem sucedidas.
Considerando que as exigências das sociedades actuais em matéria de qualificação é algo de incontornável e que, como habitualmente afirmo, a exclusão escolar é, quase sempre, a primeira etapa da exclusão social, deve continuar-se o esforço que tem vindo a ser realizado no sentido de permitir a construção de percursos educativos mais diferenciados, diversificando e tornando mais acessível a oferta educativa, de qualidade (estou a lembrar-me de muitas das práticas desenvolvidas no âmbito do Programa Novas Oportunidades), de forma a que, tanto quanto possível, todos os alunos pudessem a aceder a um patamar de qualificação profissional, ainda que de nível e duração diferentes.
Uma outra área do funcionamento da educação a que sou particularmente sensível é a resposta a crianças com maiores dificuldades. Sou das pessoas que continuam convencidas que a reintrodução do conceito de “elegibilidade” para aceder a apoio educativo instituído pelo DL 3/2008 é um mau serviço, na medida em que as crianças que passam no crivo da elegibilidade podem ter algum tipo de apoio educativo apesar das muitas falhas existentes, enquanto as “não elegíveis” ficam demasiadas vezes sem resposta ajustada às suas dificuldades ou necessidades. Apesar da avaliação recentemente divulgada pelo ME ser positiva, os dados conhecidos nas escolas não permitem ser tão optimista pelo que esta área deveria ser objecto de avaliação e ajustamento.
Parece-me ainda importante neste breve comentário chamar a atenção para o facto de que no nosso sistema educativo, a ideia de Escola a Tempo Inteiro, num lamentável equívoco com a ideia de Educação a Tempo Inteiro, operacionalizada através das Actividades de Enriquecimento Curricular a que acresce uma possibilidade decorrente de uma designada Componente de Apoio à Família, permitir que muitas crianças permaneçam na escola até 11 horas por dia.
Sendo certo que a supervisão das crianças nos tempos profissionais dos pais é um problema fundamental para o qual as comunidades precisam de encontrar resposta, importa também avaliar o impacto que em muitas crianças pode ter a permanência por tanto tempo na escola e, sobretudo, a qualidade e ajustamento do trabalho que é realizado durante esse tempo. Todos conhecemos certamente excelentes práticas, mas também todos sabemos de trabalho desenvolvido por profissionais não preparados, com recursos desajustados, a utilização excessiva de tarefas de tipo escolar, etc. que não podem deixar de ter consequências na relação que os miúdos estabelecem com a escola e com a aprendizagem ao longo do seu percurso.
Uma referência final à necessidade de se continuar um percurso de autonomia responsabilizada das escolas e agrupamentos, bem como a um aligeiramento muito substantivo da máquina do ME que possibilitasse maior agilidade e desburocratização do sistema. Temos estruturas e circuitos a mais e eficácia e qualidade a menos.
Professores portugueses não conseguem desligar-se do trabalho fora da escola – estudo
Lusa | 21.04.11
Os professores portugueses não conseguem “recarregar baterias” após um dia de escola, mantendo-se sempre ligados ao trabalho, o que provoca “um desgaste enorme”, conclui um estudo hoje revelado.
Desenvolvido em 2010 no âmbito da tese de doutoramento da docente do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP) Maria Alexandre Costa, este estudo visou estudar uma população que vivesse elevados níveis de stress e de que forma as atividades desenvolvidas nos tempos livres têm impacto no seu trabalho.
Em declarações à Lusa, a docente explicou ter escolhido um grupo de 100 professores do ensino pré-universitário para tentar perceber qual a influência do tempo livre na produtividade destes profissionais.
Abandono escolar continua a baixar
Correio da Manhã | 19.04.11
O abandono escolar em Portugal registou uma redução em 2,5 pontos percentuais, no ano passado, para 28,7 por cento, em parte devido às vias profissionais, afirmou hoje o secretário de Estado da Educação.
Num comentário um relatório da Comissão Europeia hoje divulgado, que inclui os dados do abandono precoce do sistema educativo até 2009, João Mata acrescentou os mais recentes indicadores, estimando que a tendência é para continuar a baixar o abandono, devido a medidas como as vias profissionais e a escolaridade obrigatória de 12 anos.
