Na era da partilha online, a leitura continua a ser uma prática individual

Público | 28.10.13

Inquérito diz que 58 por cento dos utilizadores da Internet já leu livros digitais

Quer se trate de livros ou de jornais em formato digital, a leitura em suportes electrónicos continua a ser uma prática individualizada, tal como acontece com a leitura em papel. Esta é uma das conclusões de um inquérito feito em 16 países, para um estudo sobre os livros e a leitura encomendado pela Fundação Calouste Gulbenkian e cujas conclusões são apresentadas hoje na sede da fundação, em Lisboa.

Mesmo numa altura em que o Facebook e demais redes sociais fazem parte do quotidiano de milhões de utilizadores da Internet, incluindo em Portugal, os aspectos mais valorizados pelos leitores de produtos digitais estão relacionados com a possibilidade de obter informação adicional e não de comentar ou partilhar informação.

A característica mais destacada na leitura digital, referida por 48% dos inquiridos, foi a possibilidade de, através de um motor de busca, saber de imediato mais sobre o autor ou o tema do texto. Seguem-se 44% de inquiridos que referiram como positivo o acesso a outros textos e os links associados.

O inquérito, coordenado pelo investigador do ISCTE Gustavo Cardoso, foi feito online, no primeiro semestre deste ano, a utilizadores de Internet de países de todos os continentes: Inglaterra, Brasil, Espanha, Alemanha, França, Índia, Canadá, China, África do Sul, Rússia, EUA, Itália, Turquia, México, Austrália e Portugal.

Na lista de aspectos valorizados na leitura digital, e ainda antes das funcionalidades sociais, 43% dos inquiridos salientaram a possibilidade de gravar instantaneamente o texto lido. Só depois surgem a possibilidade de associar um comentário, destacada por 32% dos inquiridos, a partilha em tempo real (30%) e a possibilidade de saber quem já leu aquele mesmo texto (23%).

A existência de funcionalidades que permitem partilhar e comentar um texto é comum nos sites noticiosos e vários oferecem ferramentas para fazer a partilha directamente nas redes sociais mais populares, como o Facebook e o Twitter. Também os leitores de livros electrónicos (como o Kindle) e as aplicações de leitura de livros para tablets e smartphones integram funcionalidades sociais, como, por exemplo, a possibilidade de fazer e partilhar anotações ou de publicar online que já se terminou um livro (isto, sabendo que na definição de livro electrónico cabem ainda os que são lidos no computador, mesmo em formatos como o comum pdf).

O estudo indica ainda que a maioria já leu livros electrónicos: 58% dos inquiridos disseram já o ter feito. Mas a tendência é muito maior na China (88%) e no conjunto de países normalmente chamado BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China, com uma média de 79%) do que nos EUA (53%) e nos seis países europeus onde o inquérito foi feito (43%). Tal como é habitualmente notado neste género de estudos, os mais novos e aqueles com maior nível de escolaridade são os que tendem a ler mais em formato digital. O inquérito apurou ainda que quem é um leitor assíduo nos suportes digitais é, tipicamente, um leitor frequente de formatos impressos. Já o inverso não é verdade: quem lê muito em papel não é necessariamente um grande leitor digital.

Portugal “possui ainda um segmento de grandes leitores em formato digital incipiente”, notam as conclusões do estudo que foram disponibilizadas antes da apresentação. Dez por cento dos inquiridos disseram ter lido mais de oito livros electrónicos no ano anterior, um valor que é de 30% na média dos 16 países analisados.

O documento ressalva ainda que, “ao contrário de um receio várias vezes expresso na opinião pública, os dados indicam que a leitura de livros em formato digital não substituiu a leitura de livros em formato papel”.

No estudo, Gustavo Cardoso classifica a leitura digital como “um conceito vago e multidimensional”. Segundo o investigador, sob esta designação estamos a agrupar existências extraordinariamente díspares: estamos a falar de livros e jornais, mas também de pequenos textos escritos e partilhados nas redes sociais, de mensagens no Twitter, que têm, no máximo, 140 caracteres, de emails e outros conteúdos textuais que são constantemente publicados numa Internet onde os utilizadores são simultaneamente consumidores e produtores.

Outra conclusão do estudo é que estamos, em muitos casos, perante “novos leitores” de livros e jornais, uma ideia que Gustavo Cardoso explica no seu estudo: “Novos, porque alguns que liam em papel passaram a ler agora também em digital e novos também, porque alguns não leriam em papel e passaram a fazê-lo.”

Segundo o investigador, são as “novas formas de leitura” que criam esses “novos leitores”, os quais, embora não necessariamente lendo livros ou jornais, chegam aos conteúdos destes através de outros formatos de leitura: blogues, tweets, emails, posts do Facebook.

Muitos dos inquiridos (44%) afirmam que, de futuro, vão ler mais em formato digital.

OUTRAS NOTÍCIAS SOBRE ESTE TEMA

Estudo defende aposta em professores-tutores para combater insucesso e absentismo

Público | 04.09.13

Com base num estudo divulgado nesta quarta-feira, um grupo de investigadores da Universidade de Coimbra defende o acompanhamento contínuo e personalizado dos estudantes com dificuldades.

O acompanhamento por um professor-tutor permitiu que, em apenas um ano lectivo, o resultado médio escolar de 277 alunos do 2º e 3ºciclos passasse de negativo para positivo e com que a taxa de absentismo injustificado caísse 50%. Este foi o resultado da aplicação de um estudo iniciado há quatro anos por uma equipa de investigadores de Universidade de Coimbra (UC), que defendem a generalização dos programas de tutoria.

O projecto envolveu 277 alunos, com um percurso escolar marcado por absentismo e pelo insucesso, de 13 turmas de escolas dos Açores e do Algarve. Segundo Francisco Simões, um dos investigadores da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da UC, participaram ainda no programa 36 tutores (professores com áreas disciplinares atribuídas às respectivas turmas), cada um dos quais ficou responsável pelo acompanhamento contínuo e de proximidade de cinco a, no máximo, oito jovens.

Ao longo do ano lectivo 2010/2011, os professores-tutores tiveram um encontro semanal ou quinzenal com cada um dos alunos – que serviu tanto para a preparação de testes como para a planificação do estudo ou para a discussão das causas do absentismo, exemplificou Francisco Simões. Para além disso, os vários professores da turma com funções de tutoria tiveram, no seu horário, entre 45 a 90 minutos por semana para acompanhar o grupo. Nestes encontros, menos personalizados, podiam ser tratados temas diversos, como as dependências ou a prevenção de comportamentos de risco, apontou.

O investigador frisa que, para além de melhorarem as classificações e baixarem o nível de absentismo, os alunos que beneficiaram da intervenção tutorial (com idades compreendidas entre os 10 e os 18 anos) “registaram melhorias no que diz respeito ao seu sentido de competência na aprendizagem e integração na escola, comparativamente ao grupo de controlo”.

“A importância que teria a implementação de um programa regular de tutoria nas escolas é ainda mais significativa se tivermos em conta que entre os alunos do grupo de controlo (um grupo equivalente que no mesmo ano não beneficiou de tutoria) os problemas se agravaram, a todos os níveis, em relação ao ano anterior”, frisa Francisco Simões.

A concepção do programa de tutoria escolar, que incluiu a aplicação do projecto em fase piloto, entre 2005 e 2009, foi feita com fundos comunitários. A aplicação e a avaliação foram financiadas pela Fundação para a Ciência e Tecnologia.

Ensino básico perdeu quase 13 mil alunos num ano

Público | 20.08.13

As estatísticas do ano lectivo 2011/2012 mostram um sistema de ensino em retracção acelerada, com menos professores contratados e menos alunos. Básico está a pagar a factura da quebra demográfica

Menos alunos, menos diplomados, menos adultos em formação, menos professores. Do ensino básico ao superior é um sistema em retracção o que mostram as estatísticas da educação relativas ao ano lectivo 2011/2012, as últimas conhecidas e que foram divulgadas este mês.

Em 2010/2011 estavam nas escolas do básico e secundário de Portugal continental 35.976 professores contratados. Um ano depois, este número já tinha descido para 28.730, um contingente que, segundo os dados que foram sendo divulgados entretanto, ter-se-á reduzido para metade no último ano lectivo e que se arrisca a praticamente desaparecer a partir de Setembro.

Comparando apenas com alunos jovens existiam 1.710.075 em 2011/2012, menos cerca de 13 mil do que no ano anterior. As principais quebras registaram-se no 1.º ciclo. No 3.º ciclo e sobretudo no secundário houve ligeiros aumentos por comparação ao ano anterior, uma tendência que deverá acentuar-se na sequência do alargamento da escolaridade obrigatória até aos 18 anos.

Famílias gastam em média 525 euros no regresso às aulas

Lusa | 17.08.13

Estudo revela que pais estão a despender de mais dinheiro para adquirir material escolar.

As famílias portuguesas vão gastar em média 525 euros com o regresso às aulas, segundo um estudo que revela um aumento da despesa e um objectivo de poupança nos gastos semanais das crianças por parte dos encarregados de educação.

Nos últimos três anos, os portugueses têm pago em média facturas cada vez mais altas para estudar: em 2010, a média foi de 499 euros; no ano passado subiu para os 507 euros e agora deverá atingir os 525 euros, de acordo com um estudo do Observador Cetelem, que inquiriu pessoas entre os 18 e 65 anos, residentes em Portugal continental.

Uma em cada quatro famílias (28%) prevê gastar entre 250 e 500 euros, indica o estudo que realizou 600 entrevistas telefónicas, durante o mês de Junho. Já 17% da população irá tentar fazer face às necessidades com um orçamento de 250 euros.

Com gastos acima da média surge um grupo de 14% dos inquiridos, que estima gastar mais de 750 euros, havendo mesmo uma pequena amostra da população (2%) que irá despender mais de 1.500 euros.

O inquérito questionou ainda quanto pretendem os pais gastar semanalmente com os alunos. Concluiu que o valor vai baixar ao passar de uma média semanal de 23 euros, em 2012, para 18 euros, este ano. Esta descida semanal significa que, este ano, os pais não deverão chegar aos mil euros anuais com estes gastos, ao passo que, no ano passado, gastaram quase 1.200 euros.

Material novo ou em segunda mão
O método escolhido para comprar o material escolar divide as famílias em dois grandes grupos: quase metade (47%) dos portugueses vai adquirindo esse material ao longo do ano, enquanto 51% faz todas as compras num único momento.

Uma em cada três famílias tenta poupar no momento de adquirir os manuais: 22% dos inquiridos pedem emprestado a amigos ou familiares e 19% compram em segunda mão. Estas são opções que têm vindo a ganhar cada vez mais adeptos, segundo o estudo que mostra que, em 2012, foram apenas 29% das famílias e, no ano anterior, a percentagem era de 24%.

No entanto, nem sempre é possível encontrar todos os manuais necessários e, por isso, as famílias acabam por ter de os comprar em falta. Resultado: 94% das famílias terá de comprar livros novos.

As papelarias e hipermercados continuam a ser os espaços de eleição para fazer as compras para o arranque escolar, apesar de a Internet começar a ganhar terreno: em 2011, 7% das famílias fizeram as suas compras na internet, em 2012 já foram 8% e, este ano, 12% deverão conseguir adquirir o material sem ter de sair de casa.

No caso em que o estudante é o inquirido, a opção pela compra online tem mais expressão: este ano 30% deverão fazer as compras em frente ao computador.

