Quarto desarrumado e uso de telemóveis são principais causas de discussão entre pais e filhos
Inquérito a encarregados de educação dá conta de que as discussões com as questões do estudo e trabalhos de casa ocorrem mais no 2º e 3º ciclo de escolaridade
LUSA | 14.07.2016
A desarrumação do quarto e o uso excessivo de telemóveis são as duas principais causas das discussões entre pais e filhos em idade escolar, concluiu um inquérito feito a mais de 2500 encarregados de educação portugueses.
Segundo revelou à agência Lusa Alexandre Henrique, autor do inquérito sobre “Indisciplina na Família” e autor do blogue ComRegras, a desorganização e desarrumação do quarto (39,5%) e o uso excessivo de aparelhos tecnológicos (39,4%) estão no topo da lista das discussões que mais ocorrem entre encarregados de educação e educandos.
O estudo foi realizado em Maio último com o apoio da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas e da Confederação Nacional das Associações de Pais.
O incumprimento de ordens, orientações ou pedidos (34,3%), rotinas de estudo ou trabalhos para casa (28,3%), brigas entre irmãos (26,4%), birras (24,5%), horários de sono (17,9%), recusa em realizar tarefas domésticas (16,9%), insuficiente desempenho escolar (10,1%) e o comportamento escolar desajustado (7,4%) são as restantes causas no rol das dez principais celeumas entre pais e filhos.
O estudo, que teve por base um inquérito ‘online’ realizado a 2583 encarregados de educação de Portugal Continental e Ilhas, revela que é logo no 2º ciclo que surge em primeiro lugar as discussões por causa do uso excessivo de aparelhos tecnológicos (46,3%), um problema que se mantém e acentua no 3º ciclo (53,8%) e Secundário (44,4%).
No pré-escolar e 1º ciclo destacam-se as birras como causa principal para as discussões, com 75% e 42,1%, respectivamente.
“As discussões com as questões do estudo e trabalhos de casa ocorrem mais no 2º e 3º ciclo de escolaridade” e existe uma clara evolução com a idade, com as discussões por incumprimento de ordens a diminuir, mas no sentido inverso, aumentam os conflitos relacionados com a desarrumação do quarto, observa Alexandre Henrique.
“Apesar do álcool e o tabaco serem um problema social entre os jovens, os conflitos sobre essa matéria são praticamente nulos”, acrescentou.
As principais correções aplicadas atualmente aos educandos, vulgarmente conhecidas por ‘castigos’, são a “repreensão através de um diálogo calmo” (97,3%), “gritar” (79,7%), “privar [os educandos] de objetos como brinquedos, telemóveis ou televisão” (79,9%) e “privar [os educandos] de atividades de que gostam” (66,7%).
Bater deixou de ser um castigo aplicado amiúde (26,8%), comparativamente à geração dos avós dos educandos, que puniam muito mais os atuais encarregados de educação (62,2%).
O castigo de impedir de estar com os amigos também baixou para os 24,5%, comparativamente com a geração anterior, na qual este valor quase chegava aos 60%.
A análises aos gráficos mostra que os pais dos atuais encarregados de educação eram “mais severos nos castigos aplicados, principalmente na agressão física e no impedimento em estar com os amigos e em frequentar certos espaços”.
“Curioso constatar que a privação de objetos é uma prática muito mais comum nos encarregados de educação atuais, ao que não será alheio o facto de os objetos terem um papel mais preponderante na vida das atuais crianças e jovens”, considera Alexandre Henrique, referindo, todavia, que ambas as gerações optam pela repreensão através de um diálogo calmo como principal abordagem ao incumprimento, seguida da repreensão em forma de grito.
O perfil da maioria dos encarregados de educação inquiridos para o estudo Indisciplina na Família possui habilitação superior (79%), é casado (73,9%), habita num grande centro populacional e tem educandos com rendimento escolar.
Recurso à tecnologia nas salas de aula prejudica resultados académicos
Estudos recentes concluem que as turmas que não usam tecnologia nas salas de aula conquistam melhores resultados académicos e conseguem responder a raciocínios mais complexos.