“Aquilo que é a previsão da União Europeia, expressa no relatório, confirma-se. O INE acaba de revelar o dado para o abandono escolar para o ano de 2010 e esse dado revela que em Portugal a taxa desceu em cerca de 2,5 pontos percentuais, situando-se agora nos 28,7 por cento”, disse João Mata à agência Lusa.
O secretário de Estado frisou que, nos últimos seis anos, Portugal reduziu em cerca de 11 pontos a taxa de abandono escolar, passando de 39 por cento para 28 por cento.
“Escolas não podem responder a tudo”
Correio da Manhã | 15.04.11
João Grancho, Presidente da Associação Nacional de Professores sobre o estudo acerca do comportamento dos jovens.
Correio da Manhã – O estudo sobre o estilo de vida dos adolescentes portugueses revela que os comportamentos de risco dos jovens se mantêm. é motivo de preocupação?
João Grancho – Este é um estudo que nos dá conta de factores muito preocupantes da vida dos jovens, tais como o ciberbullying e a auto-mutilação, que deviam ser tratados tanto ao nível dos intervenientes políticos como de forma mais particular, com intervenções específicas em cada escola.
– Quais são os dados que mais o preocupam?
– O facto de cerca de 28,4 por cento dos jovens reportarem ter estado envolvidos numa luta, na escola, nos últimos 12 meses, é sem dúvida um dos factores mais preocupantes. Quanto aos resultados relativos ao ciberbullying, acho que esta se traduz numa nova fase de provocação indirecta que se desenvolve através das redes sociais, e com a qual os professores ainda não aprenderam a lidar.
– O que podem fazer as escolas para dar resposta a estas situações?
– As escolas não podem responder a tudo, não devem ser o interveniente principal. Os professores não podem responder a todas as encomendas sociais. O melhor processo é prevenir e criar competência a nível local, ou seja, agir de forma específica em cada escola.
– Falta formação aos professores?
– é necessária a formação dos professores em áreas como a mediação de conflitos e a acção em situações de constrangimento social.
– E qual pode ser o papel das famílias?
– Em muitas famílias existem dificuldades de comunicação mas, de qualquer forma, não deixa de ser fonte primeira de afecto e de boa socialização. é importante trabalhar na responsabilização dos pais, mesmo que em conjunto com a escola.
Jovens iniciam vida sexual aos 16 anos
Jornal de Notícias | 14.04.11
A maioria dos estudantes portugueses começa a ter relações sexuais aos 16 anos e diz sentir-se à vontade para comprar preservativos. Estudo revela que alunos que tiveram educação sexual nas escolas são os que têm comportamentos sexuais mais seguros. Foram entrevistados 3278 jovens
Estes são alguns dos resultados do estudo nacional sobre sexualidade e saúde sexual e reprodutiva em estudantes universitários portugueses realizado pela equipa do projecto Aventura Social, da Faculdade de Motricidade Humana, da Universidade Técnica de Lisboa, que é apresentado na Fundação Calouste Gulbenkian, esta quinta-feira.
Depois de entrevistados 3278 jovens, com uma média de idade de 21 anos, os investigadores concluíram que a maioria (83,3%) dos estudantes universitários é sexualmente activa e 79,2% teve a sua primeira relação sexual a partir dos 16 anos (inclusive).
Homens e mulheres sentem-se confortáveis a comprar contraceptivos, tanto em lojas comerciais como em centros de saúde, e a trazê-los consigo, revela a investigação, que aponta a pílula e o preservativo como os métodos mais usados (70,4% e 69%, respectivamente).
Mesmo sob o efeito de drogas ou álcool, os entrevistados acham que não têm dificuldade em usar preservativos e acreditam que nesses estados conseguem recusar ter relações sexuais desprotegidas, refere o trabalho financiado pela Coordenação Nacional para a Infecção VIH/SIDA e Alto Comissariado da Saúde.
“No entanto, mais homens consideram que trazer preservativo com eles significa que estão a planear ter relações sexuais e recusam menos relações desprotegidas”, segundo o estudo que contou também com a participação do Centro da Malária e Doenças Tropicais do Instituto de Higiene e Medicina Tropical e que conclui que os homens apresentam por isso maior aceitação do risco.