Além dos livros, as famílias tencionam ainda comprar vestuário, calçado e equipamento desportivo, entre outras despesas relacionadas com educação. Os portugueses, no entanto, ainda segundo o estudo, vão tentar poupar ainda mais do que nos últimos anos.

A maioria das famílias inquiridas tinha os filhos a estudar no ensino básico (75%) e apenas um em cada quatro tinha uma poupança para a educação futura dos seus filhos.

Ainda de acordo com o estudo, apenas 3% dos inquiridos têm os filhos a estudar no ensino particular, estando os restantes em escolas públicas.

Este ano, segundo os resultados do inquérito, aumenta igualmente o número de famílias que vai usar o cartão de crédito para fazer as compras necessárias: este ano, serão 12%, enquanto no ano passado, apenas uma em cada dez famílias recorreu a esse tipo de empréstimo.

O empréstimo médio será de 376 euros. No caso em que as famílias têm as crianças a estudar, o valor médio estimado por empréstimo é de 403 euros, enquanto no caso em que é o inquirido que estuda, esse valor ronda os 240 euros.

Salários e educação podem ser causa de baixa estatura

Lusa | 27.07.13

Os portugueses ficaram para trás da Europa, em termos de estatura, desde o século XIX, facto que um novo trabalho académico atribui à fraca evolução dos salários reais e falta de investimento em educação.

Os investigadores responsáveis pelo estudo, entre os quais Jaime Reis do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, recorreram às informações disponíveis acerca dos recrutas militares em Portugal desde o século XVIII para os comparar aos restantes países europeus.

“Portugal mantém-se dentro da faixa europeia até meados do século XIX, acompanha os movimentos da Europa. Quando Portugal começa a divergir é à volta de meados do século XIX e não cresce quando as outras regiões estão a crescer e esse ‘gap’ nunca será fechado, praticamente até aos dias de hoje”, explicou à Lusa Jaime Reis.

No artigo publicado em maio na revista académica Economic History Review e assinado com dois investigadores alemães, os autores concluem que o “atraso na formação de capital humano foi o principal fator no impedimento de quaisquer melhorias dos padrões de vida biológicos em Portugal”.

Metade dos alunos melhorou aproveitamento depois de a escola garantir pequeno-almoço

Público | 18.07.13

Programa Escolar de Reforço Alimentar resulta de várias parcerias com entidades públicas e empresas. E chegou a mais de dez mil alunos. Já foram assinados mais protocolos.

Muitas das crianças sinalizadas como precisando que a escola lhes garantisse o pequeno-almoço melhoraram o seu desempenho a partir do momento em que a primeira refeição do dia passou a estar assegurada. De acordo com os dados apresentados nesta quinta-feira, 50% dos 10.186 alunos abrangidos pelo Programa Escolar de Reforço Alimentar (PERA) viram o seu aproveitamento melhorar.

Em 37% dos casos não houve alteração em termos de aproveitamento escolar. Em 13% das situações o desempenho não melhorou, ainda segundo o balanço feito no Ministério da Educação e Ciência, em Lisboa.

O impacto no comportamento dos alunos abrangidos pelo reforço alimentar também foi medido: 42% revelaram melhorias; em 49% dos casos não houve alteração.

Ainda assim, as taxas de aproveitamento escolar entre os alunos abrangidos pelo PERA são mais baixas do que a média – 21% chumbaram. O ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato, diz que isto mostra como as “dificuldades sociais” têm impacto no aproveitamento. “Mas temos que lutar contra isso”, disse, e o PERA ajuda a “trabalhar nesse sentido”. Os últimos dados disponíveis no site do ministério mostram que em 2009/2010 a média nacional de retenção e desistência variou entre 7,6%, no ensino básico, e 18,9%, no secundário.

O projecto PERA foi criado em Setembro, na dependência directa do secretário de Estado do Ensino e da Administração Escolar, João Casanova de Almeida, para responder à “excepcionalidade do momento” que, nas suas palavras, o país atravessava. Havia mais crianças que estavam a ir para as aulas sem tomar o pequeno-almoço, relatavam as escolas. Com uma duração prevista de dois anos lectivos, o objectivo essencial do PERA é “conciliar a educação alimentar com a necessidade de suprir carências alimentares detectadas em alunos” de escolas públicas.

Quase 400 escolas abrangidas
Neste que foi o primeiro ano de aplicação, o PERA chegou a 387 agrupamentos e escolas não agrupadas de todo o país. E abrange actualmente mais de 10 mil crianças e jovens de diferentes níveis de ensino não superior. Mas “muitos outros já passaram pelo PERA, tendo entretanto as suas famílias sido sinalizadas para o Instituto da Segurança Social, que as referenciaram para que pudessem receber apoio de instituições de solidariedade social e/ou os apoios sociais aos quais têm direito e para que o pequeno-almoço passasse a ser tomado em casa”, segundo o comunicado do ministério.

“O Ministério da Solidariedade e Segurança Social apoiou o programa também através da utilização das cantinas sociais pelos alunos durante os períodos de interrupção da actividade lectiva.”

Na base do PERA estão parcerias várias entre o Ministério da Educação e empresas de comercialização e produção de géneros alimentares, bancos alimentares contra a fome e instituições particulares de solidariedade social. O PERA não tem custos para o ministério. Um outro protocolo assinado com a Associação Nacional de Municípios Portugueses permitiu garantir o transporte dos produtos para as escolas. E estas últimas, por sua vez, fizeram parcerias com as redes locais de acção social.

No final da apresentação do balanço, foram assinados protocolos com dez empresas do ramo alimentar (Jumbo, Sumol+Compal, Danone, Jerónimo Martins, Lactogal, Nestlé, Sonae, Dia, Lidl e E.Leclerc), uma empresa de transportes (Luis Simões, SA), empresas de outros ramos que quiseram apoiar o projecto através do pagamento de pequenos-almoços servidos nas escolas (Grupo Portucel Soporcel, Colomer Portugal e BP) e o Lions Club.

Nuno Crato agradeceu a colaboração dos que têm apoiado com alimentos e vão continuar, sobretudo numa altura “em que muitas empresas portuguesas não estão a viver os seus dias mais felizes”.

28 milhões de crianças vivem em zonas de conflito

Lusa | 12.07.13

Mais de metade dos 57 milhões de crianças não escolarizadas vive em países afetados por conflitos, revela um relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) hoje divulgado.

O documento defende a necessidade de se “atuar urgentemente” para que os 28,5 milhões de crianças em idade de integrar o ensino primário, dos quais 55 % são meninas, possam ir à escola, já que estão sem acesso à educação por viverem em zonas de conflito.

De acordo com a UNESCO também 20 milhões de adolescentes não escolarizados, quase um terço do total, vivem em países afetados por conflitos, dos quais 54 % são raparigas. No entanto, o número de crianças não escolarizadas está em queda, tendo diminuído de 60 milhões em 2008 para 57 milhões em 2011, mas a UNESCO alerta que “os benefícios deste avanço lento não chegaram às crianças dos países afetados por conflitos”.

Nestas regiões do globo vivem “50 % das crianças sem acesso à educação”, enquanto em 2008 não superavam os 42 %.

De acordo com os dados da UNESCO, 44 % dos 28,5 milhões de crianças vivem na África subsariana, 19% na Ásia meridional e ocidental e 14 % em Estados árabes, segundo o relatório “As crianças continuam a lutar para ir à escola”, publicado em colaboração com a organização Save the Children.

A diretora-geral da UNESCO, Irina Bokoya, observou que “não é frequente que a educação integre a avaliação dos danos causados por um conflito”, pois a atenção da comunidade internacional e dos meios de comunicação não costuma concentrar-se nos “custos ocultos e nas sequelas duradouras da violência”.

O setor da educação, aponta, é aquele em que esses custos e sequelas “são mais evidentes”.

O relatório da UNESCO lamenta que a ajuda humanitária destinada à educação tenha diminuído, considerando esta situação preocupante, já que a “necessidade de fundos é hoje maior do que nunca”, pois existem mais refugiados e as crianças “representam metade das pessoas que foram deslocadas pela força”.

Hoje, este problema, realça a organização, “não é tão dolorosamente visível em mais nenhum lugar como é na Síria”.

“Fuga de cérebros” afecta investimento nos alunos portugueses

Público | 01.07.13

A aposta quase inexistente das empresas nos jovens portugueses está a aumentar o número de emigrantes, informa a GfK.

Milhares de jovens portugueses qualificados estão a sair do país, o que se traduz numa perda de investimento público superior a 46 mil euros, informa a Lusa.

“O Estado não valoriza o capital humano, apenas valoriza o capital financeiro”, avançou à Lusa Armando Pires, professor na Norwegian School of Economics.

“Quero ir para um sítio onde consiga encontrar oportunidades, o dinheiro não é o mais relevante”, defende Vítor Monteiro, de 22 anos, estudante de Engenharia Civil na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). “Na minha área é completamente impossível encontrar alguma coisa em Portugal.”

As nações que recebem os estudantes portugueses, embora não invistam na sua educação, tiram proveito dos seus conhecimentos. Rita Ventura Viana, de 21 anos, aluna do Mestrado em Estudos Estratégicos e de Segurança da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa, prepara-se para ir estudar para a Dinamarca já no próximo mês de Agosto: “O facto de não ter que pagar propinas acaba por ser algo a ter em conta. Por outro lado, tenho a possibilidade de fazer um estágio em Ciências Sociais nesta universidade, o que seria impossível em Portugal”, declara a jovem ao PÚBLICO. “Pretendo um dia voltar a Portugal, mas nos próximos 20 anos isso não está nos meus horizontes”.

O Estado gasta, em média, cerca de 47 mil euros com um estudante português que frequente o ensino obrigatório, para além de que é necessário ter em conta as despesas inerentes ao ensino superior e a bolsas, revela um relatório do Tribunal de Contas.

“A competitividade em Portugal em áreas tão saturadas como a advocacia faz com que muitos colegas meus estejam a estagiar a troco de nada, e que outros nem sequer consigam trabalho nas sociedades onde estagiaram, não lhes restando outra possibilidade senão mudar de área ou emigrar”, constata Maria João Cocco da Fonseca, de 25 anos, licenciada em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade do Porto (FDUP). “Mas na minha área isso não foi de todo um factor determinante. A minha permanência em Portugal não seria compatível com o desenvolvimento da minha área, Direito Comunitário.”

Professores portugueses são dos que mais tempo passam a dar aulas

Público | 25.06.13

Salários dos docentes em Portugal subiram mais do que a média, até 2011. Relatório da OCDE diz que desafio do país ainda continua a ser melhorar níveis de escolaridade.

Entre 2005 e o ano lectivo 2010/2011, o aumento dos salários dos professores portugueses – 12% – foi superior ao registado nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) – apenas 3%. Mas o número de horas lectivas também cresceu significativamente em Portugal. Os professores do secundário, por exemplo, passam 774 horas por ano a ensinar alunos, mais 110 horas do que os seus colegas dos outros países. Já o tempo que têm para se dedicar a tarefas não lectivas – como avaliar os estudantes ou preparar lições – é inferior à média.

O relatório anual da OCDE sobre Educação – o Education at a Glance (pdf disponível em inglês) – é um retrato dos sistemas educativos de mais de 40 Estados (incluindo alguns que não fazem parte da organização, mas integram o G20). A última edição foi divulgada esta manhã. O documento mostra os progressos feitos nos últimos anos em matéria de escolarização, quais as condições de trabalho dos professores, quanto investem os Estados no ensino, como aprendem os alunos. E o impacto da crise em vários destes indicadores.