PÚBLICO | 16.05.2016
Um estudo publicado pelo departamento de Economia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) conclui que as turmas sem computadores nas salas de aula obtêm melhores resultados do que turmas que podem recorrer parcial ou totalmente a tecnologia. O estudo é destacado pelo Washington Post e relança a discussão dos últimos anos sobre as consequências do uso de computadores nas salas de aula. O jornal norte-americano escreve que este estudo ganha relevância pelo número de alunos analisado, comparativamente com os estudos anteriores.
O tema tem dividido professores e educadores e multiplicado as teorias e opiniões entre os especialistas na área da Educação. Se, por um lado, há quem considere que os computadores na sala de aula são uma distracção, por outro o molde “aborrecido e tradicional” das aulas é apontado como o principal culpado da desatenção dos alunos. Em 2003, por exemplo, um estudo da Universidade de Princeton e da Universidade de Califórnia, alertava que tirar apontamentos no computador dificultava a aprendizagem. Ao escrever em computadores, os alunos tinham mais dificuldade em recordar-se do que tinham escrito comparativamente com alunos que faziam as suas anotações num caderno. Já em 2014, um outro estudo acrescentava que os alunos tinham mais dificuldade em compreender os raciocínios mais complexos quando tiravam notas através de um computador. À data, os investigadores explicavam que os alunos que usam os computadores tendem a transcrever as aulas e não processam a informação, o que prejudica o desenvolvimento do seu raciocínio e e da sua aprendizagem, diminuindo a capacidade de resposta e os resultados académicos.
No estudo desenvolvido pelo MIT, os investigadores dividiram um conjunto de alunos da Academia Militar dos EUA em três grupos diferentes de forma a comparar os resultados obtidos na mesma instutuição, com os mesmos métodos de ensino e com as mesmas matérias de estudo. O primeiro grupo usou computadores ou tablets para tirar apontamentos durante as aulas. O segundo usou tablets, mas apenas para recorrer a materiais ligados às aulas. Já o terceiro grupo não tinha permissão para usar qualquer tipo de instrumento tecnológico.
Os alunos que tinham autorização para usar os computadores foram os que obtiveram os piores resultados. Além disso, o estudo mostra ainda que os melhores alunos foram os mais prejudicados pelo recurso ao apoio tecnológico.
No estudo, os investigadores confessam ter ficado surpreendidos com a prestação dos melhores alunos, pois esperam que estes usassem a tecnologia de uma forma “prudente”. Daqui podem tirar-se duas conclusões possíveis: ou os alunos sobrestimaram a sua capacidade de multitasking ou os que não usaram tecnologia conseguiram maximizar o seu nível de atenção. Seja qual for a justificação, o estudo conclui que o uso de tecnologia durante as aulas, mesmo servindo meramente de apoio, prejudica os resultados académicos.
“Num ambiente com menos incentivos para a obtenção de bons resultados, menos restrições disciplinares a comportamentos distractivos e turmas maiores, os efeitos do uso da tecnologia podem ser ainda maiores”, sublinha o estudo. Além disso, os investigadores acreditam que “retirar os computadores das salas de aula seria mais eficiente para a prestação académica de um aluno do que uma bolsa de mérito”.
Jogos digitais são cada vez mais usados nas escolas
Se o mundo em que as crianças crescem é digital, o ensino caminha para lá. Só neste ano, o governo lançou iniciativa, combinando programação e jogos, para 27 mil alunos
Diário de Notícias | 11.04.2016
Na gíria são conhecidos como “jogos sérios”. E o nome diz quase tudo: são aplicações informáticas, desenvolvidas com base na mesmas tecnologias e princípios utilizados nos videojogos, mas em que o entretenimento não é o objetivo e sim um meio para um fim: ensinar. Aos poucos, estes jogos educativos vão fazendo o seu percurso nas escolas portuguesas, e já há programas que abrangem dezenas de milhares de crianças.
“A utilização de jogos digitais na promoção das aprendizagens, apesar de não estar generalizada, já é utilizada em muitas escolas portuguesas”, confirma ao DN o Ministério da Educação, que dá vários exemplos da aplicação prática deste conceito.