Considerando os potenciais comportamentos de risco, são os homens, os jovens com relações mais recentes e os mais velhos que mencionam mais frequentemente ter tido relações sexuais associadas ao álcool e às drogas, parceiros ocasionais e relações sexuais com outra pessoa para além do parceiro.
O estudo conclui ainda que a educação sexual nas escolas é fundamental para travar comportamentos de risco e que aquelas aulas “tem vindo a cumprir o seu papel”: “os alunos mais novos referem todos ter tido educação sexual na escola e reportam um comportamento sexual mais seguro”.
Os jovens portugueses dizem ter um grau de satisfação sexual elevado, sendo que os homossexuais surgem como tendo mais prazer que os bissexuais.
A maioria dos jovens refere ter um relacionamento amoroso “mais do tipo afectivo” e um grau de satisfação sexual elevado. Comparando homens e mulheres: eles referem mais vezes ter um relacionamento “mais do tipo violento” (2,6%) e elas atribuem mais importância aos sentimentos e à comunicação num relacionamento amoroso.
Sindicato aponta falhas de segurança em laboratórios escolares
Jornal de Notícias | 17.03.11
O Sindicato dos Professores da Região Centro defendeu, esta quinta-feira, que os laboratórios das escolas portuguesas estão “longe de respeitarem todas as regras de segurança”, sendo necessário “corrigir anomalias” e ouvir os docentes nesse sentido.
Por outro lado, o equipamento e os materiais disponíveis nos laboratórios escolares estão “aquém das necessidades”, segundo um estudo realizado em 2010, abrangendo 277 escolas do Centro do país, que o SPRC começou a divulgar na quarta-feira.
Ouvido pela agência Lusa, o sindicalista Luís Lobo disse que “em muitos casos as escolas não estão preparadas para actividades de laboratório de química”, explicando que estas salas “são mais indicadas para aulas do ensino básico”.
Algumas das lacunas detectadas, precisou o dirigente do SPRC, “têm a ver com falta de extintores, mantas antifogo, portas de emergência ou chuveiros lava-olhos”.
Segundo a estrutura sindical, “importa um outro olhar mais responsável em relação a equipamentos cuja perigosidade deve estar na mira de todas as medidas possíveis para salvaguardar a integridade física de professores, alunos e restantes funcionários das escolas”, alerta.
O sindicato filiado na FENPROF sublinha que tal “não aconteceu num número excessivamente elevado de estabelecimentos de ensino” contemplados no estudo.
Defende, por isso, “a verificação no terreno das anomalias detectadas e a tomada de decisões que visem a sua correcção”, bem como “a actualização de manuais de instruções e das regras indispensáveis de segurança”.
A entrega a cada escola de um “kit de aviso e segurança”, como previsto nos programas de ensino dos ensinos básico e secundário, e “o reequipamento adequado dos espaços laboratoriais, com a integração do equipamento de segurança cujas escolas reivindicam”, são algumas das propostas do SPRC.
A constituição de um Observatório para as Condições de Funcionamento das Escolas (com particular incidência nos espaços cuja perigosidade é elevada, como oficinas, ginásios e pavilhões gimnodesportivos e laboratórios) é outra das medidas preconizadas.
“Todas as medidas para garantir a funcionalidade e segurança dos laboratórios são poucas, quando se trata de escolas”, acrescenta.
O sindicato, com sede em Coimbra, chegou a estas conclusões na sequência daquele estudo, envolvendo 46 por cento dos estabelecimentos públicos da região: EBI, EB2,3, EB2,3/secundário, secundárias/3ºCEB e secundárias.
“Do levantamento realizado e que tem uma cobertura da generalidade das escolas da região, com ensino secundário, confirmaram-se as suspeitas relativamente a regras elementares de segurança que não são garantidas”, refere.
Segundo o SPRC, “é geral a opinião de que a precocidade da adopção de regras de segurança é uma boa atitude para prevenir problemas no futuro”.