Revela, por exemplo, até que ponto compensa ter um diploma superior – em Portugal o prémio já foi maior (desceu 8% entre 2004 e 2010), mas, mesmo assim, este continua a ser um dos países onde mais se valorizam os estudos, já que um trabalhador com um “canudo” pode esperar ter um salário 70% superior ao do colega que não tiver ido além do secundário, diz a OCDE na sua análise à situação específica de Portugal.

Mais: se se tiver em conta um indicador que calcula o investimento pessoal na formação e o ganho que se pode obter ao longo da vida, na sequência da conclusão de um curso universitário, Portugal destaca-se por ser aquele onde o benefício económico bruto é mais elevado no caso das mulheres. Elas podem aspirar a receber mais 134 mil euros ao longo da sua vida de trabalho do que as que têm apenas o secundário.

Este “Olhar sobre a Educação” mostra ainda como o desafio, para os portugueses, “continua a ser combater os baixos níveis de escolaridade” da população, nas palavras usadas pelos peritos da OCDE. Isto, apesar de todos os progressos feitos. E foram muitos.

Portugal estava em 2011 entre os cinco países da organização com a maior proporção de adultos entre os 25 e os 64 anos sem o ensino secundário completo (65% da população, em contraste com os 25% da OCDE). Mesmo na faixa etária mais jovem (25-34 anos), apenas 27% dos portugueses tinham um curso superior, contra 39% na OCDE e 36% na União Europeia. Pode parecer pouco animador, mas revela, ainda assim, um enorme progresso: dez anos antes, apenas 13% dos jovens portugueses tinham um diploma de uma universidade ou politécnico.

Mais trabalho? Menos trabalho?
Mas numa altura em que as condições de trabalho dos docentes estão na ordem do dia – os professores recusam um aumento do horário de trabalho -, retomemos os indicadores que remetem para as condições laborais da classe.

Horários de trabalho, em primeiro lugar. De 2005 para 2011, o “tempo dedicado ao ensino” a que os docentes estão obrigados em Portugal aumentou significativamente – mais 65 horas por ano nas escolas primárias, mais 210 por ano no 3.º ciclo, mais 265 no secundário.

Diz ainda o relatório que os professores portugueses das escolas públicas passavam, em 2011, mais horas a ensinar os alunos do que a média dos docentes da OCDE – o que é verdade em todos os níveis de ensino não superior, com excepção do pré-escolar. No básico (1.º e 2.º ciclos), por exemplo, são 880 horas por ano (em Portugal) contra 790 (média OCDE).

Para a OCDE, as “horas de ensino” são definidas como o tempo passado a ensinar “um grupo ou uma turma de alunos”, excluindo, portanto, o tempo destinado a outras tarefas dentro ou fora da escola. As alterações ao Estatuto da Carreira Docente, que entrou em vigor em 2007, e os vários despachos que alteraram a organização do ano lectivo de então para cá ajudarão a explicar por que razão passam hoje os professores portugueses mais tempo na sala de aula do que há uns anos. Mas o que se passa com os horários quando se olha para o total de horas regulamentares de trabalho – incluindo a chamada “componente não lectiva”?

O cenário muda de figura. Segundo o relatório, o horário total de um professor de uma escola pública em Portugal (soma da componente lectiva e não lectiva) são 1508 horas por ano, quando a média da OCDE ronda as 1670 e a da União Europeia as 1600. Os docentes portugueses têm um horário de trabalho menor – superior, ainda assim, que ao praticado em Espanha (1425 horas), mas bem menos pesado que a dos professores suecos, por exemplo (1767 horas).

A OCDE nota que o facto de a componente lectiva representar nalguns países uma grande fatia do horário dos professores pode significar “menos tempo dedicado a tarefas como avaliar os alunos ou preparar lições”. Não se refere especificamente a Portugal neste ponto. Mas os números mostram que, em Portugal, 51% do tempo regulamentar de trabalho dos professores do secundário é dedicado a dar aulas, quando a média da OCDE é 39%.

Os salários e as turmas
O relatório apresenta vários cálculos a partir dos salários médios dos professores ao fim de 15 anos de carreira (salários brutos, anuais). E conclui o seguinte: na última década, esta classe profissional viu, na generalidade dos países da OCDE, a sua remuneração subir. Até que veio a crise e, entre 2009 e 2011, ela baixou, em média, 2%.

Em Portugal, os cortes fizeram-se sentir mais tarde – em 2009, ano de eleições, os funcionários públicos ainda foram aumentados, pela mão de José Sócrates. Os dados apresentados pela OCDE dizem respeito ao ano lectivo de 2010/2011 e a função pública só sofreu cortes em 2011.

Nesse ano, então, um professor do 3.º ciclo com 15 anos de experiência ganhava, na Estónia, o equivalente a cerca de 15 mil dólares ano (11.459,50 euros), brutos. O país onde melhor se pagava era o Luxemburgo – o equivalente a 100 mil dólares. Em Portugal, o salário era de 39.424 dólares anuais, menos do que a média da OCDE (39.934/ano).

Nota importante: estes valores que comparam os países são apresentados em paridade de poder de compra – de forma a eliminar os efeitos das diferenças nos níveis dos preços entre países. Têm também em conta apenas os salários brutos pagos a professores com qualificação mínima (nalguns países mais qualificações para além da licenciatura podem traduzir-se num acréscimo salarial) e excluem os salários dos professores contratados, bem como os salários pagos no sector privado.

O relatório mostra ainda que só no início da carreira e, no outro extremo, no topo da carreira, o salário de um professor português é, em geral, superior ao da média da OCDE (é mais baixo apenas nos escalões intermédios). É preciso notar, contudo, que o topo da carreira é actualmente constituído pelo 10.º escalão – criado pela ex-ministra Isabel Alçada e nesse escalão ainda não se encontra nenhum professor, não sendo claro, no relatório, o que se entende por topo da carreira.

Mais matemática
Os peritos da OCDE lembram, por fim, que os salários dos professores representam a maior fatia da despesa dos Estados com Educação. “E têm um impacto directo na atractividade da profissão”, como o têm indicadores como o tamanho das turmas. Numa altura em que vários governos, para fazer face à crise, se sentem pressionados a reduzir a despesa pública, o documento deixa um alerta: os níveis salariais e as condições de trabalho “são importantes para atrair e manter professores competentes e altamente qualificados” nas escolas, pelo que “os decisores políticos devem ter em atenção os salários dos professores de forma a garantir, ao mesmo tempo, qualidade do ensino e orçamentos sustentáveis”.

No que diz respeito ao número de alunos por professor, Portugal está acima da média da OCDE apenas no pré-escolar (com 16 crianças por educadora contra 14 na OCDE). Já no secundário, a média da OCDE é de quase 14 alunos por professor contra apenas 7,7 em Portugal. Dados, uma vez mais, de 2011.

Também as turmas eram mais pequenas em Portugal no ano lectivo de 2010/2011 (entretanto o número de alunos por turma aumentou, por decisão do actual ministro da Educação). No ensino básico, por exemplo, nas escolas públicas, havia, em média, 19 alunos por turma contra 21 na OCDE.

Como passam os alunos o seu tempo na escola? Esta é outra das perguntas a que o relatório procura dar resposta. A OCDE calculou o número de horas de instrução que é esperado que um aluno cumpra até concluir o equivalente ao 9.º ano português. A média da OCDE é 7751 horas, no total, incluindo este montante actividades obrigatórias (sobretudo) mas também outras. Portugal está acima desta média, com mais de 8000 horas.

A forma como este período de formação é distribuído pelas diferentes disciplinas e actividades varia de país para país. Por exemplo: os portugueses dedicam mais tempo à “leitura, escrita e literacia” (27% do total de horas obrigatórias que fazem parte do currículo) e Matemática (23%) do que a generalidade dos países (a média da OCDE é, respectivamente, de 26% e 17%).

Implicações pedagógicas do novo paradigma de leitura são elencadas num estudo efetuado por investigadores de uma universidade norueguesa

ORE | 18.06.13

Pode consultar aqui o estudo.

A leitura em formato digital cresceu significativamente nos últimos anos. As funcionalidades oferecidas pelas novas tecnologias têm conduzido à emergência de um novo paradigma de leitura que tem nos adolescentes um grupo maioritariamente afeto. Ler textos nos telemóveis, nos monitores dos computadores ou simplesmente em tablets é uma realidade corrente. Apesar disso, tem permanecido de algum modo por avaliar o impacto que estes novos hábitos de leitura têm ao nível da compreensão leitora, por um lado, e sobretudo, por outro, as implicações pedagógicas que daí relevam para uma efetiva aprendizagem em contexto letivo.

Num estudo efetuado por três investigadores da Universidade de Stavanger, na Noruega, junto de 72 adolescentes com idades de 15 e de 16 anos e intitulado Reading linear tests on paper versus computer screen: Effects on reading comprehension (2013), conclui-se que, de facto, o suporte de leitura interfere na compreensão do lido, levando o texto impresso a levar a melhor sobre a sua versão digital.

Os estudantes foram divididos em dois grupos e a ambos foram atribuídos dois textos para leitura, sendo que esses textos foram disponibilizados a um grupo em formato impresso e ao outro em formato digital, no monitor de um computador – um para cada estudante, próximo daqueles que predominam nas escolas: monitores LCD de 15”. Após a referida leitura, solicitou-se aos alunos que respondessem a uma bateria de questões relativa aos documentos lidos – algumas delas semelhantes às que se efetuam no contexto do teste PISA – que procurava avaliar a sua compreensão do lido ao longo da experiência em análise. Poderiam, para o efeito, reler durante um tempo limitado os textos, respondendo depois em computadores às questões formuladas.

Os resultados obtidos indicam que aqueles que leram em papel impresso compreenderam significativamente melhor os textos em comparação com os que leram em versão digital. Conclui-se, em primeiro lugar, que o suporte de leitura – nomeadamente os utilizados neste estudo – influi na compreensão do que se lê, e, em segundo lugar, que o que se lê em suporte papel é melhor compreendido do que o que é lido em suporte tecnológico. Nas palavras dos autores do estudo, “ler textos lineares [i.e., não hipertextos] em monitor de computador resulta numa compreensão mais pobre quando em comparação com a mesma leitura em papel impresso.” Um dos elementos que, baseados na consulta da literatura científica relativa a este tema, afirmam estar na base destes resultados está o scroll no rato do computador que interfere na concentração leitora e a utilização do mesmo suporte (o computador) para mais do que uma tarefa em simultâneo (ler e responder). Apesar de especularem quanto à fadiga inerente ao contacto continuado com um monitor, os procedimentos a que obedeceu a experiência em análise não permitem extrair resultados claros neste aspeto em particular.