A iniciativa Programação no 1.º Ciclo do Ensino Básico, da responsabilidade da Direção-Geral da Educação (DGE) e que se encontra em funcionamento desde o início do presente ano letivo”, é uma das mais relevantes. Quanto mais não seja pela dimensão, “abrangendo mais de 700 professores e de 27 000 alunos dos 3.º e 4.º anos de escolaridade e obedecendo também a uma lógica de jogo (o Scratch e o Kodu, por exemplo)”.
Mas há outros casos de sucesso. “O Minecraft EDU é outras das aplicações com relatos de utilização bem-sucedida em Portugal neste contexto da utilização de jogos para a aprendizagem”, ilustra o gabinete de Tiago Brandão Rodrigues, referindo-se ao clássico de construção virtual, por blocos, cujas aplicações educativas permitem desde estudar as pirâmides de Gizé a obter alguns princípios de engenharia eletrotécnica.
Outro caso de sucesso, introduzido nas escolas em 2011 e ainda disponível, é o PING (Poverty Is Not a Game, ou “A Pobreza não É Um Jogo”), aplicação desenvolvida por diversas fundações europeias, incluindo a Gulbenkian, com o objetivo de chamar a atenção para as questões da pobreza e exclusão.
O ministério destaca ainda novos projetos nacionais, orientados para as chamadas áreas de ensino nucleares. Nomeadamente “as iniciativas da Universidade de Coimbra, que desenvolveu recentemente três jogos para serem utilizados em áreas do currículo (Matemática, Português e História) e que pela 3.ª vez organiza neste ano o Encontro de Jogos e Mobile Learning”.
Outro projeto internacional, que envolve cientistas portugueses e será também testado nas escolas nacionais a partir de 2017, é o BEACONING. Uma sigla que, em português, é traduzida para “derrubar barreiras educativas através de uma aprendizagem contextualizada, pervasiva e com base em jogos”. Conta com 5,9 milhões de euros de investimento, envolvendo vários países e milhares de alunos.
As escolas tecnológicas
Os jogos são apenas o primeiro passo. Há escolas que já estão na etapa seguinte, aproveitando o conforto dos alunos com as novas tecnologias – e não apenas para jogar – para fazer destas a ferramenta básica do ensino. São as já chamadas “escolas do futuro”, embora Rui Lima, coordenador pedagógico do Colégio Monte Flor, de Carnaxide, “prefira o termo “escolas do presente”, porque estamos a trabalhar para os alunos de agora. O que procuramos é articular o ensino dos alunos com o mundo que os rodeia”, explicou recentemente ao DN, numa apresentação na Futurália. “E as novas tecnologias são um dos aspetos desse mundo.”
colegio.pt. Quer os seus filhos a 2 km, a estudar inglês ou a aprender ballet?
Há um novo site que se propõe ser a ferramenta que falta na hora de os pais escolherem o colégio dos filhos. Aqui há rankings, opiniões de outros pais e a lista de línguas que os miúdos podem aprender em cada escola. Se quer o seu filho inscrito em setembro, o melhor é começar a procurar já
Jornal i | 20.03.2016
Quem se arrisca no ensino público sabe que a hora de pensar na creche para a criança pode ter de chegar antes da própria criança, com este método preventivo a ser a única forma de conseguir um lugar perto de casa. Para quem tem essa possibilidade, os colégios surgem como a solução que, apesar de não ser a mais em conta, será aquela cujo processo não precisa de tanto tempo de antecedência. “Mesmo assim, quem quer os filhos a começar o ano letivo em setembro, não pode esperar muito”, avisa Fernando Moreira, porta-voz do colegio.pt, um site que se apresenta como uma ajuda a quem vai entregar o filho nas mãos do sistema de ensino pela primeira vez.
“Sabemos que a escolha da escola está no top-cinco das decisões mais importantes que um pai tem de tomar”, refere o fundador da Angry Ventures, uma empresa de marketing, design e tecnologia criada “para facilitar a vida às pessoas”.