Para avançar com o estudo, a organização enviou um questionário aos órgãos de gestão e aos coordenadores dos departamentos curriculares das escolas com ensino secundário “com o objectivo de ter uma informação completa da actual situação”.
“Este trabalho de recolha de informação decorreu durante o ano de 2010 e envolveu dirigentes e delegados sindicais que, para o efeito, apoiaram, sempre que necessário, as estruturas escolares de quem se obteve uma preciosa colaboração neste levantamento”, salienta.
A agência Lusa contactou o Ministério da Educação mas não foi possível, até ao momento, obter um comentário ao estudo divulgado pelo SPRC.
Quase 35% dos alunos portugueses de 15 anos chumbou pelo menos uma vez no ensino básico
Lusa | 07.02.11
Quase 35 em cada 100 alunos portugueses de 15 anos repetiram pelo menos um ano de escolaridade durante o ensino básico, segundo um estudo da Comissão Europeia divulgado hoje e que analisou 31 países.
Segundo o relatório “Taxas de Retenção durante a Escolaridade Obrigatória na Europa”, Portugal regista relativamente àquele indicador uma taxa de 34,5 por cento, apenas ultrapassada por quatro países: Bélgica — Comunidade Francesa (37,1%), França (36,5%), Luxemburgo (36,1%) e Espanha (35,3%).
O estudo abrange todos os estados-membros (31), Islândia, Noruega, Turquia e Liechtenstein, e analisa de forma comparativa como é que as retenções são aplicadas nas escolas dos vários países.
Estudo compara taxas de retenção e como são aplicadas nos diferentes países. Portugal em quinto lugar em 31 países 35% dos alunos de 15 anos já chumbaram
Correio da Manhã | 07.02.11
Quase 35 em cem alunos portugueses de 15 anos repetiram pelo menos um ano de escolaridade durante o ensino básico, segundo um estudo da Comissão Europeia divulgado esta segunda-feira, que coloca Portugal no quinto lugar dos 31 países analisados europeus.
De acordo com o relatório ‘Taxas de Retenção durante a Escolaridade Obrigatória na Europa’, Portugal regista 34,5 por cento de chumbos, superado pela região da Valónia, da Bélgica, com 37,1 por cento, a França 36,5 por cento, Luxemburgo 36,1 por cento, Espanha 35,3 por cento.
O estudo analisa de forma comparativa como é que as retenções são aplicadas nas escolas dos vários países e chegou à conclusão que as práticas variam muito.
“A existência de uma cultura de retenção é a razão pela qual a prática é mais usada em determinados países, Nestes, a ideia de que a repetição é benéfica para os alunos continua a prevalecer. Na Europa, é sobretudo na Bélgica, Espanha, França, Luxemburgo, Holanda e Portugal que esta convicção persiste”, lê-se no documento.
Já a Islândia, a Noruega, a Bulgária e o Liechtenstein têm estabelecida oficialmente a progressão automática, ao nível do primeiro ciclo.
“Progresso insuficiente é em todos os casos a principal razão para que um aluno seja retido. No entanto, em alguns países, outros critérios como as faltas e o comportamento podem ser tidos em consideração”, acrescenta.
Sucesso dos alunos depende pouco de quem são os pais
Público | 07.01.11
Os filhos dos licenciados têm melhores resultados nos exames do secundário do que os descendentes de famílias só com o ensino básico? Os bons resultados dependem da idade dos estudantes? Sim, mas esses dois fatores têm um peso de apenas 30 por cento. Os restantes 70 por cento dependem exclusivamente do trabalho feito pelas escolas. “Há escolas que vivem à sombra da bananeira”, diz autora do estudo.
Quem o diz é Cláudia Sarrico, uma das autoras do estudo Perspetivas Diferentes sobre o Desempenho das Escolas Secundárias Portuguesas, que será hoje apresentado no seminário Economia e Econometria da Educação, promovido pelo Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa (ISEG-UTL).