Entre os vários outros trabalhos mobilizados por estes investigadores escandinavos – Anne Mangen, Bente R. Walgermo e Kolbjørn Brønnick – para discutir os resultados a que chegaram destacam-se aqui dois. O primeiro, intitulado VDT versus paper based (2003), de Noyes & Garland, sustenta a tese de que a informação é melhor transferida da memória de trabalho para a memória a longo prazo quando resulta da leitura em papel impresso, por comparação com a adquirida via ecrã. Por outras palavras, o conhecimento resulta melhor com o papel lido do que com a leitura em monitor de computador ou de outros suportes congéneres. O segundo, designado Metacognitive regulation of text learning: On screen versus on paper (2011), de Ackerman & Goldsmith, compara o desempenho cognitivo que resulta daquilo a que os seus autores chamam OSL – On-screen learning, por um lado, e OPL – On-paper learning, por outro. Concluem neste documento que, quando autorregulado, o estudo OPL é, em termos de aprendizagem, mais eficaz que o OSL, ainda que, sendo externamente controlado (por um professor, por exemplo), não haja alterações significativas no desempenho cognitivo. Considerando-se, no entanto, que o paradigma educacional é mais hoje o da aprendizagem do que o do ensino, é fácil concluir, no capítulo da aprendizagem, a superioridade do OPL face ao OSL. Como afirmam os seus autores, os dispositivos eletrónicos parecem estar mais vocacionados para “a leitura rápida e não aprofundada de pequenos textos, tais como notícias, e-mails, etc.”

Confirma-se, enfim, a hipótese que estava na base do estudo Reading linear tests on paper versus computer screen: Effects on reading comprehension: a de que a compreensão do lido que releva da leitura em papel é muito superior à sua congénere em suporte digital.

Pode consultar aqui o estudo.

Portugal atinge meta europeia de ter 33% de crianças dos 0 aos 3 anos em creches

Lusa | 03.06.13

Pré-escolar ainda não chega a todas as crianças, diz Comissão Europeia.

Portugal atingiu o objectivo europeu de ter 33% de crianças dos zero aos três anos em berçários e creches, mas está aquém da meta de 90% para os menores entre três anos e o início da escolaridade, segundo Bruxelas.

Um relatório divulgado pela Comissão Europeia, esta segunda-feira, indica que apenas oito estados-membros da União Europeia (UE) conseguiram já atingir as chamadas “metas de Barcelona” em matéria de acessibilidade a estas estruturas (33% das crianças até aos três anos e 90% das dos três anos até à idade de escolaridade obrigatória): Bélgica, Dinamarca, Espanha, França, Países Baixos, Suécia, Eslovénia e Reino Unido.

Portugal, juntamente com outros nove países alcançaram já o primeira meta, mas (tal como outros 15) terá ainda que desenvolver esforços para atingir a segunda.

As “metas de Barcelona”, acordadas na cidade espanhola em 2002 pelos líderes europeus, devem ser cumpridas até 2020, de modo a contribuírem para a UE chegar a uma taxa de emprego de 75%.

Em causa está a melhoria destes estabelecimentos de pré-escolar (creches e infantários) para crianças.

“Como todos os pais bem sabem, é essencial dispor de estruturas de acolhimento de crianças, acessíveis e a preços aceitáveis, não só para o desenvolvimento da própria criança, mas também para os pais que trabalham”, disse a comissária europeia para a Justiça, Direitos Fundamentais e Cidadania.

Segundo Bruxelas, as políticas que visam melhorar a conciliação entre vida profissional e vida familiar, em especial, os serviços de acolhimento de crianças, são essenciais para promover o emprego das mulheres.

Observatório alerta alunos para perigos do excesso de ansiolíticos e antidepressivos

Lusa | 03.06.13

Observatório da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra adverte que os medicamentos nem sempre têm o efeito desejado quando tomados da forma errada ou misturados com outras substâncias.

No arranque na época de exames em muitas universidades e escolas, o Observatório de Interacções Planta-Medicamento (OIPM) deixa um alerta aos estudantes: o “uso excessivo” de ansiolíticos e antidepressivos apenas num período específico pode “funcionar em contracorrente”, porque a memória fica diminuída.

Os jovens são, por isso, o alvo desta semana da campanha “Aprender Saúde entre as Plantas e os Medicamentos”, do observatório da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra (FFUC).

“O uso de medicamentos na época dos exames traz vários problemas aos alunos”, disse à Lusa a investigadora Ana Rute Nunes, adiantando que “muitas destas substâncias aumentam os níveis de neurotransmissores, mas o custo na actividade neuronal a curto e longo prazo pode ser muito elevado, dado que muitas [destas substâncias] são produzidas sem nenhum controlo e o impacto que causam no organismo muitas vezes é imprevisível”.

Riscos de mistura com álcool e drogas
Por outro lado, alertou, “o uso excessivo de ansiolíticos e de antidepressivos”, em época de exames, “pode funcionar em contracorrente, dado que a memória é diminuída com o seu consumo”. Aconselhou ainda as pessoas a quem forem prescritas benzodiazepinas (ansiolíticos), como clonazepam, diazepam, flunitrazepam, ou antidepressivos (amitriptilina, citalopram, clomipramina, fluoxetina, nefazodona) a evitarem o consumo de álcool, de plantas ou extractos, como a erva de São João (hipericão), sumos de laranja, de toranja e gingko.

Já a coordenadora do observatório, Maria da Graça Campos, alertou os jovens para os riscos de misturarem álcool, drogas e outras substâncias psicoactivas com medicamentos, afirmando que podem causar danos em saúde, “muitas vezes irreversíveis”. “O consumo de álcool, drogas, incluindo as smartdrugs e outras substâncias psicoactivas, como antidepressivos e ansiolíticos, continua a aumentar em Portugal”, disse.

“Os malefícios do álcool são sobejamente conhecidos e um excelente exemplo para explicar que uma dose elevada única pode conduzir ao coma alcoólico e consequente morte, enquanto o consumo crónico pode induzir toxicidade hepática (cirrose)”, adiantou. Misturá-lo com medicamentos “pode causar várias falhas terapêuticas, desde a ineficácia de antibióticos ao efeito cumulativo de depressão do sistema nervoso”, advertiu.

Do sistema imunitário à pílula
Relativamente às drogas ilegais, a docente lembrou que muitas destas substâncias são de origem natural, como a heroína (obtida da morfina que se retira da papoila dormideira), a cocaína (das folhas da coca), o LSD (de um fungo que se desenvolve no centeio), as anfetaminas (retiradas de várias plantas), cogumelos alucinogénicos e a cannabis.

Segundo o observatório, os canabinoides naturais (da planta cannabis sativa) e os sintéticos acentuam o efeito psicotrópico das benzodiazepinas, álcool e barbitúricos. Esta droga potencia a acção dos relaxantes musculares, broncodilatadores, antieméticos, fenotiazidas, medicamentos antiglaucoma, antiepiléticos, dissulfiram, varfarina, antidepressivos, como a fluoxetina, e de drogas como a cocaína ou os opiáceos. “Por favorecerem a imunossupressão estão contra-indicados em doentes HIV-positivos”, acrescentou.

Também a pílula contraceptiva pode sofrer interacções com medicamentos ou produtos de origem natural, como alguns antipiréticos (carbamazepina), o hipericão e laxantes. Outro tipo de interacções relaciona-se com o aumento do risco de trombo embolismo venoso, que pode ser potenciado pelo uso crónico de substâncias como a soja e o ginseng.

O OIMP/FFUC tem uma linha de apoio à população (239488484).

Pais ‘obrigam’ adolescentes a fugir do Facebook

Correio da Manhã | 25.05.13

Apesar do Facebook ainda ser a rede social mais popular entre os adolescentes, o entusiasmo destes tem-se virado para outras plataformas. E uma das principais razões é fugir ao controlo dos pais

Um estudo feito a adolescentes norte-americanos mostra que 77% dos jovens entre os 12 e os 17 anos usam o Facebook, colocando assim a rede social criada por Mark Zuckerberg no topo da lista das plataformas online usadas para socializarem.

E apesar desse número já de si ser impressionante, o número de adolescentes com presença online que está presente no Facebook é ainda mais: 94% destes jovens têm conta na rede social. No entanto, a popularidade mundial do site que levou a uma maior presença de adultos tem gerado desconfiança.

O relatório elaborado pelo Pew Research Center indica que “os adolescentes não aprovam o crescente número de adultos no site, ficam irritados quando os seus amigos do Facebook partilham detalhes fúteis e ficam fartos de todo o drama que dizem acontecer frequentemente”.

Outro dos problemas, e talvez o principal para aqueles que têm cada vez menos entusiasmo para estar nesta rede social, é o facto de os próprios pais terem conta na rede e terem acesso a tudo o que eles publicam.

Com uma média de 425 amigos, o relatório sobre a atividade cibernética dos jovens mostra ainda que sete em cada dez adolescentes são amigos dos seus pais no Facebook.

O Pew concluiu que outras plataformas de partilha de imagens, mensagens, vídeos e tudo o que mais possa ser imaginado, têm tido cada vez mais procura. Em 2012, o Twitter viu o seu número de utilizadores adolescentes aumentar dos 16% para os 24%, e é novamente a segunda plataforma mais utilizada.

No último lugar do pódio surge o Instagram, com 11%. O outrora gigante, MySpace, fica-se pelos 7% e o Tumblr conta com 5% de atividade por parte de adolescentes que têm presença online.

Apesar de só ter registado um aumento de 2% face a 2011, é esta micro-rede de blogues que mais atenção tem reunido, principalmente neste mês de maio, altura em que foi anunciada a venda do Tumblr para o gigante da Yahoo por mil milhões de dólares (cerca de 775 milhões de euros).

Atrás deste surge a tentativa da Google em chegar ao universo das redes sociais não se tem provado uma aposta acertada. Apenas 3% dos jovens norte-americanos usam esta rede para socializar.

Mas apesar de todas estas conclusões, um dado sobressai: o tempo despendido diariamente pelos adolescentes em redes sociais manteve-se quase inalterado. O Facebook e plataformas semelhantes parecem ter atingido o seu pico de utilizadores.

Saiba tudo o que revelam os seus “gosto” no Facebook

Correio da Manhã | 11.04.13

Investigação da Universidade de Cambridge prova que recorrendo apenas aos “gosto” que um utilizador de Facebook coloca pela rede social é possível saber praticamente tudo sobre o mesmo.

Um artigo da Universidade de Cambridge publicado no revista da academia de ciências dos Estados Unidos analisou a atividade digital de mais de 58 mil utilizadores do Facebook e chegou a várias conclusões, sendo a mais importante a de que é possível conhecer o perfil de uma pessoa através dos “gosto” que coloca no Facebook.

Os participantes no estudo permitiram a compilação dos seus “gosto”, perfis demográficos e resultados de testes psicométricos através de uma aplicação online. Numa fase posterior os “gosto” foram lidos por algoritmos e comparados com a informação disponibilizada pelos perfis e respetivos testes de personalidade.

Os resultados obtidos foram diversos. Por exemplo, utilizadores que gostavam de “Mozart” e “Ciência” tinham maior probabilidade de possuírem QIs mais elevados do que os utilizadores que gostavam de “Lady Antebellum”. Outro dos inúmeros exemplos: as pessoas que gostavam de “Indiana Jones” estavam satisfeitas de um modo geral com as suas vidas, enquanto as que apreciavam a banda “Gorillaz” se encontravam infelizes.
O estudo não se fica pelos “gosto” em páginas que o utilizador segue, mas também nos comentários onde exerce essa opção, permitindo traçar um perfil muito próximo da realidade sobre a personalidade do utilizador´, em áreas tão diversas como política, religião, orientação sexual e até questões do foro emocional.
A próxima vez que queira colocar um “gosto”, pense duas vezes. É que as conclusões deste estudo deixam satisfeitos as empresas que podem assim direcionar melhor os seus produtos para consumo, mas aumentam a preocupação sobre as questões de privacidade.
Saiba mais sobre a investigação da Universidade de Cambridge fazendo download dos documentos com o estudo (em inglês), nesta página do site da Academia de Ciências dos Estados Unidos.