Para começar, seguimos a dica de Fernando, que nos desafia a escrever a palavra “colégio” no Google. “As primeiras 30 entradas são de publicidade”, explica, “é algo pago, sem conteúdo.” Foi perante este cenário pouco transparente que surgiu a ideia de criar um site que vive mais das opiniões que do conteúdo que a escola possa apresentar em formato online. “Cada vez mais, os portugueses preferem seguir a opinião do amigo do que ir pelo que encontram na internet”, conta Fernando.
Pesquisa
O sistema é simples. Abrindo a página, o primeiro filtro passa pelo nível de escolaridade, que vai desde o berçário ao secundário. Logo a seguir é possível escolher a localização e o raio de distância que está disposto a submeter nessa pesquisa. Os filtros continuam e vão desde as línguas ensinadas em cada escola ao tipo de alimentação oferecida pelas cantinas ou ao tipo de serviço de transporte para casa. Com toda a informação reunida, o utilizador pode selecionar o colégio que vai de encontro às suas necessidades, ler as opiniões de outros pais e marcar uma visita diretamente com a direção da escola.
Com o site online desde o final do ano passado, são já 180 os colégios inscritos e as pesquisas feitas por pais interessados em saber mais não para de aumentar. “Os agregadores são cada vez mais uma tendência”, lembra Fernando, “veja-se o exemplo do Zomato” (aplicação de descoberta de restaurantes que conta já com 60 mil utilizadores regulares em Portugal).
Apesar de o número de pais portugueses ter vindo sempre a aumentar nos primeiros três meses de existência do site, os estrangeiros continuam a ser uma percentagem significativa do total, mais concretamente 40%. “Além de publicitarmos bastante o site em páginas internacionais, a verdade é que dentro do nicho dos colégios privados, há muitas crianças que chegam de fora do país”, esclarece.
Nacionalidades à parte, fica a dica de quem sabe: se quer o seu filho inscrito em setembro, é bom começar já a pesquisar. Abril, maio e junho compõem o trio de meses em que são mais altas as hipóteses de ter o seu filho inscrito na escola que tem em mente.
Tecnologia nas escolas? É inevitável e abre novas vias
Há projetos que se destacam por deixarem a tecnologia de lado, mas a tendência é para o seu uso generalizado nas salas de aula
Diário de Notícias | 17.03.2016
Devem os telemóveis, tablets e computadores fazer parte do dia-a-dia dos alunos na escola. Ou pelo contrário, este deve ser um espaço livre de tecnologias e proporcionar uma aprendizagem mais virada para a natureza. Qual das teorias é melhor? A resposta não é linear, mas segundo o investigador António José Osório é “impossível tirar as tecnologias da vida das crianças”. Por isso, o melhor “é ajudá-las a viver com elas, a saber usá-las e a refletir sobre o seu uso”.
A nível nacional, o governo parece apostado em promover cada vez mais as “competências digitais” no uso e pesquisa de informação, tal como defendeu na terça-feira o secretário de Estado da Educação, João Costa. O próprio governante lembrou, num colóquio sobre currículo e práticas escolares em Portugal e na Finlândia que “antes só o professor era detentor do conhecimento e agora o conhecimento anda no bolso de todos e está à distância de um clique”.
João Costa acredita que as tecnologias podem ajudar no combate ao insucesso escolar. E o professor da Universidade do Minho, especialista em ambientes educativos emergentes, António José Osório, elogia os recursos que esta traz para a sala de aula. “Podemos aproximar crianças do interior dos grandes centros e vice-versa e proporcionar-lhes experiências diferentes. Podemos mostrar as gravuras de Foz Côa aos alunos de Lisboa e mostrar o Jardim Zoológico de Lisboa aos alunos de Foz Côa”, exemplifica. Atendendo ao mundo global, o especialista entende que “a preocupação com o uso das tecnologias faz sentido, mas as escolas que as ignoram serão sempre experiências pontuais”.
Onde os aparelhos não entram
A escola inglesa Acorn e o externato português O Beiral são dois exemplos de projetos que mantêm os telemóveis, computadores e a internet à porta. No caso português são abrangidos alunos até ao 4.º ano e privilegiadas as atividades ao ar livre. Segundo a sua página online a criança é levada “a experimentar e conhecer a realidade, encantar-se pelas suas descobertas e recriar, a seu modo, o mundo que a rodeia”. Tudo isto sem ecrãs. Nada que os alunos digam sentir falta, como contaram à SIC.