Existem fatores como a idade dos alunos (a investigação aponta que quanto mais velhos chegam ao secundário, piores os seus resultados) ou o meio sócio-económico de origem que a escola “não controla”. “Mas estas variáveis só explicam 30 por cento dos resultados. Por isso, as escolas têm grande margem de manobra”, interpreta Cláudia Sarrico, acrescentando que o que o estudo revela é que há escolas cujos alunos têm bons desempenhos, mas que poderiam ter melhores, são as “escolas à sombra da bananeira”, ou seja, têm resultados académicos acima da média nacional, mas são inferiores ao esperado pelas características da escola e dos alunos . Tal como há outras que estão mal posicionadas em termos de resultados dos exames, que têm alunos de meio sócio-económico mais frágil, mas que têm um desempenho acima do esperado.
Depois, em cada extremo, estão as “escolas de elite”, com resultados e desempenho superior ao esperado; e as “escolas fatalistas” com resultados e desempenhos maus. As denominações foram criadas pelas investigadoras Cláudia Sarrico, da ISEG-UTL, Margarida Fonseca Cardoso, da Universidade do Porto, Maria João Rosa, da Universidade de Aveiro, e Maria de Fátima Pinto, professora na EB 2,3 de Canedo, para um estudo financiado pelo Ministério da Educação (ME) e a Fundação para a Ciência e Tecnologia.
As docentes debruçaram-se sobre os resultados dos exames nacionais do secundário de Português e de Matemática e a taxa de conclusão no 12.º ano dos cursos científico-humanísticos, no ano de 2009/2010. De seguida, cruzaram esses dados com variáveis como a idade dos alunos, a formação académica e profissão dos pais. Tiveram ainda em conta as características das escolas. Para isso, analisaram o número de alunos por turma, percentagem de raparigas (“há mais raparigas a estudar até mais tarde”, explica Sarrico), alunos com apoio social, taxas de progressão e de conclusão do secundário, número de alunos por professor de quadro e a taxa de absentismo dos docentes.
“Esticar os alunos”
Pegando em todos estes critérios, foi calculado o desempenho médio esperado para cada escola, ou seja, tendo em conta as características dos alunos e dos professores, que resultados poderiam ser obtido nos exames e na conclusão do secundário. De seguida, foi construído um ranking não com base nos resultados dos exames, mas tendo em conta o desempenho que se esperaria de cada estabelecimento de ensino; que foram divididos em quatro categorias: escolas de elite, à sombra da bananeira, que surpreendem e fatalistas. As investigadoras não estão autorizadas pelo ME a divulgar a lista.
O que preocupa Cláudia Sarrico são as “escolas à sombra da bananeira”. “Há escolas que podiam esticar mais os alunos”, diz a investigadora, explicando que a maioria tem planos para os estudantes com maus resultados, mas não tem para os que têm boas notas. “A escola podia ter melhores resultados se também trabalhasse com esses”, sugere.
O universo é de 303 escolas públicas onde foram realizados mais de 50 exames de Português e de Matemática (no total existem cerca de 400 com secundário). Na maioria, os alunos terminaram o 12.º ano com 17 anos; 60 por cento são raparigas. Apenas um quinto dos alunos tem apoio social escolar. Quase 40 por cento dos pais tem pelo menos o secundário e tem profissões mais qualificadas. A média das turmas de secundário é de 14,6 alunos; por cada professor do quadro há 12 alunos. A taxa média de absentismo docente é de seis dias por ano, revela ainda este estudo.
Relatório do Ministério da Educação – Alunos têm dificuldades no raciocínio
Correio da Manhã | 02.01.11
Os alunos do Ensino Básico e Secundário têm dificuldades em estruturar um texto encadeado ou em explicar um raciocínio com lógica, revela um relatório do Gabinete de Avaliação do Ministério da Educação (GAVE).
O documento mostra que os estudantes portugueses têm mais facilidade nas respostas que requerem seleção, revelando mais dificuldade nos itens de construção. Estas limitações estão ligadas às debilidades da escrita. Para o diretor do GAVE, Hélder Diniz de Sousa, este resultado “não é um dado novo, nem sequer é um dado exclusivamente nacional”. Defende por isso que pais, alunos e escolas devem preocupar-se mais com a qualidade daquilo que os estudantes aprendem do que com os resultados alcançados.
O responsável diz ainda que as famílias devem mudar de atitude, pois estão muito preocupadas com os resultados e não tanto com a forma como é feita a aprendizagem.