País é o segundo pior no abandono

O abandono escolar precoce em Portugal é o segundo pior da União Europeia. O pior, segundo o relatório ‘Estado da Educação 2012′, do Conselho Nacional de Educação, com dados de 2010/2011, é a Espanha. Apesar da melhoria dos resultados, Portugal (23,2%) e Espanha (26,5%) estão longe da média (13,5%) da UE-27 e mais ainda do objetivo (menos de 10%) para 2020.

Correio da Manhã | 10.04.13

Cenário diferente vivem Grécia e Irlanda, ambos sob ajuda externa, tal como Portugal. O abandono escolar é inferior à média europeia. Na UE-27, apenas 11 já atingiram a meta de ter uma percentagem inferior a 10% de abandono escolar.
Este problema está associado sobretudo à retenção dos alunos. O chumbo leva a que alunos com uma determinada idade frequentem anos ou ciclos anteriores ao que é suposto.
A situação mais preocupante do Ensino Básico acontece nos adolescentes com 12 anos. Com esta idade seria expectável a frequência do 1º ano do 3º ciclo. A realidade, porém, mostra que 24 por cento dos alunos com 12 anos já chumbou. Destes adolescentes, 23 por cento frequenta o 2º ciclo, cujas idades deviam de ser de 10 e de 11 anos. Situação mais preocupante diz respeito a 1,1 por cento dos alunos com 12 anos que ainda está no 1º ciclo do ensino básico (6-9 anos é a idade ideal).

Triplicam agressões sexuais nas escolas

Correio da Manhã | 29.03.13

Agressões sexuais nas escolas triplicam no ano lectivo 2011-2012.

As agressões sexuais triplicaram nas escolas portuguesas no ano letivo 2011-2012.

Segundo o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), que cita números dos programas ‘Escola Segura’ da PSP e GNR, foram contabilizadas 128 queixas deste tipo de crimes no ano passado – face às 42 denúncias de 2011.

Apesar de o número total de denúncias criminais em ambiente escolar ter registado no ano passado um decréscimo de 0,66% face a 2011 (5724 contra 5762 ocorrências), o RASI assinala o número das ofensas de índole sexual dentro e junto aos estabelecimentos de ensino. Estas ofensas referem-se a contactos forçados e a tentativas de penetração sexual, cuja investigação passou para a alçada da Judiciária.

Com subidas exponenciais em ambiente escolar estiveram igualmente as participações de furtos (1051 em 2012, face aos 353 de 2011), e de ofensas corporais (1344 no ano letivo passado e 291 no anterior). Os distritos de Lisboa (2156 ocorrências) e do Porto (1056) lideram a lista de denúncias de crimes nas escolas recolhidas pela PSP e GNR.

Estudo sobre salários é “uma vigarice”, denuncia secretário-geral da Fenprof

Público | 19.03.2013

Tabelas salariais dos docentes do ensino não-superior “são semelhantes” no público e privado, frisa Mário Nogueira.

É um dos maiores desvios apontados no relatório sobre salários no privado e no público encomendado pelo Governo à consultora Mercer, mas, segundo o secretário-geral da Federação Nacional de Professores (Fenprof), a disparidade apresentada entre os vencimentos no sector público e privado não é mais do que “uma vigarice” que tem como objectivo preparar uma nova redução dos salários dos docentes do ensino público.

Com dados relativos a 2011, o estudo da Mercer aponta um desvio de 43% a 47% das remunerações base dos docentes em benefício do ensino público (desvio que oscila entre 27 e 40% no ganho médio mensal). Para esta comparação não foram tidos em conta os cortes nos vencimentos destes professores. O ganho médio mensal de um professor do ensino superior público é apontado como tendo sido, naquele ano, de 3375 euros contra 2650 no privado. O dos professores do ensino básico e secundário público estava, segundo a Mercer, nos 2105 euros por comparação aos 1500 que atribui como ganho médio mensal no ensino particular.

“Este estudo esconde a realidade, é uma vergonha”, comenta Nogueira, frisando que, no que respeita ao ensino básico e secundário, “as tabelas salariais em vigor no público e no privado são semelhantes”. “Mas, no privado, ao contrário do público, não houve cortes salariais”, acrescenta.

Segundo o último contrato colectivo de trabalho assinado pela Associação de Estabelecimentos do Ensino Particular e Cooperativo e a Fenprof, que entrou em vigor em 2011, os vencimentos dos docentes oscilam entre 1104 euros no início da carreira e 3049 euros no final desta. No público, sem os cortes entretanto efectuados, variavam entre 1373 euros e 3364 euros no último escalão, no qual, segundo Nogueira, não se encontra actualmente nenhum docente.

“Os professores do ensino público estão já com cinco anos de congelamento na carreira”, lembra, chamando a atenção para que este facto, que, quando não é tido em conta em estudos como este, gera outras distorções, ou seja, o número de anos de serviço deixou de ter uma correspondência directa com o escalão em que o docente está colocado.

No relatório da Mercer, indica-se que os dados apontados têm na base 17.545 professores do ensino superior público e 133.243 do ensino básico e secundário. Segundo as estatísticas do Ministério da Educação e Ciência, o número de professores no superior público em 2011 era 26.410 e no básico e secundário chegava quase a 140 mil.

Os dados do privado foram trabalhados com base no relatório único sobre a sua actividade que as empresas têm de entregar anualmente no Ministério da Economia e do Emprego. A amostra da Mercer diz respeito a 1133 docentes do superior privados (existiam 11.229) e a 25.008 do básico e secundário, um número superior ao que está contabilizado nas estatísticas do MEC. Segundo estas, existiam em 2011 cerca de 22 mil docentes no ensino não superior privado.

Notícia corrigida às 22h12: o estudo da Mercer aponta um desvio entre 43 e 47% e não entre 127 e 140%.

Público | 13.03.2013

Mais de dez mil alunos abandonam a escola sem o ensino obrigatório completo

Taxa de abandono escolar caiu de 12,6% para 1,7% num prazo de 20 anos, indica estudo de ex-ministro da Educação David Justino.

O abandono escolar em Portugal está actualmente nos 1,7%, indica um estudo apresentado nesta quarta-feira por David Justino, ex-ministro da Educação e investigador da Universidade Nova de Lisboa, durante a 3.ª Conferência da EPIS – Empresários pela Inclusão Social.

“Isto corresponde a um grupo de 11.500 miúdos e, embora sejam números residuais, não devem ser esquecidos”, salientou David Justino na apresentação do Atlas do Abandono e do Insucesso Escolar em Portugal, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

O estudo, centrado nas crianças dos dez aos 15 anos que deixaram a escola sem o 3.º ciclo do ensino básico completo, incluindo os que nunca o frequentaram, faz uma análise comparativa dos números do abandono escolar em Portugal entre 1991 e 2011, quando a escolaridade obrigatória ia até ao 9.º ano (agora está no 12.º). Há 20 anos, essa taxa cifrava-se em 12,6%, tendo caído entretanto para os já referidos 1,7%.

“Houve uma redução quantitativa e uma alteração na natureza do abandono”, explicou. Em 1991, “o grande pólo geográfico ligado ao abandono” estava localizado no Litoral Norte do país. Com base nos censos de 2011 foi possível verificar que “houve uma deslocação para os distritos do interior”. Ainda não foram estudados os motivos que levaram a este deslocamento, mas David Justino avançou que este não será “independente da rota de circulação de algumas minorias étnicas, que se fixaram no interior do país”.

Paços de Ferreira, Lousada e Felgueiras estão entre os municípios com maior redução da taxa de abandono escolar no período abrangido pelo estudo.

O estudo aborda também o abandono escolar nos jovens entre os 18 e os 24 anos que saíram da escola sem o secundário completo, incluindo os que nunca o frequentaram, cuja taxa caiu de 63,7%, em 1991, para 27,1%, em 2011.

O mesmo estudo sublinha que, em 20 anos, a escolarização média aumentou de 4,6 anos, em 1991, para 7,4 anos, em 2011. Ainda assim, há dois anos, 25 concelhos, incluindo Pampilhosa da Serra (4,58), Penamacor (4,75) e Idanha-a-Nova (4,77), ficavam abaixo da média. Em contrapartida, Oeiras (10,00), Lisboa (9,59) e Cascais (9,50) situavam-se acima da média de escolarização.

A investigação tem como meta “cartografar a educação num atlas, com publicação já no próximo ano”, anunciou David Justino, que foi o titular da pasta da Educação entre 2002 e 2004, no Governo de Durão Barroso, e é agora também consultor da Casa Civil da Presidência da República para os Assuntos Sociais. Esse trabalho está a ser desenvolvido pelo Centro de Estudos de Sociologia da Universidade Nova e pela EPIS. “O próximo passo é o de tipificar os contextos sociais de insucesso e abandono escolar, perceber a realidade de cada concelho para perceber como actuar”, concluiu.

“Este mapa é muito útil para sabermos onde podemos actuar, mas não nos diz o que fazermos quando lá chegarmos”, diz, por seu lado, Daniel Rijo, da Universidade de Coimbra. O professor e psicólogo apresentou, também durante conferência da EPIS, um ensaio onde salientou a importância de abordar o assunto do abandono escolar “com base em factores de risco centrados no aluno”.

Avaliação docente em Portugal não corresponde às boas práticas propostas pela OCDE

Público | 08.03.2013

Relatório chama a atenção para a “combinação mal sucedida” existente em alguns países entre os resultados obtidos pelos docentes na sua avaliação e aqueles que são alcançados pelos estudantes.

Nem os resultados obtidos pelos alunos podem ser ignorados na avaliação docente, nem esta pode ser efectiva se não tiver no seu centro o que acontece em sala de aula, defende a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) num relatório divulgado nesta sexta-feira.

Em Portugal, devido à forte contestação de sindicatos e movimentos de professores, foi deixada cair a proposta de Maria de Lurdes Rodrigues no sentido de os resultados dos alunos contarem para a avaliação docente, e a observação das aulas passou a ter, em regra, um carácter facultativo.

No seu relatório Teachers for the 21st Century – Using Evaluation To Improve Teaching [Professores para o século XXI – Usar a avaliação para melhorar o ensino], a OCDE parte do princípio enunciado no título: o de que a avaliação docente deve contribuir para a melhoria do sistema de ensino e não apenas para a progressão na carreira. Frisando que “os resultados obtidos pelos estudantes são o critério essencial para o sucesso de um sistema de ensino” e que os “professores contam” no que respeita ao sucesso académico dos estudantes, a OCDE dá conta de que continua a existir, em alguns países, uma “combinação mal sucedida” entre os resultados obtidos pelos docentes na sua avaliação e aqueles que são alcançados pelos estudantes.

“Em alguns países, a grande maioria dos professores obtém as classificações mais altas na avaliação docente desenvolvida a nível nacional e, no entanto, o desempenho dos estudantes é insatisfatório”, constata-se no documento que antecede a realização da Terceira Cimeira Internacional sobre a Profissão Docente, que decorrerá no próximo dia 13, em Amesterdão.

Esta é a situação que se vive em Portugal. Segundo a OCDE, “esta combinação insatisfatória entre a mensagem enviada aos professores e o desempenho do sistema educativo no que respeita aos resultados obtidos pelos alunos reforça a importância de se utilizar sistematicamente os resultados dos alunos na avaliação dos docentes”.