Em Londres, a Acorn vai um bocadinho mais longe e pede aos pais que mantenham os filhos sem acesso aos telemóveis, tablets ou computadores até aos 12 anos, também em casa. Segundo explicou a responsável ao El Mundo esta filosofia no tech (não à tecnologia) permite aos jovens estudar mais e serem mais felizes. Têm aulas de caligrafia, constroem os seus próprios brinquedos de madeira e exploram a natureza.
Ensinar a lidar com o progresso
A par destas experiências surgem as tendências gerais. E nesse campo, as previsões, por exemplo, do Horizon Report Europe da Comissão Europeia apontam para que a utilização de tablets e de aplicações online como o Google, o Skype e o Dropbox sejam comuns.
“Como é que uma pessoa pode escolher se quer um café com wi-fi ou apenas tomar um chá longe da internet?”, pergunta António José Osório. “Tenho de ter isso organizado na minha cabeça. É nossa responsabilidade – dos pais e professores – ensinar as crianças a lidar com isso”. Daí que o investigador acredite que é impossível para a escola passar ao lado das tecnologias.
A cada um segundo as suas dificuldades
Nova plataforma online de Matemática foi desenvolvida em colaboração com o agrupamento de Carcavelos
PÚBLICO | 13.02.16
A plataforma online Mathvolution teve origem nas dificuldades que a explicadora de Matemática Inês Santos, 31 anos, sentia em tentar encontrar exercícios compatíveis com o tipo de problemas revelados pelos alunos. E é essa a base da Mathvolution: todos os exercícios estão agrupados por níveis de dificuldade de modo a que cada aluno possa ter “desafios adequados e consiga assim progredir”, diz. Para passar de nível tem de resolver com sucesso os problemas do anterior.
Ela e Bruno Franco, 38 anos, especialista em sistemas de informação, são dois dos seus criadores. “Decidimos que esta aplicação devia ser desenvolvida em colaboração com uma escola, de modo a envolver professores, pais e alunos. O agrupamento de Carcavelos mostrou-se disponível e durante dois anos fomos criando protótipos que depois testávamos aqui. A plataforma, que lançámos em Setembro, é o resultado deste trabalho”, relata Bruno.
Para Luís Guerreiro, professor de Matemática de Carcavelos, a plataforma tem-se revelado também “uma importante ferramenta de diagnóstico”, já que tanto professores como pais podem seguir ali a evolução dos alunos e detectar em que conceitos estão a revelar mais dificuldades. É o que diz também Ana, aluna do 6.º ano: “Consigo ver onde tenho mais dificuldades e quais as matérias onde tenho de treinar mais, o que antes era difícil para mim. E depois parece um jogo. É divertido de fazer”.
Por enquanto, só existem exercícios para o 6.º ano, mas a partir do próximo ano lectivo a oferta vai alargar-se ao 5.º e 7.º ano de escolaridade. Para os alunos de Carcavelos a utilização é gratuita. Para os outros existem duas opções: um pacote base, que é gratuito; e um outro a que designam de premium, que custa cinco euros/mês. Atualmente têm 2500 utilizadores registados.
O lugar do telemóvel na sala de aula é em cima da mesa dos alunos
Agrupamento de escolas de Ponte de Lima é considerado exemplar pela Microsoft graças ao uso da tecnologia na aprendizagem. Nove dos professores destacados pela multinacional estão aqui.
PÚBLICO | 10.02.16
Os telemóveis nas mãos dos alunos do 6.ºA estão apontados às folhas que têm à sua frente. Olham para o ecrã, conferem a informação e regressam à ficha de trabalho a que estão a responder com o à-vontade de quem sabe que não está a fazer nada errado. A professora Maria João Passos segue-os atentamente e presta assistência quando a tecnologia não responde à velocidade desejada. Nas salas do agrupamento de escolas de Freixo, em Ponte de Lima, o lugar dos telefones e outros dispositivos móveis é em cima das mesas, resultado de um conjunto de projetos de integração das tecnologias na aprendizagem que a Microsoft considera exemplar, pelo quarto ano consecutivo.