Uma medida que chegou a estar contemplada no primeiro modelo de avaliação docente proposto pela ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, mas que foi deixada cair na sequência da forte contestação que motivou. Nuno Crato já revelou que é partidário desta ligação, mas admitiu que não existem ainda condições para aplicá-la.

“Não estamos ainda em condições de avaliar de uma forma objectiva os resultados dos alunos em todas as disciplinas, uma vez que nem todas são sujeitas a exames”, explicou durante a negociação do modelo de avaliação actualmente em vigor. Aplicando esta medida sem que esteja generalizada a aplicação deste instrumento de avaliação externa corre-se o risco de que esta seja um “incentivo à inflação das notas pelos professores”, acrescentou.

No seu relatório, a OCDE reconhece que será sempre difícil “identificar o contributo específico de um professor no desempenho dos alunos”, uma vez que a aprendizagem é um processo “influenciado por muitos factores”. “O efeito que os professores têm nos alunos é também cumulativo”, recorda-se, frisando que os alunos “não são só influenciados pelos seus professores actuais, como também pelos que tiveram antes”.

Nesse sentido, defende-se a importância de se desenvolverem modelos que permitam seguir o trajecto individual de cada aluno durante toda a sua permanência no sistema educativo, através dos quais seja possível também identificar o contributo de cada professor.

Observação das aulas
Estando em alta a constatação de que “a qualidade dos professores influencia os resultados dos estudantes”, onde poderá esta ser melhor avaliada do que em sala de aula? É aqui, “quando os professores interagem com os seus alunos”, que são revelados “muitos dos aspectos centrais da prática de ensinar”, o que leva a que “a avaliação docente esteja firmemente ancorada na observação das aulas” por outros professores ou avaliadores externos. É o que se passa “em quase todos os países” analisados. Portugal é a excepção destacada neste relatório, uma vez que, salvo alguns casos, “a observação das aulas é um dos itens facultativos na avaliação docente”.

No modelo de avaliação adoptado pelo actual Governo a observação de aulas será feita por avaliadores externos (no anterior estava a cargo de professores da mesma escola) e é obrigatória para os professores que estão no primeiro ano da sua actividade, para os que estejam nos 2.º e 4.º escalões da carreira docente, para os que se candidatam a um “excelente” ou que tenham tido a menção de “insuficiente” na última avaliação. Este procedimento deveria ter sido iniciado já este ano lectivo, mas o Ministério da Educação e Ciência (MEC) decidiu adiá-lo para o próximo de modo a garantir que os avaliadores externos tenham formação para o efeito.

Em Novembro passado, o Conselho das Escolas, um órgão consultivo do MEC que representa os directores, pediu a imediata suspensão do processo de avaliação, alegando, entre outras razões, dificuldades com a observação de aulas.

Numa entrevista ao PÚBLICO, em Maio passado, o analista da OCDE Paulo Santiago, que coordenou o relatório sobre a avaliação no sistema de ensino português, frisou que Portugal é mesmo “um caso extremo” na organização, uma vez que “não existe ainda nas escolas uma cultura de porta aberta, permitindo que professores observem aulas de outros colegas”. Portugal é também “quase um caso único” na OCDE no que toca à “relutância de professores e dos próprios directores em fazer um juízo profissional sobre outros colegas”, acrescentou.
Segundo um inquérito realizado em 2008, cerca de 30% dos professores portugueses indicaram nunca ter sido avaliados ou recebido qualquer feedback sobre o seu trabalho por parte de outros colegas ou do director da escola.

Pode consultar aqui o estudo da OCDE.

Investigadora defende que estilos recreativos juvenis são questão de saúde pública

CiênciaPT | 27.02.2013

Professora Maria de Lurdes Lomba conduziu um estudo em que foram entrevistados mais de 1300 jovens frequentadores de ambientes recreativos noturnos em dez cidades portuguesas

Um estudo desenvolvido por uma investigadora da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC), com base em mais de 1300 entrevistas a adolescentes e jovens adultos frequentadores de ambientes recreativos noturnos em dez cidades portuguesas, vem confirmar a relação existente entre diversão noturna, consumo de substâncias psicoativas e comportamentos de risco.

De acordo com os resultados do estudo, realizado por Lurdes Lomba no território nacional (continente e ilhas), entre 2007 e 2010, verifica-se uma maior expressão do consumo de bebidas alcoólicas (por 91% dos entrevistados) e da cannabis (consumida por 26% da amostra).

Quanto a comportamentos sexuais de risco, são muitos os jovens que referem ter praticado relações sexuais desprotegidas (62%) ou sob influência do álcool (51%).

Sobre comportamentos rodoviários de risco, 36% dos jovens referiram já ter sido conduzidos por alguém embriagado ou debaixo do efeito de drogas e 19% chegaram a conduzir sob influência de álcool. Conclui-se também, no trabalho da professora da ESEnfC, mestre em Saúde Pública e doutorada em Ciências de Enfermagem, que os acidentes rodoviários decorrentes destes consumos são mais frequentes nos jovens que permanecem mais tempo na noite.

Já em matéria de comportamentos violentos, verifica-se uma relação positiva entre a maioria destes comportamentos e o consumo de álcool e drogas, com uma tendência para comportamentos violentos mais frequentes nos jovens com maior envolvimento na vida recreativa noturna.

Intervenções de Enfermagem
Para a professora Maria de Lurdes Lomba, «os resultados deste estudo apontam para a necessidade dos enfermeiros assumirem os estilos recreativos juvenis como uma importante questão de saúde pública em que urge intervir».

Face a estas conclusões, a docente da ESEnfC defende intervenções de Enfermagem, que passem, por exemplo, pela sensibilização para a necessidade de transporte público noturno, por ações preventivas nos locais de diversão, ou pela oferta de informação sobre drogas e consumo. Defende também medidas de minimização de danos (distribuição de preservativos, acesso a testes de alcoolemia, uso de copos de plástico…).

Maria de Lurdes Lomba defende, ainda, «o recurso à consulta motivacional para promoção da cessação de comportamentos de risco junto de jovens que adotem este tipo de comportamentos».

«Para o sucesso da implementação destas medidas, o enfermeiro deverá atuar, de um modo interdisciplinar, com outros profissionais da saúde e instâncias sociais, focando a sua intervenção na sensibilização dos responsáveis políticos, comunitários e da indústria recreativa para os problemas ligados à cultura recreativa, no sentido de estabelecer parcerias institucionais e obter a sua colaboração e envolvimento na implementação das medidas propostas, enfatizando os benefícios que daí poderão advir para os jovens, para a própria indústria recreativa e para a comunidade», sustenta Maria de Lurdes Lomba na tese de doutoramento que redigiu no âmbito deste estudo.

No estudo da investigadora da ESEnfC foram entrevistados jovens das cidades de Lisboa, Porto, Coimbra, Angra do Heroísmo, Ponta Delgada, Odivelas, Funchal, Viana do Castelo, Aveiro e Viseu.

Chumbos no 12.º ano aumentaram 6,4% em dois anos

Público | 27.02.2013

Inquérito a estudantes mostra que um terço chega ao secundário com um ou mais anos de atraso.

Há mais estudantes com negativas no 12.º ano e consequentemente aumentou também o número dos que reprovam no final do ensino secundário.

Dados do inquérito Estudantes à Saída do Secundário 2011/2012, divulgado nesta quarta-feira pelo Ministério da Educação e Ciência (MEC), dão conta de que os estudantes que dizem ter reprovado no 12.º ano registou naquele ano lectivo um acréscimo de 6,4% por comparação a 2009/2010, o que se ficará sobretudo a dever à maior exigência dos exames nacionais.

Em contrapartida, houve um decréscimo de 7,7% no número de alunos que dizem ter reprovado no 10.º ano, o primeiro do secundário. Neste nível de ensino, este continua a ser, contudo, o ano com mais chumbos: mais de metade das retenções no secundário ocorrem no 10.º ano.

No inquérito elaborado pelo Observatório de Trajectos dos Estudantes do Ensino Secundário (OTES) atribui-se este facto ao chamado “efeito de transição” provocado pelo “aumento de exigência escolar” e por “lógicas de funcionamento, linguagem e modos de gestão do tempo e do espaço diferentes ao que os alunos estavam habituados”.

Foram inquiridos 47.024 estudantes que se encontram inscritos no 12.º ano ou equivalente, o que corresponde, segundo o OTS, a 60,1% dos alunos matriculados no ano lectivo passado. Destes cerca de um terço tinha chegado ao secundário com um ou dois anos de atraso.

Esta realidade é mais acentuada entre os inquiridos que frequentavam o ensino particular: 8,6% tinham um atraso de três ou mais anos, enquanto no ensino público eram 2,6%. A maior parte dos alunos do ensino particular inquiridos estava em escolas profissionais.

Pode consultar aqui o inquérito.

Benefícios com estudos no ensino superior são três vezes superiores aos custos

Lusa | 19.02.2013

Comissão Europeia divulga estudo em que defende que gastar em formação superior é um bom investimento.

Os benefícios públicos de se ter um grau de ensino superior são duas a três vezes superiores aos custos públicos com a sua formação, revela um relatório da Comissão Europeia.

De acordo com o relatório Education and Training Monitor 2012, gastar dinheiro em formação superior é um bom investimento: no caso dos homens, os benefícios públicos são, em média, três vezes superiores aos custos públicos; e, no caso das mulheres, são, em média, o dobro do custo associado.

No entanto, Portugal tem cortado no investimento dirigido ao ensino superior: “Em 2009, a maioria dos países europeus encontrava-se em recessão, mas todos eles mantiveram ou aumentaram o investimento em educação, à excepção de Portugal e da Roménia”, lê-se no relatório.

Uma das metas definidas para a Europa – ter 40% dos jovens entre os 30 e os 34 anos com qualificação superior – foi atingida há dois anos por quase metade dos Estados-membros. Portugal ainda está longe da meta, com apenas 26,1% dos jovens com formação superior, em 2011.

Os autores do relatório, divulgado este mês, acreditam que será possível atingir aquela meta até 2020, apesar de “alguns Estados-membros ainda terem consideráveis progressos a fazer para conseguir atingi-la”.

Na próxima década, a procura de profissionais com elevados níveis de formação vai aumentar, ao contrário dos profissionais com menos qualificações, que serão menos requisitados. A União Europeia estima que, em 2020, os empregos com qualificação superior passem a representar 35% do mercado de trabalho, enquanto os empregos com qualificação média representarão metade das ofertas do mercado de trabalho e os empregos com baixa qualificação vão reduzir de 20% para 15%.

Apesar de os diplomados terem cada vez mais dificuldade em arranjar emprego, é entre os detentores de grau académico que existem as mais elevadas taxas de empregabilidade.
Os técnicos da Comissão Europeia sublinham que o investimento em educação é a chave para o crescimento da Europa, recomendando aos Estados-membros a realização de reformas que aumentem a performance e eficiência dos sistemas de ensino.

“A educação é parte da solução para combater o impacto da crise, mas apenas se o investimento for eficiente”, lê-se no relatório, que alerta para a necessidade de “aumentar, com urgência, os esforços para combater o abandono escolar”: “As expectativas de abandono escolar estão a agravar-se”, existindo grandes disparidades entre países e género dos alunos.

O relatório chama ainda a atenção para o “preocupante número” de jovens com 15 anos, com dificuldades na leitura, em matemática e nas ciências. Novamente, a média europeia esconde uma desigualdade de géneros que, neste caso, é mais prejudicial para os rapazes: a percentagem de alunos com carências de aprendizagem é o dobro da das raparigas.

Metade dos pais vão ao Facebook espiar os filhos

Correio da Manhã | 17.02.13

Estudo americano mostra que a principal motivação dos pais para aderirem à rede social é ver o que os filhos andam a fazer

O site Education Database Online, que partilha informações sobre escolas e sistemas de ensino nos Estados Unidos da América, revelou um relatório sobre o uso da rede social Facebook. O estudo mostra que pelo menos metade dos pais que se inscrevem no Facebook o fazem com o propósito de se fazerem ‘amigos’ dos seus filhos para poderem ver o que estes escrevem e publicam na rede. Nos últimos dois anos, registou-se uma grande adesão das mães ao Facebook – o site estima que, de 50% em 2010, se atingiu em 2012 uma percentagem de 72% de mães que têm conta no site.

Os dados recolhidos pela Education Database mostram que a curiosidade em relação aos filhos se concentra em três itens principais: as mensagens que eles publicam (41% das consultas) o que os outros escrevem no mural dos filhos (39%) e as fotos em que são referidos (29%). Quanto à frequência das actividades de ‘espionagem’, 43% dos pais com Facebook admitem que visitam o perfil dos filhos todos dias, ao passo que 31% admitem que o fazem entre quatro a cinco vezes por semana. Só 1% dos utilizadores consultados para este estudo garantiu nunca ter visionado o perfil dos seus filhos.

Outro dado interessante é a reacção dos jovens à presença dos pais no Facebook. Até aos 13 anos, a grande maioria dos utilizadores (65%) aceita os pedidos de amizade dos pais. Este valor cai para os 40% quando estamos a falar com filhos de 20 anos . Ou seja, quanto mais velhos são os filhos, menos propensos estão a deixar que os pais sigam as suas peripécias na internet. Estima-se que estão registados no Facebook 7,5 milhões utilizadores com 13 ou menos anos.

O relatório mostra também a opinião dos filhos quanto à invasão dos papás e mamãs das redes sociais. Uma em cada três crianças diz sentir-se embaraçada com a actividade dos pais no Facebook e 30% dizem mesmo que, se pudessem, deixariam de ser amigos deles nas redes sociais.

Formação e apoio às vítimas são essenciais no combate ao ciberbullying

Público | 06.02.13

Redes sociais, chat rooms, jogos online – meios de comunicação e entretenimento muitas vezes utilizados como veículo de agressão por parte de jovens contra jovens. Mas há formas de combater o ciberbullying e devem ser do conhecimento de todos.

Existem directrizes e recomendações para ajudar vítimas de ciberbullying e apoiar pais e professores na resposta às agressões feitas principalmente nas redes sociais e em chat rooms, mas estas podem não ser eficazes. Esta quarta-feira foi apresentado um estudo internacional que analisou os pontos fortes e fracos das recomendações activas em 29 países, incluindo Portugal. A educação em matéria de cibersegurança, o apoio parental e escolar à vítima e uma actuação eficaz com a formação de pais e professores estão entre as principais recomendações dos 13 investigadores que elaboraram o relatório Orientações para prevenir o ciberbullying no ambiente escolar: uma revisão e recomendações .

Entre os investigadores, de 11 países, está Ana Tomás de Almeida, do Departamento de Psicologia da Educação e Educação Especial da Universidade do Minho. Das recomendações que actualmente são feitas no combate ao ciberbullying e que a equipa analisou, a investigadora destaca que, na sua maioria, “colocam pais e professores no papel de modelos de consciência e desenvolvimento de competências para a prevenção do ciberbullying”, ficando por aprofundar “as políticas e os regulamentos escolares”. Ana Tomás de Almeida acrescenta que “a omissão mais notada” é a do papel “pró-activo que os jovens podem assumir no combate ao ciberbullying” e do envolvimento que toda a comunidade pode ter no apoio às vítimas.

No estudo, que arrancou em Outubro de 2008 e se prolongou durante quatro anos, foram avaliadas as recomendações que existem para cada um dos actores escolares. Acima de tudo, os investigadores defendem “um esforço concertado da sociedade, escolas, professores, pais e jovens para trabalharem em conjunto e determinar as regras e as práticas” a ter para responder a estas agressões.

Pais atentos, pró-activos e dialogantes
Os pais são o primeiro grupo a quem o estudo se dirige. É recomendado aos progenitores que sejam pró-activos e que falem sobre o ciberbullying antes mesmo de os seus filhos serem vítimas. Desta forma, sustenta o relatório, “as crianças ficarão mais bem preparadas para enfrentar o ciberbullying” e provavelmente vão conseguir evitar comportamentos condenáveis ou apoiar outros menores em ataques a terceiros. Ao serem informados pelos filhos de que uma outra criança está a ser vítima, os pais devem reportar o caso às autoridades competentes.

Cabe ainda aos progenitores ou tutores informarem-se sobre as formas seguras de utilizar um telemóvel ou a Internet e ajudar a criança tecnicamente a evitar ser vítima de um intruso através de mensagens ou imagens abusivas. “Os pais muitas vezes não se apercebem de que, apesar das suas crianças serem aptas tecnicamente, podem não saber utilizar a tecnologia de forma segura”, sublinha o documento.

Uma das questões em que o estudo concentra as atenções é o apoio que deve ser dado a uma criança vítima de ciberbullying. Antes disso é necessário estar atento aos sinais do menor quando já está a ser agredido, como “alterações de comportamento, depressão ou agressividade” sempre que está ou esteve online. Os pais devem passar a mensagem aos filhos de que “não é uma vergonha” estar a ser vítima de ciberbullying e que o problema “está do lado do agressor”. As crianças devem, assim, ser “encorajadas a não hesitar em pedir ajuda aos pais, professores, jovens ou outros que as ajudam quando estas não têm capacidade de se ajudar a si próprias”.

Uma das principais recomendações, e que está na base de quase todas as outras, é a existência de diálogo constante entre pais e filhos. Mas este deve ser cuidado, sem “reacções exacerbadas”, e a solução de “negar o acesso à criança de um telemóvel ou Internet” não deve ser escolhida. Antes, defendem os autores do estudo, “devem falar sobre formas possíveis de lidar com os ciberataques”.

Etiqueta online essencial para os jovens
No caso dos jovens, a primeira das recomendações deixadas pelo estudo é que fique garantido que estes tenham uma participação activa na elaboração da política escolar de combate ao bullying, seja ele online ou nos corredores das escolas. Aos jovens é aconselhado, por sua vez, que façam uso das novas tecnologias com “responsabilidade para a sua própria segurança” e que reforcem a sua “cidadania digital” integrando programas de aconselhamento e tutoria dedicados a actividade online.

Os autores do estudo consideram importante que os jovens tenham capacidades técnicas para saber explorar as diferentes actividades online, como as redes sociais, chat rooms e jogos online, ou por telemóvel, mas sobretudo que tenham o que designam como “netiquette”, qualquer coisa como etiqueta online, quando “comunicam e socializam” na Internet, assegurando que os “valores comportamentais assumidos online sejam os mesmos que na vida real”.

Perceber o que é o ciberbullying, as suas causas, consequências, incluindo as legais, saber reagir em caso de agressão e as formas de combate devem também fazer parte das competências dos jovens.

Depois dos pais, é à escola e professores que é atribuída grande parte da responsabilidade de educar crianças e adolescentes para que saibam identificar casos de ciberbullying, reagir perante estes e procurar ajuda para terminar com estas agressões. É no recinto escolar que começam muitos dos casos de bullying e é aqui que o activismo contra estas agressões tem um papel importante. Apesar do estudo dividir as recomendações para a escola e para os professores, estas são semelhantes e, acima de tudo, complementares. “Os professores devem ser modelos a seguir e incentivar os alunos a apoiar aqueles que estão a ser vitimados e consequentemente criar um ambiente escolar que não tolere o ciberbullying”, recomenda o relatório. O apoio educativo dado pelos professores deverá ter, no entanto, algumas considerações, nomeadamente a idade e a compreensão do aluno sobre como devem ser utilizadas as novas tecnologias sem ser vítima ou agressor.

Cyberbullying é um problema comunitário
“Positividade” é um conselho sublinhado várias vezes no relatório, quando se refere à forma como professores e restante pessoal escolar devem falar e abordar a tecnologia e o uso que os mais novos lhe podem dar. A cooperação na comunidade escolar, que inclui ainda os encarregados de educação, é essencial numa situação confirmada de ciberbullying. “Todas as partes envolvidas devem estabelecer contacto entre si”, defende o estudo, acrescentando que “não deve ser uma questão de quando acaba a responsabilidade parental e começa a responsabilidade escolar, mas antes como tornamos o ciberbullying uma responsabilidade cada vez mais partilhada”.

Mais uma vez, a formação é destacada. “O pessoal escolar e os seus pares têm que desenvolver o conhecimento e aptidões para responder de forma eficiente e dar apoio àqueles que são vítimas de ciberbullying”. Para que haja formação profissional, é aconselhado às direcções das escolas que procurem apurar que competências o seu pessoal tem para reagir em casos de ciberbullying e “encorajar e permitir aos professores que implementem e avaliem consistentemente respostas eficientes a situações de ciberbullying”. “Por exemplo, os professores devem melhorar o conhecimento dos alunos sobre cibersegurança e regras de etiqueta online” e desenvolver laços com os pais “para estabelecer uma cooperação mais próxima, desenvolver estratégias para lidar com o ciberbullying, contactar os pais quando for considerado apropriado e aumentar a consciência parental e da comunidade” sobre o tema.

A professores e alunos é deixada uma última recomendação: “Os professores devem aproveitar a oportunidade para aprender sobre como os alunos usam a Internet, enquanto os estudantes têm que apreender formas para resolver problemas sociais e desenvolver aptidões sociais com os professores”.

Investigadora defende interação entre pais e filhos para uma utilização mais segura da Internet Ciência

PT | 05.02.13

Os softwares para prevenir condutas de risco dos jovens nas redes sociais são pouco eficazes, conclui um doutoramento da Escola de Psicologia da Universidade do Minho. Para a investigadora Fátima Abreu Ferreira, uma das melhores estratégias para prevenir a exposição aos riscos no mundo online passa pela interação direta entre pais e filhos. O seu estudo, desenvolvido entre 2009 e 2012, centrou-se na avaliação da vitimização online, comparando este fenómeno entre Portugal, Espanha e Reino Unido numa amostra de 2565 estudantes entre os 10 aos 18 anos de idade.

Os resultados apontam o ciberbullying como sendo o risco mais frequente nos três países, seguido do ciberstalking (assédio persistente) e das solicitações sexuais. Indicam também que as estratégias de mediação ativa e restritiva, que combinam a imposição de regras sobre o uso da Internet e a discussão da utilização que é feita da mesma, como as mais eficazes na prevenção da exposição aos riscos online. “A Internet é um ambiente anárquico, fluído e em constante mutação, ao qual os jovens têm uma grande facilidade em se adaptar, pelo que os cuidadores não devem depositar toda a sua confiança apenas na implementação de filtros que impeçam o acesso a determinados conteúdos. Aliás, este filtros podem ser facilmente desativados pelo adolescente ao ver tutoriais no YouTube, por exemplo”, esclarece a doutoranda em Psicologia da Justiça na UMinho.