Esta é a aula de Matemática. Os alunos estão dispostos em grupos de quatro, em mesas redondas, onde também há computadores portáteis. Nos ecrãs tácteis, está aberta a ficha de trabalho que a professora preparou para esta manhã. Os exercícios podem ser resolvidos diretamente no computador, com o auxílio de uma caneta apropriada. É então que se percebe o motivo para os telemóveis estarem também por perto: a solução para a ficha está inscrita em códigos QR (uma espécie de código de barras). Os alunos têm de usar uma aplicação nos seus telefones para ler os códigos, fazendo corresponder cada um aos resultados a que chegaram.
“Normalmente os manuais têm a resolução no final e os alunos têm, muitas vezes, a tentação de ir procurá-las”, lembra Maria João Passos. Com este recurso, a chave também lá está, mas obriga a que o exercício seja realmente resolvido para que os estudantes consigam descobrir qual das respostas corresponde a cada um dos códigos. Por outro lado, habituam-se a utilizar a tecnologia em contexto de sala de aula.
Os códigos QR e as fichas de trabalho resolvidas em ecrãs tácteis não são os únicos recursos tecnológicos da professora de Matemática. A docente da escola de Freixo disponibiliza frequentemente tutoriais sobre os conteúdos das aulas na Internet. “Muitas vezes, os próprios pais também veem os vídeos, para os poderem ajudar a tirar dúvidas”, conta. Além disso, criou um grupo na rede social Yammer com todos os alunos das suas três turmas do 6.º ano. Chama-lhe “sala de estudo virtual” e serve para os estudantes colocarem questões, comentarem a matéria e trabalharem os conteúdos disponibilizados online. A professora é “um último recurso”, já que a ideia é que os estudantes sejam capazes de tirar dúvidas uns aos outros, num trabalho colaborativo feito a partir de casa.
Por causa deste projeto usado para o ensino de Matemática, Maria João Passos foi considerada “especialista inovador em educação” pela Microsoft este ano. Na lista, há 3700 professores em todo o mundo, 57 dos quais são portugueses. Entre eles, há outros oito colegas no agrupamento de escolas de Freixo. O estabelecimento de ensino também está em destaque nas escolhas da multinacional de software, sendo considerada uma escola-modelo. É a quarta vez consecutiva que é distinguido. Este ano há outros seis representantes nacionais, dos quais apenas mais um pertence à rede pública, o agrupamento de escolas de Vila Nova de Cerveira.
A escolha da Microsoft é um reconhecimento da aposta que a escola tem feito no uso das tecnologias, valoriza o diretor do agrupamento, Luís Fernandes, que, desde o Verão passado, também passou a integrar o conselho consultivo da multinacional para o sector educativo. É uma das dez pessoas a quem a gigante norte-americana recorre para pedir opiniões sobre a área da educação. “Por que motivo uma empresa que pode contratar os consultores que quiser vem a Portugal convidar o diretor de uma escola pública?”, atira em jeito de pergunta retórica, para rapidamente dar a resposta: “Devemos ter feito alguma coisa bem.”
No agrupamento, os alunos do 3.º e 4.º anos têm, desde há dois anos, aulas de programação, onde aprendem linguagem como Scratch e Kodu. No 3.º ciclo podem também escolher uma disciplina de mecanismos e robótica, na qual trabalham com mecânica, electrónica e eletrotecnia. E depois há projetos específicos de cada professor, como o de Maria João Passos na Matemática do 6.º ano. Há muitos docentes que ainda seguem o método de ensino tradicional, até porque nesta escola “ninguém impõe nada a ninguém”, sublinha o diretor. Mas já há mais de uma dezena de professores a integrar as tecnologias nas suas aulas, num processo “crescente”.
Existe um efeito de contágio, aponta Luís Fernandes. Os docentes acabam por aderir ao uso de computadores ou dispositivos móveis à medida que vão conhecendo as boas experiências dos colegas e há também pressão dos alunos nesse sentido, à medida que vão sabendo o que se passa nas aulas das outras turmas. A escola também promove encontros, ações de formação e outras ferramentas de apoio para incentivar os docentes a usarem a tecnologia.