Para Fátima Abreu Ferreira, a conversa no mundo real continua a ser o melhor meio para lidar com o que se passa nas redes virtuais. Ainda assim, usar apenas um tipo de estratégia pode não ser o ideal. Os pais “devem estar disponíveis” para cruzar vários cenários. Ou seja, estabelecer regras acerca da utilização da Internet, que passem não por uma imposição mas sim por uma discussão com os filhos acerca da importância de certos cuidados e comportamentos a adotar. “Desta forma, é igualmente criado um ambiente de segurança para que, em situações em que não é possível controlar a exposição aos riscos, os jovens se sintam confortáveis em revelar o acontecimento e se sintam apoiados para geri-lo da melhor forma”, vinca.

Fátima Abreu Ferreira nasceu na Guarda há 29 anos e é psicóloga, investigadora e professora. Está a concluir o doutoramento na UMinho, com a tese “Vitimização Online: Os riscos de viver na era digital”. Tem as licenciaturas em Aconselhamento Psicossocial e em Psicologia e a pós-graduação em Aconselhamento, todas pelo Instituto Superior da Maia (ISMAI), no qual também foi docente cinco anos. Trabalha em projetos de investigação das universidades do Minho, Coimbra e do ISMAI, centrando a pesquisa nos temas da violência (online, doméstica, escolar, praxes académicas, relações amorosas) e na sexualidade feminina. Tem algumas dezenas de publicações científicas e participa em congressos em vários países.

Jovens europeus identificam que riscos da Internet estão nos vídeos violentos e pornográficos

Lusa | 05.02.13

Inquérito EU Kids Online chegou a quase dez mil jovens de 25 países europeus.

Os portais de partilha de vídeos como o YouTube são a maior fonte de incómodo na Internet para os jovens europeus dos nove aos 16 anos, que os associam ao risco de encontrar online imagens violentas ou pornográficas.

A conclusão consta de um estudo divulgado esta terça-feira, coordenado pelo projecto europeu EU Kids Online, que congrega as respostas de quase dez mil jovens europeus, para aferir o que incomoda as crianças e jovens dessa idade ao usarem a rede.

Conduzido em 25 países europeus, incluindo Portugal, e divulgado na data em que se assinala o Dia Europeu da Internet Segura, este estudo aponta os portais de partilha e alojamento de vídeos, as páginas na Internet na sua generalidade, as redes sociais e os jogos, como as principais fontes de incómodos e riscos para os mais novos.

Das 9904 respostas analisadas, 32% dos rapazes e raparigas inquiridos consideram os portais de partilha de vídeos como as plataformas de maior risco para encontrar online imagens violentas ou pornográficas, com muitos deles, alguns apenas com nove anos, a descrever cenas de sexo explícito, de violência ou de crueldade animal, como exemplos daquilo com que já se depararam online, inadvertidamente.

Nas respostas, os jovens europeus exprimiram também as suas emoções perante aquilo com que foram confrontados, sendo que o medo representa 54% das reacções perante a violência, e a repulsa, 59% das reacções perante a pornografia.

“Uma das conclusões que esta análise evidenciou é que as crianças estão muito incomodadas com conteúdos violentos e pornográficos, que aparecem até associados a um tom humorístico, mas que elas próprias dizem que não acham graça nenhuma”, disse à Cristina Ponte, coordenadora do EU Kids Online em Portugal.

Quanto às redes sociais, como o Facebook, 48% dos jovens associa-lhes riscos relacionados com questões de conduta, e 30%, com o estabelecimento de contactos.

O estudo revela ainda que, em relação às preocupações com a utilização de redes sociais, são sobretudo as raparigas que percepcionam os riscos, e são também elas que valorizam as questões de conduta e de contactos através da rede. Já os rapazes estão mais atentos à violência e pornografia.

De acordo com o relatório do estudo, as diferentes percepções consoante o género explicam-se pelo facto de os rapazes serem os que mais usam plataformas online de partilha de vídeos e os que mais recorrem aos jogos, estando por isso mais vulneráveis a imagens de violência e pornografia.

Já as raparigas, mais activas nas redes sociais, estão mais preocupadas com questões de comportamentos, de devassa da vida privada e de reputação entre pares.

“Este tipo de riscos, que nós ligamos mais a condutas, aparece mais do que o aborrecimento que causa, por exemplo, ser contactado por um estranho, que é até uma preocupação muito mais presente na agenda pública”, destacou Cristina Ponte.

“Uma das conclusões a que se chegou é que são aqueles que já foram magoados que a seguir vão magoar. Temos de contrariar esta tendência de condutas que respeitam pouco os outros”, acrescentou.

A análise ao inquérito demonstrou também que a percepção dos riscos na rede muda à medida que as crianças vão crescendo, evoluindo de uma preocupação mais vincada com os conteúdos disponíveis para uma maior preocupação com condutas.

Dos exemplos dados pelo estudo, destacam-se as preocupações com o bullying, que vão aumentando até atingirem um “pico” por volta dos 13-14 anos, ou as preocupações com a partilha indesejada de informações privadas, como fotografias, que são mais comuns entre os mais velhos.

Menos mencionados, mas também presentes, e em crescendo à medida que as crianças crescem, estão preocupações com conteúdos relativos a automutilação e suicídio, distúrbios alimentares, drogas, racismo e publicidade.

O que incomoda na Internet? Insultos, mentiras e coisas feias, dizem crianças portuguesas

Público | 05.02.13

Pais, crianças e jovens portugueses falaram na primeira pessoa. Esta terça-feira é dia da Internet Segura.

Pornografia, imagens de violência, contactos de estranhos, referências a drogas e álcool, e imagens de pessoas a abusar de crianças são apenas alguns do conteúdos que crianças e jovens identificam como incómodos na Internet. As respostas de mil crianças portuguesas estão incluídas no inquérito europeu EU Kids Online e são divulgadas esta terça-feira por investigadores da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, no dia em que se comemora a Internet Segura.

No trabalho de campo também houve perguntas dirigidas aos pais, tendo sido pedido que identificassem situações particularmente incómodas para os filhos na Internet. Nos testemunhos, há relatos sobre estranhos que entraram em contacto com os filhos e que lhes pediram a morada. Um dos pais conta que a filha de 16 anos conheceu um homem na Internet e convidou-o para ir lá casa. Quando a mãe chegou, a filha estava no quarto inconsciente e teve de receber tratamento hospitalar. Nunca se chegou a descobrir o que lhe aconteceu ou que terá tomado.

Outros depoimentos dos pais relacionam-se com mensagens desagradáveis enviadas por colegas aos filhos, conversas perturbadoras com estranhos, visualização de vídeos chocantes e fotografias de filhos divulgadas em sites com comentários negativos.

Já as crianças, quando questionadas sobre o que é que poderia incomodar alguém da idade deles na Internet, responderam: “Enviar insultos, contar mentiras sobre outras pessoas, sites com coisas feias, com imagens chocantes”, disse uma menina de 12 anos. Outra rapariga de 15 anos escreveu: “Fazer troça de alguém criando sites e usando o Youtube para gozar”. Uma adolescente da mesma idade, a quem uma colega enviou mensagens desagradáveis, identificou como incómodo “insultos que baixam a auto-estima e afectam psicologicamente”.

Apesar de o inquérito EU Kids Online ser de 2010, o relatório com as respostas das crianças e dos jovens na primeira pessoa só é divulgado esta terça-feira. Para além disso, os investigadores portugueses resolveram voltar ao terreno, cerca de um ano depois, mas desta vez para comparar as primeiras respostas com as de uma amostra de crianças e adolescentes de contextos socioeconómicos mais desfavorecidos.

“Quando decidimos adaptar o questionário EU Kids Online a uma amostra de crianças socialmente desfavorecidas, os nossos objectivos eram não só conhecer os seus contextos de acesso, uso e formas de mediação, mas também ter em atenção a percepção das crianças sobre os riscos e segurança online, na forma como o expressam, e compará-los”, escrevem os investigadores Cristina Ponte, José Alberto Simões e Ana Jorge, num artigo que será publicado no próximo mês.

Não estragar o computador
Neste segundo inquérito, dirigido a miúdos entre os 9 e os 16 anos do programa Escolhas, que visa promover a inclusão social de crianças e jovens provenientes de contextos socioeconómicos mais vulneráveis, a pergunta foi colocada da seguinte forma: “O que é para ti usar a Internet de forma segura? Que conselho darias a uma pessoa da tua idade?”

A pesquisa, realizada em 19 centros da área metropolitana de Lisboa e do Porto, mostrou que, comparadas com a amostra nacional do EU Kids Online, as crianças do Escolhas “são aparentemente mais inclinadas para o entretenimento” e que “as competências digitais ligadas à informação estão menos presentes”. Mais frequentados por rapazes do que por raparigas, os centros Escolhas proporcionam um acesso a meios digitais, o que leva os investigadores a concluir que “exclusão social e exclusão digital não são necessariamente equivalentes”.

Se na amostra portuguesa do EU Kids Online 47% dos pais tinham o 9.º ano ou menos, entre os pais das crianças do Programa Escolhas esta percentagem atinge os 90%. O acesso das crianças à Internet também é mais reduzido no Escolhas, o que pode dever-se aos baixos níveis de escolaridade dos pais que também não são, eles próprios, utilizadores da Internet: 60% dos pais portugueses abrangidos no EU Kids Online usavam a Internet, enquanto no caso do Programa Escolhas esta percentagem desce para 43.

Para além deste dado, salienta-se que 92% das crianças do EU Kids tinham acesso à Internet em casa, percentagem que, no caso do Escolhas, se fica pelos 46 (no que respeita a crianças) e pelos 70 (no caso dos adolescentes).

Algumas das respostas das crianças do programa Escolhas mostram que a percepção que têm sobre o que é usar a Internet de forma segura relaciona-se com o manuseamento cuidado dos equipamentos – não querem estragar computadores que não são deles – em vez dos conteúdos.

As referências a conteúdos sexuais são escassas, o que se pode dever ao facto de estas crianças e jovens acederem à Internet em locais como a escola e os centros Escolhas, onde são usados filtros e onde o acesso é mais controlado. Apesar de haver essa supervisão, uma criança do Escolhas escreveu o seguinte: “Não devia fazer, mas faço. Não jogar jogos nem tentar criar contas no Facebook… Eu faço na escola, mas com outro nome.”

E quanto a contactos com estranhos, que disseram os miúdos? Uma rapariga de 14 anos, abrangida pelo Escolhas, respondeu o seguinte: “Uso a net há cinco anos e felizmente até hoje não me aconteceu nada. Já falei e me encontrei com desconhecidos e correu sempre bem. Se toda a gente tiver o mesmo cuidado que tenho e atenção, nada de mal acontecerá”.

Os investigadores verificaram que entre jovens do Escolhas, o contacto com pessoas desconhecidas pode ser uma oportunidade para aumentarem o “capital social” – a rede de contactos. E perceberam também que crianças mais novas se sentem seguras quando navegam na Internet, porque apenas fazem um número limitado de actividades em períodos curtos de tempo.

Os autores do artigo frisam ainda que, apesar de as crianças portuguesas liderarem, a nível europeu, o acesso à Internet através de portáteis, tal não se traduzia num uso frequente. De acordo com os dados do EU Kids Online, 66% das crianças portuguesas tinham acesso à Internet através de portáteis, contra uma média europeia de 23%; porém, apenas 54% acediam diariamente à Internet, quando a média europeia era de 57%.

Uma vez que os dados das pesquisas são de 2010 e de 2011, Cristina Ponte considera que seria relevante voltar ao terreno para um novo estudo, que teria como objectivo perceber como está a actual crise a afectar as condições de acesso à Internet por parte das crianças e jovens.