A aproximação da escola de Freixo à tecnologia começou há oito anos, quando foram comprados dois kits para um clube de robótica. A reação dos alunos foi “imediata e entusiástica”, lembra o diretor, ao ponto de aquele ter passado a ser o único clube escolar com lista de espera. Hoje, a robótica continua a ser uma das principais formas de contacto dos alunos com as inovações. Um antigo balneário, junto ao pavilhão desportivo, foi transformado num Fab Lab, um laboratório equipado com duas impressoras 3D, uma máquina de corte a laser e outros dispositivos para montagem de robôs como aquele que Luís Henrique, de 15 anos, apresenta: “É um robô de busca e salvamento. Nas provas, deve ir buscar a vítima (normalmente uma bola) e levá-la a um ponto determinado.”
Foi este aluno do 9.º ano quem projetou o dispositivo para levar às competições nacionais de robótica, onde outros estudantes da escola já ganharam o título de campeões nacionais em anos anteriores. Luís Henrique começou a frequentar o laboratório há dois anos. Um professor falou-lhe da possibilidade e decidiu experimentar durante um par de semanas. Gostou tanto que agora passa ali “muitos dos tempos livres”, conseguiu uma autorização para levar algum do material para trabalhar em casa e descobriu o que quer fazer no futuro: “Seguir Engenharia Electrotécnica.”
A aposta na tecnologia embate, porém, num problema também tecnológico. A velocidade da Internet fornecida pela rede de banda larga instalada pelo Ministério da Educação na escola não é suficientemente rápida para permitir um acesso eficaz aos conteúdos colocados na nuvem – ou seja, em servidores externos. Por isso, a escola de Freixo teve de comprar um dispositivo de Internet móvel 4G, que, quando é necessário, roda de sala em sala para resolver os problemas dos professores. “A velocidade que nos chega não nos permite fazer um trabalho do século XXI”, lamenta o diretor.
O agrupamento tem 700 alunos, do pré-escolar ao 9.º ano, quando há cinco anos eram 1100 os estudantes inscritos. Esta redução não é apenas efeito da crise de natalidade que afecta quase todo o país, mas também dos problemas específicos desta população, particularmente afectada pela emigração. A escola situa-se numa zona rural, no sul do concelho de Ponte de Lima, praticamente à mesma distância da sede de concelho e de Braga – cerca de 15 quilómetros. Nas imediações não existem empresas capazes de criar postos de trabalho para muita gente, apenas indústrias de pequena dimensão e alguma agricultura, produção de vinho e pecuária. A escola é mesmo o maior empregador das freguesias que abarca.
Isto coloca outros problemas: 70% dos alunos recebem apoios sociais e tornou-se necessário entregar um suplemento alimentar ao longo do dia a “boa parte” deles. Ainda assim, a “esmagadora maioria” tem acesso à Internet fora da escola. Quase todos têm pelo menos um computador, tablet ou telemóvel com acesso à rede, o que permite acederem aos conteúdos disponibilizados pelos professores a partir de casa.
Tudo isto se conjuga nos resultados da escola nos exames do 9.º ano. No ranking de 2015, a escola estava em 265.º lugar, tendo subido 436 posições face ao ano anterior, mercê de uma média de 3,04 valores. O diretor tem consciência de que os resultados são “medianos” e é preciso “trabalhar mais” para os exames do fim de ciclo, mas sublinha o “longo caminho” percorrido: “No primeiro ano em que houve exames no 9.º ano, tivemos apenas 17% de positivas.”
Existem ainda outros obstáculos. As escolas secundárias ou profissionais mais próximas estão a 15 e 20 quilómetros de distância (em Ponte de Lima ou Braga, mas também Barcelos ou Viana do Castelo em alguns casos). A maioria dos alunos segue para cursos profissionais e são ainda poucos os que chegam ao ensino superior. “É algo que demora tempo”, argumenta Luís Fernandes. “Uma certeza tenho: quando saem daqui, tiveram experiências que noutras situações não teriam e sabem que podem escolher.”